— Olha quem está ali - aponto na direção da Carla Lagunes.

— Ai meu Deus, só pode ser brincadeira - Fernando pega meu braço e me arrasta para as costas de um sofá que estava em uma daquelas salas montadas em lojas.

— Seu Fernando! O que é isso? - levanto-me do chão e fico de pé ao lada dele - Levanta! Parece que está fugindo de um fantasma.

— Estou fugindo de algo pior, muito pior

— Que exagero...

— Lety, você pode fazer o favor de se abaixar!

— Ah Fernando, ela não vai me reconhecer, quando me conheceu eu era daquele jeito, feia hihihihi

— Letyyyy, você nunca foi feia, pare de dizer isso! - ele diz, com aquele jeito dele. Ah, seu Fernando, tão lindinho...

— Ela está distraída, olhe - aponto para ela, que agora estava de costas para nós, conversando com um funcionário.

Ele levanta um pouco a cabeça e olha, até que repentinamente ele se levanta, me pega pelo braço e quando vejo já estamos fora da loja. Porém, o alarme da loja toca e vejo se não tenho nada nas mãos, até que eu percebo que Fernando está com uns saquinhos de post its nas mãos, só pode ser brincadeira! Até que o segurança se aproxima de nós.

— Vocês podem me acompanhar, por favor? - pede um segurança alto e bronco.

— Senhor, isso foi um engano, não estávamos roubando nada, estamos fugindo de uma mulher louca - diz Fernando

— Tudo bem, mas vocês vão ter que me acompanhar até a sala da segurança, por aqui, por favor - diz o segurança, que nos leva até o segundo andar, para uma salinha cheia de televisões com transmissões de câmeras de segurança.

— Senhor, deixe-me explicar, não roubamos nada, apenas fugíamos de uma mulher louca, que não pode me ver - diz Fernando

— Ah, ótima explicação, bem criativa por sinal, mas, acidentalmente o senhor correu da mulher louca com o produto da loja nas mãos, não é? Eu compreendo - diz o segurança, ironicamente

— Mas foram apenas uns saquinho de post its! Você acha que se eu fosse roubar algo da loja não roubaria alguma coisa mais cara?! Por favor né... - Fernando se exalta e fala gesticulando, como sempre - Incrível, sempre onde vamos encontro irmãozinhos perdidos do Carvajal - diz Fernando, sussurrando para mim e revirando os olhos.

— Seu Fernando, calma...

— Não me chama de Seu Fernando, Lety! Não sou mais seu chefe! Sou seu marido!

— Papai, papai, papai - ouvimos uma voz feminina. Até que ela entra na sala. Fernando vira o seu rosto, como se ela já não o tivesse visto.

— Fernando Mendiola! - diz Carla Lagunes

— Car, Car, Carla Lagunes, O, O, O que você está fazendo aqui? - diz Fernando, nervoso, piscando um dos olhos, como eu faço. Não acredito que ele pegou minha mania!

— Meu pai é dono dessa rede de lojas e vim até aqui com ele, pois ele quer me mostrar como funciona tudo, pois segundo ele, isso tudo será meu um dia - ela diz, revirando os olhos - E você hein, não se casou com a Márcia? Já está com outra? - ela diz, olhando para mim - Ou ela é outro casinho, assim como eu fui? - ela diz, fuzilando-o com os olhos.

Cutuco-o.

— E,E,Ela é a Lety, não lembra dela? Ela era minha assistente - ele diz, rindo de um jeito nervoso, com medo de dizer quem eu era agora.

Cutuco-o novamente.

— Nos casamos! É, a Lety é minha esposa...

— Você se casou com aquela assistente feia? - ela diz, descrente - Espera, você é aquela mulher? Meu Deus, o que cirurgia plástica não faz! - Ela diz rindo.

Olho para ela com cara feia.

— Mas foi por ela que me apaixonei, e encontrei o verdadeiro amor. Já estive com muitas mulheres como você, modelos, atrizes, mas nenhuma, nenhuma me fez tão feliz como a Lety me faz, então, acho que beleza não é tudo, não é mesmo Carla? - Fernando me defende.

Ele tornou-se um ser humano incrível. E é justamente a mudança dele que me impulsiona a mudar cada vez mais também, até mesmo a me arrumar mais, sei que ele me ama de qualquer jeito, porém, minha imagem não condizia com quem eu sou de verdade, se sou bela por dentro, tenho a obrigação de exteriorizar isso. Todos nós temos nossa beleza, e ela vem de dentro para fora, quando nos damos conta disso é impossível não ficarmos mais bonitas.

Carla fica com muita raiva de Fernando e se dirige ao segurança.

— E porque esses dois estão aqui na sala de segurança? - ela pergunta

— Eles estavam roubando post its - diz o segurança

— Nós não estávamos roubando post its, pelo amor de Deus, quem é o ser humano que roubaria post its?! - grita Fernando

— Calma, meu amor - digo

— Ah, se eu me lembro, você era cleptomaníaco, não é Fernando? - diz Carla Lagunes, ironicamente

Fernando a encara de cara feia.

— Senhor, meu marido não é cleptomaníaco, que loucura! - digo

Carla Lagunes se aproxima de Fernando e diz:

— Não vou deixá-lo sair daqui! Eu disse que ia se arrepender!

Um homem entra na sala.

— O que está acontecendo?

— Papai, esse casal estava roubando post its, parece que o homem é cleptomaníaco - diz Carla, tentando conter o riso.

— Mas isso não é caso de polícia e sim de psicólogos - diz o pai de Carla

— Senhor, posso falar com o senhor um instante? - digo

— Sim, claro

— Então, deixe-me explicar, meu marido, Fernando Mendiola, não é cleptomaníaco, ele é ex namorado de sua filha, na verdade, nem sei se eram namorados, mas eles ficaram juntos quando ele estava noivo de outra mulher, o que acontece é que sua filha reapareceu quando ele ainda estava noivo da outra mulher e quase acabou com o relacionamento, ela não está errada, ele tinha partido o coração dela, eu entendo, mas agora ele mudou, é outro homem, nos casamos e somos felizes. Acontece que quando meu marido viu sua filha, ficou com medo de que ela o perseguisse novamente, por isso ele, antes de sair correndo, se escondeu, e quando ela se distraiu ele saiu correndo e não percebeu que estava com uns saquinhos de pos its nas mãos. foi só isso que aconteceu. O senhor pode ver nas câmeras de segurança, nós não queremos roubar nada.

— É verdade isso, Carla? - ele pergunta para a filha

— Você é um louco, Fernando, casou-se com essa assistente esquisita que agora está toda plastificada. Ah, vocês dois se merecem! - ela diz e sai da sala.

O pai de Carla assiste os vídeos, vê o Fernando se escondendo e nos libera, pedindo desculpas por sua filha caprichosa.

Depois de toda essa aventura, compramos comida e levamos para casa.

*****

— Meu Fernando, quando nossa vida vai deixar de ser tão confusa? - digo rindo

— Não sei, mas posso dizer uma coisa? - ele diz, aninhado em mim. Estamos na varanda de nosso quarto.

— Claro - digo, enquanto passo a mão nos seus cachos

— Minha vida tornou-se muito mais emocionante quando você apareceu. Sério, parece que não, mas minha vida era monótona. Eu procurava por emoção, algo real. Tinha essas casos clandestinos, sem a Márcia saber, procurando uma forma de preencher esse vazio que tinha em mim, esse que só você preencheu. Minha vida era cinza, chata, cheia de egoísmo, arrogância, interesses, mas quando você apareceu e mostrou todo seu amor, fidelidade, dedicação, doçura, tudo isso de forma desinteressada, me tocou e eu não pude evitar, não pude evitar me apaixonar por você. Hoje, só Deus sabe o quanto eu te amo.

Meus olhos ficaram cheios de água. Aqui estava o homem mais lindo, que eu sempre sonhei e amei desde o primeiro momento que eu vi, nunca imaginaria que estaria com ele, nunca imaginaria que o teria assim, só para mim.

— Eu te amo muito meu amor, e você sabe, sempre te amei, desde o segundo em que te vi. - disse

Nos beijamos e nos tornamos um só. Um só corpo, uma só alma, um só espírito.

**********

— Bom dia meu amor - digo, beijando-o - Acorde, vamos nos atrasar, estou quase pronta, só faltam os sapatos.

Ele reclama e cai no sono novamente.

— Fernando Mendiola, levante dessa cama, vamos nos atrasar! Seu café já está pronto, só tome o banho, vista-se, coma e vamos.

Fernando se levanta com toda dificuldade do mundo, se prepara e finalmente saímos.

— Boooooom dia Mi Fraterlo, Dona Lety - Rodopia Rámon na recepção quando chegamos.

— Bom dia Rámon - dizemos

Chegar na Conceptos com Fernando, juntos, como marido e mulher é algo que a um ano atrás seria apenas um daqueles sonhos que eu tinha. Isso significa tanto para mim.

— Booom dia seu Fernando e Lety - Joana

— Olá Joana, bom dia - digo

— Bom dia - diz Fernando

— Boooom dia quartel - diz Fernando, aproximando-se das mesas das meninas do quartel

— Oláááá - digo

— Oiii - dizem

— Meu amor, vou para sala do Carvajal, ok? - diz Fernando

— Ok - digo, nos beijamos, e ele vai.

— Me diz mulheeer, como é estar casada com um gatão como o Seu Fernando? - diz Paula Maria

— Paula Maria! - todas dizem, em tom de reprovação

— Muito bom, Paula Maria, ainda mais porque nos amamos muito - digo, sorrindo - Mas então meninas, as duas moças do almoxarifado já estão aqui? Vocês estão ajudando-a?

— Sim, claro Lety - diz Sara

— E elas são legais? - pergunto

— Sim, são muito boa gente, ainda bem - disse Joana

— Ainda bem mesmo, porque se fosse igual a oxi antigamente, eu ia perder a fome! - disse Martha

— Até parece! - Todas dizem, rindo

— Bom dia meninas, bom dia Lety - diz Márcia, chegando - Lety, você podia vir até a minha sala?

— Sim, claro. Até mais meninas - me despeço do quartel e vou com a Márcia até sua sala, a presidência.

Quando chego vejo a sala totalmente redecorada. Estava bem feminina, mas séria. Tinha uns tons de azul e pêssego. Os móveis eram todos novos. Estava linda.

— Gostei muito do que fez com a sala, está linda - disse

— Ah, que bom que gostou Lety

— Então, já tem uma resposta do pessoal do creme dental?

— Sim, temos, marcamos uma reunião para hoje, a tarde

— Que bom!

— Sim, mas...

— Mas o que?

— O pessoal da agência de publicidade e os donos da marca disseram que o comercial tem de ser algo inovador e que não somos a única produtora que eles estão contactando, eles irão escolher a que mais os surpreender, ou seja, será um grande desafio...