Eu tinha escolhido bem o lugar. Um bar pra emo. Eu não sei, mas eu queria pegar uma Emo e aquilo estava me corroendo. EMO? Nunca foi meu estilo, mas a vontade tava falando mais alto.

-Oi? – Cheguei perto de uma menina de cabelo preto cheio daqueles trecos coloridos. Ela virou pra mim e vi seu rosto com um cimento de pó e com aquela maquiagem preta que eu já conhecia. Mas seus olhos eram verdes, quase brilhavam. Decidi que iria pegar aquela mesmo.

-Oi! Novo aqui? – Ela falou, deixando-me ver que ela tinha um piercing na língua brilhante. Huum, as coisas seriam interessantes.

-Sim... Com é seu nome?


-Yale. – Ela falou com um sorriso doce. Nossa, ela era linda! – Olha, eu sei que você está olhando pra mim com uma cara de “Eu vou pegar essa aqui”, mas...

Antes que ela pudesse continuar, outra “boneca” apareceu atrás dela, só que essa tinha cabelos roxos e curtos, sua pele era branca e usava uma fina camada de maquiagem. Não deixava de ser bonita, mas sua expressão não era muito feliz.

-Ela é minha namorada. – A roxa falou com uma cara monótona e uma voz fina. Pensei naquela voz gemendo o meu nome... Nossa! Senti os países baixos protestarem. – Talvez deva procurar outra pessoa, garotinho.


Espera. GAROTINHO? Ela acha que eu sou o que? Aqueles menininhos de primeira viagem que não sabe distinguir bi, homo e hetero?Qualé, eu sabia sim, só que eu não tenho culpa que se essa geração de plástico pra mim é tudo igual: Cabelo colorido, maquiagem forte e roupa colorida parecendo fantasia de carnaval, no Brasil. É gente, eu adoro o Brasil e lá tem o famoso carnaval. Já disse pra mamãe que um dia eu vou viajar pra lá, não tô nem ligando se rola muita bala perdida, sei que as meninas vão chover na minha.

Bill ficou meio preocupado quando eu disse isso, mas eu prometi levar ele também. Vai ver que ele resolve virar homem vendo as mulheres seminuas? Seria mais uma realização cumprida.

Bill... Porque uma parte da minha mente sempre quando dou brecha me traz esse nome com tal rapidez? Qual é a finalidade, cabeça? Enlouquecer-me?

Foi quando vi uma menina alta, magra de costas pra mim. Seus cabelos lisos batiam no ombro e eram pretos com mechas brancas. Podia ver sua roupa negra e o All star surrado. Alguma coisa me guiava até ela... Eu nem vi o rosto da fulana! Mas enfim, fui até ela.

-Ham, ér... Oi? – Hesitei em falar com ela, gaguejando.

Ela virou e pude ver seu rosto totalmente natural. Sem maquiagem ou ao menos um batonzinho, que segundo as meninas é totalmente essencial quando vão sair. Ela sorriu para mim, brincalhona, mexendo os cabelos e colocando a franja um pouco nos olhos. (Sim, ela tinha a franja totalmente simétrica, quase batendo nos olhos)

-Pensei que nunca iria me ver, Tom! – Ela deu uma risada.

Hã? A fulana sabia meu nome? Parecia que estava em desvantagem nessa história toda.

-Oi? Ér, como sabe meu nome? – Tentei falar delicado, sentando em um banco perto dela.

-Meu nome? Ah, você vai descobrir em breve. – Ela deu mais outra risada musical, fazendo-me rir também. Ela era tão agradável, fazia-me sentir em casa.

-Como assim, menina? Está embolando minha cabeça, tem noção disso? – Falei dando altas gargalhadas. Bom, eu não sem bem porque, mas ela era engraçada.

-Jura? Sua cabeça já está toda embolada, Tom! Você beijou seu irmão! – Ela arqueou as costas para trás, jogando a cabeça para trás e soltando outra gargalhada fina.

Parei na hora e fiquei por 6 segundos com medo. Tá, eu contei, mas isso não vem ao caso.

Aquela mulher apareceu da onde? Do além? Será que ela era o diabo disfarçado? Senhor Jesus Cristo, eu confiei no senhor e você faz um negócio desses comigo?! Comecei a rezar e a menina soltou uma gargalhada tão forte que pensei que ela fosse morrer roxa, estirada no chão.

-Tom, primeiro: Não sou Diabo, ok? Eu sou da “liga do bem”, então não se preocupe, vim para ajudar! – Ela fez um “legal” com a mão e segurou minhas mãos.

-Ei! Me solta, tô com medo, tô com medo, tô com medo! Eu sei que você é demo e quer me pegar! – Gritei, descontrolado, tentando tirar minha mão das dela.

Mas foi tarde demais, eu estava agora no meu quarto, na minha casa. Sentado na minha cama.

A MULHER ERA MUTANTE! SOCORRO!

-Ai senhor! Quem é você? Ei! Pare de mexer nas minhas coisas, moçinha! – Falei irritado. O demo tava no meu quarto, mexendo nas MINHAS coisas. Oh senhor, o que eu fiz para merecer isso!

-Tom! Bitte! – Ela reclamou, irritada. – Eu não sou demo nenhum!


-EU SEI QUE VOCÊ É! VOU CHAMAR O PADRE AGORA MESMO PARA UM EXORCISMO! – Corri para minha bancada de “estudos”, onde tinha meu telefone celular, mas ela foi mais rápida e ficou na minha frente, colocando a mão em sinal de “pare”.

Quando eu vi estava voando e caindo na cama, novamente.

- MAMÃE! MAMÃE! SOCORRO! – Gritei desesperado, de pé na cama, olhando para a menina que só dava uma leve risadinha, com um sorriso perverso. AQUILO ALI NÃO ERA COISA BOA! – Vai embora coisa ruim! Volte para o inferno de onde você veio!


-Tom, o que foi meu filho! – Minha mãe abriu a porta em um baque, com os olhos arregalados, me puxando da cama e me dando um abraço. –Você está bem?


-MÃE, AQUELA MULHER É O DEMO MÃE, A MANDA IR EMBORA, MÃE! – Eu gritava com os olhos arregalados, senti meus olhos marejarem enquanto apertava minha mãe em um abraço.

-Que mulher, Tom? Meu filho, não tem ninguém aqui no seu quarto! – A menina deu um sorriso triunfal, voltando a mexer nas minhas coisas.

-EI! PARE COM ISSO! –Gritei, apontando para ela, que não fez nada, além de pegar uma foto minha e de Bill, olhar um pouco e com um suspiro pesado, colocar no bolso de sua calça.

-Volto quando você estiver calmo, Tom! – Ela deu uma risada musical e sumiu. Que nem fantasma, que nem aqueles ninjas de anime...

-Filho? Filho? Tem certeza que você está bem? Tu estás muito pálido e frio! – Minha mãe ainda me abraçava. Quando o demo foi embora eu fiquei menos tenso, saindo do abraço de minha mãe, mas ainda com os olhos arregalados pelo susto. Meu coração batia a mil por hora e minha respiração ainda estava descompassada.

Estava com medo de aquela mulher aparecer novamente.

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8 – Estou enrascado!

[BILL’S POV]


Não estava me sentindo bem. Não mesmo. Depois de tudo que o Tom falou pra mim sobre a sacanagem que o meu namorado fez com a Helena... Aquilo não foi bonito.

-Pensando, Billi? – Oh como eu odiava quando me chamavam assim! Aquilo já estava passando dos limites.

-Ér, sim. – Ele me apertou mais ainda, descendo suas mãos até minhas coxas, apertando de leve. – Pára, Dami... Não gosto.


-Eu não entendo isso... Não sente tesão? Excitação? - Ele perguntou indignado, apertando mais a minha coxa.

-Sinto sim, mas... Não estou preparado para fazer algo mais. – Falei olhando para baixo e tentando sair de seu abraço, mas ele fechou a cara e me apertou mais ainda.

-Pare de ser covarde. – Ele falou sério.

Aquilo foi como uma faca no meu peito.

Como ele pode falar umas coisas dessas? Ele devia me respeitar, devia esperar eu estar preparado! Fiquei tão magoado e triste que o empurrei pro lado e saí da cama, soltando as primeiras palavras que veio na minha mente:

-Ah claro! Sou um covarde insignificante, nerd que não serve pra nada, além de você vim aqui e me dar uns amassos, não? Você não gosta de mim, só está ligado ao meu físico, não presta atenção nos meus sentimentos... E quer saber? Eu não gosto de você realmente! – Gritei com todas as minhas forças, em seguida, pegando um jarro que tinha alguns lápis dentro e o joguei contra a parede, gritando com todas as minhas forças.

Logo as lágrimas vieram e a sensação de alívio também. Alívio por ter dito o que sentia pela primeira vez claramente, sem aquela indecisão ou insegurança. Estava tão magoado...

-Calminho aí, bebê. – Ele falou sarcástico, ficando ereto na minha cama agora. – Está terminando comigo?


Só assenti com a cabeça, fungando e soluçando alto.

-Você pensa mesmo que vou deixar você assim, do nada? – Ele soltou uma gargalhada perversa.

Gelei da cabeça aos pés. O medo tinha tomado conta de mim.