Confia em Mim?

A descoberta sobre Nap


[TOM’S POV]

Morena, corpo perfeito, cabelos sedosos, lábios carnudos... E ela estava ali na minha frente, dando sopa.

Sabe-se lá quanto tempo fazia que eu não pegava uma garota, e aquela ali me chamando silenciosamente parecia perfeita para começar um lindo dia de quarta-feira.

Mas, como tudo que é bom, dura pouco...

-TOMMI! – Bill gritava no meu ouvido, ajeitando aqueles óculos ridículos nos seus olhos. Ah, ele era tão bonito, aí mamãe faz um estrago daquele.

-Oi Bill. – Falei delicadamente, dando um sorriso sem dentes. Mesmo que Bill às vezes fosse irritante e que eu estivesse bastante zangado por ele estar gostando de uma porta, eu não conseguia ser rude com ele. Deve ser por causa da cara de criança sem dono que ele tem.

-E então? Vai fazer o que? – Indagou, sempre saltitante. Dei um meio sorriso, achando graça de sua ação desengonçada.

-Eu... – Olhei para a menina que piscava sem parar para mim do outro lado do pátio. Suas amigas cochichavam e riam sem parar ao seu lado, apontando nada discretamente para mim. Sinal de que se eu quisesse pegar todas, o caminho estava aberto!

- Vem lanchar comigo? A Yuki faltou hoje, e a Zuzk sumiu. – Bill falou manhoso ao meu lado, fazendo um bico com os lábios, como se aquilo fosse me convencer.

Mas eu ainda não conseguia desgrudar os olhos daquela menina. Acho que uma das garotas mais bonitas da escola, e agora, depois de anos tentando xavecar ela, a criatura estava piscando para mim mais do que pisca-pisca em Natal.

-Ih Bill, não vai rolar... – Falei, finalmente o fitando. – Eu tenho compromissos.


Assim que proferi a frase toda, os olhos de Bill assumiram uma feição triste, seus lábios caíram e ele coçou o nariz.

Aquilo era tão triste de se ver! Eu odiava ver o Bill chorando, principalmente por minha causa, mas ele tinha que entender que o manozinho aqui tinha assuntos para resolver com a “gatchênha” ali.

Dei um beijo estalado em sua bochecha e um abraço desengonçado antes de sair em direção às meninas, que ficaram bastante agitadas ao me verem andando em sua direção.

[BILL’S POV]

Depois daquele fora ridículo que o Tom me deu, o que me restava era lanchar sozinho no banheiro, onde ninguém podia ver que eu estava chorando descontroladamente. Só os meninos que iam fazer xixi, claro.

Andei rapidamente até o interior da escola, olhando sempre para baixo e tentando ao máximo não piscar os olhos, para que as lágrimas não trasbordassem.

Era como se todos estivessem me olhando enquanto eu estava chorando, e aquilo só me deixava mais agoniado para chegar ao banheiro. Eu me sentia um fracote, chorando que nem um bebê por um menino que nem me dá bola, que um dia eu pensei que gostasse de mim como eu gosto dele.

Mas as lágrimas transbordaram quando eu me bati com alguém, que me abraçou ternamente, acariciando meus cabelos com as unhas. Ele gemeu, fazendo-me soluçar e começar a chorar alto.

-Ele é ridículo, eu sei. – Gustav sussurrou no meu ouvido, aninhando-me em seu peito e andando comigo até o almoxarifado, fechando a porta e a trancando por dentro.

-Gustav... – Tentei sussurrar entre soluços, mas o choro só aumentou, quando ele voltou a me abraçar e me puxarpara seu peito. – E-eu-eu o-odei-deio e-ele!


- Entenda que não é todo mundo que é inteligente como você, Bill. – Ele murmurou, segurando uma das minhas mãos. – E o Tom é totalmente o contrário de você.


-Ele não gosta de mim, Tatavo... – Choraminguei, o chamando pelo apelido de infância. Ele soltou uma leve risada, me encarando agora no escuro.

-Ele te ama. – Sussurrou, e depois voltou a me abraçar como antes, acariciando meus cabelos.

Não sei quanto tempo fiquei ali, abraçado com o Gustav, sentindo aquele cheiro “maravilhoso” de água sanitária misturado com detergente. Só sei que foi tempo suficiente para eu recuperar a minha auto-estima e determinação para continuar a minha super missão.

Gustav, Nap, Yuki e Zuzk estavam certos. Tom me ama. Só que ele é TÃO BURRO que não consegue enxergar isso, e se ele não consegue, eu vou fazê-lo enxergar.

-Eu já estou melhor. – Murmurei para Gustav, que alguns segundos atrás, tinha assumido uma posição quase morta.

Não obtive resposta. Levantei-me e tateei no escuro pelo interruptor, demorando mais alguns minutos até achar. Quando o lugar ficou iluminado, pude ver Gustav dormindo, com seus óculos pousados na ponta de seu nariz, quase caindo.

Dei uma risada baixa e o ajeitei no chão, escrevendo um bilhete de agradecimento com um dos meus papéis de carta e deixando ao seu lado.

Saí do lugar meio aliviado por inspirar um cheiro mais decente. A escola estava vazia, sinal de que a aula já tinha começado há muito tempo.

Resolvi que não iria comparecer a aula naquele dia. Minha cabeça estava nas alturas e eu não conseguiria me concentrar mesmo. Comecei a andar sem rumo pela escola, conhecendo lugares que nem eu mesmo tinha ido.

Eu ainda estava meio magoado, mas tinha feito uma promessa a mim mesmo que não iria desistir do Tom, pois o amava muito. E sinceramente, eu não conseguia me ver amando outra pessoa como eu o amo.

Gustav era um amigo distante, já fomos amigos de infância e ele que me ensinou a gostar de estudar. Começamos quando tínhamos apenas 6 anos e eu tinha bastante dificuldade em aprender a ler.

Mas com o tempo, Gustav foi conhecendo o Tom e eles até hoje são amigos. Ele não era o melhor amigo de Tom, porque esse cargo era de Georg, mas eu sabia que era ele que o Tom ouvia quando estava precisando de algum conselho ou estava confuso, porque Gustav sempre sabe o que falar.

Ele falava comigo com menos freqüência, mas naquele dia, ele tinha me mostrado que mesmo com aquela distância, ele ainda era meu amigo, o que me deu um pouco mais de força.

- Você sumiu naquele dia! – Ouvi a voz de Zuzk gritar da garagem.

Saí totalmente da minha linha de pensamento ao ouvi-la. Desde manhã que eu não conseguia encontrá-la e agora a ouço gritando na garagem com alguém.

Ninguém entrava na garagem coberta, a não ser alguns meninos que fumavam maconha escondidos, já que é o único lugar da escola que não têm fiscais ou guardas.

-Eu não podia ficar aqui pra sempre, Uki. – Agora era outra voz, também conhecida, mas que não fazia sentido nenhum estar ali.

Aquela voz era a da Nap. Ela e a Zuzk pareciam estar discutindo, mas a cada frase que elas trocavam, não fazia sentido nenhum para mim. A única coisa que percebi, era que elas se conheciam há muito tempo.

Mas como?

-Você é uma pedra mesmo... – Zuzk rebateu com amargura. – Eu até pensei que quando você se livrasse do Damiam, você ia voltar para mim!


Agora eu estava com uma pontinha de desespero no coração, ao ouvir o nome do meu ex-namorado maníaco. As coisas ainda estavam sem sentido nenhum para mim.

Cheguei mais perto da parede da entrada da garagem, colocando o rosto para dentro e vendo nitidamente Nap e Zuzk próximas a uma parede. Zuzk parecia estar chorando, e Nap estava um pouco virada de costas para mim, então eu não conseguia ver a sua expressão.

-Você está sendo incompreensível... – Nap murmurou, olhando para baixo. – Eu não podia mais continuar aqui na terra, não era uma coisa que eu escolhesse!


- E quanto a mim? – Zuzk falou baixo, deixando mais uma grossa lágrima cair de seus olhos verdes. – Você é um espírito que ajuda pessoas com problemas de relacionamento... Certo?


Nap apenas assentiu com a cabeça, voltando a olhar para baixo.

- Como você pode ser um desses, se você deixou aqui um enorme problema? – Indagou agora demonstrando um pouco de indignação, colocando a mão em seu peito, em cima de seu coração. – Porque você não voltou para me ajudar?


Alguns minutos de silêncio pairaram pelo estacionamento, e foi neles que pude entender um pouco da história e me surpreender pelo tamanho segredo escondido de mim.

- Porque eu não quis. – Nap sussurrou finalmente, arrancando um gemido de dor de Zuzk.

Aquela dor... Aquela dor não era física, mas era tão latente que podia até chegar ao estômago e fazê-lo contrair. Os músculos amolecerem e a boca se curvar para baixo. Os olhos se perderem em lágrimas.

- Eu quis fugir do meu problema e encarar o dos outros. – A voz de Nap, agora abalada, continuou. – Deus nada disse sobre isso, pois ele estava armando alguma coisa para me mostrar.


-Você... – Só foi o que Zuzk proferiu, voltando a cair em um choro sofrido.

- Como todos falam... Uma ação vale mais do que mil palavras. – Nap continuou, agora encarando o rosto molhado da menina loira a sua frente.

Zuzk parecia ter levado uma facada no estômago. Sua feição era tão profunda, que podíamos ver o tamanho buraco de sofrimento causado pela menina de dreads a sua frente. Ela se curvou para frente, se agachando devagar até cair no chão de lado, olhando para o nada.

Nap se agachou na sua frente, a segura pelo busto, tentando levantá-la, mas era em vão. Zuzk não olhava mais para ninguém, seus olhos continuavam abertos, mas desfocados.

- Eu te amo. – Nap sussurrou, provocando eco em todo estacionamento, antes de cair em um choro silencioso, colocando o rosto de Zuzk em seu ombro e a apertando contra si.

Com aquelas palavras, Zuzk pareceu voltar à realidade, pois levantou sua cabeça e encarou o rosto de Nap com os olhos semicerrados, levantando uma mão e acariciando sua bochecha.

- Eu também te amo. – Sussurrou, colando sua testa com a dela. – Helena.


Zuzk colou seus lábios com o de Nap delicadamente, começando um beijo simples, o qual eu não prestei muita atenção porque Zuzk tinha acabado de me explicar em apenas uma palavra o motivo de toda aquela conversa.

Helena.

“Sim, ela era uma boa aluna, insegura e tinha um irmão chamado Went, ele era mais novo que ela e não dava a mínima bola pra ela, os pais trabalhavam em uma empresa e sempre viajavam, então Helena era completamente sozinha.”


Era a amiga de Tom, a ex-namorada de Damiam, a qual quase morreu de anorexia e depressão.

A Nap era Helena.

Dei alguns passos para trás, antes de começar a correr para a porta da frente da escola. Eu não sabia exatamente porque estava correndo, mas tinha muita coisa para pensar agora.

“Sabe, a Helena depois que saiu do hospital sumiu, não deixou nenhum bilhete ou recado, endereço... Nada. Só sei que ela foi uma influencia na minha vida, queria poder agradecê-la, tê-la abraçado e dito que tudo ficaria bem... Não sei onde ela está agora.”



Ela foi embora, porque ela não era humana, mas veio à terra para ajudar o Tom e a mim.

“Porque você não voltou para me ajudar?”


Mas nessa viagem ela se apaixonou pela Zuzk, e tentou esquecê-la.

“Deus nada disse sobre isso, pois ele estava armando alguma coisa para me mostrar.”

E a mandou novamente para cá, não só para nos ajudar, mas para ajudar a si mesma.

“Como todos falam... Uma ação vale mais do que mil palavras.”


Então tudo se encaixou para mim. Agora eu sabia toda a verdade sobre a Nap. Quer dizer, Helena.

Quando cheguei à frente da escola, sentei embaixo de uma árvore em que eu estudava freqüentemente. Fitei o nada por muito tempo pensando se eu deveria contar o que descobri para o Tom, já que ele queria muito saber o paradeiro de sua querida amiga.

Mas claro que não! Tom não sabia de nada sobre Fluffys ou coisa parecida. Ele conhecia a Helena humana, não a verdadeira Helena. E o pior, ele estava afim da sua amiga que aparenta ser outra pessoa.

Mais aquilo estava uma embolação! Balancei minha cabeça de um lado para o outro, deixando meus cabelos meio desarrumados, tentando em vão clarear minha mente e decidir o que eu tinha que fazer primeiramente.

Coloquei meus óculos e peguei meu caderno do “Usinho Puff”. Abri em uma página qualquer e peguei uma caneta azul. Suspirei pesadamente antes de começar a escrever.

#Coisas que tenho que fazer#

1- Conversar com a Nap (Helena, blú x_x’), sobre sua verdadeira identidade.

2- Conversar com a Zuzk também e saber a história da sua boca.

3- Falar a verdade para Tom, assim que conseguir concluir os itens acima.

4- *Pegar o Tom de jeito, antes que ele pegue outra vadia. :9

5- Pintar o cabelo.

6- *Ver escondido o Tom tomar banho de novo. >.>’

7- Tentar esquecer o item acima.

*= Requer muita determinação e vontade.

Assim que acabei de escrever, o sinal do fim das aulas tocou, dando um pequeno susto. Guardei rapidamente meus materiais e me ajeitei de um jeito confortável, olhando aquelas pessoas passarem sorridentes por mim. Algumas até acenavam e eu o retribuía com um sorriso leve.

Ao conseguir ver meu irmão, senti uma leve pontada no estômago. Eu não fazia a mínima idéia de como conseguiria encará-lo depois do incidente da piranha e ainda mais com aquela coisa toda sobre a Nap. HELENA, BILL!

Como se fosse a coisa mais natural do mundo, Yuki acenou para mim perto de um carro cinza que eu conhecia de algum lugar. Logo descobri de quem era ao olhar para o seu lado e visualizar Georg com seu típico sorriso débil, dando um aceno para Tom, que ia em direção a eles.

- Vem cá! – Yuki gritou, fazendo menção com a mão.

Apenas assenti, peguei minha mochila e andei até eles, que estavam apoiados no carro. Percebi que Tom agora ia à mesma direção que eu e logo nos estávamos andando um ao lado do outro.

- Ah Bill, o que teve na aula hoje? – Yuki perguntou logo de cara, pegando uma agenda em sua ENORME bolsa amarela-vou-te-cegar-se-ficar-olhando. – Eu já fiz o trabalho para amanhã, ok? E o professor...


- Epa, epa hein Georg? Não perde tempo! – Tom interrompeu Yuki, dando um forte tapa no ombro de Georg, que agora ria que nem uma gorda com a boca cheia de bolo.

-Ai, credo, Tom! Não foi nada disso, dã! – Yuki logo rebateu nervosa, colocando a franja para trás. – O Georg me fez a gentileza de me levar até a casa dele...


-Ei, não precisa contar os detalhes! – Tom interrompeu novamente, com uma risada estrondosa e debochada.

- Me levar até a casa dele para eu recolher algumas plantas que tinham no quintal dele...


-Huuum, plantas né? Eu até sei que tipo de planta é... – Tom interrompeu novamente, com a mesma cara safada.

-Cala a boca, porra! – Berrei, olhando feio para ele. Assim que proferi aquelas palavras, tapei a boca com as mãos, arregalando os olhos.

Estendeu-se um silêncio de quase 5 segundos entre nós quatro. Todos olhavam para mim, meio chocados, e logo depois se transformaram em risadas altas.

- Você falou um palavrão, cara! – Georg falou, apontando para mim parecendo que eu tinha me pintado de abóbora. Gente, qual é o nível de inteligência do Georg? Eu fico me perguntando se é 1 ou 0.

- Grandes coisas. – Falei com falso desdém, fechando os olhos.

-Bom, eu e o Bill precisamos ir para casa agora. – Tom interrompeu as risadas, colocando uma mão em minhas costas e me empurrando para frente. – Mamãe hoje quer alugar a gente pra faxina!


-Eita mulher que limpa! – Georg falou, meio intrigado. – Ela limpa aquela casa quantas vezes por dia, hein?


-Sei lá, depois da quinta você não conta mais. – Falou, já andando atrás de mim. –Tchau gente! Até amanhã.


-Até! – Os dois falaram e coro, e logo depois voltaram a conversar animadamente.