Uma trilha de luz verde podia ser vista no ar deixando os rastros de onde ela havia passado.

Buttercup nunca tinha dito a ninguém e, provavelmente nunca diria, mas a verdade é que até gostaria que alguém a seguisse... só pra saber que alguém se importava, que alguém ligava para o fato dela sair sozinha para andar no meio noite, que ao menos estranhassem um pouco sua falta.

A garota estava chateada, mas a mais forte das meninas super poderosas não queria ser pega desse jeito, não queria ser consolada de nenhuma forma nem por ninguém...

Sempre soube que não era como as irmãs, ela não era delicada ou feminina, não era a mais bonita ou a mais inteligente, não tinha nenhum tipo de poder especial como o sopro gelado de Blossm ou conseguir falar com os animais como Bubbles, e com o tempo finalmente se convenceu de que conseguir "dobrar a língua" não era nenhum tipo de habilidade super poderosa, ou pelo menos especial.

Ela já tinha quase 15 anos agora e quase nada havia mudado... com todo o tempo que ela precisava para pensar desidiu que estava indo para o topo do maior edifício da cidade, gostava do céu de lá a noite e de poder ficar quieta um pouco, apenas olhando as estrelas e abraçar de leve seu cobertor da sorte. O céu era tão vasto, tão acolhedor, e era... era bom, fazia ela se sentir pequena e de alguma forma acolhida.

Mas foi quando algo a incomodou.

O som de alguma coisa sendo quebrada preencheu seus ouvidos fazendo ela parar no ar, o som foi seguido de alguns resmungos altos e isso fez com que ela se agitasse.

Secando os olhos rapidamente ela tomou a direção do barulho, pousando em um beco foi se aproximando, ela não podia deixar de se preocupar com a cidade no fim das contas.

E foi indo até que...

– Aqueles cretinos...- o rapaz cuspiu algumas palavras emboladas e virou a garrafa de bebida goela a baixo, ele engasgou um pouco tossindo uns bons goles da bebida pra fora.

Buttercup o observou com mais cuidado deixando uma leve sensação de nostalgia no ar, já faziam alguns anos que ela não o via...

Ele tinha seu cabelo loiro meio bagunçado e as roupas naturalmente azuis amassadas, em uma mão levava uma garrafa de cerveja já com o conteúdo pela metade e na outra uma garrafa quebrada, os olhos que antes eram de um brilhante azul travesso agora pareciam tão desbotados...

Ela sabia que tinha passado anos com raiva dele e de seus irmãos mas... quando ela viu Boomer... quando o viu naquele estado, ele lembrava tanto sua irmã... e apesar de tudo, ela amava suas irmãs.

– Boomer...? - disse fraco, saindo de seu esconderijo ela levemente suspendeu os pés do chão e flutuou até ele.

O loiro por sua vez apenas ficou serio quando ela pousou na frente dele, Buttercup não esperava nenhum tipo de reação positiva, na verdade ela não sabia nem o que esperar... até que Boomer a abraçou, ou melhor, ele praticamente se jogou nos braços dela e se agarrou com força a sua roupa, começou a chorar desesperado, como uma criança pequena.

Mas a garota nunca tinha sido muito boa com crianças pequenas, ela apenas o abraçou de volta sem saber muito bem o que fazer.

– Por que caras..? - ele começou a falar entre lagrimas. - Por que vocês não param?

Foi então que ela entendeu, tinha sido confundida com Butch... sua versão masculina e irmão de Boomer.

– O que...- ela começou a falar tomando um pouco de coragem. -...o que nós te fizemos, em? - Ela engrossou a voz numa falha tentativa de ficar mais parecida com a de Butch, mas para um Boomer bêbado isso pareceu não fazer diferença.

– Me desculpe se não sou como vocês...- disse apertando os punhos e se agarrando ainda mais a roupa dela. - Eu não sei por que sou assim, eu não sei por que não gosto de futebol ou por que leio historias de menina...- ele afundou a cabeça no pescoço dela antes de continuar. - eu não sei por que não consigo ser tão duram quanto você mas por favor... - Fungou. - Por favor não me odeiem...

E assim novamente ele se pôs a chorar quase sem consolo.

Pela primeira vez ela retribuiu o abraço dele, envolvendo-o firmemente com os braços sentindo o corpo do menino enrijecer.

– Não é sua culpa...- disse baixinho sabendo que assim apenas ele poderia escutar.-... eu te entendo Boomer, então acredite em mim...- com isso uma pequena lagrima escorreu do rosto dela sem querer. -... não é sua culpa...

Era tão difícil para ela ver que não dizia isso apenas para ele, mas também para si mesma. Ela não tinha culpa de ser tão diferente não é?

Mergulhada em pensamentos, ela não viu os minutos passarem, até que algum tempo depois persebeu que ele acabou desmaiando, adormecendo nos seus braços ... e foi quando ela se tocou...

"Que merda!" pensou começando a se desesperar "E agora? o que eu faço com ele?! T-T"

E assim... Outro rastro verde cortou o céu, ela não tinha muita escolha, teria que esperar ele acordar, ver no que tinha se metido e... na confusão que isso ia dar depois.