Geralmente Victória era responsável pela maioria dos “rituais” de comemorações, sempre pintava ovos na páscoa, escondia-os e depois colocava os Gansos para caçá-los, no dia dos namorados aceitava de bom grado tudo o que lhe enfiavam na fuça, gostando ou não (do presente ou do remetente), no White Day enfiava chocolate branco em todos que presenteavam-lhe no dia de São Valentin, isso mais suas outras maluquices de feriado, natal, halloween, finados. Todavia o campeão de superstições de ano novo é o mordomo, variava de simpatia todo ano, nunca repetia um ritual por dois anos seguidos, era fácil já que tinha mais de mil rituais decorados de diversas culturas. Precisava de uma simpatia para prosperidade? “À meia-noite dê seis pulos com o pé direito e beba seis goles de champagne e seis de vinho branco“ Para dinheiro? “Jogue seis moedas para dentro casa enquanto bebe seis goles de champagne rose” Para saúde? “Dois cachos de uva batidos com vodka, licor e vinho tinto” Amor? “caminhe pela casa com uma mala de viagem e beba duas doses de rum puro” Precisa de uma simpatia aborígene de passagem de ano? Essa ele também sabe, mas só conta para pessoas especiais. Victória torceu o nariz para algumas das simpatias e absorveu outras, afinal acreditava em todas. Os soldados e funcionários que freqüentavam a mansão adaptaram-se as ordens do empregado chefe, Alucard ignorava todas as maluquices desde sua época de parceiros e Integra não acreditava em nenhuma palavra, mas como todas as mandingas vinham acompanhadas de algo alcoólico fazia todas, de bom grado, se funcionava ou não dane-se, pelo menos no final estaria bêbada o suficiente para agüentar as festas tradicionais da nobreza. Festas essas de fim de ano que sofriam com um método furado de sorteio, sorteio que a Hellsing jurava ser corrompido, já que nos últimos cinco anos era ela quem deveria ser anfitriã. Para isso também acabou-se criando uma tradição.

A Hellsing jogava todos os preparativos na mão do mordomo e não queria saber de nada, assim a decoração e menu eram para si tão grande surpresa quanto para os convidados. Estava em um ponto que nem mesmo a roupa escolhia, Walter lhe providenciava um caro vestido de alta costura, que para a moça não passava de um pano branco. Assim como nas outras festas que era obrigada a ir começava a criar um plano de fuga logo que chegava, com o caminhar dos ponteiros ia se afastando cada vez mais da aglomeração de babuínos em branco e marfim. E então pouco antes da meia-noite Integra conseguia chegar em seu escritório como um detento foge de Alcatraz. Salva em seu santuário permitiu-se trancar a porta com duas duras voltas à chave. Foi atraída à mesa de mogno com a doce visão de diversas pequenas garrafas de diversos líquidos quentes. Serviu-se de um fluído cobre enquanto observava a típica bandeja de bugigangas de réveillon de Walter. Essa fatídica peça ganhou fama, toda vez ele a colocava sobre sua mesa junto de uma lista de instruções de como realizar as simpatias para renovar-lhe o ano. Seguiu em direção a varanda congelada que molhava o piso quando suas portas eram abertas naquela época do ano. Apenas observou os flocos de neve voltarem a dançar por uma última vez naquele ano.

“Não é um bom clima para esse traje” Referiu-se ao vestido fino o homem que descolou de uma das paredes.

“Isso” estendeu o copo de conhaque a altura de seus olhos “É capaz de aquecer até um cadáver” sorriu no final da frase voltando para dentro.

“Sendo assim, peço que me deixe acompanhá-la” pediu seguindo-a de olhos baixos.

Ela por sua vez indicou-lhe um copo limpo com a cabeça sem dirigir-lhe realmente a atenção. Estava mais concentrada na lista de ‘tarefas’.

“Realmente acredita nessas...” mediu suas palavras “práticas?” serviu-se da mesma garrafa que a mestra.

“Você acredita?” voltou o copo à mesa oferecendo ao outro uma sobrancelha arqueada.

“Vivi o suficiente para não acreditar em nada e a duvidar de tudo, minha senhora” Riu baixo apoiando-se na borda da mesa ao lado da mulher provando um generoso gole da bebida.

“Nunca entendi, sua dieta é necessariamente hematófaga, porém consome álcool” questionou enquanto voltava a ler as instruções.

“Sua dieta, minha senhora, é onívora, porém ingere mais álcool do que nutrientes” julgou analisando seu próprio copo.

“Touché” encarou o relógio esperando a hora certa.

“Se minha senhora realiza esses rituais todos os anos, não vejo motivos para não tentar” cantarolou servindo-se de outra bebida.

“hum” Integra o encarou em suspeita “Por que isso agora?” recebeu um movimento de ombros em resposta “Nunca demonstrou esse interesse”

“Juro que minhas intenções são nobres” Sorriu fazendo uma reverência.

“Muito bem” deu-se por vencida lendo a lista “Primeiro deve-se comer duas azeitonas e guardar o caroço” abriu uma garrafa de gim e uma de vermute servindo dois copos com duas azeitonas mergulhadas em cada “Sabe o que combina muito bem com azeitonas?” sorriu de lado.

“Martini, claro” sorriu recebendo um dos copos e brindando em seguida.

“Eu particularmente as ignoro” anunciou percebendo o servo encarar as bolotas verdes no final do copo “Próximo item: brindar à soleira da porta de entrada” descartou as azeitonas completando o copo com gim “A porta de estrada está muito longe”

“Deveras” Alucard sorriu com o talento de deturpar instruções que sua mestra apresentara, ergueu seu copo iniciando um brinde rapidamente correspondido e acompanhado de um sorriso feminino “Próximo item?” perguntou depois de um tempo apreciando a bebida.

“Os próximo são para depois da meia-noite” indicou o relógio com um aceno.

“hum” Alucard resmungou por ter que esperar mais quinze minutos que não tardaram a passar já que serviram-se de mais uma bebida, agora só faltavam 3 minutos.

“Deve-se guardar um trevo de quatro folhas dentro de um livro ou agenda” recitou atropelando algumas palavras.

“Que bebida é verde como um trevo?” Alucard ignorou totalmente a planta previamente separada pelo mordomo posta na bandeja.

“Precisamos também de doce” leu o item seguinte mais alto quando o vampiro sumiu nas sombras. Segundos depois o homem retorna carregando uma garrafa verde.

“Que bebida é verde como um trevo e acompanha cubos de açúcar?” sugeriu entre sorrisos.

“Algo me diz que já caí no truque dessa garrafa” levantou-lhe uma sobrancelha “Mas” fez uma pausa separando outros dois copos “Walter ficaria muito chateado se eu não cumprisse suas superstições”

Alucard concordou com a cabeça e oferecendo um cubo de açúcar quando o relógio finalmente marcou meia-noite e alguns fogos foram soltos ao céu noturno e não mais tão sombrio de Londres. Terminaram as bebidas quando o relógio parou de tocar. O vampiro preparou-se para perguntar qual seria o próximo ritual, mas foi interrompido por um inesperado toque quente em seus lábios. Fechou os olhos como a outra a sua frente, aprofundou o contato pondo um braço ao redor da cintura feminina. Sentindo maior gosto de bebida, uma variada mistura delas, além da carne macia e quente que sempre adorou provar. Seus ouvidos ignoraram o som forte dos fogos que aumentavam gradativamente. Roucos ruídos femininos escaparam por entre a confusão de lábios seguido por uma maior aproximação que durou muito menos que o desejado, já que um dos participantes precisava, necessariamente, respirar. Alucard observou a dona dos lábios recém avermelhados respirar ofegante e depois de calma aproximar-se novamente.

“Isso estava escrito no papel?” Não resistiu perguntar entre curtos beijos bêbados de álcool e desejo.

“Quem se importa?”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.