Integra abriu os olhos, com dificuldade, sentindo aquela dor agonizante se tornar presente mais uma vez. Passou a mão direita sobre as bandagens que lhe revestiam todo o tronco. Aquela dor parecia estender-se da virilha até a nuca, a área estava tão fragilizada que o peso das cobertas era esmagador de mais. Os dedos longos, finos e agora trêmulos tocaram o foco principal da terrível dor: uma costela quebrada em batalha por imprudência de sua dona.

Soltou um gemido abafado ao sentir a cabeça latejar, pareciam longas e dolorosas batidas em seu crânio, até o som das batidas de sua coração pareciam elefantes pulando em sua testa. Tentou pensar, ou melhor, lembrar onde Walter tinha posto os remédios para dor e principalmente para fazê-la dormir. Desistiu quando pensar se tornou uma tarefa dolorosa de mais. Quem sabe se apenas fechasse os olhos conseguiria dormir sozinha. Cerrou os olhos azuis e suspirou o mais profundo que sua fratura permitia. Queria dormir e tentar esquecer a dor, mas seu servo tinha planos divergentes.

“É por isso que não quero-te em missões” O vampiro surgiu na poltrona próxima ao leito com uma voz grossa de mais para a dor de cabeça da outra. “Eu e a Policial somos capazes de cuidar de casos como aquele” Nem a sombra que ocultava parcialmente seu corpo pode ser capaz de mascarar o ódio que ele sentia agora, ódio de si mesmo por não ter evitado aquele golpe que a mulher recebera “Na verdade, eu poderia ter resolvido sozinho!” rosnou descontente.

Se tivesse força para tal, Integra colocaria o travesseiro sobre o rosto para abafar as constantes reclamações do servo, ou teria arremessado o objeto no vampiro. Mas, seu estado débil de ‘pós morfina’ a fez limita-se a um gemido.

“Uma costela quebrada é deveras preocupante” Ele continuou sua bronca obviamente indesejada pela mulher “Poderia ter o pulmão perfurado” Ele se mexeu inquieto na poltrona, provavelmente imaginando a cena “E considerando que é fumante há muito tempo...” ele estava decidido a continuar aquela oratória sem fim.

A Hellsing só tentava ignorar o monólogo do outro. Em outros tempos o expulsaria, insultaria, agrediria ou coisa pior que com certeza passaria em sua mente, porém no patético estado em que se encontrava não podia nem ao menos retrucar com um bom palavrão.

Cansada de mais para pensar. Cansada de mais para falar. Cansada de mais para atirar.

“... Mesmo que tenha sido, só” deu um sarcástico ênfase no último monossílabo “...uma costela quebrada desta vez, em uma próxima” Ele levantou da poltrona se aproximando aos poucos da cama com passos pesados “Em uma outra, que dependendo de mim, jamais virá a ocorrer...” Ele subiu o tom de voz, uma maldição para a dor de cabeça de Integra “Pode sair com ferimentos muito mais graves...” E mesmo assim ele continuava o discurso.

A mulher estava ficando irritada, seu servo dava-lhe uma bronca? Inaceitável! Queria xingá-lo que todos os palavrões que conhece, em todas as línguas que sabia. A voz masculina ficava mais alta e mais dolorosa a cada passo que ele dava em direção a cama. Nunca desejou tanto o silêncio em toda sua vida. Sua cabeça ia explodir a qualquer momento.

“... Além disso...” Ele parecia não desistir e ela nem entendia mais o que ele estava resmungando, só desejava o silêncio.

A enferma reunia todas as forças que tinha, tinha que tentar interrompê-lo, ou pelo menos dar o troco, quanto de energia precisava reunir para levantar o braço e mostrar-lhe o dedo do meio?

Alucard ainda não havia parado de tagarelar quando estava já ao lado da cama de sua senhora. Fez uma pausa para parecer mais dramático quando voltasse a falar, mas foi interrompido.

Ao que parece Integra não só conseguiu reunir forças para levantar o braço, mas também para puxar-lo pelo lenço, guiando os lábios dele até os seus, contato que não durou mais que dois segundos.

“Shut up, damn”