Hannibal entrara na cozinha com o cheiro de uma café da manhã ameaçando suas narinas. Estranhou profundamente já que era o único que cozinhava na casa. Seu rosto intrigado não passou despercebido pelo companheiro, que limpava a mão no avental, cena que enchia muito os olhos do doutor, por sinal.

— Posso saber o que fazem na minha cozinha? — O canibal indagou com um meio sorriso.

— Uma surpresa. — Abigail lhe respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Em seguida colocou dois pratos na mesa da cozinha. Omeletes, ele percebeu. Uma rápida inspeção visual na cozinha lhe forneceu as informações necessárias. Com um sorrisinho ainda mais satisfeito sentou-se à mesa, com uma garfada avaliou que a omelete não estava muito boa, mas sua inspeção anterior tinha mostrado que eles tinham tentado muito,e ele não seria mau a ponto de magoá-los dizendo coisas desnecessárias.

— Realmente impressionante — elogiou, trocando olhares com um atônito Will e uma curiosa Abigail. — Vou colocá-los mais nessa cozinha de agora em diante

— Passo — responderam em uníssono, involuntariamente.

Os três riram com leveza. Will sentou de frente ao outro omelete e Abigail puxou a mochila de uma das cadeiras, pronta para sair.

— Já estou atrasada — anunciou, olhando o relógio de parede com desgosto. — Vejo vocês mais tarde.

Acenou, saindo rapidamente pela porta da cozinha sem nem mesmo esperar resposta.

Hannibal e Will estavam sozinhos. Animado, Graham provou a omelete, Hannibal voltou a sua apenas para segundos depois ouvir um barulho de talheres sendo largados na mesa com certa raiva. A sua frente Will tinha rancor nos olhos, uma das mãos cerceava a boca, como fazia em momentos de nervosismo.

— Não está nem próximo ao seu — disse, contemplativo e raivoso. — É péssimo…

— Não acho. — Hannibal discordava, não estava péssimo, apenas ruim ponderou, mas não continuou a fala.

Will se levantou devagar, era um gesto um pouco rude, não pedir licença ao levantar da mesa, mas Hannibal não ligava, era Will afinal. Levantou-se também, indo até o companheiro encostado na bancada da cozinha.

— Foi um gesto muito gentil — disse com um tom carinhoso.

Bem próximos se encaravam profundamente. Olhos nos olhos. Antes que dessem por si já tinham acabado com o espaço. O cheiro de Hannibal envolvia tanto o outro que Will sentia que estava fora de si sempre que chegava perto dele. Sentia uma segurança que quase asfixiava de tão confortável, e Hannibal sabia. Talvez esse fosse seu erro, deixava tudo transparecer ao homem a sua frente…

— É quase perfeito… — Hannibal murmurou, a respiração do canibal na pele de Will arrepiava.— O design é seu ou meu?

A pergunta ficou dançando no ar apenas durante o tempo que estiveram com os lábios juntos e necessitados.

— A essa altura é nosso. — Will não tirava nem um minuto os olhos do médico, interessado, ávido. — Um pouco mais seu já que não tem nem um cachorro aqui…

Dividiram um sorriso. Um latido veio do lado de fora da casa, Will levantou a sobrancelha avaliando e então haviam dois cães latindo. O maior parecia de acordo com o número de cães audíveis, mas quando entraram em casa já eram três.

— Podemos parar por aqui — avisou, os cães ainda próximos à porta da cozinha, um trio nada harmonioso para Hannibal, mas os olhos do outro brilharam ao vê-los.

— Então... Isso é como poderia ter sido? — Os olhos de Will já estavam opacos quando focaram novamente em Hannibal.

O médico se afastou do companheiro com certa rapidez, e uma bela xícara que repousava sobre o mármore da pia balançou perigosamente vindo ao chão como boa seguidora da gravidade.

E se quebrou.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.