Como ela sabe que a ama?

Parece que não terei meu Felizes Para Sempre...


Robert se admirava no espelho que pendia em um armário no seu quarto, o terno de fino corte ficava bem nele, como dizia sua filha, ele ficava muito elegante com ele. Os olhos azuis claros eram muito mais evidentes contrastando com o tecido negro, assim como a pele clara, mesmo que estivesse um pouco maltratada pelo tempo. Sorriu para si mesmo em frente ao espelho, logo ouvindo o rangido da porta que se abria para sua esposa passar. Giselle estava maravilhosa no seu vestido florido, era apenas um traje casual, mas ela poderia facilmente entrar em uma festa com ele. Os cabelos ruivos estavam presos por dois palitos chineses, que foram ganhos em um passeio em Chinatown, Robert se lembrava ainda de como foi engraçado tentar convencer Giselle a comer lula frita e que no fim de tudo ela se recusou veemente, foi um passeio muito divertido para todos eles. O homem voltou a se olhar no espelho e viu Gisele sorrir atrás dele, ele certamente ficava muito elegante com aquilo, pensava orgulhoso. Giselle o analisou de cima a baixo e riu, ele se assemelhava a um pinguim para a moça. Ela foi até sua cômoda e pegou um perfume, voltou-se ao seu marido e esguichou um pouco nele.

- Pronto, agora está perfeito. – disse ela com a voz repleta de orgulho, os olhos azuis marinho brilharam. – Ah, já ia me esquecendo, chegou uma carta de Morgan.

- Ah, sim. – disse o pai ajustando mais uma vez a gravata. – Onde é o acampamento mesmo? E por que ela não manda um e-mail?

- Perto de LongIsland, e por que lá não tem computadores. – respondeu Giselle ao ajudá-lo com a gravata, seu semblante mudara para o serio só de mencionar a filha. – Pare de ser tão fresco Robert, ela está bem, está se divertido, no verão, como qualquer garota normal.

- É isso que me preocupa. – disse ele em um suspiro arrancando uma risada de Giselle. – Bem, que horas são? Não quero me atrasar.

- Já esta na hora, o taxi está lhe esperando lá em baixo. – disse ela sorridente. Naquela tarde Robert tinha que se encontrar com uma pessoa muito importante, eles estavam interessados em sua loja, queriam algumas de suas roupas no desfile de primavera daquele ano. – Muito obrigada querido. – disse ao lhe beijar delicadamente nos lábios.

- Vou dar meu melhor para você, querida. – disse ele ao sorrir, saindo do quarto e pegando a carta de Morgan nas mãos de Gisele. – Até o jantar. – disse e lhe deu outro beijo.

- Até, não se atrase. – disse ela lhe acenando e ele saiu.

Giselle foi até a janela e esperou até ver seu amado entrar em um taxi. Sorriu entrando novamente na sala, pegou sua bolsa na mesa e saindo em seguida do apartamento trancando a porta. Já na garagem, se encaminhou ate sua moto, Robert não gostava muito da moto, mas Giselle o convenceu, alegando que o vento nos cabelos a fazia se lembrar de andar a cavalo em sua terra natal. Ela foi até o prédio de sua loja, tinha que terminar uma encomenda mesmo que tivesse que voltar um pouco cedo naquele dia para fazer o jantar. Giselle estava animada, aprendera uma receita nova e queria surpreender o marido quando ele chegasse.

Ao chegar a sua loja, suas funcionarias estavam a todo vapor, sorriu com satisfação. Haviam modelos vestindo modelos de roupas que ela criara naquela semana, tiravam fotos em um canto para uma revista queria anunciar suas roupas. Algumas funcionarias colocaram pranchetas em suas mãos, ela analisou cada uma, alguns eram contratos e outros a precisa liberação de dinheiro para tecidos finos. Assinou alguns em aprovação os devolvendo para as funcionarias em seguida. Um café foi colocado em sua mão, ela sorriu e fez uma reverencia agradecendo. Sorveu o liquido, percebendo que eram café, leite, chantili e caramelo, seus preferidos.

Entrou em sua sala jogando a bolsa no sofá vinho, que estava no lado esquerdo do cômodo. Sua mesma ficava logo a frente de uma parede-janela. Tinha a visão perfeita do central parque, aproximou-se da mesa ligando o computador. Havia mesas de trabalho cobertas com medidas e tecidos ao redor da sala encostadas nas paredes, assim como manequins com vestidos ou roupas mais simples inacabadas. Colocou seu copo na mesa e pegou uma leve pilha de papeis que havia em sua mesa. Leu os papeis os colocando novamente no lugar, pegou uma caneta e assinou alguns, se acomodou em sua cadeira ao terminar e se virar para o computador, tinha e-mails demais, bufou. Gostava muito da loja, no entanto, às vezes era trabalho demais.

Não demorou que uma de suas funcionarias adentrasse sua sala avisando que o senhor Joffrey Lawrence havia chegado. Giselle pediu a moça para leva-lo ao segundo piso enquanto ela ajeitava alguns papeis e e-mails. Ao terminar, saiu do escritório e foi atender o convidado, seria um longo e cansativo dia.

Quase do outro lado da cidade Robert olhava as paisagens. Era incrível como eles poderiam escolher um local tão longe para a reunião, mas se fosse para ajudar Giselle, ele faria qualquer coisa, até ficar no alto de um prédio nas mãos de um dragão-rainha. Sorriu se lembrando disso, era um lindo dia de verão naquele inicio de tarde, o sol ultrapassava as arvores dando ao chão manchinhas claras de luz, o vento soprava forte de vez em quando trazendo as risadas das crianças que podiam ser ouvidas ao longe, estas estavam alegres por não ter aula e por poderem se divertir.

Morgan deveria estar realmente se divertindo no acampamento, ela nunca poderá fazer algo assim, porém com um empurrãozinho de Giselle isso finalmente acontecerá. Estava grato por ter a ruiva em sua vida, queria saber onde estaria Nancy naquele momento, estava também grato a ela por entender o seu amor por Giselle. Depois de mais ou menos um ano de casamento ele se sentia o homem mais feliz do mundo.

Mal podia esperar para ver o rosto de sua esposa quando ele conseguisse o contrato, aquela loja era a paixão dos dois.

...♦...

Giselle chegou em casa quase cinco e meia da tarde, estava cansada, mas apenas tomou um banho rápido e foi para a cozinha preparar o jantar. Fazia tudo em uma velocidade surpreendente olhando o livro de receitas que estava em um pedestal na bancada. Percebeu e não havia ovos o suficiente, rangeu os dentes, suspirou e deu de ombros, desligou o fogo e cobriu as coisas que usava para o preparo, tirou o avental e pegou sua bolsa saindo rapidamente do apartamento.

Pegou sua moto e foi até a loja mais próxima, era apenas para comprar alguns ovos, mas ela não deixou de comprar coisas a mais. Caminhava pelos corredores do lugar animadíssima para voltar pra casa, pela primeira vez em semanas, teria uma noite só dela e Robert. Amava a companhia de Morgan é claro, mas também queria um tempo de casal com o marido.

De volta ao apartamento, viu que estava escuro e desolado. Ela sentia falta dos animais que sempre estavam ao seu redor, mas naquele momento quem ela queria realmente ali era Robert. Recolocou o avental e continuou a preparar o jantar, agora com os ovos na conta certa. Pegou a garrafa de champanhe que havia comprado, e como o dono da loja a recomendou, ela a colocou eu uma tigela com gelo. Arrumou a mesa a decorando com flores, voltou à cozinha para terminar o jantar cantarolando.

- Como eu sei que tu me amas Robert? – indagou a si mesma sorrindo enquanto colocava o assado no forno.

O barulho do telefone invadiu seus ouvidos, geralmente ligavam durante o dia, pensou que talvez tivessem algum imprevisto na loja. Limpou as mãos no avental e foi até a sala, sentou-se em uma poltrona e atendeu ao telefone.

- Alô? – indagou ela para quem quer eu fosse do outro lado da linha.

- Boa noite. – começou a voz grossa de um homem, Giselle não sabia quem era. – Com quem falo?

- Giselle Phillip. – respondeu ela receosa não entendo o porquê aquele homem ligara para lá. – Por que?

- Ah, senhora Phillip. – Sua voz estava impassível, mas Giselle estava com certo medo. – Era exatamente com você que eu queria falar. Sou John Felton, da polícia de Nova York. – Ele hesitou. – Te liguei para lhe informar que seu marido, Robert Phillip, estava em um taxi que bateu há pouco mais de três horas. Meus pêsames, mas seu marido faleceu no hospital.

Pareceu que todo o sangue resolveu desaparecer do rosto de Giselle, não conseguia processar o que o homem lhe havia lhe dito. Robert não podia ter morrido, ele dissera que a veria no jantar, era mentira, só poderia ser uma brincadeira de muito mau gosto. Engoliu em seco ainda absorvendo aquelas palavras cortantes do homem.

- Senhora Phillip? – chamou ele ao perceber que a outra linha ficara silenciosa, ele conseguiu ouvir os soluços da ruiva. – Vou lhe mandar o numero do necrotério, mas acho que eles irão te ligar para que você possa agendar os preparativos e o enterro.

- Muito obrigada. – ela respondeu ao homem com a voz embargada, as lagrimas frias começaram a rolar por suas bochechas pálidas. – Eu espero.

Ela colocou novamente o aparelho no gancho quando encerraram a conversa, cobriu a boca com os olhos arregalados. Morte? Isso não era possível. Olhou pela janela e sorriu amargamente, ele logo chegaria e jantaria com ela, teriam uma das melhores noites de sua vida. Deixando mais lagrimas caírem ela negou com a cabeça. Não, não seria assim, ela sabia. Levantou-se com as mãos tremulas e foi até a sacada, olhou para o céu com poucas estrelas, pois as luzes da cidade as ofuscavam e não eram tão visíveis. Não conseguia acreditar, Morgan veio a sua cabeça, como contaria para ela?

Comeu seu jantar sozinha naquela noite, não conseguia nem olhar para onde Robert deveria estar sentado. Não queria acreditar. Aceitar.

No dia seguinte ligaram para ela a fim de marcar tudo, ela não estava muito melhor que na noite passada. Recebeu vários e-mails de pêsames, de suas funcionarias e amigas. Ela nunca percebera o quão vazias algumas palavras poderiam ser.

...

- Morgan Phillip? – chamou a monitora do acampamento, as meninas estavam na área de recreação.

- Sim? – indagou a garotinha ao se posicionar na frente da morena. – O que houve Lena?

- Ah, ai está você. – disse a mulher e logo sorriu tristemente. – Vá para seu dormitorio e arrume suas coisas, você vai voltar hoje para casa.

A garota franziu o cenho, estava incrédula.

- Não há tempo para explicações Morgan, por favor, apenas obedeça. – disse ela passando a mão pela testa, não queria ser ela a dar a pior noticia da vida da pobre garota. – Quando você chegar a sua casa tenho certeza de que sua mãe irá lhe explicar, agora vá depressa, já pedi um carro.

- Tudo bem. – disse a garota cabisbaixa, não queria ir embora, era a primeira vez que poderia sair no verão. – Estarei pronta rapidamente.

Saiu da casa feita de madeira e correu pelo caminho de terra batida, quando chegou ao seu chalé já estava um tanto cansada. Havia algumas meninas arrumando o lugar, outras desenhando ou fazendo tranças umas nas outras, ela sorriu já sentindo falta daquilo antes mesmo de partir. Foi até seu beliche e começou arrumar sua mala, logo Maya se sentou ao seu lado lhe ajudando a dobrar as coisas, ela já sabia que era hora de Morgan ir, e também sabia o motivo, mas não contaria.

- Vou sentir saudades... – resmungou enquanto colocava o coração de argila que havia feito para Morgan uma semana atrás na mala. – Queria que pudesse ficar mais.

- Eu também queria poder ficar mais. – ela disse e abraçou a amiga nova. – Mas ainda poderemos trocar e-mails não é mesmo?

- Sim, e no verão que vem, poderíamos nos ver de novo? – indagou Maya esperançosa, diferente de Morgan ela era um pouco mais alta, seus cabelos eram claros em um tom mel, tinha um lindo sorriso, olhos que mais pareciam perolas negras. – Talvez não aqui no acampamento, mas talvez eu pudesse ir até NY, iria ser muito legal, sempre quis ir ao Central Park.

- Sim, será muito divertido. – disse Morgan pegando suas pulseiras que fizera com Maya e guardando-as na mala. – Vou pedir ao meu pai para chamar o seu, e assim poderemos fazer um piquenique, todos juntos lá.

Maya hesitou, era como receber um soco no estomago, sabia que Morgan não poderia pedir nada para seu pai, não mais. Mesmo assim sorriu e abraçou a amiga, se levantaram e ela a acompanhou até a sala dos supervisores, ajudando-a a carregar a mala. As duas ficaram inseparáveis naquelas cinco semanas de verão que passarão juntas. Chegaram a cabana das supervisoras, Morgan não queria deixar o acampamento, ainda tinha dois meses naquele lugar.

- Bem, sugiro que se despeçam rápido Morgan. – disse a supervisora Helena ao entrar no carro quando o motorista ligou o motor. Ela olhou para Maya que já soltava lágrimas e se abraçaram.

- Eu tenho certeza de que isso não é um adeus, Maya. – disse morena de olhos azuis ao apertar sua amiga. – Você vai ver, eu vou pedir para meu pai e minha mãe. - a amiga chorou mais e se odiando imensamente por não ter coragem de contar para ela a verdade.

- Até mais então. – disse e lhe deu um beijo na bochecha, já que não poderia fazer mais que isso ali, podia sentir as lágrimas salgadas de Morgan lhe adentrarem a boca. – Tenho certeza de que não é um adeus. - Morgan sorriu e entrou no carro, ainda acenando para Maya que ficava menor a cada minuto, assim que a perdeu de vista se sentou corretamente no banco.

- Helena, por que eu tive de ir embora? – ela indagou recendo um suspiro da mulher.

- Sua mãe explicara tudo. – disse ela e se acertou no banco. – Tente dormir, ainda falta muito para chegarmos a sua casa. - Morgan assim o fez.

...♦...

Giselle estava naquele apartamento, que agora lhe parecia o lugar mais sombrio da face da terra. Ela costurava seu vestido para o enterro do marido, ou seria ex? O tecido negro nunca lhe agradou, gostava mais de cores vivas, mas aquilo era o que seria adequado. Fazia tudo sorrindo. Por quê? Porque ela sempre dizia para Robert que por mais que as coisas estivessem ruins ela deveria sorrir. “Se lembre da cor do céu” ele dizia para ela “Tudo pode estar dando errado, porém ele não deixa de ser azul por causa disso’’.

- Me perdoe Robert. – disse para si mesma sentindo o gosto amargo das lágrimas que lhe adentravam os lábios, que eram forçados a sorrir. – Eu me lembrarei do céu por você, mas nesse momento esta sendo tão difícil...

Terminou o vestido pouco tempo depois, ficou sentada na poltrona admirando uma foto dos três em um piquenique no jardim botânico no qual foram há pouco tempo. Continuava a sorrir, mesmo que a dor fosse muito pior que qualquer outra q já tivesse sentido na vida, continuava a sorrir. Logo batidas na porta a despertaram, caminhou lentamente até lá enxugando as lágrimas que escorriam por seu rosto naquele momento.

Assim que a abriu, sentiu os pequenos braços de Morgan a envolverem em um abraço apertado. Seu sorriso tremeu enquanto afagava os cabelos da filha, logo a garota lhe soltou e correu para dentro do apartamento, deixando Helena e Giselle na porta, a supervisora lhe entregou a mala de Morgan e não deixou de notar os olhos vermelhos da ruiva.

- Eu sinto muito, Giselle. – disse ela e recebeu um sorriso triste acompanhado de um turbilhão de lágrimas. – Eu vou indo, adeus.

- Obrigada por trazer Morgan. – disse e fechou a porta quando a mulher se afastou.

- Gi! – chamou Morgan, esta já estava admirando o vestido que estava na sala. – Como ele é lindo. – murmurou pra si mesma. Giselle adentrou a sala vendo a filha rodear o vestido. Limpou as bochechas e se sentou na poltrona, logo Morgan se sentou em seu colo lhe encarando.

- Gi, por que você estava chorando? – indagou ela não realmente preocupada e olhou em volta. – Cadê meu pai? Quando ele volta? Quero lhe mostrar o que fiz no acampamento, ah, fiz umas pulseiras pra você também e...

- Morgan. – interrompeu Giselle não aguentando aquela dor que tomava seu peito. – Seu pai... Ele não vai mais voltar... Nunca mais...

- Por que não? Ele viajou? – indagou ela, mesmo já sendo madura o suficiente para entender o que a mãe dizia. – Não brinque comigo Gi, diga onde está meu pai.

- Ele faleceu, Morgan. – disse Giselle começando a chorar novamente e se esquecendo de sorrir como havia prometido. Abraçou a suposta filha que estava com uma expressão de pânico, Giselle a apertou em seu peito.

- Não se preocupe, eu vou cuidar de você, eu prometo. – ela a abraçou mais forte e logo esse abraço foi retribuído.

- Por favor, Gi. – suplicou a garota em seus braços. – Me diz que é mentira, me diz que ele vai voltar daqui a pouco. – ela soluçou não contendo as lágrimas. – Eu não quero acreditar Gi.

- Tudo bem, eu também não quero.

... ♦...

O céu estava claro, mesmo que com algumas nuvens cobrindo o sol, e como ele dissera, por mais que as coisas estivessem ruins ele jamais deixaria de ser azul. O véu de renda negra cobria o rosto jovem e triste de Giselle, Morgan chorava sem se conter deitada sobre o caixão fechado do pai, toda a igreja podia ouvi-la, no entanto nenhuma alma naquele lugar iria consolar a garota. Nem mesmo Giselle, que sentia uma dor e um vazio tão grande em seu peito, conseguiria acalmar a garota. Seu coração estava tão abalado quanto o dela, mas já não havia lágrimas para derramar na madeira fria que aprisionava seu amado. Nem mesmo o veria pela ultima vez, mesmo sabendo o motivo pelo qual o caixão estava fechado, no acidente mesmo tentando costurar, o rosto ficara muito... Irreconhecível. Ela não conseguia mais agüentar aquilo, caiu de joelhos ao lado do caixão e de Morgan, a menina a abraçou encharcando seu vestido com lágrimas, Giselle afagou seus cabelos e deixou as lágrimas correrem.

Depois de vários minutos, ela com uma força que não era dela, conseguiu abrir um sorriso, mesmo que vago e triste.

- Ele continua azul querido, você tinha razão. – murmurou para ele, sabendo que no lugar onde estava iria ouvir. – Ele sempre será azul.

Morgan e Giselle dormiram juntas naquela noite, precisavam do conforto de ainda ter uma a outra. Ao menos ainda tinham uma à outra.

...

Morgan abriu a porta do apartamento, mesmo depois de dois dias em que ocorrera o velório, seus olhos ainda estavam avermelhados, ela e Giselle assistindo a um filme qualquer naquela tarde para se distraírem. Quando a menina olhou para cima encontrou Nancy e Edward, a morena carrega um bebê no colo, Morgan quase sorriu, deu espaço para que os dois entrassem, fechou a porta e correu para a sala sendo seguida por eles.

- Gi! – ela balançou a mãe que já dormia profundamente. – Temos visitas.

- Sim, Morgan pare! – Giselle coçou os olhos ainda sonolenta. – Quem... – elevou os olhos encontrando os dois de pé. – Ah, que surpresa. - ela se levantou e abraçou os dois que sorriam. Os convidou para sentar.

- Morgan poderia fazer um café? – indagou ela quando todos já estavam sentados. – Obrigada querida.

Mesmo que não fosse muito perceptível Nancy possuía olhos avermelhados assim como Giselle, estivera chorando por muito tempo. Mesmo que havia muito tempo em que não via Robert, ainda o amava, mesmo que como amigo, ela o amava.

- Oh, é... O filho de vocês? – indagou Giselle em referência a criança no colo de Nancy.

- Sim, seu nome é David. – disse Nancy sorrindo para criança adormecida. – Ele tem quatro meses.

- Eu poderia segurar ele? – indagou recebendo um aceno positivo de cabeça. – Obrigada.

Aquela criança era tão leve, era como carregar uma almofada, ela sorriu. Logo depois do casamento com Robert, descobriu que não poderia ter filhos, ela não sabia a real razão, apenas disseram que ela não poderia, explicaram para Robert, mas ela não entendeu. Ficara desolada por saber que não poderia ter filhos, mas eles ainda possuíam Morgan.

- Ele é tão lindo. – disse ela sem realmente medir as palavras, era só o que ela sentia no momento. – Será um ótimo garoto eu tenho certeza.

- Obrigada. – disse Nancy corando um pouco. – Giselle nós viemos até aqui por que... Bem ficamos sabendo do incidente com Robert e... Queríamos dar nossos pêsames.

- Ah, obrigada, mas o que são pêsames? – indagou Giselle, mas ela realmente não sabia o que era. – Eu...

- Ah, pêsames é quando sentimos muito pela perda de alguém... – explicou Nancy com um sorriso triste. – Ficamos sabendo a pouco tempo de Robert, então viemos para... Bem, para ver um rosto conhecido e saber que... Não está sozinha e vamos lhe ajudar.

- Eu agradeço, mas eu não quero que sacrifiquem a felicidade vocês pela minha, eu ainda tenho Morgan. – disse Giselle, não queria uma ajuda de fora. – Nós vamos ficar bem, eu tenho certeza. – olhou para os dois com pesar. – Estou muito feliz pelos dois, bem, pelos três. Tenho certeza de ficaremos bem.

- Aqui está o café. – anunciou Morgan ao entrar na sala com uma bandeja. Passaram o restante da tarde conversando, Edward apenas brincou com Morgan enquanto Nancy e Giselle conversavam.

...♦...

Um ano e meio depois

...♦...

Giselle deixara Morgan cedo no colégio e seguira para sua loja, hoje teria uma nova garota e ela precisava estar lá. Mesmo depois da morte de Robert ela manteve a loja, amava muito aquele lugar que construíram juntos e com todo amor. Chegara ao prédio apressada, já se passava das oito e meia da manhã. Chegou ao salão principal onde se encontrava seu escritório e várias mulheres trabalhando, algumas delas fizeram o de sempre, mostraram projetos e alguns papeis, até lhe entregando um café, do jeito que gostava.

Deu um gole em seu café enquanto uma assistente retirava seu casaco e o levava para sua sala, parou de beber para agradecê-la. Haviam pedidos de verba para adereços, ela os achou desnecessários, então recusou entregando a prancheta para a mesma garota. Respirou fundo, e olhou em volta, todo o lugar era banhado por uma luz tímida do sol, as janelas de vidro deixavam o salão principal maravilhoso. Enquanto observava o lugar já muito conhecido notou algo de diferente ali, era uma garota, não parecia ter mais de 19 anos. Seu cabelo era azul claro, completamente azul, era maravilhoso assim como o céu. Sorriu.

- Quem é ela? – indagou para Silvia que anotava algo perto dela.

- Ah, não sei... Aquela com os cabelos azuis? – indagou olhando na direção em que a ruiva mostrava. – Ela veio fazer o estagio da faculdade, e por falar nisso você tem que conversar com ela.

- Ah, ela fará o estagio. – disse Giselle ainda encantada com a garota, não podia ver muito bem seus traços, mas ela era linda. – Vou falar com ela.

- Mesmo que ainda não formada, ela tem ótimas referencias. – comentou Silvia sem dar muita atenção à ruiva que nem piscava ao encarar os cabelos azuis. – Ela me mostrou alguns projetos quando chegou, e nossa, eles são maravilhosos! Você devia dar uma olhada... – ela parou de falar ao perceber que a menor não ouvia. - Aqui.

Entregou-lhe uma revista onde ela estava na capa com um modelo que fizera há algumas semanas. Estava muito feliz nas fotos, o rosa combinava com seus cabelos ruivos, mesmo que estes fossem claros e mais parecessem loiros. Sorriu enquanto passava as paginas vendo várias roupas que eram feitas ali. Andalasia Fashion crescia absurdamente no ultimo ano, uma das melhores lojas e fabrica de roupas, sabendo-se que cada modelo era único.

Devolveu a revista para Silvia, que voltou a acertar o corte no colarinho do vestido em que trabalhava. Enquanto isso a ruiva voltava para sua sala e foi lhe entregue uma pasta de documentos parda. Entrou em seu escritório ligando o computador, sentou-se em sua cadeira e tirou os papeis da pasta. Era um currículo seguido de comprovantes e referencias assim como a notificação do estagio. Sorriu ao ver a foto da garota de cabelos azuis, mesmo que eles estivessem bem mais escuros na foto.

Franziu o cenho não conseguindo enxergar bem a foto por esta ser muito pequena, bufou irritada com aquilo e deixou a pasta na mesa e começou a abrir e-mails. Na maioria estes de empresas querendo comprar Andalasia, mas ela nunca venderia aquilo que tanto ama. Depois de analisar e aprovar ou desaprovar algumas coisas, ela foi interrompida por batidas na porta. Bufou.

- Entre! – anunciou ao mesmo tempo em que Silvia entrava sendo acompanhada por uma garota com cabelos azuis. – Ah, Silvia. - se levantou e foi em direção as duas.

- Está é Lauren, ela veio para o estagio, não me lembro o nome da sua faculdade, ah, boa sorte. – disse e saiu às pressas da sala deixando as duas ali, tinha que organizar os tecidos que chegaria dali à uma hora. Giselle sorriu recebendo outro da garota de cabelos azuis, que pelo visto se chamava Lauren.

- Sente-se... - disse a ruiva voltando para trás de sua mesa enquanto Lauren se sentava na poltrona a frente. – Ainda não li bem suas recomendações, mas eu acho que preferiria ouvir a ler.

- Certamente. – a voz de Lauren era doce e um tanto alegre.

Ela tinha os cabelos lisos e meio longos, eles mais pereciam cabelos de boneca, além do fato de estes serem azuis. Olhos castanhos, sua boca era grande, porém seus lábios eram finos, apenas com um gloss. Usava um casaco rosa, com uma regata azul escura, calças jeans escuras e rasgadas. Esse estilo deixava Giselle extasiada, era incrível como ela podia ser tão linda. Enquanto falava de suas referencias e sua faculdade, cada palavra era como se ela tivesse realizado um sonho. Estava no estagio de assistente de Giselle, ou seja, seria um tipo de aprendiz de Silvia. Mesmo que a dona dos cabelos azuis ainda não soubesse disso, era um trabalho difícil, mas depois que se pegava o jeito era ótimo.

Depois de conversarem por aproximadamente uma hora, Silvia as interrompeu. Entrou na sala sem bater, com um semblante entediado estampado no rosto.

- Senhorita, você sabe que eu odeio dizer isso. – ela fez uma pausa e umedeceu os lábios. – James Collins está aqui.

- O que ele faz aqui? – indagou Giselle estressada, por que aquele homem cismava em aparecer?

- O que sempre vem fazer aqui. – disse Silvia enviando um torpedo. – Já resolveu com Lauren? Posso levá-la?

- Ah, sim. Pode instalá-la com você, chamo se precisar, e ensine para ela okay? – indagou Giselle se olhando no vidro espelhado de sua mesa. – Mande James entrar. Ah, seja muito bem vinda Lauren.

- Muito obrigada senhorita Giselle, prometo não te decepcionar. – disse Lauren ao sair da sala com Silvia.

- Pode entrar. – disse Silvia ao passar por um homem alto e um tanto charmoso. – Deveria desistir James.

- Ah, Silvia entenda, eu nunca vou desistir. – disse ele ao passar pelas duas, com a voz grave e insinuante.

O homem entrou na sala sumindo da vista das duas, Silvia bufou enquanto se afastava para corrigir um erro de uma das funcionarias. Lauren mal via a hora em que poderia começar, queria muito participar daquela maravilhosa empresa.

...♦...

- James eu já lhe disse para não aparecer aqui à-toa. – disse Giselle enquanto organizava alguns papeis em cima de sua mesa. – Você conhece muito bem minha resposta.

- É por conhecer muito bem sua resposta, minha doce Giselle... – ele sorriu amarelo para ela que apenas o olhou entediada, era o mesmo papo de sempre. – Que venho tentando mudá-la.

- Ela não vai mudar. – disse ela incisiva já zangada com aquela lábia que ele tinha para conversar. – James desista, para seu próprio bem. Estou ocupada, seja breve.

- Vim até aqui para falar de outra coisa. – ele disse ao se sentar na poltrona que ficava em frente à mesa de Giselle, esta arqueou a sobrancelha. – Sabe Giselle, você administra muito bem isso aqui. – ela sorriu de canto com o elogio. – Mas a senhoria não acha que faria isso melhor com alguém ao seu lado? - Giselle quase riu, depois de um tempo no ramo dos negócios você aprende a ler o cinismo na voz das pessoas. Quando ela vivia em Andalasia, nem conhecia a palavra cinismo.

- Pra inicio de conversa eu tenho Silvia, que além de me ajudar a administrar tudo isso, que eu chamo de lar, é minha amiga e sempre estará aqui para me ajudar. – disse ela sorrindo e sabia o quão era bom ter amigos, Robert lhe ensinara isso. – Sem falar que acabei de contratar Lauren, mais uma para a família isso não é esplêndido?

- Sim é claro, mas eu queria dizer outra coisa. – James disse já não suportando ela rejeitar tanto as suas propostas de compra daquele lugar. – Eu queria que você viesse a um encontro comigo Giselle, eu sei que você amava muito Robert, mas eu também amava minha esposa. – um bolo se formou na garganta da ruiva. Se lembrar de seu falecido esposo lhe doía mais que receber facadas. – Eles nos deixaram e estão em um lugar melhor agora, eu lhe peço... Giselle, você sairia comigo? Eu poderia lhe levar para um jantar?

De certo que ela não sabia o que responder. Claro que James conseguia ser simpático, e até amável quando não falava de comprar sua loja, mas ter um encontro com ele? De certo que ele era bonito e um bom partido, tinha cabelos escuros de bom comprimento, mas estes sempre estavam despenteados, mas ficavam até melhor assim. Um sorriso branco como o dela, olhos azuis que brilhavam mais que quaisquer outros. Sem falar que ele era o homem mais persistente que já existiu no planeta, talvez ate alem. Giselle passou a mão pela nuca sem saber o que dizer, James notou seu nervosismo.

- Por favor, Giselle? – indagou a ela sorrindo, aquele sorriso carismático. – Eu quero tanto recomeçar do zero, você nunca pensou nisso?

Recomeço, era a única coisa que preenchia seus pensamentos. Porém recomeçar quaisquer coisas sem seu amado era como se não tivesse motivos para isso. Suspirou e olhou para o homem a sua frente, ele sorria esperançoso, ela suspeitava que fosse algum tipo de truque para que ela vendesse Andalasia Fashion. Semicerrou os olhos para o moreno a sua frente, sorriu, não via o porquê de não aceitar o pedido.

- Sim, tudo bem. – ela disse desviando o olhar para os papeis em sua mesa, encontrando o rosto lustroso de Lauren, sorriu. – Vou ver se tenho tempo essa semana e peço para Silvia ou Lauren te ligar, tudo bem?

- Sim, muito obrigado Giselle. – ele se levantou tomando a mãos da ruiva entre as suas e beijou a mesma, Giselle corou e puxou a mão de volta. – Mal posso esperar, meu doce. – James beijou-lhe a bochecha rapidamente e saiu da sala trombando com Silvia no caminho, ela acabava de mostrar aquele andar para Lauren. A dona dos cabelos azuis lhe sorriu, recebendo um de volta do maior, assim como uma piscadela.

- Nunca vai desistir James? – indagou Silvia debochada. – Sabe que ela não vai ceder.

- Ah, Silvia, meu amor. – ele se aproximou da morena. – Ela já cedeu.

- Duvido muito sabe... – disse ela mandando um torpedo enquanto entregava o casaco a James. – Ela não vai vender.

- Bem, ela aceitou jantar comigo, certifique-se de achar um lugar pra me encaixar na agenda dela okay? – beijou Silvia na bochecha antes de pegar um elevador.

- Nunca pensei que ela fosse aceitar sair com ele. – comentou Silvia.

- Ele quer comprar este lugar? – indagou Lauren. - Não entendi muito bem a conversa.

- Sim, esse ai sempre aparece tentando convencer Giselle. – Lauren pode ver o brilho nos olhos castanhos claros de Silvia. – Mas ela diz que nós somos a sua família, não se abandona a família não é mesmo?

- Entendo. – disse Lauren, não sabia o que era ter uma família, fora órfã até os doze anos e foi adotada por um casal que não parava em casa. – É a sua família.

- Bem, digamos que agora a senhorita também faz parte dela. – disse a morena ao pegar uma prancheta e assinar. – Sabe você está aqui para fazer o que eu faço e nesse momento eu preciso de ajuda com a comitiva de inverno. – disse ela atendendo ao telefone. – Sim, ás três. – desligou o telefone na mesma velocidade em que o atendeu. – Vai gostar de trabalhar aqui.

...♦...

- Espere. – disse James ao correr atrás de Giselle que se encolhia a sua frente, tirou seu blazer e colocou sobre os ombros da ruiva. – Está frio. - ela lhe sorriu, ele realmente sabia ser gentil e maravilhosamente insistente.

- Obrigada James. – disse ao segurar o casaco com apenas uma mão.

Usava um vestido rosa bem claro mais puxado para o tom de pele, ele era um tanto simples, de material fino, então o frio lhe transpassava muito facilmente. Haviam saído de um ótimo jantar, James fora um perfeito cavalheiro, ele sabia que Giselle gostava muito dele e investiria nisso, não queria apenas a loja, queria a ruiva também. Ele era apaixonado por ela já há algum tempo, mas ela era tão fiel a Robert que assustava. Era interessante como ela podia ser rude e um doce ao mesmo tempo.

- O jantar foi maravilhoso James. – disse ela enquanto passava os dedos pela amurada da ponte de madeira em que passavam. – Eu me diverti muito.

- Sim, foi esplendido. – disse o maior ao sorrir e olhar para as estrelas. - era bem mais fácil ve-las em lugares afastados da cidade, mas,mesmo com poucas delas, eram muito belas. – Muito obrigado, por... Passar a noite comigo.

- Foi um prazer... Obrigada por me convidar. – disse ela ao sorrir, mas este logo se desfez, pois se lembrou do ultimo encontro. Robert a levara ao circo. Fora o melhor e ultimo encontro de sua vida. – Eu vou ligar para o taxi e...

- Se quiser eu lhe levo para casa, não precisa pedir um taxi. – pediu James sorrindo, a ruiva estava mais bela que nunca.

- Não, tudo bem, muito obrigada por tudo. – disse ela já retirando o aparelho da bolsa. – Vou indo.

Ele apenas observou Giselle sair da ponte e ir em direção à avenida. Tirou seu telefone do casaco, logo estava enviando um torpedo para seu chefe, dizendo que a qualquer momento ele iria conseguir o que queria.

...

Giselle abriu a porta de seu apartamento. Este era seu novo, pois ela se mudou com Morgan, não conseguiriam viver em um lugar com tantas recordações de Robert. Suspirou retirando os sapatos, e abriu o zíper do vestido. Caminhou até a sala de estar.

Lauren estava desenhando em uma poltrona enquanto Morgan dormia no sofá, sorriu para as duas ali. Lauren continuava rabiscando o papel furiosamente sem notar a presença da ruiva. Parou com a mão e logo levou o lápis a boca o mordendo, Giselle riu, ao lembrar que fazia o mesmo. Os olhos verdes de Lauren se encontraram com os azuis de Giselle, que deu um susto na azulada.

- Obrigada por ficar com ela, Lauren. – disse ela se sentando na poltrona ao lado da dona dos cabelos azuis. Esticou a mão. – Posso dar uma olhada?

Lauren franziu o cenho, mas logo entendeu e entregou a prancheta para Giselle, que se recostou na poltrona e passou a olhar os desenhos. Eram muito bons, e havia até sapatos, de todos os tipos. Ela sorria a cada pagina virada, Lauren tinha real talento.

- Estão muito bons. – disse ela ao devolver para a garota que sorria lisonjeada. – Se você não fosse uma ótima assistente lhe mandaria para a produção em massa.

- Obrigada senhora... – disse Lauren com sua voz doce, alegrando a ruiva.

- Não há de que. – replicou ela escorregando um pouco na poltrona. – Por falar nisso, você está com os projetos da minha reunião de amanha? Silvia falou que lhe entregariam eles...

- Ah, sim. – disse ela ao pegar sua mochila no chão e começar a vasculhar a mesma. – Silvia falou que aprovou os amarelos e os azuis só precisam ser confirmados por você, já os vermelhos têm de ser conferidos. – e assim passaram mais algumas horas conversando.

- Aceita um café Lauren? – indagou Giselle ao se levantar da poltrona e sentir as costas doerem com a ação. – Afinal, ficou aqui por bastante tempo, geralmente não preciso sair à noite, foi tão em cima da hora que precisei de alguém para ficar com Morgan.

- Na verdade, a senhorita quem se esqueceu, pois já estava na sua agenda. – riu-se Lauren sendo acompanhada por Giselle. – Aceito sim, obrigada.

A ruiva voltou poucos minutos depois com uma bandeja, duas xícaras e um bule. Serviram-se e Giselle voltou a ler o projeto da comitiva de outono, mesmo que ela fosse para o ano que vem. O projeto estava bom, afinal quem o fizera foi Silvia, mesmo assim precisava de alguns poucos ajustes. Mandaria um e-mail para ela depois.

- Então, como está a faculdade? – indagou Giselle tentando puxar uma conversa. – Eu não fiz, mas acho interessante.

- Até agora está muito bem, as aulas são bem animadas e meu professor ama a Andalasia, mal acreditou quando contei que trabalharia aqui. – as duas riram, Giselle sabia que sua empresa era famosa, mas não achava que algo assim aconteceria. – E, sem ofensa, mas é bem difícil de acreditar que alguém sem estudos tenha conseguido construir um império.- Gisele pensou q quando alguém diz “Sem ofensa” geralmente você fica ofendido, mas ela preferiu explicar a se chatear.

- Sabe Lauren, eu cresci sozinha em uma floresta, cuidava de mim mesma, não tinha contato com o mundo exterior, muito menos com o seu. – a ruiva sorriu, sentia um pouco a falta de seus amigos da floresta. Lauren não sabia dessa parte. – E mesmo assim eu pude estudar, não tanto quanto você é claro, mas consegui pelo menos o básico, digamos, o que eu precisava... – suspirou. – Eu acho o conhecimento um presente, muitos não foram agraciados com ele, eu sou um desses, mas é por outro lado Lauren. Eu fui presenteada pelo destino, ele me deu Robert e ele me ajudou a desenvolver meu talento, sou grata por isso.

- Admiro sua paixão, seu talento, não conheci Robert, mas ele deve ter sido um bom homem. – “e de sorte” completou a dona dos cabelos azuis em pensamento.

- Tem família? – indagou a mais velha.

-Não, eu moro sozinha com meu pai. – respondeu ela, revirando os olhos vendo que a ruiva ainda estava interessada. – Ele não fica muito em casa, não trabalha, ele é um bêbado... Eu recebo pensão da minha mãe, ela mora na Florida. – Lauren sorriu, sentia falta da mãe. – Eu até iria para lá, mas as faculdades daqui são melhores e também posso trabalhar aqui.

- Nossa, fico feliz por você ter conseguido o que queria. – Giselle sorriu ao dar mais um gole em seu café. – Quer que eu chame taxi?

- Ah, não tudo bem, vou de metro, muito obrigada.

...

Lauren derrubara, por acidente, os rolos de tecido, cada rolo possuía um metro de altura e eles eram bem pesados, o pior, estava todos em filas, então foi um perfeito efeito dominó. A dona dos cabelos azuis cobriu a boca, enquanto observava os outros rirem de sua desgraça. Ela encarou Giselle com os olhos arregalados, a ruiva segurava o telefone ao lado do rosto, enquanto observava a pequena bagunça.

- Me desculpe... Eu não... – começou Lauren já levantando alguns.

- Está tudo bem, acontece. – riu-se Silvia que analisava os tecidos com as duas.

- Mil perdões eu não queria... Ah, como sou desastrada, perdão. – continuava ela, era sua primeira semana de trabalho na Andalasia Fashion, e bem, ainda estava aprendendo. Giselle se aproximou e tocou em seu ombro, os olhos se fixaram na ruiva.

- Não tem problema Lauren, isso acontece. –ela sorriu para a menor, Giselle tinha esse poder. – Vamos, deixe que Clary vai arrumar tudo.- De certo que Lauren era inexperiente, e que não conhecia grandes empresas por dentro, mas estava se esforçando, e a ruiva até achava fofo, ela ser um pouco atrapalhada. Giselle sorriu e pegou os papeis na mão da dona dos cabelos azuis.

- Então, o que teremos hoje? – indagou Giselle lendo os papeis.

- Ah, hoje você tem duas reuniões, a primeira será um almoço com Darla Stryder, a segunda será às três da tarde com John Mayer, e depois terá de ver o projeto da Revonne com Silvia... – Lauren foi ditando, e sinceramente, Giselle não estava nem um pouco empolgada, odiava dias cheios, mas até que Lauren não estava se saindo mal.

- Lauren querida, eu achei chato desde a palavra reuniões, mas é meu dever, se quero manter essa família. – disse a ruiva com um sorriso, e voltou a escolher os tecidos.

Família, não era uma palavra muito presente no vocabulário de Lauren, suspirou e foi atrás de Silvia.

Mais tarde naquele dia, Luren saiu do taxi sendo acompanhada por Giselle. Eram 11h30min, mas Gi gostava de chegar cedo, detestava atrasos. Entraram no Central Park, era primavera e ele estava maravilhoso, logo Giselle estava tagarelando sobre as flores. Era estranho, mas Lauren gostava de quando a ruiva falava sobre isso. Continuou a caminhar atrás de Giselle, Lauren recebia torpedos de Silvia, esta estava lidando com James no momento.

A ruiva começou a cantar, Silvia disse que ela tinha essa mania, ela cantava até bem. Não entedia bem o que ela falava por não prestar atenção, mas era algo gostoso de ouvir. Iam em direção ao único restaurante do parque, era um lugar maravilhoso, ele servia até de cartão postal. No entanto, Lauren jamais teria dinheiro para ir até lá, a faculdade lhe consumia. Chegaram até o lugar, parecia um pequeno castelo branco.

- Já veio aqui antes? – indagou Giselle ao ver a expressão de Lauren.

- Não, eu sempre quis, porém nunca tive a chance. – disse ela entrando no local.

O interior era tão belo, ela se lembrava o nome daquilo, era algo como Vintage, algo assim. Parecia como os castelos antigos, todo em um tom de vermelho vinho e marrom, alguns detalhes em dourado. Foram mais para o fundo, o estilo mudou completamente, agora o branco prevalecia. Desde o piso até os lustres de cristal.

Sentaram-se em uma mesa, o lugar estava meio vazio no momento, Gi olhava pela janela as crianças brincando. Logo um garçom as ofereceu o cardápio, Lauren pediu o mesmo que a ruiva. Ela começou a rabiscar em uma prancheta, afinal Darla só chegaria mais tarde.

- No que está trabalhando ai Lauren? – indagou a mais velha enquanto batucava os dedos na mesma.

- Uma bota, Silvia pediu algumas para ter mais opções na seção Davis. – respondeu a menor e Giselle assentiu. – Amo esse emprego.

- Eu também. – Giselle suspirou. – Amei construir essa família com Robert, pena que ele não está aqui para ver o que ela se tornou.

- Não quero ser intrometida, mas como ele morreu? – indagou Lauren fazendo com que Giselle suspirasse.

- Ele teve um acidente de carro, foi simplesmente o pior dia da minha vida inteira. – contou a ruiva desviando o olhar.

Continuaram conversando até que Darla chegasse e se juntasse as duas. Darla era alta, tinha a pele escura e cabelos muito cacheados, os lábios grossos e olhos grandes. Abraçou Giselle como se fossem super amigas. As duas começaram a tagarelar sobre o projeto, Lauren apenas lhes mostrava algumas coisas no tablet. Foi um dos melhores dias para Lauren, não queria mais destruir aquele império.

...

Dois meses depois.

...

- Alô? – Giselle atendeu ao telefone.

Estava preparando um café da manha, Morgan já havia ido para ao colégio, ainda se preparava para o desfile daquela tarde. A coleção de inverno da Andalasia, ela seria a primeira no desfile, ela deveria comparecer três horas antes. Silvia iria acompanhá-la, afinal ela era a vice-presidente da empresa. Giselle sempre ficava animada para esse tipo de evento... Mesmo que antigamente, ela iria com Robert.

- Oi Gi, sou eu, Silvia. – disse a morena do outro lado da linha. – Bom dia, como está?

- Ah, muito bem, eu acho, mas por que pergunta? – indagou ela, Silvia geralmente não ligava, não sem um bom motivo. – Está tudo bem com os planos do desfile?

- Ah, era sobre isso que eu queria falar. – começou ela, deixando Giselle aflita. – Eu não poderei ir. – o ruiva franziu o cenho. – Minha mãe, foi internada, eu preciso ficar com ela no hospital hoje, então não tem como eu lhe acompanhar. Mas eu liguei para Lauren, e ela fará isso por mim, já a expliquei tudo e você já esta costumada com desfiles não é?

- Sim, tudo bem Silvia, melhoras para sua mãe então. – disse a ruiva um tanto frustrada, gostava da mãe da amiga, mas ela queria sua companhia. – Vou ligar para Lauren e...

- Não precisa, ela deve chegar ao seu apartamento a qualquer instante. – Silvia a cortou, riu antes de voltar a falar. – Até parece que iria lhe deixar na mão, boa sorte.

Era incrível como Silvia conseguia ser eficiente, e nunca deixando nada passar, Giselle tinha certeza de que ela já havia deixado a maior parte das coisas prontas. Em uns vinte minutos Lauren bateu a sua porta, ela já sabia que ela devia estar com todos os modelos de roupas, os quais estariam no desfile daquela noite. Depois de analisarem tudo, fazer várias ligações, as duas pediram um taxi.

As ruas estavam cheias naquele inicio de tarde, estava um tanto cedo, mas era por outro motivo que saíram tão cedo. Lauren não sabia, mas não questionaria sua patroa, bem, não naquele momento. Alguns minutos depois, a dona dos cabelos azuis, notou que não estavam indo pelo caminho certo. Claro que a primeira coisa que pensou foi no motorista, o mandou parar imediatamente, e com isso chamando atenção da ruiva.

- Senhorita, o que houve? – indagou o motorista ao olhar pesaroso para as duas.

- Você me quem me deve explicações, o caminho não é esse! – disse Lauren ríspida. – Para onde está nos levando?

- Ah, não foram vocês que pediram um taxi para o cemitério Hudson? – indagou o homem ao mostrar o endereço anotado. Lauren franziu o cenho não entendo o que se passava. – Desculpem o meu engano, vou voltar e...

- Não senhor. – Giselle se manifestou chamando a atenção dos dois. – É o caminho correto, pode seguir para esse endereço mesmo, muito obrigada.

Ele assentiu e religou o carro, Lauren não entendia o que estava acontecendo. Giselle sorriu, esqueceu de dizer a ela.

- Antes de qualquer evento grande da Andalasia Fashion. – começou ela com a voz suave e um sorriso nos lábios. – Faço uma visita ao túmulo de Robert.

- Ah, perdão, eu não...

- Tudo bem, eu quem me esqueci de lhe dizer. – Giselle sorriu e voltou a analisar os papeis em sua mão. – Isso seria até legal mesmo, nunca tive companhia nessas visitas.

Lauren ficou encarando a mais velha, ainda sentindo o choque da notícia, sabia da morte de Robert. Mas realmente, nunca falavam dele. Sentiu-se um tanto nervosa de inicio, mas logo se acalmou se era isso que Giselle queria fazer, então era o que faria.

...

Giselle carregava uma cesta fechada, e em cima desta havia um buque de margaridas, ela caminhava a frente de Lauren. O vento mexia com seus cabelos, aquela cor laranja desbotada se misturando em diversas formas, era maravilhosa. A dona dos cabelos azuis estava um pouco desconfortável, não pelo fato de estarem em um cemitério às três da tarde, mas sim por esse ser o cemitério ser onde ela iria visitar o túmulo do falecido esposo de sua patroa. Pararam perto de uma arvore, e por estar ventando, dava para ouvir o farfalhar de suas folhas, assim como a melodia de alguns pássaros.

A lápide branca se erguia e devia ter uns 70 cm, as inscrições nela, Robert Phillip (1979 – 2008) estavam limpas e bem claras. Giselle estendeu uma toalha de piquenique bem à frente da lápide, Lauren estranhou, porém não a questionou.

Realmente fizeram um piquenique ali, mesmo que Lauren não estivesse entendendo nada. Mordeu uma maçã enquanto olhava para Giselle, esta encarava ao redor, sorrindo. Queria perguntar a ela qual o sentido disso, mas ela parecia tão calma que a garota achou melhor se deixar levar.

- Robert amava fazer piqueniques, sempre que venho aqui, faço um, sim é muito estranho. – ela riu ao ver a cara da funcionaria, e foi uma risada tão despreocupada que fez Lauren sorrir. – Mas eu realmente não vejo por que não fazer um.

- É o que eu digo quando me perguntam sobre o cabelo azul. – Lauren riu. – Por que o cabelo azul? Eu lhes pergunto, por que não cabelo azul?

- É tão lindo, como o céu. –a ruiva se deitou sobre a toalha e passou a observar a luz do sol que conseguia passar pelas folhas da árvore. – Amo azul.

Voltaram ao taxi um tempo depois, este não esperou, tiveram que pedir outro.

Já no desfile, mal tiveram tempo de conversar, havia muitas coisas para serem preparadas. Giselle era tão simpática com todos que chegava a assustar Lauren, ela nunca vira alguém sorrir tanto, mas resolveu fazer o mesmo. Durante a entrada das modelos com as roupas da Andalasia, Silvia lhe mandou um torpedo falando, para pedirem um taxi para voltar, por que ela não poderia ir.

No entanto Lauren voltaria de metro. O fechamento do desfile foi à coisa mais linda que a dona dos cabelos azuis já vira, nunca fora a um desfile, não um grande como aquele antes, achou sim algumas roupas estranhas, mas as outras eram maravilhosas. Tinha visto alguns dos modelos ali nos rascunhos que organizou há algumas semanas, e ela devia admitir que eram bem mais bonitos ao vivo.

Giselle não estava tão interessada no desfile, na verdade, o que ela mais queria naquele momento era dormir, sim, dormir muito. Logo após o final, saíram dali, estavam em uma avenida movimentada, então Giselle preferiu andar um pouco. Lauren apenas a seguiu.

Avistaram um café, e bem, nada melhor que se sentar e tomar um café depois de uma tarde agitada como aquela.

Deveria ser umas 18h da tarde, o céu já estava bem escuro, e mesmo assim sem nenhuma estrela. Esse era um dos problemas das cidades grandes, sem estrelas. Giselle se lembrava de que em Andalasia, pareciam mais galáxias inteiras, à simples estrelas. Sentia um pouco a falta delas, mas aquele não era momento para isso. Sentaram-se em uma mesa do lado de fora e pediram cappuccinos. A bebida quente era exatamente do que precisavam.

- Então, gostou do desfile? – indagou Giselle, Lauren estava distraída com um casal na outra mesa.

- Ah, sim foi maravilhoso. – disse Lauren com um brilho nos olhos. – Nunca fui a um tão grande antes.

- Também gostei, nossa, estou tão cansada. – Giselle suspirou ao olhar para os olhos castanhos de Lauren. – Você é tão linda, o homem que possuí seu coração tem muita sorte.

Lauren sorriu e corou, depois ofegou. Não queria ter que contar, mas era o jeito, mentir não fazia seu jeito.

- Ah, Gi. – disse ela e suspirou. – Eu não gosto de homens. - a ruiva franziu o cenho.

- Como assim?

- Me relaciono com outras mulheres. – explicou, mesmo assim não tirou a dúvida da mais velha. – Gi?

- Ah, quer dizer que você namora outras mulheres? – indagou franzindo o cenho ainda sem entender, Lauren riu e afirmou com a cabeça. – Nossa eu não sabia que isso era possível, mas parece maravilhoso.

- Ah, sim, isso é todo tipo de amor. – disse Lauren um pouco desconfortável, ela não sabia o que eram gays?

- Todo tipo de amor? Isso é encantador, homens também ficam com outros? – agora Giselle estava falando auto demais.

- Sim, ficam sim, até tem uma... – reconsiderou contar aquilo para ela, nem sabia decifrar se ela estava fazendo piada ou se realmente não sabia. – Acho melhor irmos, está ficando tarde.

- Ah, sim.

Lauren pegou um papel de sua mochila, o que era estranho, mas Giselle nem questionou.

- Poderia assinar essa carta de recomendação da faculdade para mim? – indagou Lauren com certo desconforto, mas Giselle assinou, nem leu, apenas assinou. – Obrigada.

Guardou de volta na mochila e sorriu.

Pagaram a conta e voltaram a caminhar, Giselle ainda estava ponderando sobre aquilo, como poderia haver um amor assim entre duas mulheres? Nunca vira nada parecido em Andalasia, na verdade, ela quase nunca via ninguém, a única coisa que sabia sobre o amor estava nos livros que lia. E em nenhum deles algo assim era mencionado, era um tanto curioso, mas Lauren dissera todo tipo de amor então algo assim, deveria ser normal... Talvez.

Giselle tentou não pensar muito nisso, o que, bem, não deu lá muito certo. Imaginou como seriam os encontros entre duas mulheres, será que jantavam juntas, ou saiam as comprar, ou viam um filme romântico? Ou iam a uma loja de chocolates? Eram muitas possibilidades, e ela até poderia perguntar a Lauren, mas tinha um pouco de receio, geralmente perguntava sem se importar com as conseqüências, mas Lauren não parecia muito bem. Não sabia lidar muito bem com aquilo, talvez a tivesse ofendido, não sabia, Silvia uma vez a dissera sobre chatear as pessoas, ela deveria tomar cuidado.

Lauren, por outro lado, pensava em Molly. Era sua amiga, bem, ex-amiga. Tivera uma péssima reação, foi ruim é claro, eram amigas desde bem pequenas. A reação de Giselle foi um tanto estranha, porém muito melhor que a da maioria, mesmo assim, Lauren estava receosa. Olhava Giselle com o canto do olho, ela sorria, e parecia radiante, como sempre, não podia deixar de ser. A dona dos cabelos azuis suspirou, estava cansada, o dia seguinte seria seu dia de folga, ela iria ficar bem se fizesse aquilo?

O taxi parou e Giselle entrou, na esperança de que Lauren fizesse o mesmo, no entanto ela apenas ficou lá, parada e sorrindo.

- Ah, não vem comigo? – indagou Giselle.

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no +Fiction e em seu antecessor, o Nyah, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!

- Não, vou de metro, eu vou me encontrar com uma pessoa, então até mais. – Ela deu as costas, mas a ruiva segurou sua mão.

- Me desculpe, caso eu tenha dito algo que te magoou, não foi minha intenção. – os olhos dela brilharam. – Eu só não sabia que iria poder fazer isso. - e ao terminar a frase Giselle a beijou nos lábios, surpreendendo a garota e o motorista, que preferiu ignorar a cena.

Era algo que Lauren não esperava. Fora um selinho de tirar o fôlego, Lauren não teve reação, afinal, como ter uma? Na verdade, não teve tempo de falar nada, Giselle entrou no taxi e fechou a porta, tão rapidamente que Lauren nem o viu se afastar, claro que isso também foi devido ao choque do beijo.

Quando finalmente piscou, notou que Giselle já não estava lá, nem o taxi, nem mesmo a lembrança. Foi tudo tão rápido, nem mesmo sabia o que fazer. Pensou em ir atrás de Giselle, mas se ela se foi tão rápido talvez seja por que não queria conversar, ou seja, telefonar também não é uma boa escolha.

Bufou e segui seu caminho, não iria adiantar ficar ali, em um mega conflito interno. Voltou a caminhar, dessa vez em direção ao metro, iria para casa, não teria cabeça para falar com mais ninguém. Ventava, o inverno estava próximo, se encolheu em seu casaco. Um sorriso se desenhou em seus lábios. Agora não tinha dúvidas. Como havia pensado, tinha certeza agora, estava completamente apaixonada por Giselle.

...

Giselle estava cansada, noite passada foi uma correria, e teve de voltar para casa a pé. Havia acabado de sair de uma reunião, e não aguentava mais ouvir sobre sua coleção de inverno, já não havia resolvido isso? E também estava preocupada com Lauren, ela não aparecia há três dias, o que era um tanto estranho. Passou pela sala de Silvia, a porta estava aberta, ela viu que a mesa dela estava vazia, achou estranho, ela estava mudando de sala? Sem dizer nada? Sem a encontrar, ela voltou a sua sala e foi surpreendida por Silvia que entrou sem bater.

- O que você fez? – indagou Silvia com a voz chorosa.

- Do que está falando? – questionou Giselle não entendendo aquilo tudo. – Como assim o que eu fiz?

- Você assinou isso! – exclamou Silvia ao lhe entregar um papel.

Ela analisou o papel, era um contrato, uma troca, em que Lauren passava a ser presidente da Andalasia Fashion. Giselle não podia acreditar, mas quando ela assinou aquilo? Ela sempre lia os contratos que assinava e... Lauren? Ela assinou, mas não era uma carta? Uma carta para a faculdade? Onde ela estava?

- Eu... eu pensei que fosse uma carta de recomendação. – começou Giselle gaguejando.

- Bem. – a voz doce da dona dos cabelos azuis invadiu os ouvidos das duas. – Você deveria ler os papeis que assina. – ela riu largamente da expressão de pânico de Giselle. – Não se preocupe Giselle, eu gosto de você, só que agora você é vice-presidente.

- Como pode? – indagou Silvia ríspida.

- Por que eu pedi. – a voz de James retumbou pela sala. – Não lhe contei Gi? – ele sorriu. – Lauren é minha sobrinha, e foi de grande ajuda, já estava cansado de sua marra sabe. – todo o sangue do rosto de Giselle desapareceu. – Ah, não se preocupe, não te deixamos na mão, ainda vai trabalhar aqui... Só não será mais a dona.

- Talvez alguém já deva ter te dito isso Giselle. – Lauren deu dois passos ficando frente a frente com a ruiva. – Não se pode confiar em qualquer um, e muito menos, em pessoas como eu.

Lágrimas irromperam pelo rosto de Giselle, ela perdera tudo.

..........THE END..........

Bônus

Morgan deu um beijo estalado na bochecha de Robert, e fez o mesmo em Giselle. Sorriu para os dois e logo correu até sua monitora, as outras meninas, já dentro do ônibus,estavam muito animadas, o que não era muito diferente do que ela estava sentindo. Afinal de contas, Robert jamais a deixara ir a um acampamento de verão, que era particularmente o que ela mais queria. Estava tão feliz que provavelmente nem se um asteróide caísse agora ela iria deixar de sorrir.

Acenou para os pais antes de entrar no ônibus, o falatório das garotas era auto, mesmo assim ela não deixava de sorrir. Caminhou até o final do corredor, onde havia uma garota sozinha, todos os outros bancos estavam cheios.

- Posso me sentar aqui? – indagou Morgan chamando atenção da garota, que olhava distraidamente pela janela.

- Ah, sim, claro. –disse ela, tinha a voz fina demais, ela devia ter 12 anos, assim como Morgan. – Fique a vontade.

- Prazer, eu me chamo Morgan. – disse a morena assim que se sentou ao lado da garota.

- Me chamo Maya, e o prazer é todo meu. – respondeu Maya.

E ali nasceu uma amizade.

...

- Vamos logo Maya! – chamou Morgan ao puxá-la pela mão. – Vamos logo, eu quero pular!

- Morgan eu acho melhor você ir sozinha, eu... Eu tenho medo de altura. – disse Maya ao empacar antes de subir a escada.

Morgan bufou, hoje era o dia em que iriam nadar no lago, havia uma prancha. Era seguro, esta só tinha 6 metros, mas Maya insistia em dizer que era alta demais. Serio que uma das atividades mais divertidas do acampamento seria desperdiçada por causa disso? Não mesmo.

- Vamos lá, e olha eu estou aqui, vamos ir juntas. – disse Morgan ao encarar os orbes negros da amiga. – Se eu for com você, não terá mais medo, eu tenho certeza.

Maya tinha muito medo de altura, e ouvir os gritos das meninas que pulavam, não estava ajudando em nada. Mas os olhos de Morgan repletos de suplica lhe faziam querer ir, mas seu medo lhe cutucava. Não sabia bem o que fazer, ir ou não... Ah, seja o que Deus quiser. Assentiu com cabeça, fazendo Morgan sorrir largamente, finalmente.

Elas subiram às escadas, que rangia um pouco, a morena quase tinha um surto a cada degrau, porém suspirava fundo e continuava a subir. Lá de cima as coisas não pareciam tão pequenas, ao menos para Morgan, pois, sua amiga estava a ponto de chorar. Aproximou-se da beirada, podia ver as outras garotas, alguns apenas nadavam, outras jogavam bola. Morgan queria jogar também, olhou para trás, podia ver a expressão de pânico de Maya, sorriu e lhe estendeu a mão.

- Juntas. – disse e riu.

E assim pularam juntas, de mãos dadas. Foi muito divertido, talvez, Maya nunca soubesse disso se não fosse por Morgan. Uma nova amiga, talvez uma amizade para a vida toda, não saberia dizer. Não ainda.

...

- Façam duplas e peguem os remos! – disse a monitora, alto o suficiente para todas ouvirem.

Claro que Morgan ficaria com Maya, afinal, depois de duas semanas naquele acampamento, se tornaram muito amigas. Mas por algum motivo, ela não conseguia encontrá-la, olhava ao redor, mas nada de ver sua amiga. Franziu o cenho, ela estava ali há um minuto, era estranho.Correu para longe das meninas, subindo um pequeno morro, na tentativa de ver melhor todas as meninas, e olhando de la encontrou Maya.

Mas ela não estava junto às meninas, iria ser um passeio a caiaque, Maya estava sentada no telhado da casa na árvore. Estranho, ela não tinha medo de altura? Essa questão durou pouco, percebeu que Maya chorava, e não parecia estar fazendo aquilo há pouco tempo. Correu para as escadas ignorando as ordens da monitora, o que pouco importava para ela naquele momento. Sua melhora amiga estava chorando, longe de todos, era quase que sua obrigação ajudá-la.

Quando finalmente chegou até la, Morganjá estava ofegante, a árvore não era tão grande, mas ainda era difícil se escalar. Sentou-se ao lado da maior, ela soluçava, estava abraçando os joelhos. Seus olhos vermelhos eram visíveis, aquilo apertava o coração de Morgan, mas ela não sabia bem o que fazer. Então fez o que Giselle faria, ela a abraçou. Mesmo que Maya fosse mais alta, agora não fazia diferença, pois estava deitada no peito de Morgan.

- Vai me contar por que está chorando? – indagou a menor ao afagar os cabelos de Maya.

- Recebi uma carta hoje. – ela hesitou e voltou a chorar. – Minha tiaClair morreu.

Morgan não conhecia tia Clair, mas ver Maya chorar, isso já era o suficiente para lhe deixar mal o restante do dia. Apertou-lhe um pouco mais no abraço.

- Mesmo que ela não esteja mais aqui, - começou Morgan. – eu vou estar.

- Obrigada. – disse antes de chorar mais um pouco encharcando as roupas de ambas. – Eu te amo Morgan.

- Eu também. – disse a morena e apertou mais Maya. – Você é minha melhor amiga.

Claro que não era como amiga que Maya a amava, mas continuaria a ser, apenas por amá-la.

...

....Na noite anterior a partida de Morgan....

A fogueira já havia sido apagada, mas não era por isso que iriam dormir. Apenas o canto desafinado das cigarras podia ser escutado, estava escuro, mas Maya tinha uma surpresa para Morgan.

Saltou do beliche e pegou a lanterna, que colocara embaixo do travesseiro mais cedo naquele dia. Andava devagar e na ponta dos pés para não fazer barulho. Foi até o beliche de Morgan e a cutucou, ela tinha um sono leve, então foi bem fácil, logo tinha duas garotas burlando regras. Vestiram casacos e saíram do chalé, ventava, uma brisa gostosa.

Morgan não sabia para onde iriam, só sabia que queria ir, não importava para onde. Andavam de mãos dadas pelos gramados, passando por vários chalés, e até mesmo se escondendo de alguém. Quando finalmente saíram dos limites dos dormitórios, ligaram as lanternas. A floresta não estava tão distante, mas não era lá que pretendiam ir. Maya puxava Morgan rapidamente pelo caminho, a menor tinha vontade de rir, mas não faria isso, talvez chamasse atenção de alguém.

Chegaram onde queriam, era à entrada de uma clareira, essa era um jardim, que não tinha tantas flores no momento, mas ainda sim era maravilhoso. Correram para o meio dele, Maya forrou o chão e se sentaram, desligaram as lanternas e ficaram em silêncio.

Poucos segundos depois, o motivo pelo qual estavam ali, dera sinal de vida.

Logo os vaga-lumes, que até então estavam se escondendo, foram surgindo. Iluminando um pouco a noite escura,aquecendo dois corações que estavam ali apenas para vê-los e se encantarem com sua presença. O canto das cigarras, a brisa suave, o cheiro doce das flores, as mini-estrelas verdes que flutuavam em volta das duas. Era tudo tão maravilhoso, que seria difícil descrever, talveznão, aquela sensação era única.

- É tão lindo. – murmurou Morgan no ouvido de Maya, fazendo com que ela sentisse um arrepio lhe percorrer. – Obrigada.

Maya tinha medo, ou seria apenas um mau pressentimento? Tinha medo de que Morgan se fosse, assim como todos que um dia já amou, não queria ficar sozinha outra vez. Abraçou a pequena, estava frio mesmo, um vento mais forte cruzou a clareira, fazendo com que algumas folhas as rodeassem.

- Morgan. – chamou em um sussurro. – Preciso te contar uma coisa. –a menor sorriu. – Eu te amo. - A morena riu.

- Eu também te amo. – disse e voltou a olhar as esmeraldas brilhantes que flutuavam a sua volta.

- Não, eu não te amo só como minha amiga. – disse Maya chamando atenção de Morgan que franziu o cenho. – Eu te amo Morgan.

Colocou as mãos sobre as bochechas da pequena antes de selar os lábios, fora isso, um selinho, tal qual tirou todo o ar dos pulmões de ambas. Quando se separaram, Morgan nem ao menos conseguia falar, e mais uma vez estava surpresa. Maya tinha medo, temia mais que nunca, havia arriscado, talvez perdesse tudo. Engoliu em seco e finalmente olhou para Morgan. As bochechas estavam vermelhas, os lábios entreabertos, os olhos arregalados, ela sentiu vontade de chorar. Se perdesse Morgan perderia tudo que jamais teve.

- Maya... – começou a menor e engoliu em seco. – Isso é o que você sente por mim? - Okay. Aquilo pegara ela de surpresa, mas já era um motivo para ter esperança.

- Sim. – uma lágrima solitária cruzou seu rosto até adentrar seus lábios. – Me desculpe, eu...

- Ei, não chore, está tudo bem. – Morgan sorriu fazendo com que sua amiga engolisse o choro. – Não estou brava, na verdade, acho que estou feliz. - As lágrimas já molhavam suas mãos, Maya franziu o cenho, não podia acreditar, estava realmente ouvindo aquilo? Morgan estava feliz? - Vem, vamos voltar, está frio. – Morgan se levantou sorrindo e estendeu a mão a amiga. – Não se preocupe, eu te amo.

Agora sim, estou completamente apaixonada. Pensou Maya ao segurar na mão de Morgan.

Correram para voltar, sem se importar com os vaga-lumes que sumiam, afinal, uma nova luz fora acesa no coração de cada uma.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.