Um capítulo

Estavam todos sentados à mesa. Anya estava tão concentrada na comida que mal conseguia ouvir o que o Papi falava.

— Anya, é possível prestar atenção no que estou falando enquanto você come. – Loid repreendeu a filha.

— Desculpa, Papi. – A garota ajeitou-se na cadeira e olhou fixamente para o pai fazendo uma careta de concentração. – Pode falar de novo?

Yor estava sentada ao lado de Loid observando ambos num diálogo muito importante sobre as notas da Anya que não iam muito bem. Não era uma discussão, mas Loid estava evidentemente preocupado com o futuro da missão caso as notas dela não melhorassem, afinal, o plano de amizade com o Damian não ia muito bem.

— Talvez devêssemos estudar todos juntos e realizar alguns intervalos em meio ao estudo, assim a senhorita Anya vai se concentrar melhor. – Yor finalizou com um sorriso e todos concordaram.

...

Passaram a tarde estudando. A ideia da Yor funcionou muito bem e Anya realmente se desempenhou melhor e fez enormes avanços. Yor ficou satisfeita que seu plano deu certo, ela queria ser uma boa mãe e esposa embora toda aquela história fosse uma mentira.

Refletindo sobre isso, yor se viu triste quando observou ambos sentados diante dela. Loid estava com um sorrido enorme e Anya pulava enquanto apertava as bochechas do pobre Bond.

— Uma pena não ser real. – Deixou seu pensamento falar alto.

— O quê? – Loid olhou-a confuso.

— Nada! – Rapidamente ela desconversou. – Eu só estava pensando alto demais.

Loid ficou observando-a por um momento, porém disfarçou fingindo olhar novamente as folhas de estudo da Anya.

Mamis, a Anya está com fome. Quero um lanchinho, por favor!

—Claro, meu amor! – Yor forçou um sorriso e levantou andando em direção a cozinha.

....

A tarde seguia tranquila, Anya ficou no quarto brincando de espião enquanto Yor cuidava do resto da casa. Loid havia saído, avisou que não demoraria e assim foi.

— Cheguei!

— Bem vindo de volta!

— Yor, recebemos um convite para um jantar. – Ele colocou o convite encima do balcão da cozinha.

— É parte da missão? – Ficou receosa.

— Mais ou menos. Precisamos convencer as pessoas de que somos um casal feliz e real, então indiretamente, sim, é parte da missão. – Falou despreocupado.

— Entendo. – Yor ficou pensativa. – Quem nos convidou?

— Colegas do hospital. Alguns lá são infiltrados da agência, mas a maioria são funcionários normais e eles querem conhecer minha esposa, afinal eles já encontraram a Anya.

— Loid, sobre agir como um casal na frente dos outros...

— Eu sei. – Loid olhou-a nos olhos. – Podemos treinar, assim você não vai ficar tão nervosa com um homem tão próximo ou encostando em você.

Yor ficou nervosa. Ela nunca havia feito contato direto com um homem, não um contato carinhoso, claro. Geralmente, seus contatos com homens eram com lâminas e em seguida eles estavam mortos. Loid sabia toda a verdade sobre Yor, ele sabia que ela era uma assassina, sabia que ela nunca havia namorado ou sequer beijado um homem.... E ele seria o primeiro.

A ideia de ser o primeiro a beijá-la o deixou animado. Loid adorava a inocência dela com relação a relacionamentos românticos, estava ansioso para ensinar algumas coisas para ela, mas este pensamento parecia tão depravado que este começou a se questionar qual era sua real intenção com Yor, afinal o relacionamento deles era de mentirinha, certo?

— Vamos treinar nossos olhares, contato físico, nossos sorrisos um para o outro e claro, nosso beijo de casal. – Loid falou com a maior naturalidade enquanto Yor arregalava os olhos.

— Vamos nos beijar?!? – Yor não sabia se estava pronta para isso. Seu coração disparou.

— Yor, da última vez foi um completo caos quando seu irmão pediu para o convencermos de que nosso casamento era real. Você precisou beber para perder o medo de beijar. – Loid tinha razão. – Desta vez, você tem que ser a mãe e esposa perfeita e estável, sem bebidas.

—Certo. – Yor estava receosa. Loid a deixava nervosa.

Já estava acontecendo há algum tempo. Yor notou seus comportamentos mudando com relação ao Loid. Ela ficava nervosa e corada toda vez que ele a olhava ou sorria em sua direção, ou quando ele se referia a ela como esposa em frente as demais pessoas. A ideia de ser a esposa dele e mãe da Anya a deixou tão feliz que ela começou a comprar esta mentira. Ela era muito carinhosa com a Anya e até mesmo a chamava de filha sem perceber. Em outros momentos ela se via admirando a aparência e comportamentos do Loid, e fazia questão de falar na frente das colegas do trabalho que seu marido era incrivelmente bonito e inteligente. E como ele era lindo... Yor o admirava enquanto ele falava do plano do jantar.

— Entendeu? – Loid a olhou confuso.

— O quê? – Yor levou um susto.

O que está acontecendo comigo?

— Tá tudo bem? Podemos começar depois. – Loid encarou seus olhos. Aquilo era preocupação no olhar dele?

— Não! – Yor respondeu rapidamente. – Vamos fazer agora. Por onde começamos?

Anya chegou na sala e não entendeu o que estava acontecendo.

Mami, Papi? O que estão fazendo?

— Estamos treinando para ir a um jantar. – Loid deu de ombros. – Fique vendo TV aqui na sala. Eu e sua mãe vamos para o quarto treinar. Isso não é assunto para crianças, mocinha.

Yor pasmou quando ele disse sua mãe, aquilo alegrou seu coração de uma forma.

Entraram no quarto do Loid e este se sentou na cama.

— Sente-se aqui. – Ele passou a mão encima da cama. Aquilo fez o coração da yor bater forte.

— Tudo bem. – Ela estava vermelha.

— Não precisa ficar nervosa, faça tudo no seu tempo.

Yor se sentou ao seu lado e ambos se olharam. A ideia inicial era treinar o contato físico, afinal ambos não costumavam andar de mãos dadas, portanto nunca tiveram nenhum tipo de contato. Loid segurou a mão de Yor e notou o quão macia eram. Ele puxou a mão dela até os lábios e a beijou, em seguida sorriu. Yor estava olhando para ele com serenidade, ela estava levando aquilo muito a sério.

— Eu quero esse olhar sempre que nos dirigirmos um ao outro. Um olhar apaixonado. – Loid deu um breve sorriso. – Você é ótima nisso, Yor. Parabéns!

Espera! Yor não estava fingindo aquele olhar. Ela é péssima em fingir sentimentos.

— Agora sente-se mais perto de mim. Vamos entrelaçar nossos dedos e simular nossa história de amor. Precisamos demonstrar o quão apaixonados estamos e transmitir emoção ao narrar o momento em que nos apaixonamos.

Loid notou o quão gelada estava a mão de yor quando entrelaçou seus dedos nos dela, mas seguiu com o “ treinamento”. Correu tudo melhor do que Loid imaginou, Yor soou muito convincente, os olhares dela eram tão apaixonados que ele até se distraiu em alguns momentos.

— Agora vamos treinar o nosso beijo.

— Agora? – Yor arregalou os olhos.

— Vai ser bem rápido, Yor. Podemos dar apenas um selinho. – Como ele consegue falar sobre isso tão naturalmente? Yor estava surtando com a cara cínica do Loid.

— Estou nervosa. – Ela confessou.

— Só relaxa e eu faço o resto. – Loid falou sério. Ele era um homem experiente.

Loid sentou-se mais próximo da Yor e olhou-a nos olhos.

— Relaxa. – Ele falou num sussurro. Era impressão ou a voz dele havia ficado rouca de repente?

A mente de Yor estava nublada. Ela fechou os olhos enquanto as mãos de Loid segurava seu rosto.

E seus lábios se tocaram.

Deveria ser apenas um selinho, mas Loid entreabriu os lábios e capturou o lábio superior de Yor entre os seus. A moça, por outro lado, foi guiada por seus instintos e beijou-o de volta. De maneira involuntária ou não a língua de Loid adentrou na boca de Yor encostando na dela. Eles estavam se beijando intensamente e não haviam percebido... As mãos de Loid já seguravam o pescoço e os cabelos de Yor enquanto seu corpo buscava se aproximar ainda mais do dela.

Yor deslizou a mão pelo peito de Loid e agarrou sua camisa, e então faltou o ar. Ambos os lábios se separaram por um centímetro de distância e suas testas estavam encostadas uma na outra. Yor estava tão intensamente envolvida naquele sentimento que sem se dar conta o beijou de novo pressionando entre seus lábios o lábio superior de Loid. O rapaz correspondeu instintivamente e finalizou mordendo o lábio inferior dela.

Yor gemeu de prazer. Foi involuntário.

Loid olhou-a de um jeito estranho depois que escutou-a gemer com aquele simples ato. Ele estava fervendo, de repente estava com muito calor. Espera! Ele estava excitado?

Afastou-se um pouco, por segurança.

— Você foi muito bem. – Loid falou enquanto deslizava a mão pelo próprio pescoço.

— E-e-eu... – Yor estava tão nervosa que mal conseguia falar.

— Preciso tomar um banho. – Ele se levantou ficando de costas para ela.

Loid saiu do quarto apressadamente e correu em direção ao banheiro.

Yor caminhou distraída até a sala e encontrou uma Anya bastante curiosa tentando entender o que estava acontecendo.

— Por que o Papi correu para o banheiro daquele jeito?

— E-e-eu não sei, nós estávamos conversando sobre os planos de jantar e.... – Yor se perdeu na própria fala. – T-talvez seja dor de barriga! – Deu um sorriso forçado.

A Mami tá mentindo igual ao Papi — Pensou Anya.

— De novo? Mas ele nem comeu a comida da senhora, Mami. — A Anya não estava acreditando naquela história.

E se eu ler a mente da Mami?

*Pensamento da Yor*

A Anya não pode suspeitar do nosso beijo. Foi tão incrível! – Yor vibra em pensamento. – Mas a Anya não pode suspeitar, afinal isso faz parte da missão.

*Fim do pensamento da Yor*

O Papi e a Mami tão paquerando. – Sorrisinho “maléfico” da Anya.

— E que tal um chocolate quente? – Yor desconversou depois de ver o sorriso estranho da Anya.

— Oba! Posso comer mindoim também?

Paralelo a isso, Loid estava com sérios problemas dentro do banheiro e a água fria não estava ajudando.

— Desde quando eu fico animado assim com tanta facilidade?? – Já era a terceira vez que ele ligava a água fria, mas os pensamentos estavam em outro lugar....

AHRRGGG!!!

....

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.