Como Ser um Príncipe - Interativa

Espere, o pior ainda está por vir


Dia 26

—Nos filmes parece tão fácil... - Ela resmungou.

A mulher abriu novamente o grampo do cabelo e tentou mais uma vez: Enfiou-o na fechadura com extrema concentração e, quando fazia isso, costumava morder o lábio inferior e prender a respiração. Tateou o grampo dentro do buraco até sentir o que lhe pareceu a trava da porta.

Quase pulou de empolgação e perdeu toda a sua postura compenetrada quando o acessório de cabelo pareceu encaixar-se na fechadura depois de seis tentativas.

—Hm... Caitlin? - Uma voz chamou-a atrás dela.

A assessora da selecionada, com seus exato trinta anos de idade, diversas obrigações nas costas e uma família que não via há várias semanas devido ao trabalho, pulou alto, virando-se na direção da outra pessoa e escondendo o grampo de cabelo desesperadamente atrás das costas.

Liam Éire a tinha um olhar divertido, achando graça do susto da amiga.

—Minha mãe costuma dizer que eu estou aprontando algo quando tenho essa reação.

Caitlin bufou, girando os olhos, tentando menosprezar o julgamento do príncipe.

—Esse é o seu quarto, afinal? - Ele perguntou e depois girou-se na pequena ala circular onde ficavam os dormitórios de alguns dos funcionários com um cargo relativamente importante dentro do Palácio. O quarto de Caitlin Dublin era a porta ao lado e ela sabia que estava invadindo os aposentos de uma outra pessoa. Porém, como Liam nunca havia estado ali, ela decidiu arriscar o blefe e confirmou rapidamente que aquele era seu quarto sim. Sem parar julgar a veracidade da confirmação, Liam virou-se para ela e ergueu as sobrancelhas, com uma expressão ligeiramente desdenhosa. - Você sabe que pode mandar fazer uma nova chave e terá ela em mãos em um minuto, certo? É muito fácil conseguir as coisas nesse castelo...

Ela retirou o grampo de suas costas e o olhou com curiosidade.

—Certo... - Respondeu lentamente, entendendo que Liam pressupora que ela perdera sua própria chave (ele havia visto o grampo que ela tentara esconder). - Eu apenas queria continuar procurando mais um pouco antes de pedir, porque... você sabe...

—Você é orgulhosa e perfeccionista. - Liam respondeu antes que ela pudesse terminar.

A assessora olhou para ele e então sentiu suas defesas desabarem. Ela deu risada e fingiu espetar Liam com o grampo. Ele era seu amigo afinal de contas. Embora lhe doesse profundamente contar-lhe uma mentira – que, na verdade, estava tentando invadir o quarto de seu assistente, Shawn Keyes - , ela podia confiar em Liam, mais do que qualquer um naquele Palácio.

Ela sorriu e mudou rapidamente de assunto.

—O que você veio fazer aqui, Liam?

Sua expressão mudou ao tentar lembrar-se do motivo que o trouxera ali. Ele sorriu, um pouco corado.

—O que você achou do Jornal de ontem? E da aula?

Caitlin balançou a cabeça para os lados, incrédula.

—Sua insegurança me surpreende, Liam. Você é o príncipe, garoto! - Ela avançou em sua direção e lhe espetou com o grampo outra vez. Ele se protegeu, dando risada. - Isso já vai virar um hábito: Você vir me procurar depois de todo telejornal para me perguntar o que achei! Walsh é melhor nisso do que eu!

—Eu não quero saber a opinião do Walsh, quero saber a sua!

—Honrada. - Ela fechou os olhos e colocou a mão sobre o peito, fingindo estar comovida.

Ambos deram risada e Caitlin voltou a sorrir de uma maneira bem despreocupada que contrastava de sua usual postura nos últimos dias. Era como se houvesse duas Caitlin: A preocupada, super organizada, cheia de segredos e problemas e extremamente orgulhosa. E a outra Caitlin: A que tinha boa ideias e conselhos, que sabia se divertir e fazer os outros se divertirem, que diminuia a dimensão dos problemas... e também era extremamente orgulhosa.

—Você foi muito bem em tudo. As meninas estão começando a ficar mais a vontade com você. - Ela respondeu, tendo certeza de suas próprias palavras.

Ele não conseguiu esconder o sorriso, extremamente contente.

—Acho que eu devia focar mais na Seleção. Com quem você acha que eu devo marcar o próximo encontro?

A intenção não fora assustá-la pela segunda vez, mas involuntariamente o coração de Caitlin disparou e ela empalideceu.

O primeiro pensamento que correu sua mente foi um nome: Veronika Égan. Há pouco tempo a selecionada havia lhe contado todo o mistério do beijo da noite do Baile de Máscaras e ela, mais do que ninguém sabia de todas as partes envolvidas e confusões desencadeadas. Sabia que mais cedo ou mais tarde deveria voltar a lidar com isso, mas, como qualquer um que odeia lidar com problemas complexos, ela esperava que ainda tivesse um tempo até precisar voltar sua atenção a ele.

Era como se o certo e o errado havia se misturado em seu raciocínio: E assim como sua personalidade atualmente parecia se dividir em duas, que seguiam direções opostas; seu raciocínio também se bifurcava em dois possíveis caminhos. Uma voz lhe dizia para ignorar Veronika, que ela havia sido precipitada demais com sua tentativa de "conquistar o príncipe", e que Caitlin não deveria incentivar um encontro dela com Liam. E uma outra voz dizendo-a para contar tudo de uma vez, desmascarar as mentiras.

Mas os segredos pareciam trepadeiras que se apoiavam nela e ali se sustentavam. E, de uma certa perspectiva, Caitlin Dublin tinha, lá no fundo, o ímpeto de proteger a identidade dessas pessoas e investigar, ela mesma, a bondade delas antes de revelar todas as informações que possuía a seu respeito. Queria dar-lhes uma chance antes de condená-los por seus mistérios.

Então, enquanto ela conseguisse esconder os segredos dos outros e investigá-los mais a fundo, ela iria manter tais verdades escondidas no fundo de sua mente.

Ela colocou a mão no peito e gaguejou, tentando encontrar o que dizer:

—Ahn, por que você está me perguntando isso? Eu... É... Você sabe que eu não posso escolher por você, conheço as meninas melhor do que ninguém e...

Ele ergueu as mãos para fazê-la parar de falar.

—Tem razão! Não devia te perguntar isso, desculpa. - Ele respondeu rapidamente ao perceber a expressão desesperada no rosto da assessora. - Da outra vez eu pedi ajuda à Shawn e ele me deu uma sugestão, mas ele também não gostou de ter que escolher. Não é certo da minha parte perguntar isso às...

Liam continuou falando, mas Caitlin não ouvia mais nada. Foi como se ela tivesse levado um choque. Sua mente pareceu funcionar mais lentamente e, assim, ela pode ver algumas das peças do quebra-cabeça se encaixarem.

Embora Anne não tivesse diretamente conectada à confusão, ela era que poderia ajudar Caitlin a compreender melhor a identidade de Shawn Keyes. Os dois pareciam ter desenvolvido uma espécie de amizade.

E assim, a assessora sentiu-se mais confiante quando sua investigação voltou à abordagem a qual ela era mais capaz: A lábia. Ela conseguia resolver mais mistérios conversando do que arrombando portas...

♕ ♕ ♕

Aos sábados as selecionadas não tinham aula e elas costumavam se dispersar no enorme Salão das Selecionadas, imersas em atividades particulares até que um evento mais interessante surgisse.

Tendo certeza de que conseguiria um dia com mais privacidade e voltado aos seus próprios caprichos, Branka Pietrov Vanschmitz ajeitou-se confortavelmente na poltrona do salão de beleza.

O ambiente era outro cômodo espaçoso e majestosamente construído e organizado, que cumpria a promessa de acomodar as selecionadas com extrema classe e conforto. Também carregava um toque singular de magia que apenas Nova Irlanda parecia conseguir proporcionar.

Branka observou todos os detalhes de cara amarrada, o nariz torcido, como era de seu feitio. Nunca entendera as crenças e superstições nova-irlandesas, ou sequer a força que transportara e continuava propagando tais costumes por gerações e gerações, através de guerras e novas ordens políticas. Mas ela sabia reconhecer beleza, design e generosos investimentos e, assim, embora não gostasse de ceder tão facilmente, ela capaz de admirar o local imerso em sua própria cultura.

Talvez, até estivesse gostando da Nova Irlanda um pouco mais.

Revirou os olhos, cansada de seu próprio raciocínio e fitou sua imagem no espelho.

Sentia que precisava de uma mudança drástica, para colocar o passado para trás. E, de certa forma, ela acreditava que a tinta de cabelo tinha esse poder - Não era a Nova Irlanda, afinal, que sempre acreditava na magia por trás das coisas?

Confiante, jogou seus cabelos negros para frente e afofou o couro cabeludo. Sua família era bem caracterizada pela pele clara e os cabelos escuros e diferenciar-se deles também era uma forma de afastar-se do passado - de fato não queria carregar na fisionomia os erros familiares que ela própria sequer podia perdoar. Assim, sem hesitar, apontou para o castanho claro do catálogo e a cabelereira se apressou em cumprir sua exigência.

Branka fechou os olhos enquanto a funcionário massageava seu cabelo. Estava confortável como nunca antes. Ela quase podia esquecer o mundo a sua volta...

—Uou! O que você está fazendo? - A voz de Elizabeth chegou estridente e empolgada no salão de beleza, seguido de outros passos invasores, desfazendo rapidamente o mundo utópico de Branka.

—Eu devia saber que tudo que é bom dura pouco. - Ela resmungou, abrindo um pouco os olhos para espiá-las, mas também não deixar claro que estava acordada e disposta a ser atrapalhada.

Ela viu Anne e Moreena também entrando no ambiente e logo se aglomerando ao redor de sua cadeira. Anne agilmente apanhou o pote em que a cabelereira colocara a tinta de cabelo.

—Minha nossa! Você vai ficar loira?

—Devia pintar de azul! - Elizabeth sugeriu, colocando o livro de medicina que lia no meio da bancada, aberto numa página com fotos de peças anatômicas cheias de músculos e veias que fez Branka virar a cara, com nojo. A selecionada de Clare se aproximou ainda mais da colega, tocando nos papeis colados ao seu cabelo. - Apenas algumas mechinhas...

Branka se afastou dela bruscamente e apontou para o livro sobre a bancada, irritada.

—O que você está fazendo com isso? Tira essa porcaria daqui.

Sem se incomodar com o tom ofensivo usado pela colega, Elizabeth deslizou sobre a bancada e sentou-se em cima dela, de costas para o espelho e pegou o livro no colo, arrumando o cabelo num coque alto na cabeça enquanto voltava a ler as páginas cheias de desenhos.

—Estou estudando mutações celulares.

Anne também sentou-se sobre a bancada, à esquer da Branka. Ela apertou os olhos, lendo as entrelinhas.

—Câncer?

Antes que Elizabeth respondesse, Moreena, sentada na cadeira ao lado de Branka, girou sobre o eixo e inclinou-se na direção das outras selecionadas, ligeiramente curiosa.

Você já decorou todos os nomes dos nobres que Caitlin nos passou ontem? Você estava tendo dificuldade em memorizá-los, Liz...

A jovem de cabelos azuis deu de ombros - não era do tipo que fazia as coisas só porque era a sua obrigação. Branka, ainda profundamente irritada com a presença das demais ali, se intrometeu ironicamente:

—Porque esse é o seu plano B: Virar médica caso não vire rainha.

Elizabeth se inclinou ameaçadoramente sobre a outra, comprando a provocação. O jeito rebelde e inconsequente era o seu maior mecanismo de autodefesa e ele sempre vinha tão rápido quanto um eficiente tiro.

—E o seu plano B seria destruir todo o mundo com crueldade e mal humor, sua...

—Você não deveria terminar essa frase. - Moreena a cortou de repente, com os olhos arregalados, mas com a voz firme.

Branka e Elizabeth continuaram se olhando durante mais dois perigosos segundos, até que elas desistiram da briga silenciosa e engoliram as provocações.

—De qualquer forma, acho importante pensarmos nas possibilidades. - Anne comentou, escolhendo as palavras com cuidado e tentando voltar ao assunto anterior, como se nada tivesse acontecido. Ela própria não era uma garota que deixava uma provocação morrer facilmente, mas se esforçava para evitar uma confusão maior. - Ouvi dizer que Alegra recebeu vários pedidos de casamento. E nem fazem três dias! - Ela mordeu os lábios, entendiada, mas também pensativa. - Ela não aceitou nenhum, claro; ela estava em busca de romance, então seria muito contraditório se aceitasse se casar com desconhecidos que também mal a conheciam.

—Bem, ela partiu com o guarda, não é mesmo? - Moreena comentou num tom quase cantado, o que arrancou uma curta gargalhada das amigas e um revirar de olhos de Branka.

—De qualquer forma, ela pensou sobre isso. - Anne pontuou, fingindo extremo conhecimento da fofoca. - Não tenho muitas ideias do que eu faria se fosse mandada de volta para casa... - Comentou, imaginando se sua mãe continuaria com a ideia de juntá-la com o irmão do marido de Ariel. Ou se ela a empurraria para cima dos "desconhecidos pretendentes", loucos por uma famosa ex-selecionada.

Elizabeth observou seu livro, mordendo os lábios de maneira pensativa. Sabia que seria médica de qualquer jeito. Mesmo se fosse rainha, ela ainda tinha uma falsa esperança de que concluiria o curso de medicina - e era por isso que ainda tentava engolir o comentário sarcástico e ofensivo de Branka. Moreena, por outro lado, tinha tantas dúvidas quanto Anne diante a incerteza do caminho que elas tinham pela frente.

Frente àquela observação que quase parecia uma confissão, Branka jogou o pescoço para trás e riu alto, desdenhosa.

—Seu encontro com o príncipe foi assim tão mal?

As três jovens se viraram para ela,

abismadas com o extremo de seu jeito mal-humorado e ranzinza. Elizabeth abriu os braços, exasperada.

—Não dá para ficar aqui ouvindo essa criatura falar! - Ela reclamou. Recolheu seu livro e pulou de cima da bancada. Passando por trás da cadeira dela, gesticulou novamente na direção de Branka, numa posição em que ela conseguia ver seus gestos pelo espelho. - Se eu ficar aqui mais um segundo, vou dar um soco na cara dela!

Pisando duro, ela saiu dali sem pensar duas vezes. Moreena tentou chamá-la quando ela passou próximo dela, tocando em sua mão no caminho, mas a amiga já estava decidida a ir o mais longe possível de Branka Vanschmitz.

—Acho que deveríamos ir atrás dela. - Moreena disse lentamente, girando outra vez com a cadeira do salão de beleza em direção a Anne, olhando de soslaio para Branka. A jovem que ainda tinha os papéis alumínios presos ao cabelo estava estática, ainda com os olhos arregalados e ligeiramente mais encolhida em seu canto.

Anne olhou para as duas em silêncio, também surpresa pela súbita mudança no ambiente. Demorou alguns segundos para responder, analisando a situação. Mas uma curiosidade ainda coçava dentro dela e por isso não conseguiu ir atrás da amiga e apoiá-la.

Ela cruzou as pernas e ergueu ligeiramente o queixo, adquirindo uma expressão desafiadora, que disfarçava bem sua enorme curiosidade.

—Tem alguma sugestão para mim?

Ao perceber que falava com ela, Branka saiu do transe assustado e virou-se em sua direção, girando a cadeira consigo, e seu rosto ganhou um tom mais avermelhado. Ela reclinou-se para trás e abriu novamente o seu sorriso presunçoso.

—Você enlouqueceu?

Moreena virou-se subitamente para a amiga, parecendo querer fazer a mesma pergunta.

—Bom, já estamos aqui há duas semanas e o príncipe não eliminou ninguém... Alegra saiu por vontade própria... - Ela gesticulou com as mãos, querendo que o complemento de sua frase ficasse subentendido. Branka não pareceu entender, mas Moreena captou sua intenção.

—Uma eliminação está próxima. - Ela completou.

Anne apontou para ela e assentiu. Depois se virou novamente para Branka, trocando as pernas que estavam cruzadas.

—O meu encontro foi ótimo, para sua informação. Mas já que a senhorita parece saber muito sobre homens, competições e ótimos conselhos... - Ela falou num tom divertido, mas sabia que estava tendo dificuldades em esconder a provocações implícitas. - O que devemos fazer para não sermos eliminadas nos próximos dias?

O olhar de Branka brilhou com a resposta que chegou rapidamente em sua mente. Ela ajeitou-se melhor na cadeira e endireitou a postura. Tinha uma personalidade forte, de caráter tão egocêntrico quanto independente. Sabia que ainda usava os papéis de alumínios no cabelo, o que a deixava com um visual distante de um conceito generalizado de elegância, mas ergueu um pouco mais o queixo, não perdendo ocharme teimoso intrínseco ao seu caráter.

—É bem óbvio. - Ela respondeu, olhando de uma para outra. - Não chamem atenção. Liam irá procurar os mínimos defeitos nas menores conversas e menores encontros que terá com as selecionadas nesse período. Ele não vai descartar garotas que não conheceu ainda, porque aparentemente ele não é "esse tipo de cara". Então a melhor técnica para permanecer na Seleção, é ficar fora de foco por um tempo, não chamar atenção. - Ela fez que ia jogar o cabelo para trás do ombro, mas ficou ligeiramente corada quando sentiu seus dedos tocarem no papel alumínio. - É assim que os homens agem.

Anne e Moreena se entreolharam, imaginando se estariam compartilhando a mesma intuição a respeito do conselho de Branka e, estranhamente, elas pareciam concordar. Enquanto o clima do Palácio e da própria Seleção pedisse por uma eliminação, o melhor a se fazer seria se manter de lado, evitando chamar qualquer tipo de atenção. O conselho da srta. Vanschmitz era compreensível.

Ainda assim, Anne fez mais uma pergunta:

—Como você sabe tanto sobre isso? - Ela apertou mais os olhos. - Sobre homens? Você já namorou antes?

A porta do Salão de Beleza se abriu antes que qualquer resposta sequer pudesse ser formulada. Caitlin Dublin parou próximo ao batente e olhou para as três meninas antes de adentrar no ambiente.

—Estava conversando com a senhorita Morris agora há pouco. Há alguma coisa que vocês queiram me contar?

Todas as três se entreolharam - não importava que até então elas não estavam se entendendo muito bem, pois diante da figura autoritária de Caitlin elas eram como irmãs que estavam brigando e disfarçavam da melhor maneira possível na frente da mãe.

A assessora olhou para elas durante mais alguns segundos com a intensidade necessária para fazê-las confessar qualquer segredo, porém nem as próprias garotas estavam certas sobre o que deveriam confessar. Ela cruzou os braços e pigarreou, ainda tentando manter a mesma postura séria.

—Srta. Chevallier, podemos conversar por um instante?

Anne perdeu a cor do rosto, sem ter ideia do que podia ter feito de errado. Ela agilmente desceu da bancada e se encontrou com Caitlin do lado de fora do Salão das Selecionadas, ouvindo alguns sussurros das jovens que permaneceram no salão.

—Encontrei o Príncipe Liam mais cedo e ele comentou comigo sobre o encontro de vocês... - Caitlin comentou sem hesitações, cruzando os braços novamente.

A selecionada sentiu seu coração bater mais rápido. Ela abriu a boca, mas não soube o que dizer. Só conseguia pensar que não deveria ter falado tanto a respeito da eliminação. Agora que acreditava que o príncipe não eliminaria selecionadas que ainda não conhecia, sentia que ela era a única eliminação mais óbvia no momento. O que ela podia ter feito de tão errado?

A assessora voltou a falar, sem lhe dar tempo para formar um raciocínio coerente.

—Fiquei sabendo que foi o sr. Keyes que lhe sugeriu como opção de encontro para o Príncipe Liam. Essa foi uma ideia sua?— A voz da mulher era severa e firme, com um tipo de poder exclusivo de seu caráter único.

—O-O que? - Anne gaguejou com a reviravolta de informações. Sua mente demorou alguns segundos para se ajustar ao novo raciocínio e ela negou o mais rapidamente que pode: - Não! Eu não. Eu nem sabia disso. - Passou a mão pelo cabelo, realmente surpresa por aquela informação. Perguntou em voz alta, sem perceber que fazia isso: - Por que ele faria isso?

Caitlin pareceu notou o nervosismo da menina e descruzou os braços, se solidarizando pela jovem. Ela ergueu o braço para reconfortá-la, mas logo o abaixou, hesitante. Ela calculou suas palavras com extremo cuidado:

—Eu... estou apenas preocupada com o sr. Keyes, com sua eficiência no trabalho e também com o seu comprometimento com a Seleção. - Diante dessas palavras, Anne franziu o cenho e recuou imperceptivelmente com uma sensação ruim.

Era difícil para a garota saber o que se passava na cabeça de Caitlin naquele momento, tentar entender em que direção seguia aquela conversa.

Mas a assessora estava totalmente dedicada à investigação do próprio assistente e ela sabia que Anne ficaria tomada por dúvidas se ela fizesse apenas perguntas, entregando de cara sua desconfiança em Shawn. Assim, ela optara, a muito contragosto, de que deveria criar uma outra situação em cima de seu interrogatório para manter a jovem longe de questionamentos; e tal situação inventada não agradaria a nenhuma das duas: Uma certa "sugestionabilidade" amorosa.

A assessora apertou os lábios e falou com muito cuidado.

—Tenho me preocupado com ele, apenas isso. E notei que vocês dois são próximos...

Anne entendeu o subentendido imediatamente.

—Não nesse sentido! - Anne esclareceu em meio ao susto. Seu rosto ficou ainda mais branco e suas bochechas adquiriram um tom ligeiramente avermelhado.

—É claro, é claro. - Caitlin se apressou em concordar, estendendo as mãos na direção da jovem para acalmá-la e se culpando imensamente por isso. - Apenas gostaria de saber se você tem alguma informação sobre onde ele mora, a família dele... Para que eu possa contatá-los, caso eu ache necessário. Ele é muito discreto a respeito disso...

Anne estava confusa demais com as informações para notar que Caitlin estava blefando, ou mesmo que ela não estava falando coerentemente. Ela tentou se concentrar e lembrou-se da primeira conversa que teve com alguém no Palácio, o que, no caso, foi com o próprio Shawn Keyes.

—Ele havia comentado sobre suas irmãs. São duas, com certeza.

Caitlin se empertigou, quase salivando por mais detalhes. Mas Anne estava confusa com a lembrança.

—Ele foi bastante vago, na verdade. Uma das irmãs está falecida, e ele disse algo como "a outra parece querer seguir o mesmo caminho". Eu não achei adequado adentrar no assunto... - Ela respondeu, abraçando a si mesma, insegura.

Caitlin tocou em seu ombro para reconfortá-la.

—Tudo bem, já é o suficiente. Agora tenho certeza de que ele precisa de minha preocupação. - Ela respondeu com a boca seca, mas o coração acelerado dentro do peito e o pensamento bem distante da realidade. - É bom manter um olho nele.

♕ ♕ ♕

Finn Seamair enfiou um gorro de lã na cabeça, incomodado com o frio, e viu o guarda ao seu lado franzir a testa, incomodado com a sua "falta de classe", ou qualquer outra coisa do tipo. O rapaz passou por ele, erguendo o queixo como um cumprimento desleixado, de propósito. O funcionário fingiu que não viu.

Ele deu risada e saiu porta a fora do Palácio, pulando dois degraus de uma vez.

Estava ainda mais frio do lado de fora e estava menos movimento. Embora ele gostasse de agitação, ele não gostava de se ver cercado por pessoas que ficam o vigiando. Ele prezava por sua liberdade. Assim, facilmente mirou na direção dos campos mais distante, onde o número de guardas parecia bem menor, e caminhou até lá.

Distraído, ele não percebeu quando adentrou no Jardim Principal e se viu em meio a nada além de plantas de diferentes espécies. Olhou para trás e viu o mesmo cenário. Estava finalmente sozinho, mas perdido. E havia um cheiro inusitado de...

Coco? Finn resmungou em voz alta, com o nariz enrugado enquanto analisava o lugar, girando de um lado para o outro, com o próprio olfato.

—Na verdade são carquejas.

A voz doce e feminina lhe deu um susto e num movimento ágil o jovem Seamair de vinte anos virou-se na direção do som. A dona da voz estava sentada de modo tranquilo em cima de uma árvore de altura mediana. Mirelle lhe devolveu um tchauzinho quando Finn a localizou.

A jovem não esperou ele se situar para depois voltar a conversar, ela sentia necessidade de continuar falando:

—As carquejas geralmente têm cheiro de coco quando está quente... - Ela olhou ao redor, lembrando-se que o inverno já havia começado. Suas feições mudaram, exibindo como estava impressionada. - Eu não tenho ideia de como eles fazem isso acontecer!

Ela então olhou para baixo e percebeu que Finn continuava plantado no mesmo lugar, totalmente perdido com a situação. Ele olhou para ambos os lados como se tivesse algo errado, como se Mirelle não estivesse de fato conversando com ele ou como se tudo fosse um sonho bastante confuso. Depois o mais novo dos Seamair apenas apontou para ela e, de seu jeito casual, perguntou diretamente:

—O que você está fazendo aí em cima?

—O que você está fazendo aí em baixo? — Ela devolveu a pergunta com os olhos apertados e num tom divertido.

Finn novamente olhou para o seu lado, observando o caminho pelo qual viera e depois para as plantas ao seu redor, como se estivesse percebendo naquele momento que viera parar no Jardim Principal. O lugar era imenso e ele não tinha certeza se conseguiria sair dali sozinho.

Ele coçou o queixo e virou-se para Mirelle com uma expressão de dúvida.

—Acho que estou perdido. - Tanto lugar no Palácio e eu tinha que me perder bem aqui? Pensava ele ligeiramente incomodado.

A morena riu alto e bateu nas próprias coxas, achando graça da reação do primo de Liam. Ela secou uma lágrima que ainda não tinha caído e voltou-se para ele com um sorriso triunfante.

—Você é muito inocente.

Finn arregalou os olhos, surpreso com o comentário inesperado. Ele tocou no próprio peito, fingindo-se de injustiçado, e sorriu amplamente:

Eu sou o inocente? Você é a donzela de vestido e botas em cima da árvore.

—Mas eu sei como cheguei aqui! - Ela declarou, divertindo-se. Olhou para as pernas esticadas e bateu uma bota na outra; depois se virou e deixou as pernas penderem no ar, como se estivesse num balanço. - Aqui é o lugar que mais me lembra a minha casa... e também a sua! - Antes que Finn pudesse ter uma reação, ela continuou falando: - Sei que você é primo de Liam e que vocês vieram de Wicklow Hills. - Ela tocou duas vezes na ponta do próprio nariz e cantarolou sua dedução: - Carquejas são muito comuns em Wicklow...

—Certo. Você é esperta. - Ele concordou, rindo também. Depois deu um grande suspiro e girou sobre os próprios pés, analisando mais uma vez o ambiente em que estava. Estava louco para conhecer o Palácio Real, o auge de toda a grandiosidade nova-irlandesa, e esperava que fosse demorar semanas até que o sermão de seu pai, "você vai sentir saudade de casa", se transformasse em mais um dos famosos "eu te avisei". Ele virou-se novamente para Mirelle. - Acha que eu fosse um cara mais urbano.

—São os seus instintos. - Ela respondeu sabiamente.

Ele deu de ombros, enfiando as mãos no bolso como seu irmão costumava fazer.

—Não conte isso para Álan. - Respondeu ainda brincando. Mirelle assentiu rapidamente, fingindo uma expressão séria. Ele gesticulou em sua direção outra vez. - A senhorita tem um nome?

—Elle. Mirelle. Elle ou Mirelle... Tanto faz. - Ela respondeu depressa, se embaralhando na resposta. - Mirelle Rodriguez Smith.

—Elle. - Ele repetiu com um sorriso satisfeito. - Você que é tão esperta, por acaso sabe como eu saio daqui?

Ela riu outra vez. Com extrema agilidade, ela deslizou na árvore e caiu de pé no chão. Parou um instante para conferir as botas e o vestido e nada estava fora do lugar – sua estilista iria matá-la se estragasse o tecido e ela não queria desagradar ninguém.

Mirelle se aproximou de Finn, empolgada. Ela era uma garota magra e extremamente alta; o primo de Liam tinha quase um metro e oitenta e a garota parecia ser do seu tamanho. Ele tentou não olhá-la de cima a baixo e manteve a surpresa estampada apenas no próprio rosto. De uma certa forma, Elle parecia ainda carismática de sua maneira singular.

—É claro. Enquanto isso posso tentar dissuadi-lo de seu mau gosto pela "cidade grande".

—Hm, é melhor que o caminho seja longo então. - Ele colocou-se ao lado dela e passou a acompanhá-la dentro daquele infinito conjunto de plantas que carregavam o inusitado cheiro de coco, com uma sensação ligeiramente satisfeita.

Ela não deu muita atenção à provocação e continuou tagarelando sobre aquilo que sabia de melhor.

—Está vendo ali? Aquilo é carqueja. - Ela apontou para um pedaço do imenso gramado florido. Eles andavam, se embrenhando mais a fundo no denso e rico paisagismo do Jardim Principal do Palácio, enquanto a conversa fluia casualmente. - Em Wicklow ela costuma ser menos amarelada, num tom quase roxo... Com ela se faz um chá muito bom! Você já deve ter tomado...

—Eu não gosto de chá. - Finn sussurrou. Seus ombros se sacudiam ligeiramente conforme ele ria, achando graça do assunto.

—O que? - Ela deu um pulo, inconformada. - Não existe algo como "não gosto de chá". Carqueja tem o melhor gosto de toda Nova Irlanda.

Argh. Não tem não...

—Você não tem mais direito a se manifestar nesse assunto.

♕ ♕ ♕

Álan Seamair sentou-se em uma das cadeiras frente a mesa do escritório do Rei da Nova Irlanda, mas ele não poderia dizer que estava acomodado. Ao seu lado estava o seu tio que, apenas por ser uma figura mais familiar e próxima, lhe transmitia um pouco mais de segurança.

Com a mesma expressão que carregava no rosto havia alguns dias, o Rei sentou-se a frente deles e puxou a cadeira de rodinhas para mais próximo da mesa. Apenas se você estivesse olhando diretamente para o monarca poderia perceber as olheiras que começavam a se formar sob seus olhos, parecia que ele estava propenso a ficar doente em breve.

—Bom, visto às mudanças que ocorreram nesse último mês. - Ele lembrou os cavalheiros e, claro, não precisou dizer quais eram as mudanças. Toda Nova Irlanda conhecia as confusões dos últimos dias. Tendo certeza de que eles sabiam do que se tratava, Donavan prosseguiu: - Wicklow Hills não está mais sobre a vigília do Conde... Duque Douglas. - Ele se corrigiu com um repuxar de boca e logo seguiu em frente para não perder a postura. - A propriedade, a produção agrícola e também a sociedade da região ficaram ao encargo dos cuidados e atenção do Visconde Frederick Seamair... e de seus honoráveis filhos.

Álan respirou fundo.

Desde muito criança ele morou em Wicklow Hills e se moldou conforme a dinâmica do lugar. A propriedade agrícola e todo o progresso da região nas últimas duas décadas foi resultado do esforço de seus tios e de seus pai – e inclusive de sua mãe, antes de falecer. Assim, ele, Liam e Finn cresceram sabendo que um dia assumiriam aquelas responsabilidades e já se preparando para elas.

Com a nomeação do primo como próximo herdeiro vivo do reino, as coisas de fato mudaram e no último mês todo o lugar foi ministrado ele, seu pai e seu irmão.

Desse modo, sabia que o rei tinha o direito e o dever de acompanhar aquelas mudanças e fazer as exigências que achasse necessário.

Álan conhecia Wicklow Hills como a palma de sua mão e era bastante confiante quanto à validade de suas atividades em uma das maiores fazendas do país. Porém, sentado frente ao Rei Donavan todos os seus feitos pareciam turvos e pouco exatos.

O rei também respirou fundo e voltou a falar:

—Também devemos lembrar de como a região de Wicklow Hills é... instável. Muitas notícias aconteceram ali e que, por motivos ainda desconhecidos, é um lugar que tem uma maior propensão para virar notícia novamente. - Donavan esfregou a mão pelo queixo, tendo dificuldades de impedir que outras lembranças e problemas corressem sua mente. Problemas os quais estavam novamente tirando seu sono nas últimas noites e que pareciam crescer cada vez mais. - É por isso que convoquei os senhores para esta reunião. Respeito o trabalho dos cavalheiros na região e tenho, inclusive, admiração pelo progresso local. Porém acredito que essas mudanças recentes devem ter alterado a organização da fazenda e creio que é um assunto melhor tratado pessoalmente.

Ambos os convidados – ou convocados - concordaram em silêncio. Duque Douglas olhou para o sobrinho, lembrando-o de que era sua vez de falar.

Álan rapidamente arrumou sua postura e falou de sua maneira calma, porém com cuidado.

—As produções não foram significativamente alteradas com essas mudanças. - Ele esclareceu, pensativo. - A produtividade continua a mesma.

Donavan assentiu, olhando-o com o desejo de mais informações.

—A região é bastante favorável a Liam como herdeiro de Nova Irlanda. - Ele achou necessário completar, como um apoio ao próprio primo. - Eles o conheciam, afinal. - Álan fitou o rei e tentou analisá-lo durante uma fração de segundo: Ele não dera muito crédito a essa última informação e ainda aguardava por mais notícias, quanto a eventos que ele já sabia e só precisava de uma confirmação, ou ainda, mais detalhes. O primogênito de Frederick limpou a garganta antes de voltar a falar: - Fora isso, a região está inquieta. Muitos habitantes perderam suas terras nos últimos anos ou sofreram alterações nos últimos meses. Os militares ocuparam esses territórios, mas... aparentemente não há o que ser combatido nos terrenos.

Douglas abaixou os olhos para o seu próprio colo e Donavan reclinou-se em sua cadeira com um pesado suspiro.

—Entretanto, - Álan continuou, sabendo que era um assunto extremamente delicado, mas que ele próprio fazia questão de trazer ao monarca. - o centro está lotado de moradores e os conflitos na região se intensificaram bastante. Há inúmeros protestos e manifestações a respeito da tomada de terras por parte do governo e eles desejam reivindicar suas propriedades de volta. A polícia tem precisado intervir frequentemente por conta dos conflitos desencadeados dentro dessas situações, porém... não posso assegurar isso, mas a força civil e militar está tendo mais trabalho em conter os próprios moradores do que os invasores.

Era isso que privava o rei de dormir a noite.

A confusão estava ganhando um caráter muito mais intenso e de resolução difícil conforme o passar dos dias.

Embora a população pouco tivesse conhecimento dessa situação, não era um problema recente. O conflito estava marcado naquela região desde o reinado do pai de Donavan, o Rei Hans... Na verdade, principalmente na regência da Princesa Sinead. Já fazia 72 anos.

Ele esfregou o próprio rosto novamente. Ele sempre tivera muito medo, em sua juventude, de que a história de sua tia, Princesa Sinead, fosse se repetir e ele levar a mesma culpa que ela. Mas agora, mais de sete décadas depois e com seus cinquenta e quarto anos, Donavan sabia que as coisas estavam prestes a ficar tão complicadas quanto antes.

Então ele se lembrou que ainda estava com companhia e Douglas e Álan o olhavam esperando seu comando. Mas o rei sentia que apenas precisava ficar sozinho.

Respirou fundo outra vez e colocou ambas as mãos sobre o tampo da mesa.

—Agradeço as informações e gostaria de pedir que o Visconde Frederick viesse para cá um dia para discutirmos melhor essa... - Ele gesticulou na direção de Douglas. - mudança na organização da fazenda.

Ambos concordaram, conhecendo a seriedade daquele pedido.

—Senhor Seamair, - o rei falou diretamente com o primo mais velho de Liam e estendeu a mão para ele. Álan não demorou a reagir e apertou a mão do monarca. - estou muito satisfeito com suas descrições da situação de Wicklow Hills. O senhor mostrou-se bastante dedicado e empenhado, e é por isso que, além do meu imenso respeito, tem a minha confiança. Assim, pretendo escrever uma carta para o delegado da cidade e ficaria satisfeito se o senhor a entregasse para mim; não quero que ela caia em mãos erradas ou que se perca no caminho.

Álan assentiu, sem saber ao certo o que sentia por já ter que voltar para casa tão cedo... ou por receber uma missão do próprio rei.

O monarca pareceu mais contente ao ver que o rapaz atenderia seu pedido. Ele se levantou e Douglas e seu sobrinho também o fizeram. Donavan apertou a mão de cada um deles mais uma vez, simbolizando a despedida.

—Providenciarei o transporte para Wicklow Hills e também a viagem de volta para o senhor e o Visconde Frederick, para esclarecermos melhor a situação.

Douglas guiou o sobrinho para fora da sala, com uma mão em suas costas. Vencido pela curiosidade, olhou por sobre o próprio ombro e viu o rei sentar-se novamente a cadeira, já concentrado com um trabalho que duraria horas.

O duque pressentia o iminente futuro perigoso, em que a situação inevitavelmente se intensificaria ainda mais. E, enquanto o rei preocupava-se em reviver a história de Sinead Hibernia, o Éire temia a similaridade com a história de seus próprios ancestrais, e as consequências que essa confusão traria ao seu filho. Afinal, se a história fosse mesmo se repetir, Nova Irlanda estava prestes a enfrentar outra vez uma batalha entre as duas dinastias.