Dia 59

Uma luz vermelha.

O telefone sobre a escrivaninha do escritório da Conselheira Almirena interceptava o sinal de outra linha telefônica - aquela que era especialmente usada pelas selecionadas. Quando algumas das jovens competidoras do novo concurso de Nova Irlanda faziam ligações daquele telefone uma luz vermelha acendia no telefone de Almirena.

Era tarde da noite quando a luz inesperadamente se acendeu.

O brilho vermelho irritante a retirou de seu árduo trabalho da madrugada para ouvir o que uma selecionada tinha a conversar no telefone naquele horário tão incomum.

E o que ela ouviu naquela ligação... era exatamente o que ela queria ouvir.

Não conseguia acreditar na própria sorte. Nova Irlanda era realmente um país mágico.

Charlotte decorou o caminho. Ela estava em uma saleta perto dos escritórios dos monarcas e dos conselheiros reais. Talvez um almoxarifado.

Mesmo tendo o seu sequestrador colocado um saco em sua cabeça (e um adesivo em sua boca para impedi-la de gritar por ajuda), ela contou as curvas que pode e ouviu o barulho dos passos nos diferentes tipos de piso – assoalho, carpete, laminado. Patrick se orgulharia dela.

Decorado o caminho, ela só podia esperar que ela tivesse uma pequena oportunidade para fugir.

O homem retirou o tecido negro de sua cabeça e a selecionada ainda se ajustava à recente luminosidade quando ele a atordoou com uma série de perguntas.

—Não tente me enganar. O que você sabe sobre os antigos negócios de sua família com a Dinastia Hibernia? Onde seu avô e seus pais escondem documentos desse tipo? Você é a guardiã dos segredos de sua família?

Eles me encontraram, foi o que Charlotte conseguiu pensar, e eles ainda não faziam o menor sentido. Ela observou a si mesma amarrada a uma cadeira no centro de uma sala bem pequena, com materiais antigos e de pouco uso – bastante empoeirados.

Ela apertou os olhos e umedeceu os lábios, continuava terrivelmente assustada com os acontecimentos recentes. Respirou fundo e tentou entender do que o homem falava. Ele vestia roupas de oficial da Guarda Real – estava infiltrado, claro. Quantos mais haveriam?

—Foi por isso que vocês invadiram o escritório de meu avô? - Charlotte perguntou num sussurro, tentando clarear as ideias, conectar os fatos. - Vocês estão procurando por um documento da monarquia em colaboração com a minha família? Seria sobre leis, assuntos jurídicos? - Ela tentou, pensando primeiro naquilo o qual sua família sempre foi capaz de fazer. Foram longas gerações no ramo do direito e até o ponto em que ela sabia, as relações entre os O'Dornan e a Dinastia Hibernia consistia nessa habilidade específica.

O homem virou-se de costas e chutou a pequena escrivaninha de madeira que ficava no centro da sala. Chutou a cadeira e umas caixas de papelão que estavam ali no chão. As coisas de dentro caíram e pequenos objetos de vidro quebraram-se em vários pedaços.

Virou-se para a selecionada, furioso. Seus olhos estavam num tom bastante avermelhado.

—Do que você está sabendo? - Ele gritou com Charlie. - Qual é esse assunto jurídico de que está falando? De que está pensando?

Ela recuou quando ele se aproximou para esbravejar perto de seu rosto.

—Eu não sei de nada! Não sei o que você quer! - Ela quase chorou, assustada, fechando os olhos com força.

Charlotte não tinha a menor ideia do que ele queria. Durante os últimos meses sua família fora atacada por pessoas desconhecidas que tinham objetivos ainda menos conhecidos. Conforme Patrick lhe contara no telefonema, eles não buscavam por dinheiro, nem vingança..., mas definitivamente não pouparia esforços mais violentos para conseguirem o que queriam. Seja lá o que fosse.

Fora por isso que Charlotte entrara para a Seleção. Sua família queria protegê-la de qualquer perigo. E ela apenas queria que essa situação já tivesse sido resolvida até então.

Por terem revirado escritórios e pelas perguntas incoerentes que agora o sujeito lhe fazia, Charlie imaginou que eles tivessem atrás de informação. Mas ela sequer podia imaginar qual seria.

E temia o que ele faria com ela se ela de fato não soubesse absolutamente nada sobre o assunto.

Ela precisava dar algo para o homem para ele deixa-la em paz.

—Está bem. - Ela ofegou, tentando pensar coerentemente. - Me diga o que você precisa. Eu... eu ajudo. Faço o que posso.

O sujeito a fitou com os olhos apertados, bastante zangado e sem paciência. Quase didaticamente, ele perguntou outra vez:

Está. Com. Você?

—O que você pensa que está fazendo, oficial?

A voz que destoou no ambiente era feminina. Charlotte pulou de susto quando a ouviu, tentou virar-se para trás, para a porta atrás de si, para ver quem havia entrado, mas as cordas não a deixaram se mover. Porém, logo a figura a rodou e parou a sua frente.

Conselheira Almirena.

—O que você está fazendo com essa jovem, oficial?! Por que ela está amarrada? - Ela questionou, abismada e, com a autoridade que tinha, fitou o homem com uma ira poderosa: - Solte essas cordas imediatamente!

Com um resmungo insatisfeito, o sequestrador de Charlotte a contornou e abaixou-se às suas costas para soltar as amarras. Quando se viu livre, a selecionada colocou-se de pé no mesmo segundo e massageou os braços. Olhou para as duas pessoas no cômodo, ressabiada e sem saber direito o que fazer. Em algum lugar de sua mente, ela ouviu uma ordem para fugir dali, mas ela quase não a ouviu, pois Almirena prendeu seu olhar com o dela.

—Sinto muito por essa brutalidade. — Almirena disse de imediato, sem deixar o silêncio se estender. – Não é desse jeito que eu costumo fazer as coisas e eu muito menos aceito perder tempo. Esses rebeldes que vem incomodando a sua família por tanto tempo, em minha opinião, estão fazendo isso da maneira errada. Tempo é uma dádiva que nós, seres mortais, não o temos.

A maneira pragmática com que a conselheira falava prendeu a atenção de Charlotte. Era clara, racional e bastante objetiva. Como tirar um band-aid num só puxão. E algo dizia à jovem que a verdade chegaria da mesma forma abrupta. Sem nenhuma preparação.

—Essa enrolação foi uma tentativa de guardar segredo sobre a nossa real intenção, mas eu acho isso uma bobagem, claro. Precisamos agir rápido. – Ela se recostou à mesa e apoiou as duas palmas das mãos no tampo atrás de si, sem se importar com a poeira. – A Antiga Irlanda do Norte está à procura de um documento que supostamente existe. Trata-se de um acordo entre a Nova Irlanda, assessorado pela família da senhorita, com a Antiga Irlanda do Norte que foi realizado durante a Última Grande Guerra... uma troca de favores. O que “resta” de minha nação precisa desse documento.

— “Supostamente existe”? – Charlotte ecoou, ainda sem conseguir processar tantas informações novas e objetivas como aquelas do discurso da Conselheira. Para começar, ela também era uma infiltrada, pelo o que parecia. Irlanda do Norte. Repetiu outra vez, ainda mais surpresa: - Irlanda do Norte ainda existe?!

Almirena girou os olhos, como se também não estivesse contente com aquele detalhe.

—Supostamente, pois a guerra foi há muito tempo, então não temos certeza da existência desse acordo. Alguns mais céticos acreditam que isso é apenas uma lenda. Mas a maioria prefere acreditar que ele existe, pois nos seria extremamente conveniente. Portanto, até que alguém prove o contrário, continuamos procurando por ele. E agilmente. – Suas sobrancelhas subiram e desceram, ela tentava permanecer com o rosto neutro de expressividades. – É aqui que a senhorita se encaixa. Vou ser direta ao ponto: Precisamos saber tudo o que você sabe sobre esse acordo. Onde ele está, como e quando podemos tê-lo em mãos...

Ela arregalou os olhos e gesticulou com o queixo em direção à Charlie, instigando-a a falar. Embora simples e direta, Almirena deixava uma impressão assustadora na selecionada. Sua objetividade também poderia significar impaciência e poder. Era difícil fugir dela.

Charlotte observou o falso guarda escorar-se à porta, impedindo que a jovem saísse. Sua função voltou a ser a de um soldado. Mas um soldado que lutaria contra ela.

Voltou-se para a conselheira, passando a língua novamente sobre os lábios que secaram de nervosismo.

—Eu... Eu não tenho essa informação. – Respondeu insegura. – Não sei sobre todos os acordos que a minha família já auxiliou a monarquia a fazer. Acredito que nem eles saibam. – Ela emendou rapidamente, tentando proteger sua família. – Parece algo muito remoto, não seria um documento que estaríamos analisando cotidianamente. Deve estar arquivado em algum lugar.

—Onde?

—Não comigo, não com meu avô e meus pais. Provavelmente deve estar aqui no Palácio. – Seu queixo tremia quando falava, seu nervosismo crescendo cada vez mais. Não saber poderia ser terrivelmente arriscado. – O que costumamos guardar nos nossos arquivos são apenas comprovantes de nossa prestação de serviço e talvez os resultados dos processos. Mas os materiais, as provas e o documento em si de contrato internacional... fica em possa da dinastia no poder.

Charlotte estava blefando. Mas ela não sabia mais o que poderia fazer.

Almirena a olhou com os olhos apertados. Provavelmente não acreditava na história que Charlie contara, mas assentiu.

—Talvez você não saiba de nada..., mas por que está na Seleção, afinal? Ouvi o seu telefonema com Patrick.

O sangue da jovem selecionada gelou. Almirena visivelmente sabia mais da situação do que ela. Blefar era arriscado demais e, principalmente, o que a conselheira traidora poderia fazer com Charlie, com Patrick, com sua família? Seus poderes eram o suficiente para ela fazer o que quisesse.

Charlotte sentiu uma lágrima quente descer por seu rosto frio. Ela estava apavorada.

—P-Por segurança. – Ela gaguejou. – Minha família temia que eu fosse alvo da violência desses rebeldes. Eles só queriam me proteger.

—Proteger você ou proteger algum segredo que você guarda?

—Não! Só... Só eu mesmo. Eu não sei de nada. – Charlotte ofegou, realmente assustada.

Almirena a analisou por segundos que pareceram durar eternidades. A jovem sentiu falta da praticidade de antes. E depois, assentiu novamente.

—É uma pena, mas eu acredito em você. – Ela olhou de relance para o guarda parado à porta e voltou seu olhar frio para Charlie. – Mas nós faremos o seguinte: Ninguém pode saber quanto a essa nossa conversa.

Charlotte recuou um passo e quase caiu.

—Eu não vou contar para ninguém.

Almirena ergueu as mãos e olhou com repugnância para o gesto da jovem.

—Não precisa exagerar dessa maneira! Não estou te acusando de bruxaria, isso não é a Idade Média. – Ela reclamou, incomodada com a falta de classe e com o exagero na reação da selecionada. Jogou a cabeça para trás, para fazer uma mecha de seu cabelo curto sair de seu rosto. – A solução é simples. Uma grande eliminação está se aproximando com o fim da Semana da Paz e você irá embora junto com outras meninas. Diga o que quiser do príncipe e da Seleção, realmente não tem como eu me importar menos com isso. Mas essa conversa deve permanecer em segredo.

Ela fez uma pequena pausa e logo voltou a explicar:

—Ninguém pode saber de minha relação com Irlanda do Norte, desse documento de acordo e muito menos... das atitudes deselegantes daquele sujeito. – Ela esclareceu, olhando com rancor para o guarda mal-humorado. – Você vai embora dentro de poucos dias e... Se você não fizer isso... – Ela girou os olhos, entediada. – Eu tenho acesso a sua família, sei de seu relacionamento com Patrick... Tenho informações e mecanismos o suficiente para mantê-la calada, sabe disso. Convenhamos que a senhorita deixou excelentes vantagens para mim. – Ela completou com um mínimo sorriso cínico. Não precisava ser criativa nas ameaças para deixar Charlotte assustada. Ela realmente tinha “a faca e o queijo” na mão para fazer o que bem quisesse, e isso era já era ameaça o suficiente. Finalizou, com desdém: – Você pode ir embora agora.

Quando o homem se afastou da porta e a abriu, Charlotte se lançou para fora, incapaz de pensar em qualquer coisa.

♕ ♕ ♕

Três horas da tarde, nos campos do Complexo Esportivo do Palácio Real de Nova Irlanda o quinto dia da Semana da Paz enfim iniciou o seu característico evento: Os Jogos Regis.

Porém, antes mesmo que Branca Pietrov Vanschmitz pudesse pisar na pequena trilha que levava às arquibancadas, onde as selecionada e parte dos convidados assistiriam aos jogos, Caitlin a impediu e a chamou para conversar em um canto mais privado.

A assessora das selecionadas estava séria quando foi direta ao ponto, tirando uma fotografia do bolso de seu casaco.

Naquele pequeno pedaço de papel Branka, com um grande sorriso no rosto e os olhos apertados, era beijada na bochecha por um homem não muito mais velha que ela. Barba e bigodes ralos, de queixo pontudo e rosto angular, cabelos ligeiramente compridos e negros, contrastando com a pele clara e os olhos esverdeados.

No verso estava escrito em russo um provérbio: "'Para todo o homem, como para toda fechadura, é preciso encontrar a chave certa'. Te amo. Viktor".

Branka tirou a foto da mão de Caitlin tão rápido quanto seu rosto se abriu numa expressão de surpresa.

—Onde você pegou isso? - Ela esbravejou com a assessora, num tom elevado de voz. Seu rosto claro imediatamente avermelhou-se de raiva e vergonha. - Você mexeu nas minhas coisas?

Caitlin não se assustou nem recuou diante do comportamento exagerado de Branka.

—Sua criada encontrou a fotografia sob seu travesseiro quando foi arrumar sua cama. Achou relevante trazer essa informação ao meu conhecimento.

Traidora. Foi tudo que Branka conseguiu pensar, acreditava que podia contar com a confidencialidade de Dona Anastácia ou que ela deveria responder, primeiro, às suas ordens. E depois a selecionada culpou a si mesma: Como poderia ter se esquecido de esconder a fotografia logo depois que acordou? Sempre fora a sua prioridade nas rotinas matinais.

—Você tem alguma explicação para essa foto, srta. Vanschmitz? - Caitlin perguntou com seriedade.

—Não sabia que eu tinha que dar quaisquer tipos de explicações. - Respondeu na defensiva.

—Sim, você tem. Principalmente quando se encontra dentro de um concurso que objetiva o casamento e traz consigo uma foto de um outro cara!

"Cara"? — Ela repetiu sem pensar, em parte porque achou inusitado ver Caitlin Dublin chamando alguém de "cara" e, por outro lado, porque não sabia mais como mentir quanto àquela história. Era como uma criança que acabara de fazer algo errado e a primeira coisa que fazia era dizer que não fez aquilo. - O que?

Caitlin travou o maxilar, com raiva, e cruzou os braços.

—Está certo. Vamos colocar na mesa tudo o que eu sei sobre Viktor Bellaroff. - A simples menção do nome completo do jovem, fez Branka recuar, mas Caitlin não. - Ele é uma figura bastante popular na Rússia. Sua avó é conselheira do rei e ele se encontra numa posição administrativa dentro do Palácio russo. É extremamente fácil encontrá-lo na internet e não tão raro assim encontrar fotos suas ao lado dele. Pois bem, o seu pai, srta. Vanschmitz, também tinha uma função administrativa na realeza, talvez, inclusive, trabalhasse com o sr. Bellaroff e foi dessa forma que vocês dois se conheceram. De qualquer forma, a mídia está repleta de notícias de que o seu pai vazou informações sigilosas sobre a economia da Rússia como também "teorias de conspiração" a respeito. Foi isso que a trouxe até aqui, Nova Irlanda, pois vocês foram exilados por conta desse segredo vazado.

Branka Pietrov Vanschmitz estava furiosa quando finalmente Caitlin parou de falar.

Ela expôs toda a sua vida, os seus segredos e as fraquezas de sua família em menos de um minuto. E de modo audacioso e acusador. Branka não havia feito nada de errado.

—E você consegue enxergar qualquer erro meu nessa história? - Ela respondeu com fúria, num tom de voz alto e descontrolado. - É culpa minha ter sido exilada? É ilegal namorar e amar alguém? É crime inscrever no concurso público que é a Seleção?

Caitlin tentou lhe responder, incomodada com a atenção que começaram a atrair de alguns funcionários. Mas Branka não parava de estrovejar.

—Eu não sou a vilã dessa história! Eu sou apenas a infeliz que viu a própria vida desmoronar em uma única semana e que viu na Seleção a única oportunidade para sobreviver nessa merda de Nova Irlanda! Yebvas!

Não precisou que falasse russo para compreender que fora xingada. Caitlin recuou um passo, muito surpresa pelo ódio da jovem.

—Eu não fiz nada errado! - Branka respondeu, ofegante pela sua auto-eclosão de fúria. Eu ainda vou encontrar o meu final feliz!

E dito isso, virou-se sobre seus saltos e preparou-se para marchar para longe dali, quando viu o Príncipe Herdeiro da Nova Irlanda atrás de si. Seu olhar assustado e demasiado surpreso a fez parar no lugar.

O quanto ele havia ouvido? Pela sua expressão, ele ouvira o suficiente. E sabia de toda a verdade.

—Vo... Você tem um namorado? - Ele balbuciou, sem piscar.

Branka o olhou sentindo-se um pouco culpada. Mas logo fechou a expressão de novo. Ela nunca entrara naquele concurso para conquistar o príncipe, esperava apenas que a Seleção lhe abrisse algumas portas para voltar a ter a vida que tinha antes, pois sempre amou Viktor Bellaroff demais. Em nenhum momento de sua vida se sentiu tão triste quando o dia que teve que se separar dele e desde então, não havia mais o visto.

Foi essa triste que motivou Branka. Ela nunca fora o tipo de garota que sentara e desistira de seus sonhos quando a vida puxava o tapete debaixo de seus pés e não seria agora que ela aderiria ao sentimento letárgico. Não importasse a intromissão de Caitlin ou o descontentamento de Liam. Nem mesmo importava se fosse eliminada dali há poucos dias – o que tinha certeza que aconteceria, devido a essa confusão. Branka tinha uma força motivacional absurda e ela estava certa em uma coisa:

Ainda haveria de conseguir o seu final feliz.

Custe o que custar.

E com isso, passou reto pelo príncipe novo-irlandês sem olhar para trás.

♕ ♕ ♕

O jogo mais esperado dentre todos estreou o evento: O torneio de hipismo entre a Rainha Kiara e o Príncipe Liam. Todas as câmeras e os olhares atentos dos convidados se voltaram para as duas estrelas no centro da arena.

Algumas selecionadas mal conseguiam conter a animação. Além dos Jogos Regis serem seu dia favorito dentro a Semana da Paz e principalmente quando sediada na Nova Irlanda, elas sempre foram uma grande fã da habilidosa campeã de hipismo, a própria Kiara. Assim, vivenciar aquele momento somado com a participação especial de Liam Éire - outro sujeito que estava roubando grande atenção das câmeras - as deixavam pulando de tão eufóricas.

—Não acredito que vou vivenciar esse momento! - Dressa sussurrou animada para Riley e Gwen e as três riram timidamente quando Liam, do centro da arena, acenou na direção delas.

Uma voz em um microfone convocou os jogadores para a preparação.

Liam e Kiara se encaminharam para seus cavalos, conferindo as selas antes do torneio.

Já montado, Liam olhou de relance para a arquibancada. Queria saber se todos estavam se divertindo, para ele o Dia dos Jogos Regis sempre fora o seu favorito dentro os eventos da Semana da Paz.

Notou Moreena e Ali brincando com os netos da Rainha Rowena; Lady Alice e Lorde Oliver. Podia, inclusive, ouvi-las conversando com as crianças, perguntando qual esporte eles praticarão quando tiverem idade para isso, e eles respondendo com muita empolgação e com aquela comum fantasia infantil.

Em outro canto, Brianna conversava animadamente com da Escócia sobre suas origens escocesas. Vivera desde muito nova em Nova Irlanda com seus pais, mas guarda extremo carinho por seu país natal.

Encontrar alguns sorrisos entre a multidão acalmou seu coração atormentado. Não conseguia dormir direito tamanha a preocupação com Wicklow Hills, o maior mistério que tentava resolver, e cada dia da Semana da Paz era uma luta para esboçar grandes sorrisos e instigar o mesmo nos outros. Mas ele tinha uma leve sensação de que nunca seria capaz de controlar tudo. Branka Vanschmitz se mostrara alguém cuja história ele não podia sequer imaginar... e querendo ou não, não havia nada que ele pudesse fazer a respeito. Prendê-la por namorar alguém? Não poderia haver qualquer coisa parecida nas leis de Nova Irlanda e também não queria descobrir se havia algo do gênero nas normas da Seleção, que foram importadas de Illéa.

Descobriu rapidamente que "manter tudo sob controle", como lhe incumbira o Rei Donavan dessa tarefa durante a Semana da Paz, também significava "manter algumas coisas para si mesmo". Quanto menos pessoas soubessem, mais controle ele haveria de ter quanto a essa situação.

—Bom, acredito que eu deva, cordialmente, lhe desejar boa sorte. - A rainha disse com um sorriso ousado, tomando a atenção do príncipe. Era engraçado o quanto ela sempre fora competitiva. Ela piscou para o herdeiro: - Você irá precisar.

O jovem se surpreendeu. Sua ideia de Kiara praticando hipismo ainda remetia às aulas de equitação que ela lhe orientou durante os primeiros dias de Liam no Palácio. Ela fora séria e rígida. Terrivelmente amedrontadora, porém, naquela nova situação, o jeito amedrontador era referente ao seu jeito surpreendentemente competitivo.

Liam gargalhou pela surpresa.

Montado em seu cavalo, também brincou:

—Façamos uma aposta: Se eu vencer, eu fico com a coroa!

Ela desviou o olhar, rindo. Era uma piada ruim e uma provocação bastante infantil. Um tanto insolente. Kiara ainda, depois de todo esse tempo em que Liam vivera no Palácio, não se acostumara com o forasteiro Liam Éire e seu jeito "garoto" e "jovem" de ser.

Kiara o olhou de canto de olho. Seu olhar e seu sorriso brilhando na mesma intensidade:

—Vejamos se você consegue manter a coroa, querido.

E numa perfeita saída dramática, o sinal foi dado e o cavalo de Kiara saiu correndo na frente.

Não era uma corrida, mas os cavalos e seus cavaleiros deveriam seguir numa fila enquanto passavam por todo o percurso da arena de areia e cumprir as etapas. Então, embora não fosse uma corrida, Liam ficou para trás, vendo Kiara e seu cavalo saltarem todos os obstáculos com maestria.

Não, ela não seria fácil de derrotar.

Brianna e Skyla vibraram quando foi anunciado que Kiara Hibernia ganhara o torneio de hipismo. Ela era simplesmente incrível conduzindo o cavalo e mereceu ter ganhado outra vez. Liam também se saíra muito bem, elas reconheciam isso, para um jovem que costumava andar de cavalo apenas por lazer e, talvez, trabalho, exercer a equitação sem erros era uma conquista significativa. Mas ainda, é claro, faltava a classe e a elegância da rainha.

Mas logo a comemoração das duas diminui rapidamente quando eles viram, próximo a elas, aos pés da arquibancada, o Príncipe Caleb e Álan Semair trocando algumas palavras agressivas num tom de voz alto o suficiente para atrair atenção até mesmo das câmeras.

As duas trocaram um olhar significativo.

Ao verem a expressão assustada de Sienna, as selecionadas entenderam que havia mais naquela história do que apenas o conturbado término do noivado entre os dois nobres, que já resultava numa situação difícil por si só. Mas agora o primo mais velho do herdeiro de Nova Irlanda parecia estar envolvido e tudo, se ainda não estava, ficaria muito mais complicado.

As jovens engoliram em seco.

Se ao menos elas soubessem onde a carta tinha ido parar, talvez pudessem ajudar de alguma forma. Mas, sem ela...

A Lady Sienna então se levantou ao reparar que câmeras filmavam a conversa nada amistosa entre os dois cavalheiros e como também a sua expressão diante disso. Com poucas imagens, eles poderiam contar o que quisessem. Principalmente Mirela Fitz-Gerald.

A filha do falecido Príncipe Keegan saiu imediatamente dali antes que pudesse chamar mais atenção.

—Você acha que eles estão brigando por ela? - Veronika Égan, em seu lugar no centro e no topo da arquibancada, questionou em voz alta. Ela tinha essa mania, perguntava o que queria, esperando que, seja lá quem fosse que estivesse ao seu lado, soubesse e devesse responder às suas vontades e dúvidas.

Mas naquele momento ela se arrependeu ligeiramente ao ver que seu companheiro era Shawn Keyes. Ela não precisava da ajuda dele.

Argh, esqueça. - Ela bufou, revirando os olhos.

Shawn ainda estava atento aos eventos que aconteciam na arena, a Princesa Suzanna, o Príncipe Christian e a Rainha DA INGLATERRA, se preparavam para os três duelos de esgrima que aconteceriam logo em seguida ao hipismo de Kiara e Liam. Ele olhou para Veronika sem entender, depois olhou ao redor até encontrar Álan e Caleb discutindo. Ele assentiu.

—É o que me parece. - Ele respondeu, ignorando que ela lhe disse para esquecer sobre isso. Virou-se para Veronika e deu de ombros. - É o que o amor é capaz de fazer, sabe?

—Ah, não comece, sr. Keyes! - Ela arquejou, se afastou um pouco dele, enojada pelo assunto. - Não se envergonhe, por favor.

Ele sorriu de uma maneira provocativa.

—Qual é, Veronika. A prova de que o amor existe está ali na sua cara. - Ele apontou novamente para os homens discutindo. Ao perceberam o quanto de atenção tomavam e que Sienna já havia partido há tempo, eles cessaram a briga. - Eles estão brigando por ela, pelo amor dela.

—HA! - Ela riu, seca e irônica. - Fala sério, Shawn. O príncipe só quer manter seu poder e o fazendeiro quer poder. E quanto à Lady Sienna? Ela não quer passar vergonha. Ela sim sabe o que está fazendo.

—Ela está dividida. - Ele insistiu, rindo suavemente.

Veronika cansou das provocações. Colocou-se de pé com agressividade.

—Pare de tentar achar que o mundo é um conto de fadas! - Ela brigou, olhando-o de cima. - Aprenda com Lady Sienna e retire-se quando a situação lhe for humilhante. Sua imagem, querido, é a única coisa que você tem a construir e prezar nesse mundo preto e branco.

Ela saiu dali marchando, virando as costas para ele, para não ouvir mais de suas "provocações amorosas". Ela não deveria passar por isso.

Mas Shawn Keyes a seguiu.

Mirela Fitz-Gerald instruiu o cinegrafista de sua equipe a voltar a câmera para ela, após ter filmado um pouco da discussão entre o Príncipe Caleb e o primo do herdeiro, sr. Álan Seamair Ela segurou o microfone frente ao rosto e falou:

—Nem tudo é "paz" na Semana da Paz. Longe dos jogos, o centro da atenção do evento de hoje, outros dramas acontecem nos bastidores. Como pudemos ver, o Segundo Príncipe do Reino de Gales arranjou briga com o primo de Liam Éire. Não sabemos muito sobre o senhor Seamair... - Ela ignorou quando algo lhe atingiu no ombro, algo pequeno, como uma semente que caíra de uma árvore. - Talvez o ambiente em que ele e o herdeiro da Nova Irlanda cresceram, a caótica cidade de Wicklow Hills, tenham ensinado... - Outra semente a atingiu na cabeça e, dessa vez, ela se contraiu. Ainda assim continuou profissionalmente a falar diante da câmera como se nada tivesse acontecido. - Tenha os ensinados a agir com brutalidade e... - Uma terceira semente a atingiu e finalmente a impaciência de Mirela superou a postura.

Ela virou-se na direção de onde viera os objetos que a atingiram e viu uma das selecionadas com uma pipoca na mão, pronta para outro arremesso.

O cinegrafista se afastou, pensando que teria que editar a filmagem depois. E a jornalista se aproximou da selecionada.

Após ter conseguido atrair a atenção de Mirela, Branka Pietrov Vanschmitz comeu a pipoca que iria arremessar e se inclinou sobre a grade de madeira da arquibancada.

—Por que você faz isso? Estraga a vida dos outros? - Ela perguntou com uma sobrancelha erguida, seu jeito rebelde e displicente era evidente em sua postura. - O que você ganha com isso? - Ela apertou os olhos, fingindo analisar a jornalista. - Você é sádica?

Mirela a olhou com impaciência e também displicência. Bufou alto, balançando a cabeça para os lados. Com a ideia de que "não deveria aturar aquilo" virou as costas e se afastou.

—Espere! Você não me respondeu! O que você ganha com isso? - Branka ergueu a voz, insistindo no assunto.

A jornalista se virou por alguns segundos para abrir o braço, responder um claro "dinheiro!" e voltas a se afastar.

—O que eu posso ganhar com isso? - Branka gritou, antes que a mulher se afastasse o suficiente para não mais ouvi-la.

Com a atenção finalmente atraída, Mirela Fitz-Gerald girou sobre os próprios saltos e fez um gesto para a sua equipe técnica esperar. Ela aproximou-se novamente das arquibancadas, onde Branka se empertigava. Mirela a analisou com um certo desdém durante um momento e depois ergueu o queixo.

—O que você quer?

Branka sorriu, contente pela sua pequena vitória.

—Se eu lhe contar algo que você deseja, o que você pode me dar em troca? - Ofertou com boa lábia. Depois deu de ombros, fingindo simplicidade e casualidade. - Tudo o que eu preciso é de uma passagem de avião. Já sei que serei eliminada em breve e quero dar o fora daqui.

Mirela voltou a apertar os olhos, refletindo sobre as palavras que ouvira. Não era o tipo de pessoas que forneciam favores gratuitamente – mesmo um simples com o qual ela pudesse facilmente arcar - e, muito menos aceitava contratos "abertos" como parecia aquele que Branka lhe sugeria.

—O que a senhorita selecionada teria a me oferecer? - Perguntou a jornalista.

Branka se afastou, chacoalhou os ombros e sugeriu:

—Como "selecionada" a minha opinião vale sim alguma coisa para a população. - Ela então sorriu, pois sabia que conseguiria tudo o que queria naquele acordo. - Eu posso te dizer o que você quiser.

♕ ♕ ♕

Veronika Égan já estava atrás das arquibancadas quando percebeu que estava sendo seguida. Virou-se abruptamente para gritar com a pessoa e viu o persistente Shawn Keyes "na sua cola".

—Por que você não desiste? - Ela reclamou.

—Por que você está fugindo? - Ele lhe perguntou tentando alcançá-la, enquanto a selecionada continuava o ignorando e caminhando enraivecida na direção oposta a dele. - Espere. Está bem! Desculpa! Eu sinto muito.

Ela se virou novamente para ele. Era difícil para ela recusar provocar e importunar os outros.

—Você tem alguma ideia do porquê está se desculpando? - Ela questionou, irritada. A expressão de Shawn o denunciou antes que ele pudesse responder e Veronika riu, já esperando por isso. - Eu já lhe disse, Shawn: Pare de passar vergonha.

—Isso é algo que eu não sou capaz de fazer. - Ele confessou humildemente, depois riu, lembrando-se das várias vezes em que tropeçara nas coisas, derrubara outras... "Passar vergonha" era consequência do modo atrapalhado de Shawn Keyes e nada mudaria isso. - Faz parte de quem eu sou, é inevitável, por mais irritante que seja. Mas eu reconheço isso em mim e aceito essa característica. Vivo muito bem com isso, sabendo que vou errar muitas vezes e passar por várias situações vergonhosas.

Veronika parou com um "bom para você" na ponta da língua, que acabou não dizendo. Ela apertou os olhos e colocou as mãos na cintura, analisando – e julgando – a opinião de Shawn e tentando ler as intenções subentendidas.

—Isso tudo é sobre "amor" novamente, Shawn? - Perguntou sarcástica e impaciente. - Sobre "o amor é algo mágico" e sobre eu "não aceitar me apaixonar"?

—Você não acredita em amor. - Shawn frisou como se aquele fosse o motivo central para justificar o comportamento de Veronika. - E tem medo de senti-lo.

A selecionada nada disse. Fitou o assistente da assessora da Seleção com ódio no olhar – ele havia tocado numa ferida bastante funda e, por alguns segundos ela ficou sem saber como reagir, dividida entre lutar e sair correndo.

—Você está errado. - Ela sussurrou enraivecida.

Ao ver Shawn sério e com uma expressão tranquila no rosto... Ver que ele não estava brincando e a provocando, mas conversando sinceramente com ela. E para Veronika Égan aquilo foi ultrajante. Ela não dava a ninguém o direito de opinar e analisar sua vida e, principalmente, suas fraquezas. Ela não aceitaria isso.

—Vou provar que está errado.

E num gesto impensável, ela se lançou na direção de Shawn e o beijou.

Os braços dele se enroscaram na cintura dela e os dela enlaçaram seu pescoço, puxando-o para mais perto e quase os fazendo cair. Ficaram num abraço apertado que os impedia de se desequilibrarem.

Veronika então terminou o beijo da mesma forma que o começou: Abruptamente. Deu três passos para trás, afastando-se de Shawn.

Ofegante, ela apontou um dedo para ele e afirmou, presunçosa:

—Viu? Não sentimos absolutamente nada!

Ele a olhou com os olhos arregalados, os músculos do corpo tão relaxados que parecia que sua energia tinha sido sugada por alienígenas. Shawn não conseguir dar qualquer sentido ao mundo naquele momento. Não acreditava que Veronika o havia beijado.

Ao ver a expressão dele, a srta. Égan prendeu a respiração. Esperava uma resposta de "sim, o beijo não foi nada", mas a expressão do assessor da assessora das Selecionadas lhe dizia exatamente o oposto.

A jovem percebeu que suas próprias mãos tremiam e seu coração pulsava rápido, enlouquecido. Estava calor ali?

Não demorou para ela entender o que tremor em suas mãos, as batidas descompassadas de seu coração e o calor do ambiente significavam.

—Oh, merda.

Ela virou-se para trás e saiu correndo.

Chegou em seus aposentos em questão de segundos. A empregada não estava ali e ela ficou aliviada por estar sozinha.

Sentou-se a escrivaninha e não a cama, para ser racional, não emocional. Para Veronika, só pela lógica conseguiria clarear a confusão de sentimentos que fervilhavam dentro dela.

Mas derrubou todas as coisas de cima do móvel ao cair os braços, pesados, sobre o tampo da mesa. Tudo tremeu, caiu ou rolou até o chão. Tentou segurar, mas não conseguiu apanhar nada.

Apoiou os cotovelos sobre a mesa e enterrou os dedos na raiz do cabelo. Bateu com as mãos na própria cabeça três vezes.

—Não, não, não... - resmungou para si mesma.

Veronika Égan queria ter controle de sua vida, como fingia ter. Queria enlouquecidamente transformar suas mentiras em verdades... para conquistar sua independência. Para poder encontrar a paz que precisa para dormir à noite.

Dormir e poder sonhar com fantasias de criança que não se concretizaram, com finais felizes, e também com holofotes, joias, roupas caras e coisas cor-de-rosa... Coisas que apenas Veronika Égan poderia sonhar.

Ela queria tudo isso e muito mais. Entretanto, o que ela nunca quis foi se apaixonar.

Pois ela não acreditava no amor e sabia que decisões horríveis poderiam resultar disso.

E era por isso que chorava como nunca chorou antes. Por saber que tudo fora uma mentira. E que tudo iria dar errado. Pois, naquele momento, Veronika entendeu que estava, de fato, apaixonada.

E estava quase enlouquecendo.

♕ ♕ ♕

Caitlin Dublin não conseguiu a ignorar o mal-estar que a tomou depois de descobrir sobre a existência de um namorado de uma de suas selecionadas. Inquieta, não conseguia parar de pensar sobre como deixara esse segredo lhe passar desapercebido. Costumava ser mais sagas e astuta quanto a esse tipo de coisa, fora por esse sentimento de competência, afinal, que a motivara a aceitar o trabalho como assessora da Seleção de Nova Irlanda. E porque era agitava, tinha bastante energia para resolver problemas e acompanhar as jovens pelas suas aventuras e percalços no palácio.

Então, foi ao lembrar-se de sua própria agitação e energia somado com as inúteis tentativas de silenciar sua inquietação que Caitlin escapou do evento real e correu até chegar ao seu escritório na Ala das Selecionadas.

Ofegante, bebeu três copos de água antes de sentar-se à cadeira atrás da escrivaninha e puxar o primeiro documento da pilha de informações que Shawn Keyes encontrara sobre as selecionadas – aquele fora uma obrigação bastante útil no final das contas.

A ficha médica das selecionadas era a primeira coisa que aparecia nos documentos, até antes dos nomes das jovens. Lembrou-se da situação de Moreena com uma ligeira expressão de compaixão e recordou-se em seguida da ausência de herdeiros dos atuais monarcas. Liam havia lhe contado um pouco sobre a infertilidade masculina intensificada nas últimas gerações da Dinastia Hibernia, e isso lhe fez concluir, ao observar todos os prontuários médicos, de que o critério central nas avaliações para as possíveis candidatas à Seleção eram exatamente seu estado de saúde. A monarquia definitivamente não podia passar por outro problema de fertilidade.

Um pouco enojada Caitlin deixou aqueles documentos de lado. Cada família tinha suas prioridades afinal.

Ela buscou ser sucinta, correr os olhos pelos papeis e selecionar apenas aqueles que mais a interessavam para a leitura, mas perdeu o foco. Uma leitura estimulou a outra e quando viu já estava há horas trabalhando naqueles documentos.

Shawn fizera um inimaginável trabalho – como ele conseguira toda aquela informação? Caitlin se perguntava.

Havia ali todos os tipos de informações possíveis e em todos os veículos possíveis. Haviam matrículas em faculdades, contratos de serviço profissional, histórico escolar, médico e criminal, méritos acadêmicos como vitórias em concursos de soletração, publicações literárias em meio midiáticos, jornais e notícias online quanto as selecionadas e também suas famílias.

Se fosse a vida de Caitlin que estivesse ali em sua mesa – um livro totalmente aberto -, ela se sentiria incomodada, não podia negar. Fora uma pesquisa profunda e bastante intimista.

Ela olhou para os papeis por um ou dois segundos, refletindo sobre as inúmeras informações que lera a respeito das selecionadas. Teve uma única imediata certeza: Não deveria deixar mais ninguém entrar em contato com aquelas informações. Só ela, como responsável pelas jovens e pelo concurso em que estavam envolvidas, deveria ser a responsável por guardar e manusear aquelas informações caso precisasse.

E precisava? Foi o que se perguntou em seguida.

Charlotte.

Ela puxou os documentos da selecionada de Galway novamente. Recortes de jornais que lhe haviam interessado. A família da garota era composta por uma longa linhagem na carreira do direito e há muito tempo aliada à monarquia e à Dinastia Hibernia. Tinham bastante influências.

Porém, os últimos recortes mostravam o quanto estava passando por um momento difícil. Estavam sendo vítimas de assaltos, invasões em propriedades privadas e inclusive ameaças por um grupo ainda não identificado.

Caitlin se recostou na cadeira quando teve um súbito e claro pensamento: Fora por isso que Charlotte Wonder O’Dornan se inscrevera na Seleção?

Já terminado os jogos há algumas horas, a assessora foi procurar pela selecionada em seus aposentos.

Com a mala aberta sobre a cama e empurrando roupas e outros pertences pessoais sem muita paciência para dentro dela, Charlie se recusou a falar qualquer coisa. Nem sua criada entendia o que estava acontecendo.

Mas Caitlin imaginou o motivo.

♕ ♕ ♕

Acabado o último jogo, Liam Éire se sentia também acabado. O sol já havia começado a se pôr e a temperatura começara a cair rapidamente. Todos já se reuniam para voltar ao Palácio e seus aposentos, buscam por algumas horas de conforto e aquecimento antes do jantar. Os funcionários passaram por Liam caminhando na direção contrária, iniciando a limpeza do evento. Ele interceptou uma senhora que lhe parecia estar numa posição de coordenação e gerenciamento dos empregados e lhe disse para que mantivessem os aquecedores ligados enquanto eles estivessem trabalhando – estava frio demais para eles verem os aquecedores como privilégio apenas dos nobres.

Liam então avançou em direção aos portões do palácio e quando chegou lá viu os cabelos loiros de Ali Mackiney dançarem quando ela subiu o primeiro degrau da escada. Ele correu atrás dela até alcança-la.

—Ali, espere.

Ela parou e virou-se para ele quando Liam já estava ao seu lado. A jovem esboçou um pequeno sorriso educado.

—Podemos conversar? - Liam pediu. A selecionada ficou imediatamente preocupada, seu rosto perdendo o calor da simpatia. Estava preocupada com a eliminação, sabia que ela estava muito próxima de acontecer. Ele a tocou no braço de novo. - Não é nada sério. É sobre Wicklow Hills.

Antes que ela pudesse imaginar o que ele dizia, Liam a guiou pelos corredores do primeiro andar até o jardim de inverno leste, um dos menores se comparado aos padrões de grandeza do palácio, mas igualmente grande para qualquer um que se visse sozinho naquele lugar.

Ali imediatamente sorriu quando entrou no ambiente.

—Bom, isso realmente remete à Wicklow Hills. - Comentou, apreciando a decoração mais rústica e principalmente as plantas bem cuidadas que emanavam uma sensação de tranquilidade pelo ambiente.

Liam também não pode deixar de sorrir. Ali tinha razão, aquilo lhe lembrava sua fazenda. A sensação de familiaridade era bastante reconfortante e ele olhou para a selecionada, compreendendo que ela definitivamente conhecia Wicklow Hills tão bem quanto ele.

Ela sentou-se num dos bancos de madeira, ainda observando o cenário a sua volta e perguntando-se como não descobrira aquele espaço antes – estava ali no meio dos requintes e modernidades do Palácio Real. Depois olhou para Liam e perguntou:

—Mas acho que não era isso que você queria me perguntar sobre Wicklow Hills.

Ele hesitou no assunto, mas sentou-se ao lado dela para ganhar mais confiança.

—Eu estive estudando a situação de Wicklow Hills nas últimas semanas, até que pensei... e devo me desculpar por ter demorado tanto para ter essa ideia... de falar com você sobre isso, Ali. Você teve mais contato com o "caos" da cidade do que eu jamais tive. - Ele sorriu para ela como quem pede um favor. - Preciso da sua ajuda, Ali, qualquer detalhe pode ser útil para ligar as pontas soltas, sabe?

Ali sorriu com simpatia, mas desviou o olhar.

—Hm, eu acredito ter algumas observações a fazer. - Comentou com casualidade, mas sem vontade de relembrar tais assuntos. - Definitivamente é um caos.

Liam observou o ambiente por alguns segundos e a sensação que lhe trazia não deixava de lhe remeter à familiaridade. Sua casa. Ele sentia falta desse conforto. Isso logo o fez colocar-se na situação de Ali. Imaginar um caos naquele lugar pacífico lhe deixou angustiado e assim, se apiedou das lembranças que a menina poderia estar evocando naquela situação.

—Antes eu preciso me desculpar por aquele outro dia que você veio até mim falar sobre a sua casa e sua família e... eu não tive o comportamento mais adequado. - Ele relembrou. - Acredito que eu ainda não tenha pedido desculpas por isso.

A situação entre os dois ficara estranha nas semanas que se seguiram àquela conversa, de quando Ali perguntou para Liam sobre a "tomada de propriedades em nome do governo". Ele achou que fosse uma intenção ruim de escolher entrar para a Seleção. E ela achou por vários dias que seria a próxima eliminada.

Definitivamente aquele momento precisava de um pedido de desculpa.

Ali balançou a cabeça para os lados, dizendo que aquilo não fora muito importante, embora tivesse ficado de fato incomodada com aquela conversa.

Ela observou o jardim a sua volta e suspirou.

—Eu vivi na fazenda ao lado da sua durante muitos anos. - Ela iniciou a sua história, ainda hesitante e buscando as partes mais relevantes para serem contadas. - Sempre vivemos muito bem nela, embora, eu não me lembre de ter havido um momento em minha vida em que a região não foi perigosa. — Ela apertou os olhos, reflexiva.

Liam se surpreendeu.

—Perigosa? - Ele repetiu, com uma expressão de quem não entendia o sentido daquela palavra, pois, para ele, o seu significado de perigo não se aplicava à Wicklow Hills que ele conhecia.

Ali o olhou como se seus olhos sorridentes. Estavam confusos um com o outro, suas percepções do mesmo cenário eram incoerentes. Para ela, periculosidade sempre fora uma palavra presente na região em que cresceu.

—Bem, sim. Há bastante território de preservação ambiental próximas as minhas fazendas e as vizinhas, inclusive a sua... - Ela olhou para Liam e ele assentiu, dessa vez concordando. Ela prosseguiu: - E isso atrai vários animais, ahn, selvagens para perto das pessoas. - Ela desviou o olhar e mudou rapidamente de assunto. - E há os saqueadores.

Liam franziu o cenho e insistiu para que ela continuasse.

—Como é distante do centro da cidade, as fazendas não têm muita fiscalização policial, o que torna fácil os roubos. Além disso, os ladrões podem entrar por todos os lados! - Ela exclamou, visivelmente incomodada com aquilo. - A minha fazenda e a de outros moradores locais, que possuem território bem menos do que o de sua família, são cercadas por rodovias sem fiscalização, área de preservação ambiental que são envoltas por milhares de regras que consideram até o uso de cercas um crime ecológico e uma gigantesca escarpa de pedras que levam à praia! Os saqueadores têm acesso por todos os lados e podem fazer o que quiserem! Eles podem levar lobos!

Ao olhar para Liam, Ali Mackiney compreendeu o que disse. Seu rosto empalideceu e seus olhos se encheram de lágrimas. Ela rapidamente desviou o olhar, constrangida.

—Desculpa. - Ela disse antes de começar a chorar.

Liam não entendeu e ficou naquele seu desespero típico de quando via alguém chorando.

—Ali... - Ele a chamou o mais delicadamente que pôde, sem saber o que fazer.

Ela fechou os olhos, fazendo mais lágrimas escorrerem pelo rosto e tentou limpá-las rapidamente.

—Há oito anos... - Ela contou com a voz rouca e num tom bastante baixo, tímido e receoso. - Eu tinha nove anos quando meu irmão faleceu. Ele tinha apenas treze. - Mais lágrimas escorreram por seu rosto.

Surpreso, Liam tentou esconder o próprio receio e passou o braço pelas costas de Ali, tentando reconfortá-la da maneira que podia. Não disse nada.

—Alguns saqueadores haviam trazidos lobos para caçarem. - Ela fez uma pausa, soluçando. Demorou até conseguir falar novamente. - Um dos lobos escapou, ou se perdeu... Nós criávamos ovelhas, sabe? Lobos eram comuns na região. - Ela limpou algumas lágrimas que molhavam suas bochechas. - Houve um ataque. E meu irmão estava brincando ali perto.

—Ali, eu sinto muito! - O garoto falou logo após perceber o triste final daquela história. Impulsivamente ele passou seu braço nas costas dela e a puxou para um abraço reconfortante.

Depois não disse mais nada, nenhum dos dois. Ali soluçou até a dor se dissolver em velhas lembranças novamente. Percebendo que chorara sobre a camisa bem passada do herdeiro de Nova Irlanda ela se desvencilhou do abraço e se afastou timidamente. Prendeu uma mecha do cabelo loiro atrás da orelha e secou as lágrimas.

—Se você queria ter certeza da intensidade e duração do caos em Wicklow Hills... - Ela brincou, corada.

Liam riu, vendo-se também subitamente incomodado.

Tentou clarear os pensamentos rapidamente.

—Estranho levarem lobos para saqueamentos... Isso implica em algo que precisa ser farejado, talvez algum tipo de solo específico...

—Bom, além de quilômetros de terras de plantios... - Ali auxiliou-o com os pensamentos. - As escarpas costumavam ser regiões de minas...

Minas... — Liam repetiu com os pensamentos já bem longe dali.

De tanto pensar e se preocupar com a situação caótica de sua cidade, a associação lhe viera involuntariamente. A sua própria voz lhe veio à sua mente:

"...as pessoas costumam almejar tudo o que lhes ofereça dinheiro e... consequentemente poder. Então invasores costumam procurar por poder bélico, poder tecnológico, informações sigilosas e... Dinheiro mesmo, acredito. Ouro, diamantes."

Minas era algo do qual ele, Finn, Álan e Sienna não haviam cogitado como hipótese. Fazia anos que a região não era mais usada para mineração e, quando ainda era ativa costumava atrair os minerados mais para o centro do condado, para os territórios montanhosos... As escarpas não costumavam dar muita sorte nessa atividade. Ele não tinha conhecimento o suficiente para dizer o modo como a mineração poderia ainda acontecer em Wicklow, mas tinha uma forte intuição que lhe dizia que ela acontecia com pouca frequente e sem grandes investimentos.

Porém, a sua perspectiva mudou quando outra lembrança foi resgata, esta, mais antiga. Com ela fazia sentido que as minas ainda eram de extrema importância atualmente, de que ainda eram bastante exploradas e que as pessoas, conforme a história de Ali, faziam de tudo para realizar tais feitos.

E, com os conflitos de Wicklow, concentrados em Wicklow Hills, e a mineração perigosa, a própria lembraça fez sentido.

—Liam? - Ali chamou sua atenção, com um tom carinhoso na voz.

—Eu acredito que você esteja certa e as minas estejam ligadas aos conflitos em nossa cidade. - Ele inspirou fundo e expirou. Completou em seguida: - E ao acidente de Tia Ágatha.

Ali não soube o que responder, mas não queria que Liam guardasse o que quer que ele estivesse pensando apenas para ele. Ela tomou tocou em seu braço, tentando ser tão compreensiva quanto ele foi com ela há poucos minutos.

Ele deu uma risada seca e desanimada.

—Você não é a única que tem histórias tristes.

Ágatha pegou Finn, seu filho mais novo, e deu um sorriso forçado a seu marido.

—Já que você vai aos estábulos, leve Finn com você. Ele quer ver os cavalos. De novo! - Fred explicou e sem esperar uma resposta, virou-se e entrou novamente na casa.

Ela suspirou e levou o filho de __ anos ao carro, prendendo-o na cadeira do banco de trás. Quando fechou a porta da caminhonete viu Maire parada ali ao lado.

—Você não vai apenas aos estábulos. - Ela falou, não como uma acusação, mas com total certeza. E isso fez Ágatha jogar a cabeça para trás e suspirar alto. Maire não era apenas a sua cunhada, irmã de seu marido, mas sua melhor amiga e, por isso, a conhecia melhor do que ninguém. Moravam juntas na mesma casa já há bastante tempo.

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—Você vai até as fronteiras da fazenda, perto da costa. Quer ver os danos que os ladrões causaram na região mesmo sabendo que eles ainda podem estar lá e que pode ser perigoso. Sem desculpas, foi por isso que você não contou ao Fred onde ia, porque ele a impediria.

Ágatha apertou os olhos, desafiando a amiga e tentando descobrir o final daquela história.

—E você vai me impedir?

Maire riu da sugestão e abriu a porta do carona.

—Não, eu vou com você. De modo algum vou deixar você ir sozinha... e com Finn no seu pescoço! Você é bem maluca, não é? - Ela brincou. Em questão de segundos já estava no banco do carona exigindo que Ágatha não ficasse enrolando: - Vamos, entra logo!

Elas demoram alguns minutos para chegar a fronteira, devido ao tamanho da fazenda. Finn, no banco de trás, não parava de falar sobre como ele gostava de cavalos e ficando cada vez mais e mais impaciente.

Ágatha e Maire nada disseram quando elas pararam o carro num trecho de vegetação queimada e encararam o solo mal tratado. Era uma imagem deprimente e, a princípio, parecia não ser passível de qualquer solução.

Enquanto olhavam o cenário algumas pessoas correram há dez metros dela, na linha do horizonte formada pela costa da escarpa. Eles desapareceram atrás de grandes rochas que desciam vários metros até a praia.

—Eles ainda estão aqui. - Maire sussurrou, surpresa e amedrontada. Levou um enorme susto quando a porta do motorista abriu a ÁgathaSeamair pulou para fora do carro, já correndo na direção dos invasores. - Não! Espera!

Maire olhou para Finn, ainda ansioso para ver os cavalos. Ela hesitou em deixá-lo sozinho, mas se viu dizendo a ele que logo estaria de volta e em seguida saiu do veículo.

Ágatha já estava bem longe dela, correndo em direção às rochas. Além de teimosa ela sempre fora demasiadamente ousada e isso nem sempre dava um bom resultado; faltava-lhe um porção da essencial cautela.

A jovem mãe de Liam Éire sabia que deveria impedir a amiga. Ela deu cinco passos na direção de Ágatha quando tudo explodiu pelos ares.

Liam nunca entendera aquela explosão, como ela deixara sua mãe surda, como ela tirara sua única tia de sua vida. Sempre lhe fora um mistério, o qual ninguém da família gostava de refletir sobre isso.

Mas ele contava com algumas certezas: Fora por isso que Finn passara a gostar cada vez menos de morar no campo, na fazenda. Fora para superar esse traumático evento que a família se uniu e se reconstruiu ao redor da música. Era por isso que ele valorizava demais o bem-estar de sua família.

—Eles fizeram tudo aquilo por causa de ouro? - Liam rosnou, sua voz baixa e rouca, tomada pela raiva que sentia.

—Eles quem? - Ali perguntou, ainda emocionada com suas próprias vivências traumáticas para se mostrar racional frente a outra história triste.

Eles dois definitivamente viveram momentos muito ruins na terra que amavam.

—Irlanda do Norte. - Ele respondeu, sem olhá-la. Tentou clarear a mente e raciocinar. - Ou o que restou dela. Descobrimos há pouco tempo que as fazendas tomadas pelo governo local de Wicklow Hills fez isso para tentar rastrear e combater os invasores, que no caso são da Irlanda do Norte.

—Espera. Uau! - Ali falou extremamente surpresa. - Eles ainda existem? Co-como?!

Liam assentiu, porém, ainda frustrado, questionou:

—Eu só não entendo o porquê de tudo isso em troca de ouro!

Mas não é por ouro. - Ali respondeu com as sobrancelhas apertadas, refletindo. Sempre tivera aquela hipótese, mas nunca contara a ninguém, e, naquele momento, com as coisas surpreendentemente se encaixando, ela parecia bastante apropriada. - É algo muito mais caro.

Então ela puxou a corrente do colar para fora da blusa e uma delicada, porém majestosa pedra rosa girou no pingente.

—É poudretteite.

Liam e Ali fitaram a pedra, em silêncio, durante alguns segundos. Aquela era uma das pedras mais raras de todo o mundo e eles estavam sobre ela a vida toda.

—Há quanto tempo isso vem acontecendo? - Ela perguntou em baixo tom. - As invasões e as minerações?

—Eu não sei. - Ele falou tão perdido quanto ela. - Há décadas, acho. Acredito que a expansão agrícola que meus pais e tios realizaram em Wicklow Hills diminuiu um caos que já existia há muito tempo. - Ele refletiu. - O nome dos Éire esteve manchado desde... - Sua voz sumiu e a compreensão tomou o rosto. - Desde a regência de minha bisavó, Sinead Hibernia.

Eles se olharam durante segundos de apreensão.

—Há alguém que saiba nos dizer sobre ela?

E Liam finalmente sorriu.

—Venha. - Ele ergueu-se e puxou-a pela mão. - Vamos conversar com o dinossauro desse castelo.

No momento seguinte, como duas crianças correndo atrás de uma aventura e novas histórias para contar, eles saíram apressados para encontrar o Conselheiro Sean.

Com seus noventa e dois anos, o mais velho dos conselheiros reais da Nova Irlanda tinha apenas dezoito anos quando começou a atuar no Palácio Real, naquela época como substituto de uma conselheira que havia adoecido. Nunca imaginou que ficaria no mesmo cargo por tanto tempo, nem que os monarcas aceitariam alguém de tão pouca idade e experiência em tal posição. Mas o jovem Sean fora extremamente útil durante o período de regência do reino setenta e quatro anos atrás.

E, agora, apenas ele vivia para contar a história da Princesa Regente Sinead Hibernia.