Como Devia Estar

Capítulo 4:Deadsea e Crono


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Serge estava no quarto deitado na cama desde a hora que voltou da casa do chefe Radius, sem falar com ninguém, Nozomi e Gleen ficam na sala com Marge e Leena para explicar, ou pelo menos tentar, a atual situação do garoto.

--Então foi isso! O senhor Radius disse que se quiséssemos mais informações a gente tinha que ir para... para...—Nozomi se esforçava para explicar o que pudesse sem revelar muita coisa —Sea of Eden!

Gleen olha meio estranho para ela, mas rapidamente entende a jogada, quanto menos informação desse menos preocupação daria. O que ele não entendeu é a inclusão do sea of Eden, chefe Radius não tinha falado nada a respeito.

--Pobre Serge! Vou lá p... —ia dizendo Leena, mas a mãe do garoto a segura.

--Eu vou lá! Jovem Gleen se sinta em casa e Nozomi sirva algo quente para eles. —fala a mulher olhando para a escada que levava ao quarto do garoto —Vou ver se... se sou capaz de ajudá-lo de alguma forma, não suporto a idéia de vê-lo mais triste do que ultimamente ele já é...

Marge solta à mão de Leena e sobe as escadas sumindo de vista, Nozomi se encaminha para a cozinha com Gleen como uma sombra e a ruiva fica sentada se deixando levar pela desolação. Ela amava Serge com todas suas forças, mas nunca tinha sido o suficiente e agora esse sentimento se mostrava inútil, pois ela não podia fazer nada para ajudá-lo. Não tinha a mínima idéia do que fazer para ajudá-lo e mesmo se tentasse sabia que ele correria para os braços escancarados de Nozomi, pois algo naquela estranha garota sem memórias, e que lembrava um pouco ele próprio, parecia apaziguar a ferida invisível e incompreensível que ele carregava. Leena esconde o rosto nas mãos e começa a chorar baixinho.

Serge estava deitado olhando o teto, mas sem realmente vê-lo, ouviu passos na escada e logo ouviu e viu sua mãe, sua doce voz e seu rosto amável. Ela falava com ele, mas as palavras não chegavam aos ouvidos do menino, se sentia vazio e ate queria colocar tudo pra fora num grito ou num choro, mas simplesmente os sentimentos não encontravam caminho de saída. Ele olhava para o rosto de Marge e estende a pequena mão, pousando na bochecha dela e afagando com o polegar fazendo a mãe fechar os olhos e parar de falar ao seu toque. É então que uma doce voz, tão macia e apaixonante, chega aos ouvidos de Serge que reconhece de imediato. Nozomi cantava uma melodia linda e de certa forma meio triste:

Eu segui este caminho distante à procura
Daquela luz cintilante
Fechada nas mãos de uma criança,
Vagando a beira do tempo.

Eu continuei te procurando,
Embora não soubesse seu nome,
Porque eu quis compartilhar
Este sentimento com você.

O tempo envolve tanto o amor quanto a dor,
Até que ambos sumam.
Mas eu ainda lembro-me deles
E sempre lembrarei.

Embora eu não possa recordar de quando
Um sussurro começara a ecoar
Profundamente em meu coração,
Mais fraco do que gotas do orvalho da noite.

Talvez esta oração que rogo
Passe pela escuridão de minhas estrelas congeladas
E chegue aos céus acima de você,
Tão distantes.

(Sim! Essa é aquela musica de encerramento no final do game)

Por fim os olhos de Serge se fecham e ele cai em um sono pesado, a mãozinha tomba de lado e uma lagrima escorre por sua bochecha que é seca pela mão bondosa da mãe. E ele sonha com um jovem guerreiro de cabelos vermelhos.

Gleen estava fascinado pela voz que a garota tinha, ate mesmo Leena para de chorar de tão encantada que se sentia por ouvi-la. Ela estava entretida fazendo chocolate quente e colocava todos os seus sentimentos naquela canção, vagamente se lembrava que alguém muito importante havia lhe ensinado aquela musica, mas é claro, não sabia quem e isso a deixava triste. A garota se vira e topa com o olhar penetrante do guerreiro, ela se sente meio encabulada e lhe oferece uma xícara da bebida fumegante que ele pega rapidamente e oferece um raro sorriso para ela. Isso a faz sorrir também.

--O chocolate da Nozomi é o melhor do mundo! Vai degustar bastante do sabor, valoroso amigo e guerreiro! —fala Marge encostada na entrada da cozinha, lhes lançando um sorriso triste.

O rapaz fica escarlate diante do elogio e agradece dando um pequeno aceno com a cabeça, a garota pega abandeja na bancada com quatro xícaras e corre para a mulher, pergunta:

--E o Serge, tia?

Ela pega uma das xícaras, encara a garota e passando as mãos pelos longos cabelos azuis e loiros, ela fala:

--Ele parecia muito triste. Não falou comigo, acho que nem sequer me ouviu... mas ele te ouviu e dormiu! Como sempre... você tem a benção de fazê-lo se sentir um pouco melhor,obrigada querida!

A voz de Marge estava tão carregada de carinho que de repente Gleen se sentiu como um intrometido, a menina cora e se desvencilhando gentilmente de Marge vai ate a ruiva para lhe entregar uma das xícaras.

Serge estava em um lugar estranho, mas ao mesmo tempo não estava em lugar nenhum, um lugar perdido no tempo e espaço e totalmente vazio. O vazio era tão opressivo que o menino se sentia perdido e deprimido, é então que uma fraca luz ilumina um tipo de caminho a sua frente que ele logo se põe a percorrer. Ele sentia que em algum lugar naquela luz encontraria uma saída, uma ajuda ou talvez uma salvação, começa a correr e nem percebe que tinha voltado a ser o jovem rapaz de 19 anos. Então ele para bruscamente, um rapaz ruivo, talvez da mesma idade que ele, com uma katana presa a cintura liberava uma luz branca e pura de seu peito.

A energia liberada pelo ruivo era tão poderosa e pura que Serge sentia um calor gostoso ao redor do seu coração frio, uma onda de proteção e esperança o invadia o preenchendo dos pés a cabeça. O tal rapaz olha para ele que como choque o reconhece, era o garotinho fantasma de Opassa Beach. Era Crono! Ele sabia que era o Crono.

--Agora sei que tudo o que fiz... foi para de alguma forma te dar um futuro! Para te abrir caminho para que pudesse salvar o mundo... obrigado por existir Serge!—fala o espadachim lhe dando um sorriso.

--Mas... não pude fazer nada por você! E morreu por minha causa... todo o seu continente... por minha culpa...— as palavras engasgadas na garganta do azulado saem em um único e fraco lamento —Minha existência só trouxe infelicidade e morte... se não fosse por isso.... se ela não tivesse...

--Com certeza Lavos teria ganhado e não existiria nenhum tipo de vida na terra! Não haveria nenhum tipo de futuro, não existiria nenhuma chance de nos encontrarmos num tempo distante e sermos amigo!—Crono parecia genuinamente triste pela declaração de Serge.

--Mas... você... em Opassa Beach... disse! Por minha culpa o Nadia’s Bell nunca mais iria tocar de novo e que... –Serge tentava explicar, mas é cortado por Crono.

--E que tinha que arrumar o tempo! Colocar as coisas no lugar e você fez isso! É um herói!

O ruivo tinha caminhado ate o azulado, a luz ainda brilhava em seu peito, ele coloca as mãos nos ombros do outro e fala:

--O que aconteceu conosco... com o continente... foi arrasador, admito! Mas foi necessário para te salvar, Schala não podia simplesmente te deixar morrer, não podia! Sua existência é preciosa demais para que fosse perdida! Aquela pantera demônio foi uma enviada de Lavos, se seu pai não tivesse encontrada aquela falha entre as dimensões tudo estaria perdido e... ele teria realmente levado a melhor. Nossa morte foi... um lamentável efeito colateral.

Serge da vários passos para trás, fora do alcance das mãos de Crono, olha chocado para o rapaz a sua frente e fala com os olhos cheios d’água:

--Peq... efeito colateral?! Um continente inteiro sumiu por minha culpa, milhares de vidas se perderam por minha causa... não sou um herói! Sou um assassino que matou você, Lucca, aquela loirinha e tantas outras vidas de pessoas que nem sei o nome. Não sei o que quer com isso que disse... mas... não valho o esforço... nem a pena......

A luz do peito de Crono fica incandescente e por um momento cega Serge, e quando seus olhos conseguem voltar ao normal se depara com o horror congelado e devastado pela destruição do Deadsea, estava em Chronopolis. O ruivo olhava triste para ele, dor era vista em suas feições, passa as mãos pelos cabelos e fala olhando diretamente nos olhos de Serge:

--Não menospreze o sacrifício que meus amigos e eu fizemos, por favor! Mesmo todos nós sermos de tempos... eras... tão diferentes, lutamos todos juntos por um mesmo bem: por você para que você pudesse nos dar um futuro! E sim você é um herói...Hehehehe —ele da uma risadinha triste —Se fosse a Lucca que estivesse falando com você, ela já teria te dado uns bons cascudos. Mas também ficaria muito feliz de ver que foi por você que aquela linda bebezinha se apaixonou.

Serge cora e mais uma vez se torna criança, com as bochechas rosadas de constrangimento, olha para cima para Crono que ainda lhe encarava triste. O rapaz se ajoelha e mais uma vez segura o menino pelos ombros, que balança a cabeça e fala com a voz chorosa:

--Mas não pude... não posso... eu...

--Assim como antes, você vai conseguir reescrever a historia e trazer a mim, meus amigos e meu continente de volta! O tempo que foi congelado com a destruição de Guardia vai voltar a correr de onde parou! Sei que é capaz se curar a ferida no tempo, tenho fé... todos nós temos fé em você! —vários vultos começam a aparecer ao redor deles, aparições que emanavam bondade —Sei que é um pouco de maldade, mas... venha! Volte para o Deadsea, encontre a pista de que precisa e da ajuda necessária para passar pela correnteza para poder ir ao mar onde um dia existiu Guardia, mas que ainda hoje existe Zeal! O reino de Schala!

O menino fica chocado e também cheio de esperança, a luz vinda de algum lugar começa a se apagar fazendo os vultos e Crono ficarem na penumbra. Com as pequenas mãos agarram as do rapaz em seus ombros, assustado e mais do que nunca querendo mais respostas do que apenas dicas, fala:

--Não posso! Não sou capaz... por favor não vá! Preciso...

Já na completa escuridão, mas ainda sentindo as mãos do espadachim em seus ombros e embaixo de suas mãozinhas, escuta a voz dele dizer:

--Você não se enxerga com clareza e nem de maneira justa, não é?! Não se subestime e venha logo! Estou te esperando.

--Estamos te esperando! —uma voz alegre e cheia de energia explode na escuridão.

Isso o faz acordar, a mão no peito sobre o coração acelerado e sob os olhares vigilantes de Gleen e Nozomi.

--Oi! —a garota murmura com um meio sorriso.

--E ai?! —o guerreiro pousa a mão na testa do menino, também lhe dando um meio sorriso.

Ela vestia um longo pijama de alças cor de lilás, o rapaz vestia uma calça de malha branca de aparência macia e uma camisa larga e preta, provavelmente de Serge, ambos sentados no chão ao lado da cama. Ele respira fundo e se sentando na cama, fala:

--Oi... já sei o que tenho que fazer... eu acho...

--Mesmo? —a garota parecia genuinamente surpresa.

--O que vamos ter que fazer?—o guerreiro se endireita cheio de atenção.

--Vamos ao Sea of Eden e depois vamos dar um jeito de entrar no Deadsea, daí vamos encontrar uma pista e um jeito de atravessar as corredeiras que nos separam do continente de Zeal. É pra lá que temos que ir em primeiro lugar! Huum... estamos juntos nessa?

--Sempre! —falam seus dois amigos em uníssono.

De repente a garota assume um ar de culpa, o que faz o menino a encarar e perguntar:

--O que foi Nozomi?

--Huum... o chefe Radius disse que independente do que você decidir... ele vai junto com a gente...—ela fala encarando as mãos no colo.

Gleen encara Serge já esperando sua explosão, que não tarda a acontecer.

--Que?—grita o menino exasperado.