Como Devia Estar

Capítulo 2: voltando a ser criança!


A vida de Serge em Arni era calma e pacifica ao lado da mãe, Marge, e ao lado de Nozomi, o pequeno milagre que havia entrado em sua vida uma semana depois de todas suas lembranças voltarem. O rapaz trabalhava com pesca e eventualmente indo caçar alguns dragões de komodo para pegar suas escamas, por algum motivo as garotas gostavam dessas escamas para fazer enfeites. Vez ou outra ia para a ilha Azul, outrora ilha do dragão da água, mas é claro ninguém se lembrava disso, para buscar raibow shells para vender aos ferreiros que confeccionavam armas e outras coisas. E como esse material era raro e super difícil de ser encontrado o rapaz tirava uma boa renda, mas quem fazia essa venda era Nozomi, pois Serge não tinha coragem de colocar os pés em Termina. Alias, já fazia um bom tempo que o rapaz não ia para Termina, nem Marbule e nenhum outro lugar alem do Fóssil Valley, pois não queria encarar seus amigos e perceber que eles não se lembravam dele, da forte amizade que havia nascido entre eles.

Os únicos lugares que ele ia era Opassa Beach, Hidra Marshes, Divine Dragon Falls e Cape Howl. E ele só ia para esse ultimo lugar por um único motivo, tinha sido ali que ele tinha visto Kid pela primeira vez. Mas a dor de não te-la por perto era muito grande, então Nozomi sempre ia com ele, alias, ela sempre ia com o rapaz para qualquer lugar. Era raro não vê-los juntos e isso deixava Leena morta de ciúmes. Afinal, ela sempre tinha sido apaixonada por ele e parecia que ele nunca tinha percebido nada, sem falar que o rapaz dava mais atenção e carinho para essa “garotinha estranha” do que para ela, sua amiga de longa data e eternamente apaixonada. E isso a deixava muito brava, sem falar que toda vez que se lembrava que houve uma época em que parecia que era correspondida, mas depois de uma tarde inteira sozinho na praia e de um “sonho confuso” tudo mudou. Os olhos dele para ela passaram a transmitir a mais pura amizade, o que a deixava muito chateada.

Mas naquela manhã cinzenta e fria algo estranho estava acontecendo, o silencio pairava no ar, os pássaros que sempre começavam a cantar na aurora do dia estavam mudos, as crianças pareciam inquietas e entre essas pessoas inquietas estavam Nozomi e Marge. Na noite anterior o rapaz tinha sonhado com um estranho homem dizendo que queria encontrar a irmã e com um velho senhor usando um manto que lhe cobria da cabeça aos pés que, com uma voz desconfortavelmente familiar, falou que em breve a fina camada que mantinha o mundo e o tempo no lugar ia se desfazer e que um antigo aliado iria ter suas lembranças recuperadas. O sonho o tinha feito ficar preocupado com alguma coisa e aquele tempo escuro não ajudava em nada uma melhora para seu estado de espírito. E como o mar estava revolto por causa da forte ventania, Serge havia decidido ficar em terra firme, para alivio da mãe e da “irmã”, então todos foram para o restaurante do Orcha para passar o tempo. O cheiro da tradicional sopa de ossos de Guldolve enchia o lugar, parecia que quase todo o vilarejo estava ali e sentado na mesa do canto próximo uma janela, Serge observava tristemente o pôster onde mostrava Mikki e Nicki, amigos e integrantes do grupo musical, mas é claro que eles sequer lembravam-se da existência do rapaz. E isso o deixava um pouco mais deprimido com a situação em que se encontrava.

--Não gosto desse tempo que tá fazendo! — declara Nozomi que olhava pela janela ao lado dele — Sei lá... to com uma sensação estranha!!! Como se algo estivesse prestes a acontecer... não sai do nosso lado de jeito nenhum hein?!

O rapaz desprega os olhos do pôster e olha para ela, lhe da um triste sorriso e fala:

--Juro que não vou a lugar nenhum! Vou passar o dia todo com vocês duas e nada me fará mudar de idéia!

--Oba!—fala Marge que estava sentada ao lado dele e bagunça seu cabelo — Gostei de ouvir isso!

Nesse mesmo instante um forte raio corta o céu e um trovão ensurdecedor sacode as paredes do restaurante, Serge puxa Nozomi pelo braço fazendo com que ela caísse sentada no seu colo e segurava firme a mão de sua mãe que estava sobre a mesa. Um sentimento o atingiu, um sentimento que algo estava seriamente errado e achava que a origem disso tinha haver com Cape Howl ou possivelmente Opassa Beach, sem falar que alguma coisa dizia que o sonho da noite anterior o tinha avisado sobre isso. No restaurante que antes estava cheio de risadas e conversas animadas ficam em um mortal silencio, a tensão que o raio causou era quase palpável e a sensação de um mal pressagio parecia ser compartilhado com todos. É então que da porta do recinto surge uma figura trajando armadura, a armadura dos Acacia Dragons, não dava para vê-lo direito, pois lá fora apesar de ser dia estava tão escuro que parecia começo de noite. A chuva caia sem piedade no pequeno vilarejo e atrás da figura se notava mais algumas pessoas. A pessoa que estava parada na porta entra e o coração de Serge quase para, era Gleen, um de seus preciosos amigos. O amigo ao qual tinha ficado ao seu lado do começo ao fim, o homem que respeitava e considerava seu melhor amigo.

E antes que pudesse se segurar, Serge chama:

--Gleen...

O cavaleiro escuta e olha em direção á ele, a luz da satisfação e do reconhecimento imunda seus olhos e sentindo a felicidade invadi-lo, ele fala:

--Serge!?

A sensação de distorção no tempo e espaço deixa o rapaz de cabelos azuis sem fôlego, ele troca um olhar com o amigo e nota que ele tinha sentido o mesmo e então percebe a menina em seu colo ficar paralisada. Ele rapidamente volta seu olhar para ela e vê o medo estampado em seu rosto, as delicadas mãos segurando a frente da blusa e grossas lagrimas lavarem o seu rosto. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, Dario irmão mais velho de Gleen, adentra o lugar e rapidamente toma controle de seus homens e fala:

--Precisamos de ajuda! Quatro de nossos homens estão presos em uma erosão em Cape Howl e estão muitos feridos. Se não formos logo e com essa tempestade eles não vão sobreviver!

Serge coloca a menina gentilmente ao lado de Marge e se levantado colocando-se ao lado do velho amigo, fala:

--Podem contar comigo! Vou pegar algumas cordas e espero vocês na entrada da cidade!

E antes dele sair escuta o loiro com a cicatriz em forma de x na bochecha murmurar “por que não estou surpreso?”, um sorriso de pura felicidade se infiltra nos lábios, mas ele tinha que manter o foco.

Nozomi que tinha visto Orcha e alguns outros homens do vilarejo se prontificarem se recupera um pouco, se levanta e lançando um ultimo olhar para Marge vai ao encontro de Gleen antes que este saísse atrás dos outros e fala:

--Também vou! Eles vão precisar de primeiros socorros e como sou boa em magia branca posso fazer o possível ate eles irem para alguém mais competente em Termina. —ela se emenda rapidamente quando vê que o cavaleiro iria recusar sua oferta.

Ele a encara por alguns segundos e então diz:

--Esta bem! Mas é só isso que vai fazer, entendeu? — a vê consentir — Então vamos!

A menina olha para Marge que lhe deseja boa sorte e sai atrás de Gleen, enquanto isso Leena ia em direção a porta, mas é impedida pela mãe do rapaz que fala:

--O melhor que podemos fazer agora é orar para que eles voltem são e salvos. Se formos juntos é capaz de só atrapalharmos... acredite sei como se sente!

Mesmo contrariada a moça se resigna a acompanhar Marge de volta a mesa dela e torcer para que seu amado Serge e aquela criaturazinha insuportável voltassem bem e logo.

A tropa de 5 cavaleiros, 6 aldeões, Serge e Nozomi corriam desenfreadamente em direção a Cape Howl. O rapaz quando tinha visto a pequena menina atrás de Gleen e notou que ela os acompanharia quase teve uma sincope e a mandou de volta, mas uma parte egoísta dele o fez calar e estender a mão para que corressem juntos. A subida foi escorregadia e mais de uma vez um ou outro homem caia, mas num piscar de olhos eles logo chegaram ao lugar.

Serge desenrola a longa corda que trazia nas costas e com alguma dificuldade, pois a chuva forte fazia suas mãos escorregarem, amarra a corda firmemente numa rocha ali perto e depois que deu sinal de positivo os outros começaram o resgate. Mas antes que ele pudesse se juntar ao outros para ajudar nota um brilho e olhando em direção aquele clarão vê uma lapide se erguer do pico daquele penhasco, seu estomago fica embrulhado e o medo o invade. Ao verem Serge ir em direção ao pico, Nozomi e Gleen o segue sem pensar.

O rapaz de cabelos azuis se ajoelha diante da lapide e lê a inscrição:

“R.I. P

Nosso amado Serge

Morreu aos 7 anos

Ninguém pode tirar

Nada dele.

Nem ninguém pode dar

Nada para ele.

O que veio do mar

Ao mar retornou.”

Sentindo o chão faltar debaixo de si ele toca a lapide e uma luz quase cegante o engole, a menina ao ver aquilo se atira em direção a ele, enquanto Gleen se protegia de toda aquela luminosidade e os outros se assustaram com aquilo, mas não pararam sua missão de resgate. E o mesmo velho homem com quem tinha sonhado invade seus pensamentos e fala:

--Vai precisar de ajuda e o mais importante... de respostas. Vá para o Dead Sea e quando chegar lá lhe será indicado o caminho que vai seguir. Venha ate mim criança, posso ajudá-lo e você pode ajudar á muitos mais pessoas do que imagina. E... traga com você o egg time... ele pode vir a ser útil!

Nozomi havia consegui abraçá-lo pela cintura, mas algo estranho estava acontecendo. O rapaz entre seus braços parecia estar encolhendo e então quando a luz some nota chocada que abraçava uma criança. Ela vira o menino de frente para si, não parecia que ele tinha mais do que 7 ou 8 anos, os cabelos azuis grudados na testa, as roupas grandes demais e no rosto um ar de desamparo e choque. Mas sem duvidas alguma aquele menino era o “seu” Serge.

Atrás de si escuta o loiro se abaixar e meio incerto perguntar:

--Serge?

--O que aconteceu comigo?— fala o agora menino se olhando, então de repente se lembra do que Nozomi tinha dito na praia, mas ele não tinha dado importância — Existe uma rachadura no tempo... Gleen... preciso da sua ajuda de novo.

O jovem homem estende a mão que o menino logo aperta e olhando seriamente ao amigo fala:

--Sempre... sempre! Ate o fim, companheiro!

--Eu... também... ate o fim!—concorda Nozomi segurando a outra mão de Serge gentilmente.

Diante dessa força, o menino respira fundo e diz:

--Então nossa primeira parada é em Dead Sea! Mas antes... temos que falar com o mestre Radius! Não sei por que... mais sei que ele se lembra de tudo!