Comfortable

Comfortable — capítulo único


Saruhiko tinha uma mente ágil, não via grandes dificuldades em encontrar uma solução rápida para dado problema mas, sempre que visitava a família de Misaki ele percebia que algo crescia cada vez mais em seu peito. Algo ao qual ele não conseguia compreender o real motivo.

Talvez ele só tivesse dificuldade em se sentir confortável, diante de pessoas que realmente queriam o bem dele.

Que gostavam da presença dele.

E ver os irmãos de Misaki lhe testando a paciência entrava em contraste com toda a convivência que ele teve em meio a seus familiares. Era uma sensação tão diferente, tão mais acolhedora, fazendo aqueles que lhe deram seu sobrenome parecerem mais com uma sombra fria, pairando sobre ele.

A lembrança de seu pai pairando sobre ele.

— Saru aqui, abacaxi.

— Não gosto de abacaxi.

— Me diga uma novidade, agora coma.

Um prato de porcelana ou algo que lembrasse muito uma porcelana, fora colocado sobre a mesa de centro, coberto por fatias amarelas de abacaxi. Era verão e a sala de estar, agora maior e com mais espaço dentre os móveis, estava deveras quente. E por mais que sua língua teimasse em estalar pelo desgosto a frutas cítricas, ele não conseguia negar o calor em seu peito pelo gesto de Misaki.

Ou pelas vozes animadas vindas da cozinha.

Um meio sorriso surgira em seu rosto.

— Irmão, olha! O Saru tá sorrindo pro abacaxi!

— O que foi Saru, o calor fritou o seu célebro hoje?

— O meu não, mas o seu sim.

— O quê!?

— É cérebro Misaki.

Um grunhido se fez ouvir e dessa vez, Saruhiko se deixou rir.

— Coma o abacaxi!

Era curioso como pessoas menos capazes que ele tinham a maior capacidade em fazê-lo se sentir confortável. Mesmo em seu ambiente de trabalho, onde todos deveriam ser mais sérios, haviam pessoas olhando por ele, estimando suas habilidades e dispostas a cuidar de seu corpo cansado, caso ele deixasse.

E tudo começara com Misaki.

Misaki nunca lhe dera as costas, nunca mentira ou o enganara, em momento algum ele deixara de ser sincero sobre o que sentia. Ou sobre o quê e quem admirava.

Ele sempre esteve ao seu lado, disposto a estender uma mão e oferecer abrigo, alento.

E ter de crescer para esses ideais e sentimentos serem colocados em seus devidos lugares o atormentou mais do que deveria, mas o presente onde ainda tinha seu melhor amigo e alguém a quem respeitar fazia toda a dor valer a pena.

Ao menos era o que ele gostava de pensar enquanto comia uma rodela amarela de abacaxi.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.