Come Back

Eu tive o suficiente, é hora para algo real


- Estamos perdendo ele!

- Desfibrilador, rápido! Vamos lá, no três... Um... Dois... Três – Um corpo acabara de receber uma corrente elétrica – Mais uma vez...

O corpo dele subia e batia contra o chão a cada vez que um choque era levado, naquele instante eu não ouvia mais som algum, só o da batida do meu próprio coração que, eu juro por deus, se eu pudesse daria o meu pra ele apenas pra não vê-lo passar por aquilo.

Eu queria poder trocar de lugar com ele, afinal, se eu morresse, o que o mundo ia perder? Mas ele não, ele era valioso, muito valioso. Era estranho sabe? Ver o maior homem do mundo caído como um herói fracassado ali no chão, essa imagem não vai sair da minha mente nunca mais.

- Recuperamos o pulso! Rápido, levem-no para a ambulância – levantaram a maca e eu quase que mecanicamente os segui, antes de sair dei uma ultima olhada para trás, a garota já começava a acordar, acho que eu nunca havia visto tanto desespero nos olhos dela, tentava se levantar, mas Samuel a impedia com a desculpa de que o choque podia ser perigoso, considerando o estresse que ela se encontrara. Por algum motivo Jimmy estava com raiva dela, talvez ela realmente estivesse com esse garoto Samuel, mas de uma coisa Jimmy nunca poderia duvidar, ela o amava com cada pequeno músculo do seu corpo, era visível no modo como ela chorava, e literalmente se debatia para que a deixassem ir atrás do meu amigo. Dois paramédicos tentavam contê-la, não podia mais ficar observando aquilo, sai correndo para fora do prédio e segui com o carro atrás da ambulância. É engraçado como em situações graves o corpo praticamente toma um choque de adrenalina e parece te deixar sóbrio quase que imediatamente. Eu não derramei uma lágrima sequer, parecia um robô, quase nem piscava. Acompanhei os médicos o levarem para a parte interna do hospital que eu não tinha acesso, meu pai me ligou e poucas palavras saíram da minha boca, nem lembro o que eu falei exatamente, mas alguns minutos depois ele chegou. O dia já havia amanhecido.

- É melhor se sentar um pouco meu filho, está de pé olhando feito um maluco pra essa porta há quase três horas

- Me deixa em paz Brian

- Não deixo não, você está me assustando ficando desse jeito, não faz bem pra ninguém.

- É meu irmão Brian, se ele não sair vivo daquela sala... – senti ele segurar firme no meu braço e me obrigar a olhar para ele

- Eu sei o quanto isso está doendo pra você meu filho, eu sei quanto o Sullivan importa pra você, sei disso desde que vocês eram dois pirralhos, mas tente manter a sanidade meu filho, ele se safou outras vezes, vai se safar dessa também.

- VOCÊ NÃO ENTENDE! EU NÃO SOU NADA SEM ELE – naquele instante deixei o que sobrou da minha armadura cair, afundei a cabeça no peito dele, comecei a chorar feito uma criança e solucei forte, não me lembrava da ultima vez que havia chorado daquele jeito no colo do meu pai, talvez eu nunca tivesse chorado, pelo menos não depois de ter saído da infância. Jimmy já tinha ficado em situações semelhantes, mas toda aquela previsão que ele havia feito durante todo o dia me deixou muito assustado. Eu estava entrando em parafuso.

- Tenta se acalmar meu filho, por favor.

Me afastei dele e limpei rápido as lágrimas que haviam se formado sobre os meus olhos, respirei fundo e retomei minha postura anterior. Olhei para Allie encolhida em um outro banco ali da sala de espera, parecia totalmente desconectada ao que estava acontecendo ao redor, encolhida, abraçando os joelhos, com a blusa de mangas compridas passando das mãos, olhando para a parede branca, imóvel feito uma estátua de gesso. No máximo ainda notava ela desviar os olhos a cada vez que a porta se abria. Diferente do ultimo incidente de Jimmy, ela não trocou nenhuma palavra comigo, ficou ali distante e inerte.

- Eu estou bem – eu falei baixo depois de me recompor

Olhei para frente e vi um Matt e uma Valary se aproximarem a passos rápidos

- Onde ele está? – a voz de Matt era quase um fio, a minha não devia estar muito melhor, então só apontei com a cabeça a porta branca diante de mim – Por que não me ligou imediatamente? Ele não é só seu amigo Brian

- Me desculpe – caí sentado em um dos bancos – Eu até agora não estou conseguindo raciocinar direito

Ele estava um pouco alterado, caminhando de um lado para o outro com as mãos na cabeça, uma enfermeira passou ao seu lado e ele simplesmente agarrou seu braço quase com violência

- James Sullivan, qual o estado dele?

A mulher apenas arregalou os olhos assustada, afinal não devia ser todo dia que um gorila daqueles a agarrava pelo braço.

- Eu não sei, eu não trabalho nesse setor. Será que pode largar meu braço senhor? Está me machucando

Um pouco de lucidez passou pelos olhos dele e ele soltou a mulher um pouco sem jeito

- M-me desculpe moça, eu só estou um pouco assustado, me desculpe mesmo.

A mulher apenas acenou com a cabeça e seguiu seu trajeto, Val pôs a mão sobre o ombro dele e sussurrou algo em seu ouvido, logo em seguida ele sentou ao meu lado de cabeça baixa, percebi que ele havia começado a rezar.

Toda vez que alguém saía da porta branca eu e Matt tínhamos um sobressalto, mas em nenhuma das vezes era alguém com notícias de Jimmy. Zacky e Johnny chegaram um pouco depois, Johnny havia tido um problema com o carro e Zacky teve que ir buscá-lo. Ambos também tinham as expressões assustadas, Zacky estava mais pálido e Johnny parecia nem sequer ter trocado de roupa, já que a calça parecia com a do moletom que ele usa pra dormir.

Nenhum de nós tinha noticia alguma para dar para eles, então apenas nos sentamos e esperamos. Aquela espera era o pior.

- E se ele...

- Cala a boca Johnny, vai ficar tudo bem, ele é o Jimmy.

- Eu sei mas... – Ele hesitou, eu já sabia o que ele iria dizer – Ele fez todas aquelas premonições.

- Não eram premonições, ele só estava... só estava cansado – Matt respondeu – Não vamos ficar pensando nisso okay? Não atrai coisa boa.

Johnny assentiu com a cabeça e todos nós ficamos em silêncio mais uma vez.

- São os amigos de James Sullivan? – Levantamos quase que imediatamente

- Sim – Eu falei

A médica deu uma rápida olhada no prontuário

- Bom, ele teve uma intoxicação muito séria, beirando à uma overdose, acho que só não chegou a esse ponto por que a equipe médica chegou realmente depressa, antes que as toxinas fizessem efeito total. Como ele é cardíaco dificultou um pouco as coisas por que ele teve uma parada cardíaca a caminho daqui. Tivemos que fazer aplicação de benzodiazepínicos pra controlar as convulsões e abaixar a pressão – Eu ouvia com toda atenção, apesar de que internamente eu queria dar um tapa na cara dela e mandar ela ir direto ao ponto – Foi um pouco difícil controlar as toxinas no corpo dele, mas agora ele está bem.

Todos nós urramos aliviados, levei as mãos ao rosto na tentativa de esconder meu estado

- E quando poderemos vê-lo? – Johnny falou com Val o abraçando

A médica olhou no relógio de pulso

- Talvez no final da tarde, agora ele está descansando.

Minhas pernas enfraqueceram e eu caí sentado na cadeira novamente, afundei o rosto nas mãos novamente.

- Shhh, tudo já está bem outra vez Haner – A voz doce de Val era algo que as vezes parecia vir do além.

- Eu vou encher aquele filho da puta de porrada!

- Mas é claro que vai – ela sorriu aliviada

Allie

A euforia dos meninos no corredor era uma coisa linda, era como se uma criança muito aguardada estivesse acabado de nascer. Eu estava ali no canto distante, o olhar de Brian cruzou rápido com o meu, ele esboçou um sorriso aliviado para mim, mas eu não me misturei, Sam havia me ligado a pouco, estava trazendo Joy até o hospital.

- O que está fazendo sozinha aqui Wade?

Zacky. O engraçado é que ele foi o único que demorou pra se aproximar de mim, acho que ele gosta de analisar o terreno primeiro antes de criar laços com as pessoas. No fim das contas acabei me tornando mais amiga dele do que até do próprio Synyster, acho que ele também entende essa coisa de ser invisível.

- Eu não quis me misturar

Ele se sentou ao meu lado.

- Isso te assustou né? Eu também, agora imagina o Brian? Eu achei que ele ia sei lá, ter um ataque. Como você está?

- Será que pode parar de fazer perguntas? Ainda não estou assimilando direito as coisas.

- Ah me desculpe.

- Não tem problema

Permanecemos um do lado do outro olhando para o chão, ele ficou batendo o pé e então percebi que ele ainda queria perguntar algo.

- Fala Baker

Ele coçou atrás da cabeça

- Depois daquela nossa última conversa, quer dizer, você e o Jimmy fizeram as pazes, certo? – Confirmei com a cabeça indicando para que ele continuasse – Então por que ainda está com aquele garoto? Syn disse que Jimmy passou o dia de ontem todo mandando você ir pro inferno.

- Eu não estou com Sam, Jimmy apenas viu um breve deslize e como nós tínhamos brigado acho que ele colocou culpa nisso.

- E o que vai fazer para reatar?

- Nada

Os olhos verdes dele se abriram em uma expressão de espanto

- Nada?

- Eu vou embora, ele não vai mais ser perturbado com as minhas idiotices

- Embora Allie? Ficou maluca? Ele gosta de você!

- Eu sei, mas eu não posso evitar. Acho que ele vai ficar seguro sem mim, além disso eu não faço mais o mesmo bem que eu fazia a ele. Vai ser melhor se a rotina de vocês voltar ao normal, sem uma intrusa perturbando. Vai ser apenas uma questão de tempo para que ele me esqueça, daqui uns dias nem vai importar mais e tudo volta a ficar bem.

- Tem certeza?

- Sim

Zacky pegou minha mão e deu um beijo leve nas costas dela

- Vamos sentir sua falta

- Eu vou sentir mais

Em seguida ele deu um beijo na minha testa e voltou para o seu lugar ao lado dos outros rapazes. O clima estava bem mais tranqüilo agora, soltei uma risada quase inaudível para mim mesma.

Consegui

James Sullivan estava vivo

The Rev estava vivo

Não havia mais nada que eu pudesse fazer ali, tudo já estava feito

Missão cumprida.

- Allie? – Senti meu corpo sendo chacoalhado, abri meus olhos com um pouco de dificuldade – Argh, me desculpe por isso, sei que precisa descansar

Samuel, ele já estava aqui?

- Hunf, não tem problema. Onde ela está? – Sam não precisou responder minha pergunta, ela surgiu de detrás dele quase que imediatamente. Tinha os olhos muito avermelhados, a roupa amarrotada e o cabelo um pouco desgrenhado.

- Oi Allie

- Oi Alison

- Desculpe por ter reaparecido eu...

- Não se preocupe, sente aqui – apontei a cadeira vazia ao meu lado para ela – Sei que está preocupada com ele

- Como ele está?

- Vivo – soltei a mesma risada leve que havia soltado antes, era algo que eu ainda nem conseguia crer de tão maravilhoso que era – Acho que logo ele fica forte outra vez

- Eu quero vê-lo, eu preciso contar...

- Não. Você não vai contar

- Por que não? Quer que eu seja uma mãe solteira? Ta maluca!?!

Eu abri uma leve risada, abracei minhas pernas novamente

- Chegou a hora de desaparecer Alison, ele não pode saber da existência dessa criança, ele tem que seguir a vida dele normalmente como se nenhuma de nós tivesse cruzado seu caminho. Uma criança causaria uma alteração maior do que tudo que eu já acidentalmente mudei.

- Mas essa criança já existe! Não dá pra mudar isso.

- Eu sei, já basta a mudança que ela vai causar na minha vida.

Olhei para Sam, ele não estava entendendo nada, estava perplexo.

- Você está grávida? – apenas confirmei com a cabeça. Os olhos dele quase saltaram das órbitas – Puta que pariu Allie!!

- Puta que pariu mesmo – dei um meio sorriso

- Eu não concordo com isso – Joy falou

- Pelo menos uma vez tenta fazer a coisa certa Joy, me escuta. Ele vai ficar melhor sem a gente por perto.

- Eu sou muito nova pra cuidar sozinha de uma criança!

- Você não está sozinha, Max vai cuidar de você!

- Eu posso ajudar a criar essa criança também, se você quiser – Sam parecia um pouco envergonhado ao dizer isso – Quer dizer, eu posso ir morar em Winsconsin e sei lá, ficar perto de vocês

- Faria mesmo isso por mim Sam? – eu perguntei

- É claro, além disso, eu odeio esse lugar, vai ser legal morar bem longe daqui.

- Muito obrigada.

- Me desculpe Allie, eu realmente não concordo com isso – Joy se levantou, tentei segurar seu pulso mas ela foi rápida e se desvencilhou, seguiu pelo corredor às pressas e foi ao encontro do quarto de Jimmy.

Jimmy

- Você não pode bater em alguém hospitalizado seu filho da puta – tentava proteger ao menos o rosto dos socos dele, mas ele estava descontrolado.

- Filho ...(soco) ... da (soco)... putaaaaa (sequência de socos que me deixaram roxo)

- Chega Brian! – Val colocou o tronco na frente dele e ele imediatamente parou de me bater – Ele ainda não está forte o suficiente pra você bater nele desse jeito.

Ele se afastou ofegando, quase podia ver dor passar pela expressão dele

- Você me assustou bro, dessa vez foi de verdade. Você quase morreu Jimmy.

- Está chorando?

- Não – ele virou de costas para mim e puxou os cabelos para o alto, deixando-os mais arrepiados do que o normal.

Eu não sabia que podia deixá-lo nesse estado, no fim das contas me senti culpado, não queria ter causado todo esse desespero neles. Eu havia sido desatento com os remédios, na verdade eu nem me importei em tomá-los com a cerveja, afinal, o que poderia acontecer?

Não imaginei que acabaria tendo uma Experiência de Quase Morte. Mas a quem eu quero enganar? Eu não me importaria se eu morresse. Acho que a única coisa que me impede é o fato de que eles se importariam, e sofreriam muito por isso. Morrer agora seria egoísmo da minha parte, mas não me deixar morrer é egoísmo da parte deles.

- Me desculpem por isso, todos vocês. Foi um vacilo meu.

Senti a mão de Matt pousando sobre meu ombro

- Eu sei que você está meio puto com tudo ao seu redor, mas isso não quer dizer que as coisas não podem melhorar. Ano novo ta aí man, é sua chance de tentar algo novo. Nós vamos estar aqui para dar toda a força que você precisar, só tenta se manter forte man, nenhum de nós quer te perder.

Assenti com a cabeça e fechei os olhos, aquilo não foi proposital, juro que não foi, mas eu acho que morrer agora seria tão conveniente. Eu realmente vou ser capaz de continuar vivendo no meio de tanta merda que existe nesse mundo? Se existe um deus por que ele simplesmente não me poupa? Respirei fundo, eu estava sendo pessimista demais.

Se eu estou vivo é por que existe algo pendente? Não me parece que há nada pendente. Amigos, mulheres, carreira, família. Não tenho opção, tenho que viver e terminar o que quer que essa porra seja o quanto antes, viver tem consumido mais de mim do que a própria morte poderá consumir.

A porta do quarto foi aberta e o ruído automaticamente fez com que eu abrisse os olhos. Alguns instantes atrás eu havia me perguntado onde ela estava.

- Posso entrar? – Ela falou tímida e só então notei que não era quem eu esperava ver.

- Pode – eu respondi um pouco incomodado

Os rapazes saíram do quarto para que eu conversasse melhor com ela, na verdade eu não fazia a menor idéia do que ela havia ido fazer ali

- Como você está?

- Vivo

Ela soltou uma leve risada

- Segunda vez que ouço isso hoje – Eu apenas esbocei um leve sorriso – Sei que não é uma hora muito boa, mas eu tenho algo importante pra falar com você

- Olha Joy, eu sei que talvez isso pareça chato pra você, mas eu realmente estou cansado.

- E-eu sei, isso não vai demorar é só uma palavrinha....

- Acho que não entendeu – peguei um pouco de fôlego, falar estava me deixando exausto – eu estou cansado de tudo isso aqui, eu cansei de você se arrastando feito cachorrinho atrás de mim por pura inveja da sua irmãzinha, cansei dela e o idiota do amante dela me fazendo de trouxa. Eu não agüento mais o joguinho de vocês, aliás, você me enoja, garotinha estúpida! Eu realmente espero que todos vocês desapareçam o quanto antes! – Os olhos dela já transbordavam lágrimas, abraçava o próprio corpo amedrontada e seus olhos mal podiam crer que aquilo tudo tinha saído da minha boca, estava funcionando, só faltava o toque final – O que ainda está fazendo aqui?Não quero ouvir nenhuma porra que você tenha pra dizer! CAI FORA! NÃO VOLTA NUNCA MAIS!

Ela girou nos calcanhares, voltou para fora exatamente de onde estava e bateu a porta com força.

Foi cruel

Eu estava guardando isso pra Allie, mas creio que não fazia muita diferença. Caí sobre o travesseiro, fechei os olhos e cobri o rosto com as duas mãos, por mais que aquilo doesse, a família Wade ficaria melhor bem longe de mim.

Allie

A parte mais jovem de mim me arrastava pelo braço para fora do hospital, a correria só era interrompida pelos espasmos de seus soluços, Sam vinha logo atrás de mim um pouco assustado com o estado dela, eu já sabia de tudo, o mais incrível é que eu parecia uma boneca inerte e sem vida, acho que nenhuma expressão sequer perpassara meu rosto.

- Você sabia que ele ia fazer isso?

- Não, eu não prevejo nada Allie.

- O que você fez pra ele me odiar tanto? Como eu vou cuidar dessa criança? – ela largou o meu braço, os olhos transbordavam o puro desespero, se movimentava aflita, com o corpo agitado e parecia que a qualquer momento iria explodir.

Eu simplesmente dei um passo até ela e a abracei, eu sabia que ela precisava dele, a apertei com força nos meus braços e deixei que ela desabasse. Senti que algumas lágrimas também escorriam pelo meu rosto, afundei o rosto nos cabelos dela

- Você vai ficar bem.

- Como pode garantir?

- Você é mais forte do que pensa Alison, e você não está sozinha, você tem ao Max – olhei brevemente para o rapaz entristecido ao meu lado – Tem o Sam, e o mais importante – coloquei a mão sobre a barriga dela – Você tem uma vida.

- Eu estou com tanto medo – ela continuava soluçando forte

- Eu também, mas isso não significa que as coisas boas não vão acontecer. Você vai cuidar e amar essa criança com toda a força do seu corpo, considere ela como um presente, você não tem o Jimmy, mas tem toda a essência dele dentro de você. Se considere a mulher mais sortuda do mundo. Ainda quer contar para ele? – Joy apenas movimentou a cabeça negativamente – Entendo, mas uma hora você terá que contar.

- Pensei que não quisesse que Jimmy soubesse

- Ocultar a vida dessa criança dele pra sempre seria crueldade, mas no momento ele não está em condições de cuidar de outra vida, não enquanto a própria vida dele continuar um caos.

Me separei dela e afastei a franja de sua testa, dei um beijo suave nela e me voltei para Sam.

- Cuida dela pra mim? Max não conseguirá sozinho.

- Claro

- Leve-a para casa, ta na hora de cada um de nós voltarmos para nossos devidos lugares, não há mais nada pra fazer por aqui.

Ele me deu um beijo no rosto e apertou levemente com o polegar a região que beijara, depois entraram no carro e seguiram viagem. Subi as escadas até o andar de Jimmy novamente, eu precisava vê-lo pela ultima vez.

- Pensei que sua irmã tivesse entendido e passado o recado – ele estava exausto, com o rosto escondido entre as mãos.

- Cala a boca, falar faz mal pra você – Me mantive longe dele, apenas olhei para ele, eu precisava ter certeza que ele estava vivo – eu vou embora, não é por que você está mandando, por que se eu pudesse, eu ficava e encheria essa sua cara de pancada até você acreditar que eu estou falando a verdade. Eu te amo Jimmy, foi por isso que eu vim, e é por isso que eu estou indo.

Ele soltou um grunhido e voltou o olhar para mim, parecia tão vazio. Meu trabalho não estava totalmente feito, eu não havia feito com que ele sentisse vontade de viver, mas quem poderia fazer isso? Ninguém além dele próprio pode. Além disso meu tempo chegou ao fim.

- Estou partido, espero que faça o favor de me esquecer, já que eu fui um pesadelo tão grande pra você. Não me importo com isso, só quero que se lembre que me fez uma promessa e um dia eu irei cobrá-la de você. Adeus James.

**

Coloquei o pouco que havia de minhas coisas na mesma mochila que usara para chegar até ali, a fechei e vagarosamente caminhei com ela nas costas pelos cômodos da velha casa da família Sullivan. Peguei algo que eu havia guardado em uma das gavetas do velho quarto de Jimmy, apertei-o contra meu peito enquanto olhava pela ultima vez para aquele quarto, tão cheio de história, tão inspirador.

Sai da casa e coloquei a chave dentro do mesmo envelope. O taxi já me esperava, apenas pedi para que fosse ao Central Park, mas antes desse uma breve parada no hospital, deixei a carta na recepção e segui para meu destino final.

O motorista estranhou o local que eu parara, mas não fez muitas perguntas, o paguei e vaguei um pouco por aquele lugar tão bonito. Estava muito frio, não havia ninguém ali. Estava escuro e era o último dia do ano, não era de se espantar que estivesse vazio.

Caminhei por entre os arbustos e em uma pequena clareira me deitei sobre a grama, respirei fundo e saquei do bolso o pequeno controle que Max me dera. Eu tinha que esperar até a meia noite, fiquei olhando para o céu e relembrando cada pequeno momento que eu passara ali, era um sonho, eu acordaria dele em apenas alguns minutos.

Conseguir salvar Jimmy foi o maior presente de toda a minha vida, meu ídolo continuava vivo, não haveria mais dor, nem tristeza.

É claro que eu não acreditava que a vida seria perfeita dali pra frente, mas eu não podia evitar todos os bons presságios passassem por mim, afinal eu havia impedido a morte dele. Tudo seria diferente agora.

Fogos de artifício incessantes e os gritos longes de uma multidão apontavam que a hora chegara, meia noite.

Fechei os olhos e respirei fundo mais uma vez. Apertei o botão no pequeno controle e de repente todo o meu corpo entrou em estado de relaxamento.