Coletânea De Contos

Momentos. - Oberyn Martell.


Cigarro.

Oberyn respirou a fumaça, se controlando para não tossir em seguida. Não daria esse prazer a Ashara. O gosto era forte, afinal, não se poderia esperar muito de cigarro barato, misturado com vodka de um bar qualquer de Dorne. Mas ele não reclamaria. Oberyn gostava de coisas fortes.

— Então...? – Ela perguntou, jogando o cabelo para o lado.

— Nem sei de devo perguntar como você conseguiu isso. – Ele resmungou, ao soprar a fumaça e jogar as cinzas no canto da calçada.

— Arthur tinha escondido na gaveta. Acho que ele anda fumando escondido com Rhaegar. – Oberyn revirou os olhos. Claro que os dois garotos de ouro da escola tinham seus pecados. Ele pensou em comentar isso com Elia mais tarde, talvez a paixão que ela tinha pelo Targaryen desaparecesse. Contudo, ele não o fez. Ele nunca fez nada que pudesse decepcionar sua doce irmã.

— É uma merda, mas eu gostei. – Ashara riu, jogando fumaça na cara dele. O garoto fez uma careta, resmungando um xingamento.

— Eu também.

Oberyn espirou e expirou, logo ele pararia de sentir vontade de tossir e aprenderia apenas curtir a sensação de relaxamento.

[...]

Hospital.

Ele havia batido o carro contra uma árvore aos 16 anos. Nada muito grave, mas sua mãe só parou de gritar quando lhe levaram até o hospital.

Elia estava lá também, sua doença havia lhe arrastado novamente até aquele lugar.

— Veio me visitar? – Ela perguntou com um sorriso, enquanto os médicos faziam pontos no corte que abriu em sua cabeça, quando a bateu contra o volante.

— Ah, claro. Te amo tanto que resolvi me acidentar e ficar a noite toda aqui, do seu ladinho. – Ela riu e ele foi forçado a rir também.

Oberyn sentou-se ao seu lado na cama, segurando sua mão.

— Como você está, Els? – Era um apelido que só ele usava, apenas ele.

— Vou ficar bem, você sabe. – Ela sorriu, era sempre o sorriso que fazia o mundo brilhar um pouco mais. Oberyn gostaria que todos pudessem notar essas coisas sobre Elia, da mesma forma que ele podia.

Eles passaram a noite jogando cartas e rindo. De madrugada, enquanto a maior parte do hospital dormia, Oberyn a tirou da cama e a levou até o terraço, escondido de todos. E ficaram vendo as estrelas até os médicos os encontrarem e os xingarem.

Ele sabia que precisava parar de fazer a irmã levar broncas junto consigo, mas ao ver o sorriso dela, Oberyn soube que valia a pena.

[...]

Filhas.

Oberyn ficou tão nervoso quando sua primeira filha nasceu, que errou o caminho para o hospital e foi parar do outro lado da cidade. Quando finalmente achou o local certo, toda sua família já estava lá. Doran e sua mãe lhe olharam com raiva pelo atraso e, quando ele tentou se explicar, Elia, ao lado de Rhaegar Targaryen, sorriu para ele e controlou uma risada.

Era bem típico de Oberyn aquela situação toda.

Quando finalmente colocaram sua filha em seus braços, ele chorou, por mais patético que isso possa parecer. Sua mãe e Elia faziam aquele barulho estranho que mulheres fazem ao ver um bebê.

— Qual o nome dela? – Perguntou Doran, sorrindo.

— Obara, ela vai se chamar Obara Martell. – Disse, segurando aquelas pequenas mãozinhas.

A mãe da garota era jovem demais e não a queria. Ele iria criar a filha, por mais que todos dissessem que ele era irresponsável demais para isso, a amaria e provaria que todos estavam errados.

Ele teve outras filhas após Obara. E cuidou de cada uma delas, mesmo o mundo dizendo que ele nunca seria capaz e esperando um pai desleixado, Oberyn criou garotas e incríveis com todo o amor que possuía.

[...]

Sobrinhos.

Ele poderia ser considerado o melhor tio do mundo.

Arianne o adorava, seguindo ele para todos os lugares que fosse e implorando pelo dia que poderia andar na sua moto. Trystane e Quentyn sempre pulavam em cima dele e pediam para que contasse histórias da adolescência. Ele sempre ria e, assim que começava, Doran o mandava calar a boca e não dizer nada impróprio para as crianças.

Quando Rhaenys nasceu, ele notou que ela era puramente Martell. E, embora isso desagradasse Aerys Targaryen, fazia-o muito feliz.

Aegon tinha tudo do seu pai, mas ainda sim possuía um brilho igual ao de Elia.

E ele amava cada um dos filhos de seus irmãos. E os mimavas com presentes, os levava aos parques e brincava com eles na grama. Para sempre ele se lembraria do sorriso de Rhaenys ao lhe dar um gatinho, que chamou de Balerion.

Guardava os segredos infantis de Trystane e Quentyn, deixava Arianne chorar em seu ombro quando ela brigava com Doran e ria com Rhaenys e Aegon.

Em seu aniversário de 30 anos, todos se juntaram e fizeram uma festa surpresa para ele.

— Para o melhor tio do mundo! – Eles gritaram, todos juntos, pulando em cima dele e o derrubando no chão.

Em cada um dos seus sobrinhos energéticos e belos, que anos depois se meteriam em confusos semelhantes as suas, Oberyn podia ver um pouco de si próprio.

[...]

Intensidade.

As pessoas tinham muitas coisas a dizer sobre Oberyn Martell.

Sempre que perguntavam sobre ele, Doran ria e diria que seu irmão costumava ser um garoto incontrolável, sua irmã Elia sorriria e diria que ele era incrível, suas filhas diriam o quanto o amavam, algumas garotas de Dorne o xingariam e outras suspirariam.

Ele sempre foi um garoto que convergiu opiniões.

Mas em uma coisa todos poderiam concordar: Oberyn Martell era intenso. Intenso até demais.

E em toda sua intensidade imparável, ele nunca pensou que se apaixonaria.

— Hey. – Oberyn disse, sentando ao lado da garota no bar. – Sou...

— Eu sei que você é. – Ela sorriu. – Oberyn Martell. Todos sabem. Prazer, Ellaria.

— Bonito nome. – Ele comentou e em seguida pediu uma bebida para ambos, embora ela já estivesse com um copo cheio na mão.

— Obrigada.

— Então, você está sozinha? – Ele lhe direcionou um dos melhores sorrisos e ela revirou os olhos.

— Olha, vamos pular toda essa parte formal de elogios e cumprimentos. Se você quer transar comigo, só me tire daqui logo. – Ela suspirou, visivelmente entediada com o local.

Oberyn sorriu de verdade naquele instante e algo dentro de si o mandou ir adiante. Naquela noite, eles correram pela rua na chuva e transaram em um motel barato.

Um mês depois ele a estava apresentando a família como sua namorada.

Todos podiam notar que finalmente Oberyn havia tido seu coração fisgado.