Encontramos o grupo de amigos de Ed, meninas e meninos, diante de um bar/casa/ boate, com vários ambientes, onde estava acontecendo uma espécie de festa de estudantes. Conhecia alguns amigos dele da festa de aniversário e de idas lá em casa, todos me receberam bem, foram simpáticos comigo. Supus que a minha fama de chata devia estar melhorando, entre os amigos dele.

Lá dentro, deparei com alguns rostos conhecidos de vários cursos diferentes, o lugar estava quente e bem cheio, mal dava para se mover no andar de baixo, não havia nenhum lugar para sentar.

— Aqui está muito cheio, vamos subir! — alguém propôs, eu adorei a ideia.

Subimos por uma escada estreita para o outro andar, que estava um pouco mais vazio e fresco.

— Querem beber alguma coisa? — outra pessoa perguntou.

A maioria queria, inclusive eu, que estava com muita sede, assim, uma parte do grupo (os meninos), saiu para comprar bebidas enquanto a outra parte (as meninas) demarcava o terreno para não perdemos espaço, tão arduamente conquistado.

— Você é Paula, a colega de apartamento de Ed? — uma menina de quem eu não recordava me perguntou.

— Sou — respondi, curiosa para saber de onde ela me conhecia.

— Eu me lembro de você da festa dele, no seu apartamento. Você estava dançando à beça, toda alegre — ela falou, rindo da lembrança. — Até um cara tentar te beijar, mas você não quis, aí, Ed apareceu, todo protetor, e tirou você de lá e levou para o quarto dele e a colocou para dormir.

Eu fiquei sem palavras, porque não me lembrava de nada disso. Fui salva de qualquer resposta, quando colocaram um copo de plástico com cerveja na minha mão, mesmo um pouco quente, aliviou muito a minha garganta seca por causa do calor.

— Vamos dançar? — uma menina perguntou e a maior parte do grupo se moveu para outro lugar, onde havia uma pequena pista de dança.

Eu estava animada, tentando não pensar nas minhas dúvidas quanto a Felipe, nem da culpa que sentia por estar me divertindo, enquanto meu namorado estava em casa estudando.

Lá pelas tantas, depois de muito dançar, estava derrotada, acabada, suada, precisava de um pouco de ar fresco.

— Preciso de ar fresco! — falei, por cima da música alta, junto a Ed.

— Tem um terraço no outro andar —respondeu e eu sai e, para minha surpresa, ele me seguiu.

— Não precisa se preocupar, eu sei me cuidar sozinha — disse em tom de brincadeira.

— Eu sei, mas também estou com muito calor — ele respondeu, de modo casual.

Quando chegamos ao terraço aberto, bem no alto do lugar, somos recebidos por uma lufada de ar fresco, um pouco contaminada pela fumaça de cigarro de alguns fumantes, mesmo assim foi muito bom, sentir minha pele se arrepiar pela mudança de temperatura. Alguns casais se pegavam, aproveitado um canto mais escuro, junta a parede. N[os fomos para a luz e nos encostamos na murada, ouvindo o barulho do trânsito lá embaixo.

— Foi bom ter vindo, melhor do que ficar em casa, pensando bobagem — admiti.

— É bom se divertir um pouco, ser um pouco irresponsável, de vez em quando — ele rebateu.

— Acho que nunca fui irresponsável na minha vida toda, nem sei como ser — confessei.

— Deveria aproveitar, enquanto se é jovem, e não tem tanta responsabilidade.

— Mesmo assim me sinto culpada por estar aqui, sem falar com Felipe, que deve estar estudando em casa.

— Ele vai entender. Afinal, você não está fazendo nada de errado — Ele deu de ombros, com indiferença.

Sei que Ed está certo, só não queria ficar mais uma noite sozinha em casa, e estava sendo bom estar ali ... com ele, mas não tinha certeza se o meu namorado entenderia isso.

Nesse momento, meus olhos correram pelo pátio, então notei um casal bem cantinho, escondido nas sombras. Estavam tão grudados, tanto que só vejo as costas do rapaz e os braços da garota, mas havia algo de familiar nele, reparei nos seus cabelos cacheados e escuros... Não! Não podia ser! Engoli em seco, minha respiração acelerou, sem desviar o olhar, dou um, dois, três passos à frente, fico bem próxima a eles, mas não percebem, estão muito ocupados, se beijando, se abraçando, se esfregando.

— Felipe? — minha voz baixa e vacilante, eles não me ouvem. — Felipe! — falei mais alto, o rapaz interrompeu o beijo e ergueu a cabeça, mas não se virou, por segundos meu coração parou de bater. — Felipe! — minha voz saiu alta e rascante, ainda cheia de esperança que o rosto que veria era de um desconhecido.

Desta vez, ele se virou bem, lentamente, nossos olhos se cruzaram, os deles perplexos, os meus irados, disfarçando o meu coração estilhaçado.

— Paula! — ele respondeu com um fio de voz, percebi a garota pequena, sair de trás dele para ver o que estava acontecendo. — O que você está fazendo aqui?

— Eu? Não queria ficar sozinha em casa mais uma vez, em quando o meu namorado estava estudando para a prova de anatomia, só não sabia que era com um modelo vivo — disse, de modo duro.

Eu fiz uma piada? E ainda mais, em uma situação dessa?

Felipe não sabia o que falar, não sabia como agir para não se encrencar ainda mais, então, percebeu que Ed se aproximou por trás de mim, então, aproveitou a oportunidade.

— E você veio com seu colega de apartamento? — retrucou de modo irônico, tentando virar o jogo, tive vontade de voar no pescoço dele, mas não iria fazer um escândalo, não pretendia me tornar a vilã da história.

A garota baixinha me olhava, toda convencida, com o queixo erguido, até ver Ed ao meu lado, então deu um leve sorrisinho sedutor.

— Não tente mudar o jogo, Felipe! Estou com um monte de gente aqui e não estou atracada com ninguém! Mas, não estou com vontade de conversar agora. Divirtam-se!

Virei-me de costa, com o ar mais superior que consegui e desci a escada, segurando no corrimão para não desabar. Ainda tinha uma pequena esperança que Felipe viesse atrás de mim, mas ele não veio, o que me deixou ainda mais decepcionada.

O outro andar estava mais quente e muito cheio de gente, de música alta, dos sons das vozes e risos, me sinto tonta, sufocada, não conseguia respirar, não conseguia mais segurar o choro, não sabia para onde ir, me sentia perdida no meio da multidão.

Nesse instante, percebi uma mão sobre o meu ombro, me guiando, para fora.

— Você está bem? — Foi Ed me conduzia.

Sacudi a cabeça em negativa.

— Quero ir para casa — falei com um resto de voz.

— Eu vou com você — ele disse, preocupado.

— Não quero estragar sua noite.

— Não se preocupe, é apenas mais uma noite — E me dá aquele sorriso torto, por um momento, me sinto um pouco melhor.