Colegas de apartamento

Não dá para acreditar


Achei que Ed não entendeu o que acabei de falar.

— O quê? — Ele franziu a testa, atônito.

— É isso mesmo, quero transar com você — repeti, decidida.

De repente, ele começou a rir.

— Você deve estar brincando? — perguntou, entre risos.

— Não, eu estou falando sério — rebati, muito controlada.

— Paula, eu não vou transar com você — ele respondeu, calmamente, sacudindo a cabeça em negação.

— Não! Nem você me quer! — Nesse momento, eu desabei, comecei a chorar compulsivamente, a ponto de assustá-lo, ele deu um passo à frente e envolveu, com cuidado, os meus ombros, estremecendo pelos soluços compulsivos.

— Calma, Paula. — Ele me guiou para a sala e nos sentamos no sofá.

— Ninguém me querer, nem mesmo você, que já transou com todo mundo — falei, entre soluços.

— Eu não transei com todo mundo. — disse, bancando o ofendido. — E eu já falei para você, que nunca tiraria proveito de uma garota que não estivesse no seu juízo perfeito — continuou, com suavidade.

— Eu estou no meu juízo perfeito – rebati.

— Não, não está. Você está magoada e ferida e quer se vingar do seu namorado.

Passei a mão no rosto, para limpar as lágrimas.

— Meu ex-namorado. Não quero que ele seja o único homem da minha vida.

— E não será. Tenho certeza disso. Você é uma garota linda e ...sexy — ele me deu um sorriso solidário.

— Sexy, eu? — Dou uma risada sarcástica. — Por que você tem que ser tão legal?

— Sim, você é muito sexy. E, também, sei se eu transar com você, só vai piorar as coisas. Ficará péssima amanhã, vai querer se mudar, eu terei que arranjar um novo colega de apartamento e já me acostumei com você e suas manias.

— Eu não tenho manias — neguei, igual a uma criança birrenta.

— Sim, você um monte de manias — ele rebateu, divertido. — Mania de limpeza, de arrumação, gosta de tudo certinho, além do medo irracional de baratas. Mas, eu até aprendi com você a ser um pouco mais organizado.

— Eu sou uma chata. Por isso, que Felipe me trocou por alguém mais divertido, mais legal. Alguém com que se divirta mais na cama.

— Pare de autodepreciar, Paula. Felipe só foi um cretino, como tem tantos por aí. Ele devia ter sido mais sincero com você.

Eu pisquei duas vezes, surpreendida pelas aquelas palavras e por ele estar ali ao meu lado, me apoiando.

— Obrigada.

— Se sente melhor agora?

Balancei a cabeça, em dúvida.

— Mais ou menos.

— Vou pedir uma pizza para nós. Nada como muito carboidrato para melhorar o humor.

— Obrigada, mas não estou com fome, vou para o meu quarto... dormir — disse e levantei.

O resto da semana foi um vazio só no meu peito, Felipe não me procurou mais, achei melhor assim, um fim rápido, sem hesitação, e pronto.

Quando, finalmente, na segunda, antes da aula, contei toda história para Ju, que ouviu tudo com o queixo caído.

— Aquela carinha de anjo nunca me enganou. Esses são os piores parecem ser todos bonzinhos, mas, no fim, são tremendos safados — ela vociferou.

— Achei que você gostasse dele. — Eu fingi de surpresa.

— Sim, eu gostava, mas quem não gostaria daquele jeito dele todo gentil e educado.

— Eu sei, enganou todo mundo — disse, soltando um longo suspiro. — Nem sei como vou contar para a minha mãe, que estava toda empolgada pelo meu namoro com um futuro médico.

— Vai ser um choque para ela.

— Por isso, vou deixar para depois, não estou a fim de ficar remoendo ainda mais essa história.

— Mas, sabe quem mais me surpreendeu? — disse e Juliana sacudiu a cabeça em negação. — Ed! Ele se recusou a transar comigo quando eu pedi.

— Não acredito! — minha amiga colocou as duas não sobre a boca aberta, em total espanto.

— Pois é — respondi, dando de ombros.

— Como você teve coragem de fazer uma proposta dessa para ele?

— Eu estava desesperada, arrasada mesmo, mas ele disse que podia tirar proveito da situação.

— Bacana.

— Pois é.

— E agora, Paula?

Agora, as semanas passavam e eu tentava tocar a vida em frente e me esquecer. Precisava dar tempo ao tempo. Não podia negar que sentia falta de Felipe, uma certa nostalgia dos bons momentos que passamos juntos, para logo depois, me lembrar da sua traição, do modo que me enganou, então todas as boas lembranças se esvaneciam.

Também, percebi que Ed quase nunca saía de casa, até mesmo nos fatídicos fins de semanas, ficava me rodeando, fingindo indiferença.

E foi em uma sexta-feira que me dispus a pôr um fim nessa vigília, quando nos cruzamos no corredor, no começo da noite, ao ir para o banheiro tomar banho.

— Você não vai sair? — perguntei, falsamente casual.

— Não, estou cansado. Hoje, vou ficar no meu quarto, lendo.

— Lendo? — indaguei, descrente,

— Sim, pode ser uma completa surpresa para você, mas eu gosto de ler — respondeu, bancando o ofendido, não podia dizer que imaginava, pois tinha visto muitos livros na estante do seu quarto, quando entrei lá, escondida.

— Ed, não precisa se preocupar comigo, não farei nenhuma bobagem, não haverá nenhuma cena trágica, quando voltar para casa. Eu estou bem.

— Quem disse que estou preocupado com você? Só fico em casa, porque estou em uma fase mais introspectiva. — Eu ergui as sobrancelhas descrente e dei um sorrisinho de ironia. — E você por que não saí com Juliana e Leo ou qualquer outra amiga?

— Eu também estou em uma fase meio introspectiva — Eu lhe dou um sorriso triste.

— Então, somos quase monges, nosso apartamento virou um monastério. Teremos que fazer voto de silêncio?

— Não precisamos ser tão radicais. Eu vou confessar uma coisa... amanhã é o meu aniversário — revelei, um tanto sem graça.

— Seu aniversário! — Sacudi a cabeça, confirmando. — Não vai sair com seus amigos?

— Ultimamente, não tenho sido uma boa companhia – Dou de ombros, desanimada.

— Bobagem. Quer sair comigo para comemorar, como bons amigos? — Ele tentou me empolgar, mas eu não estava muito a fim, lembrando como havia combinado passar o meu aniversário com Felipe, que havia me convidado para um jantar romântico e dançar. Cretino!

— Não, obrigada pelo convite. Realmente me deixou emocionada, mas eu prefiro ficar em casa.

— Podemos pedir alguma coisa para jantar, que não seja pizza, o que acha?

— Mas, meu aniversário é só amanhã!

— Podemos comemorar hoje e amanhã — Ed disse, animado.

— Tudo bem. — Dou de ombros, mas, no fundo, até gostei da ideia.

— Então, pode tomar seu banho que providenciarei tudo.

Já que iremos jantar juntos, não vou colocar um short e uma camisetas velhos, assim, voltei para o meu quarto para escolher uma roupa mais bonita. Acabei optando por um vestido, mas precisaria escolher outras roupas intimas, e quando abri a gaveta, dou de cara com o conjunto de calcinha e sutiã cor-de-rosa que tinha comprado para a minha frustrada primeira noite com Felipe, aquilo me deu um nó no estômago, empurrei eles bem lá para o fundo e peguei outros.

Tomei um longo e relaxante banho, me arrumei um pouquinho, o que foi bom, me senti um pouco mais alegre.

Quando voltei para sala, Ed havia posto uma mesa bem bacana, fiquei emocionada com a gentileza. Também havia trocado de roupa, uma roupa mais bacana.

— Agora, só falta a comida chegar — falou, com um sorriso.

— A mesa está linda! — declarei, emocionada.

— Fiz o melhor que pude, não temos muita coisa aqui, em casa — rebateu, com humildade.

— Não, está ótima, jamais imaginaria que você... O que é isso? — Reparei uma garrafa sobre a mesa. — Vinho?

— Eu ganhei, estava guardada no meu quarto, achei que seria uma boa ocasião para experimentar — respondeu, passando a mão na nuca, meio sem-jeito. Nesse momento, a interfone tocou. — Nossa comida chegou.

— Ed, obrigada por tudo — disse, antes de sair para atender a porta