Colegas de apartamento

Cuidando da minha vida


Eu engulo em seco, atordoada. Por essa não esperava! Todos ficamos calados, um olhando para o outro, e o tal Ed com aquele sorriso maroto, achando graça da situação.

— Onde é que fica o banheiro? — Lia perguntou, totalmente alheia do que está acontecendo ali.

— Ali, segunda porta à direita — Carol apontou e Lia desapareceu através dela.

Juliana se adiantou.

— Oi, Ed! Sou Juliana, esse é meu namorado Leo e àquela é Paula, sua nova colega de apartamento.

— Eu imaginei. Seja bem-vinda, Paula — Ed fala em um tom simpático, erguendo uma das mãos em um breve aceno displicente.

— Obrigada — balbuciei, ainda chocada e um pouco irritada com Carol, por ter omitindo aquele pequeno detalhe.

Por fim, minha amiga Juliana se aproximou e me puxou pela mão para o meu futuro quarto.

— Preciso conversar um minutinho a sós com a Paula — avisou para os outros, fechando a porta atrás de nós, assim que entramos.

— Você viu aquilo? — falei baixo, porém, exaltada. — Meu colega de apartamento é um homem!

— Eu vi, e o que que tem?

— Você não entende? É um homem!

— Eu entendi muito bem, mas não acredito que possa ser assim tão antiquada, para deixar um detalhe tão pequeno, como um pênis, possa fazer você desistir desse apartamento.

— Pequeno?! — Tento manter a voz baixa.

— Talvez, não tão pequeno assim, pelo o que parece, mas olhe em volta, esse lugar é demais!

Foi o que eu fiz, olhei em volta e admirei o quarto espaçoso, meus pertences já lá dentro, a janela que tinha como vista aquela rua arborizada e tranquila, tão pertinho da faculdade. Além do mais, sou uma mulher moderna e bem resolvida, posso muito bem dividir esse lugar com um homem.

— Você está certa, Ju! Sou uma garota do século XXI. Eu e Ed poderemos ter uma convivência pacífica e normal, como pessoas civilizadas.

— Isso, garota! Então, vamos continuar com a mudança — Ela abriu a porta e saímos do quarto, estava mais calma, aceitando bem a situação.

Ai! Se meus pais descobrirem que estou morando com um homem, que nem conheço! Penso, ou melhor, não quero nem pensar.

Encontramos Leo e Ed conversando animados, falando de futebol, basquete ou essas coisas que os homens conversam. Carol desapareceu. Eu me aproximei do meu novo companheiro, coloquei um sorriso no rosto.

— Vai ser legal morar aqui com você.

É mais uma esperança que um pressentimento.

— Valeu, Paula.

Nesse momento, a porta do banheiro se abriu e Lia saiu de lá de dentro.

Como ela demorou!

A garota vai em direção a Ed, que segurou a sua mão e a puxou para dentro do quarto, com um sorriso lascivo, a garota deu uma risadinha maliciosa, quando ele envolveu sua cintura.

— Com licença — Ele fechou a porta, devagar.

— Divirtam-se! — Leo falou, com uma expressão sacana, Juliana olhou de cara feia para ele.

— Pelo menos, ele é educado — Juliana me disse, quando observava a cena com o queixo caído.

E continuamos a fazer a minha mudança, como se nada estivesse acontecendo no quarto em frente, ignorando os gemidos, os sussurros e outros barulhos pouco sutis.

O que se tem que aguentar para ter um bom lugar para morar?

— Eles estão demorando muito — sussurro para Juliana, depois de um tempo, reparando para a porta fechada pelos cantos dos olhos.

— Eu, realmente, estou impressionada — ela respondeu no mesmo tom, acompanhando o meu olhar.

Finalmente, terminamos lá no começo da tarde, não que tivesse tudo arrumado, mas já com meio caminho andando, por isso, pedi pizzas para o almoço, como uma comemoração junto com meus colaboradores.

Quando estávamos comendo na sala, ouvimos a porta do fatídico quarto ser aberto, nem queria imaginar o cheiro que estava ali dentro. O casal surgiu na sala, com ar todo feliz, mas, também, não era por menos.

— Eu pedi pizza, estão a fim? — perguntei, educadamente, querendo manter a política de boa vizinhança.

— Não, obrigada, só quero ir para casa. Estou quebrada! — Lia diz, se espreguiçando, esticando os braços para o alto, erguendo a blusa e mostrando a barriga sequinha.

Juliana cutucou Leo, que não conseguia desviar os olhos.

Ed segurou a mão da garota e a levou até a porta, não queria prestar atenção nos sussurros, risadinhas e barulho de sucção. Em seguida, a porta se fechou e Ed voltou, sorridente, puxando uma cadeira e se juntando a nós, pegou um pedaço de pizza e começou a comer pela parte mais fina.

— Sua namorada é bem bonita? — Juliana falou toda simpática.

— Lia não é minha namorada. Eu a conheci ontem à noite, em um barzinho — ele informou, de modo natural.

Respirei fundo, segurando o sorriso no rosto, que insistia em desabar.

— E o que você cursa, Ed? — Continuo minha enquete, querendo ser sociável.

— Administração, já estou no 5° período.

— Eu e Juliana estamos no 2° período de psicologia. Leo faz direito.

— Legal.

Depois do almoço, improvisado, Juliana e Leo foram embora, estou sozinha com Ed, dou um jeito na bagunça, jogo as caixas de pizza fora, lavei os copos, mas, agora, não tem mais como adiar, chegou a hora decisiva para ter uma conversa séria com meu colega. Bati na porta do quarto dele, esperando que não tenha dormido, exausto depois de tanta atividade, porém, logo ele atendeu, saiu e fechou a porta atrás de si. Esperando eu falar alguma coisa.

— Oi, ainda não tivemos tempo para conversar — Ele ergueu as sobrancelhas em interrogação. — Queria saber quais são as regras?

— Regras?

— Sim, as regras da casa, o que cada um tem que fazer, o que pode ou não pode, essas coisas.

— Bem, eu e Carol não tínhamos nenhuma regra, cada um cuidava da sua vida e das suas coisas, sem se meter no espaço do outro.

— Só isso, não é possível, tem que haver algum tipo de organização, algumas determinações. Tipo pagar as contas essas coisas, arrumar a casa, coisas assim.

— Isso, a gente rachava as contas. Quanto ao resto não havia nada de concreto, mas se você se sente melhor assim, faça as suas regras e veremos depois. Agora, se não se importa, quero voltar a dormir, Lia acabou comigo, e eu tenho uma festa mais tarde.

— Tudo bem — murmurou, quando ele fechou a porta e eu fiquei parada, no meio do corredor, dou de ombros e vou cuidar da minha vida