(POV Sugawara)


Aquele quarto set estava sendo alucinante. Os ataques rápidos do Hinata e Kageyama estavam funcionando como nunca. Olhei de relance para o time do Fukurodani e o cansaço era visível. Também pudera, o emocional desestabilizado com a saída do Bokuto direto para a enfermaria tinha deixado seus vestígios em cada um dos jogadores daquele lado do campo.

Voltei minha atenção para a bola, agora no nosso campo, com uma uma boa recepção de Daichi, Kageyama pontuou de segunda. O placar já mostrava uma pequena vantagem para o Karasuno, mas eu sabia bem que ainda era cedo para cantar vitória. Bokuto poderia voltar a qualquer momento e quando isso acontecesse as coisas ficariam bem mais complicadas. Como se estivesse adivinhando...

— Parece que Bokuto está voltando — A voz baixa de Shimizu ainda assim se destacava entre o barulho do ginásio. Virei para onde ela olhava a tempo de ver o atacante vir correndo aparentemente sem qualquer indício de ferimento — Só espero que isso não afete aqueles dois — Não precisava perguntar para saber de quem ela falava. Ambos nos viramos a tempo de ver Kageyama acertar o saque.

— Eu espero que essa vantagem de seis pontos nos ajude a manter o foco.

Não foi difícil notar a diferença do jogo com a entrada do ace adversário. Ele era rápido no ataque, mas acima de tudo era seu humor que ditava o andamento da partida, e era nítido o quanto ele estava satisfeito com a atenção que vinha recebendo.

Mais uma vez Koutaro Bokuto era acionado no corte, porém nosso bloqueio já estava a todo vapor pronto para impedir. Se não fosse por Tanaka se desequilibrar e pisar no pé do Kageyama, fazendo-o cair logo em seguida.

O silêncio durou apenas alguns segundos até que pudéssemos entender o que estava acontecendo. Foi Shimizu ao meu lado que tomou a iniciativa junto do treinador Ukai. Kageyama continuava caído no chão sem gritar ou chorar, mas a expressão de dor mostrava claramente que para ele o jogo terminava ali.

— Deixe que os demais cuidem dele, agora você deve se concentrar em se aquecer. Sabe que vai jogar o resto do jogo — Kinoshita falou parando bem na minha frente.

— Vou dar o meu melhor — Tentei soar convincente, mas por dentro me sentia inseguro demais. Substituir por tática era o planejado, mas ser o substituto de um amigo que tinha se machucado demandava muito mais controle emocional.

Tentei desviar minha atenção quando Kageyama saiu de quadra apoiado por Ukai, mas era difícil.

— Sugawara! — Takeda sensei me chamou. Era hora. Corri em sua direção para ouvir as instruções. Sentia meu corpo responder bem aos movimentos, mas alguma coisa me impedia de me concentrar — Está me ouvindo?

— Desculpe! — Fechei os olhos e respirei fundo, precisava me acalmar ou colocaria tudo a perder. Um cheiro doce, tão familiar, surgiu perto de mim, me apeguei a ele. Aos poucos fui me acalmando e quando senti que estava estável abri meus olhos me deparando com o rosto corado de Shimizu próximo a mim.

— Você consegue Sugawara-kun — Como poderia explicar a confiança que senti com aquelas palavras? Nossos olhos ficaram naquela conversa silenciosa por mais alguns, poucos, segundos sendo interrompido pelo soar do apito que indicava que a partida estava para recomeçar.

Assumi minha posição na rede completamente reestabelecido. Já nem me surpreendia ver o efeito que Shimizu tinha sobre mim, na verdade era reconfortante saber que podia contar sempre com ela em momentos como esse.

Aos poucos conseguimos voltar a um ritmo favorável, e passei a acreditar que aquele set realmente seria nosso. Já estávamos no set point quando chegou novamente minha vez de sacar. Takeda sensei assim como os jogadores no banco gritavam me incentivando, mas só quando meus olhos encontraram os dela foi que eu senti: aquele ponto já era meu.

Respirei fundo antes de lançar a bola, mirando próximo a rede onde Bokuto estava, com a intenção de fazê-lo receber. Dali em diante era como se o jogo estivesse em câmera lenta. O atacante desequilibrou ao receber por baixo, mesmo assim conseguiu passar a bola para Keiji, esse por sua vez não teria como levantar de volta para o Ace que se encontrava numa posição arriscada. Akinori assumiu a posição, lento demais, e nosso bloqueio que agora contava com Tsukishima se posicionou para fechar a paralela.

O silêncio até o apito soar era agonizante, mas quando o juiz apontou para o nosso lado um baita alívio me preencheu.

— Bom saque! — Daichi falou sorrindo. — Agora só precisamos vencer o próximo set para seguirmos para as finais.

Desde que Kageyama entrou para o time eu venho trabalhando meu controle para lidar com momentos de pressão como aquele. Afinal ser estável era minha principal característica, mas mesmo treinando esse ponto não dava para prever como seria exatamente viver essa situação.

— Ukai-san! — Hinata correu de encontro ao treinador. Todos os outros, incluindo eu, aguardávamos no banco.

— Foi apenas uma torção, mas ele não poderá jogar o resto dessa partida — Seu olhar agora estava sobre mim. — Tenho certeza que pode dar conta, Sugawara. Contamos com você.

— Farei o meu melhor!

O quinto set por ir só até quinze pontos era o mais perigoso. Não havia margem para erro. Assim que voltamos para a quadra, passei a analisar o perfil de cada jogador do time adversário. Não era só Bokuto que se mostrava confiante. Todos daquele lado do campo exalavam confiança como se a partida já tivesse sido ganha só pela saída do Kageyama.

Por um lado isso me deixava inseguro, estava na cara que eles não acreditavam que eu fosse qualquer ameaça. Mas por outro, eu sabia que todo o meu treinamento extra daria para ser aproveitado ali.

— Tsukishima — Chamei ele um pouco afastado da rede — Sinto que devemos iniciar logo com aquele ataque — O loiro olhou para o campo adversário claramente pensativo. Se Hinata era puro instinto, Tsukishima era o oposto, não dava um passo sequer sem calcular quais seriam as consequências.

— Tudo bem.

Tatsuki começaria no saque, e isso era vantajoso para nosso time. Não tinha muita força nem velocidade, apesar de ter uma excelente mira não era difícil de receber. Asahi recebeu de primeira, não precisei olhar para saber que Tsukishima já estava pulando na ponta direita da rede. Um ataque em tempo negativo, assim como o de Kageyama e Hinata. Eu e o loiro treinamos esse ataque por dias até que atingisse um resultado satisfatório. Claro que no nosso caso tudo tinha sido meticulosamente calculado fazendo até mesmo que o alcance de pulo do Tsukishima aumentasse ainda mais.

— Boa cortada! — Gritei assim que o apito soou indicando nosso ponto.

— Seu levantamento foi tão preciso quanto o do Kageyama. Assustador. — Apesar de soar como ofensa eu entendia as entrelinhas do seu comentário e não pude evitar de sorrir com o elogio implícito.

Ponto a ponto nos mantínhamos no páreo. Sem dúvidas vencer o Fukurodani era dificílimo, mas não era impossível.

Ao som do último apito eu caí de joelhos sentindo a exaustão me dominar. Fazia muito tempo desde que jogou mais do que um set inteiro e podia sentir os sinais disso em suas pernas e braços. Não demorou até que Hinata e Nishinoya pulassem em cima de mim comemorando a vitória. A animação e resistência daqueles dois eram surpreendentes.

— Parabéns Koushi-kun. — Me virei para Shimizu aceitando sua mão estendida para ajudar a me levantar.

— Obrigada Kiyoko-chan — Assim como eu tinha corado ao ouvi-la me chamar pelo primeiro nome ela também o fez, seu rosto ficava ainda mais bonito com as bochechas coradas.

O caminho de volta até o colégio era sempre silencioso, com todos apagados pelo cansaço e eu sempre estava incluso nisso. Porém dessa vez eu me sentia estranhamente inquieto e feliz. Quando chegamos eu acordei Daichi ao meu lado e desci sendo seguido pelos demais.

A reunião foi rápida, Ukai-san apenas ressaltou que nosso treinamento seria ainda mais intenso dali em diante ou não iríamos conseguir a tão sonhada vitória contra o Shiratorizawa.

O jogo estava marcado para daqui a um mês, tempo suficiente para Kageyama se recuperar e voltar a posição de levantador titular. Claro que eu ficava frustrado em ficar no banco, mas se esse era o caminho para vencermos eu é que não iria reclamar.

Daichi e Asahi ficaram para fechar o clube, os demais seguiam cada um para suas casas. Parado no portão observei Kiyoko andar sozinha então me apressei para acompanhá-la.

— Gostaria de uma companhia Kiyoko-chan? — Perguntei animado ao seu lado.

— Não vai te atrapalhar? Imagino que esteja cansado. — Ela me fitou pelo canto dos óculos.

— Não se preocupe, hoje estou me sentindo com energia de sobra — Kiyoko deixou um riso baixo escapar e eu parei para admirá-la.

— Ande Koushi-kun, não queremos chegar ainda mais tarde. — Ela escondeu o rosto andando a minha frente.

Estávamos passando por uma pracinha quando tive a ideia.

— O que acha de um sorvete? Por minha conta— Perguntei animado parando a sua frente. Ela olhou ao redor pensativa.

— Acho que não tem problema— Empolgado com sua resposta eu segurei sua mão a puxando até a sorveteria em frente ao parquinho. Somente quando paramos rente ao balcão que me dei conta de nossos dedos entrelaçados.

— Me desculpe— Soltei sua mão rapidamente. Era difícil saber quem estava mais envergonhado, mas além disso eu sentia meus dedos formigarem como se sentissem faltas dos dela.

Nos sentamos em um banquinho ao lado de uma fonte e conversamos sobre o clube de forma descontraída. Vez ou outra ela ria de algum comentário que eu fazia e descobri que queria escutar sua risada cada vez mais.

— Olha só mamãe que casal mais bonito! — Nos viramos a tempo de ver a mãe repreendendo a criança pelo comentário.

— Desculpem por isso— Estava prestes a esclarecer que não éramos um casal mas Kiyoko foi mais rápida.

— Não tem problema. — Seu sorriso me fez perder o fôlego. A garotinha se virou para mim com um olhar sério.

— Você tem muita sorte— Fiquei confuso com sua frase, porém não pude sanar minha curiosidade uma vez que a mãe chamou a filha para irem embora.

— Está ficando tarde, acho melhor irmos— Levantei relutante. A companhia dela sempre trazia muita leveza e me deixava alegre.

Andamos mais algumas quadras até que finalmente paramos em frente a sua casa. As luzes estavam acesas nos dois andares então sabia que ela não poderia demorar muito mais.

— Obrigada pela companhia— Falei simplista.

— Obrigada você pelo sorvete, hoje foi um dia muito bom— Estava para concordar quando ela me pegou de surpresa dando um beijo estalado na minha bochecha, correndo para dentro de casa logo em seguida.

Fiquei ali estagnado por alguns minutos tocando a pele onde ela seus lábios haviam tocado com um sorriso imenso no rosto.

(...)

Era cedo quando entrei na sala de aula, não havia ninguém ainda então me sentei puxando um livro para esperar o tempo passar. Estava entretido com a história sem observar os demais alunos que chegavam aos poucos, somente quando o perfume doce que tanto apreciava surgiu ao seu lado é que erguui o rosto para cumprimentá-la.

— Bom dia Kiyoko-chan! — Abri meu melhor sorriso enquanto ela corava ao responder.

— Bom dia Koushi-kun.

Não tivemos muito tempo mais para conversar uma vez que o professor entrou na sala, mas vira e mexe eu me pegava admirando o rosto delicado enquanto ela resolvia sem muito esforço as equações da aula. Sabia da inteligência da garota desde que entraram juntos na turma avançada logo no primeiro ano. Desde então a observava cada vez mais encantado com o jeito da morena. Suspirou ao vê-la colocar o cabelo atrás da orelha enquanto olhava para o próprio caderno.

Um papel foi jogado sobre a minha mesa me assustando. Olhei para o outro lado e vi Daichi segurar a risada desviando o rosto para a janela. Abri o bilhete.

Se continuar olhando assim todos vão perceber do seu imenso amor pela Kiyoko

Estreitei os olhos na direção do amigo o repreendendo mentalmente. No entanto guardei o bilhete e tentei me concentrar no que o professor falava.

Quando a última aula se encerrou, Daichi veio me avisar que o treino tinha sido cancelado porque o ginásio passaria por uma inspeção. Pediu para que eu avisasse Shimizu o que eu faria de muito bom grado.

Caminhei pelos corredores procurando por ela, uma vez que suas aulas eletivas eram diferentes da minha e eu não sabia dizer onde era sua sala naquele horário.

De alguma forma o bilhete de Daichi me deixou pensativo. Claro que se sentia atraído pela colega de classe, mas era correto afirmar que aquilo era amor? A simples menção da palavra o fez sorrir. Com certeza seus sentimentos eram bem maiores que mera atração.

— Suga-kun? — Me virei para ela animado. — O que faz por aqui? Aconteceu algo?

— Daichi pediu para que eu avisasse que não teremos treino hoje. — Olhei de relance a placa atrás dela, gravando qual o número de sua sala.

— Entendo. Obrigada então— Ficamos parados ali apenas nos encarando, eu não queria deixá-la ainda, então falei a primeira coisa que me veio à cabeça.

— O que acha de darmos uma volta? — Ela me olhou confusa, pensei em algum lugar específico para irmos. — Quero te mostrar um lugar.

— Tudo bem, eu acho— Ela caminhou ao meu lado em silêncio, mas eu estava nervoso sem saber o motivo então comecei a tagarelar. Quando chegamos a escada que levava para o telhado ela me olhou curiosa, apenas sorri a encorajando.

— Descobri recentemente esse lugar, achei que você gostaria da vista— Ela andou até o parapeito e observou as montanhas logo atrás da escola. Dava para ouvir o rio que serpenteava próximo ali assim como o canto dos pássaros nas árvores.

— Obrigada por me mostrar— Dessa vez o silêncio não era desconfortável. Me juntei a ela encostada no parapeito e ficamos olhando a paisagem ao mesmo tempo em que apreciamos a companhia um do outro.

(...)

Nos dias seguintes eu não consegui tirá-la de meus pensamentos. Qualquer coisa me fazia lembrar de seu sorriso, ou de sua risada. Já questionava minha própria sanidade por isso.

Mesmo nos treinos eu andava distraído e vez ou outra Daichi e Asahi me repreendiam pela desatenção. Alguns dias eu me oferecia para a acompanhar até em casa, mas já me perguntava se estava sendo invasivo. Era estranho pensar que ela poderia não gostar da minha proximidade, e esse tipo de coisa me deixava louco.

— É isso, preciso confessar meus sentimentos e saber se ela se sente da mesma forma. — Falei comigo, mesmo me olhando no espelho. Claro que aquela coragem súbita não duraria até o momento em questão, então resolvi pedir ajuda para Sawamura.

Depois de uma ligação breve para o amigo eu me sentia um pouco mais confiante. Decidiu por seguir a ideia de Daichi e preparar um piquenique no telhado, o amigo se encarregou de avisar Shimizu para me encontrar lá.

(...)

Olhou mais uma vez para a toalha estendida no chão meticulosamente arrumada. Tudo tinha que sair perfeito, era o mínimo para Kiyoko.

— Oi— Ela estava ali, o rosto corado analisava atenta tudo que eu havia preparado.

— Oi— Eu que estava sempre tão cheio de palavras agora me encontrava sem nenhuma. Ela estava como em todos os outros dias, o mesmo uniforme, o cabelo solto e os óculos perfeitamente alinhados, mas ainda assim havia algo de diferente, que o deixava sem fôlego.

— Daichi me contou que gostaria de me ver aqui— Ela se aproximou em passos lentos até ficar próxima a mim. Me estendeu uma pequena caixa azul de papel. — Fiz para você.

— Obrigada— Abri a caixa sendo tomado imediatamente pelo cheiro delicioso de biscoitos caseiros. Meu coração acelerou irradiando esperança de que aquele sentimento que preenchia meu coração era recíproco— Eu queria conversar com você— Ela me olhava esperando— Desde que nos conhecemos eu sinto que você é muito mais do que apenas uma colega de classe ou de clube. Você é a única que consegue me deixar calmo antes de entrar em um jogo, e tem estado em meus pensamentos constantemente. A forma como você sorri, ou a sua risada quando digo algo engraçado faz meu coração acelerar e sinto vontade de apenas ficar olhando para você. — Tomei fôlego— Estamos no último ano agora e sinto que se não for sincero sobre meus sentimentos irei me arrepender. Por isso quero dizer que te amo Kiyoko.

Olhei ansioso em sua direção, esperando ser capaz de decifrar sua expressão enquanto absorvia o que eu havia dito. Uma pequena lágrima desceu pela bochecha avermelhada e me apressei a secá-la com as pontas dos dedos, demorando o carinho o máximo possível. A mão pequena de Shimizu pousou sobre a minha a mantendo em seu rosto. Ela fechou os olhos como se inspirasse meu cheiro e sorriu logo em seguida.

— Eu também te amo Suga-kun— A voz dela não passava de um sussurro, mas foi o suficiente para fazer meu coração saltar no peito em contentamento— Estive esperando por você desde o primeiro ano.

Tomado pela felicidade eu a segurei pela cintura erguendo-a do chão.

Como podia alguém tão perfeita como ela retribuir meus sentimentos?

Quando a coloquei de volta no chão mantive minhas mãos em seu corpo puxando-a para perto de mim. Olhando em seus olhos inclinei meu rosto até que nossas bocas se tocaram suavemente primeiro, antes de pressionar meus lábios ainda mais num beijo tão desejado.

Não sei quanto tempo durou aquele primeiro beijo, mas sabia que era insuficiente para matar sua vontade. Ofegantes e corados se afastaram sem desviar os olhos um do outro.

Ao lado de Kiyoko tinha a sensação de que poderia conquistar o mundo, mas não era tão ganancioso assim. Seus objetivos agora eram claros como água, fazer Shimizu feliz e ganhar o campeonato junto de seus amigos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.