Algumas semanas depois...

Sara abriu os olhos, tinha a visão um pouco turva, provavelmente ainda grogue da anestesia. Suas lembranças estavam confusas, não sabia exatamente o que havia acontecido. Olhou para os lados, o quarto de hospital estava vazio. Agora se lembrava: Ruth estava com Ju e Gilbert com Jujuba. E seu filho deveria estar a caminho a qualquer momento.

Seu filho.

“Ele não sobreviveu”, essa voz ecoou na sua cabeça. Mas não tinha o som da sua voz, parecia a voz de um médico ou enfermeiro.

Ela lembrava do choro de Noah, de ter ficado alguns segundos com ele nos braços. Da emoção que ela sentiu e na emoção que Gilbert tinha no olhar. Aquele lindo bebê de olhos azuis como os do pai logo começou a apresentar um mal estar. O bebê estava estranho. Se lembrava da ansiedade e desespero que sentiu ao perceber que o bebê não estava bem. E depois uma correria. Enfermeiros e médicos para todos os lados. Ele havia sido tirado de seus braços. O levaram embora de seu colo. Lembrou de ter ficado alterada e lhe aplicarem sedativos. Quando acordou na sala de recuperação horas mais tarde, Gilbert estava a seu lado, lembrava dos olhos dele vermelhos e inchados, e do médico falando sobre Noah não ter sobrevivido.

Ela lembrou também de não ter esboçado nenhuma emoção. Nada. Aquilo era tão surreal. Não podia. Não era real.

— Meu filho não está morto! Ele não está. – Ela falou baixo, para si mesma.

Noah não podia estar morto. Sua respiração ficou ofegante. Olhou para seus seios os sentiu pesados, repletos de leite.

— Ele deve estar com fome. – Murmurou.

Ela tirou os lençóis de cima de seu corpo. O local da cirurgia doía, mas sua adrenalina estava alta fazendo ignorar qualquer desconforto. Cada vez que uma voz ecoava dizendo que seu bebê havia morrido, mais confusa se sentia. Seu filho estava vivo. Tinha que estar.

— Querem roubar meu filho, tirar ele de mim. – Ela falava para si mesma. – Eu não vou deixar.

Ela se levantou da cama, arrancou os acesso de seu braço e saiu do quarto de hospital. Colocou as mãos sobre o ventre, no local da incisão. Doía muito. Mas ela tinha que encontrar o filho dela, onde quer que tivessem escondido. Ele não havia morrido. Ele estava vivo. E ela tinha que achá-lo. Estava convicta que essa era a verdade. Somente essa.

As lágrimas de desespero começavam a escorrer pelo seu rosto. E ela começou a caminhar desnorteada pelo corredor do hospital, até que a enfermeira ao longe avistou a cena e começou a caminhar com calma em direção a paciente para não assustá-la.

Sara estava zonza, tirou uma das mãos da barriga para apoiar na parede, quando olhou, estava com sangue. Assim como sua camisola branca. Havia uma mancha de sangue nela.

— Noah! – Ela gritou. – Onde você está? Onde te esconderam? – Estava desesperada e começou a chorar mais forte.

Ela não parava de andar. A enfermeira viu duas gotas de sangue no chão, o que a fez acelerar o passo para alcançar Sara. A morena no entanto também havia acelerado o passo. Mas quando o sangue aumentou, ela sentiu a dor aguda, uma dor suficiente para fazer que ela se acocar e após deitar no chão.

Finalmente a enfermeira conseguiu chegar até ela. Ela tinha o rosto lavado em lágrimas, a roupa toda manchada de sangue e o que saia de sua boca eram palavras desconexas buscando pelo seu bebê, ela precisava saber de Noah. Onde estava seu filho?

A enfermeira rapidamente ergueu a roupa hospitalar de Sara, e notou que vários pontos da cirurgia haviam cedido. Ela gritou por ajuda. Logo haviam colocado ela em uma maca, e chamado pelo médico que a encaminhou diretamente para a sala de cirurgia.

— Como você está senhor Grissom? – Ruth veio apressada ao notar que seu chefe havia chegado em casa. Ela o estava aguardando ansiosa.

— Onde estão as meninas?

— Estão dormindo, é madrugada. Elas não sabem de nada ainda, senhor Grissom.

O homem então, em seu último de cansaço emocional, desmoronou. Abraçou-se em Ruth, e caiu em um choro forte e desesperado. A governanta se assustou, nunca o havia visto assim, mesmo quando Laura havia morrido, ele não havia ficado naquele estado. Ele estava péssimo.

— Meu filho morreu Ruth. – Ele colocou para fora finalmente. – Nosso bebê não sobreviveu. – Ele disse baixo, em um choro profundo e dolorido, com o coração dilacerado. – Noah morreu.

— Eu sinto muito senhor Grissom. Eu sinto muito. – Ela disse, também caindo em lágrimas.

Demorou alguns minutos até que Grissom se recompusesse e soltasse Ruth, eles caminharam até a sala e sentaram-se ao sofá.

— Como está Sara? O que aconteceu

— Em choque. Eles a sedaram ainda antes de seu sair do hospital. Ela não acredita que… – Ele respirou profundamente, não conseguiria repetir isso sem cair no choro novamente. – Que isso aconteceu. Ela teve uma nova crise devido a eclâmpsia, foi ainda pior que a última, eles demoraram para estabilizar ela. Ela teve duas convulsões. Quando finalmente conseguiram estabilizar ela, o bebê começou a entrar em sofrimento. Ela já estava lúcida quando iniciaram a cesárea de emergência, parecia que estava tudo bem quando Noah nasceu, mas alguns minutos depois ele começou a ficar mal e… – Ele não conseguia. Não podia continuar. – Eu vim só tomar um banho e deitar umas duas horas, eu tenho que voltar ao hospital.

— Eu posso ficar no hospital para que possa descansar, senhor Grissom.

— Eu quero estar com Sara nesse momento. Não vou conseguir estar com as meninas agora.

— Então me deixe ao menos preparar algo para comer. Sem dormir direito, descansar, ao menos, precisa se alimentar direito para não ficar doente.

— Eu não sei se consigo comer algo agora. Mas vou tentar. – Ele se levantou do sofá. – Eu vou tomar um banho.

— Claro.

O celular de Grissom tocou. Ele atendeu quase imediatamente, e um frio percorreu sua espinha.

— Grissom… Como? Ela o que?... Como vocês deixaram isso acontecer?... Eu estou indo para aí agora… Eu não quero saber! Estou a caminho. – Ele urrava no telefone.

— Senhor Grissom, o que aconteceu? – Ruth se preocupou ao notar a expressão e tom de voz dele.

— Sara acordou da sedação e ninguém viu. Começou a correr pelo hospital atrás do Noah, os pontos abriram, ela teve uma hemorragia. Está em cirurgia novamente. Esse dia parece não ter fim. – Ele desabafou. – Eu preciso voltar ao hospital.

— Pode ir senhor Grissom, eu cuido das meninas.

— Obrigada Ruth.