— É do Gilbert.

— Do Grissom?

— Sim. É um pedido de desculpas por uma situação que aconteceu há alguns dias.

— Ah, então é só isso? – Roberto de alguma forma estava aliviado.

— Não. – Disse sincera. – Honestamente, eu não sei explicar direito, mas acho que Grissom tem sentimentos por mim. Ele já me beijou e…

— Ele já te beijou? – Roberto estava espantado, talvez até chocado.

— Eu não o julgo, creio que não deixei claro os limites da nossa relação. Na realidade, eu não fiz isso com nenhum dos dois, nem com ele e nem com você. – Sara disse com honestidade. – Eu tenho que falar com Gilbert também, mas os dois tem que entender que eu estou passando por situação que tem me deixado bastante fragilizada e com meus hormônios bagunçados.

— Então quer dizer que você não sabe se sou eu ou ele. É isso?

Roberto lutava com todas as forças para não se alterar, ele queria gritar, ele queria explodir. Ainda sim, ele sabia que Sara estava certa, ela estava passando por um turbilhão de problemas e novas emoções, era injusto querer culpá-la de qualquer coisa. Ainda sim, culpava Grissom. Ele, que estava do lado de fora, apenas ouvia com atenção.

— Não. Eu sei. – Sara sorriu. – O bilhete do Gil me tocou de verdade, no fundo da alma, ele é o pai das meninas e o pai do bebê, e para mim magoar ele dói no fundo do meu coração, de verdade. Ainda sim, não muda nada Roberto, não tenho com ele o que eu tenho com você. Ainda sim, com o Gilbert eu tenho uma ligação, diferente, por causa das nossas filhas, uma ligação que não pode ser quebrada e um carinho sincero, e eu não gostaria que nossa relação ficasse conturbada, não queria machucar ele.

— Ele é adulto, Sara. – Roberto então sentou-se ao lado de Sara e pegou sua mão, segurando com carinho.

— Ele é adulto sim, um adulto que perdeu a esposa, um adulto que teve a filha trocada na maternidade, um adulto que descobriu a troca no mesmo dia que descobriu que sua filha biológica tem leucemia, um adulto que resolveu se apaixonar por alguém que não o ama da mesma forma. Isso não é fácil Roberto. E meu coração sangra por eu ser a próxima pessoa que vai magoá-lo. – As lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto.

— Ei Sara… – Ele passou a mão no rosto de Sara, limpando as lágrimas e acariciando seu rosto. – A culpa não é sua.

— Eu sei que não. Mas não é dele e nem sua. Então, de quem é? – Ela deu os ombros.

Ouvir as palavras de Sara esmagaram seu coração. Escondido do outro lado, ouvindo o que dizia para Roberto, Grissom pouco a pouco sentiu seu coração dilacerar, partir em mil pedaços. Queria obrigá-la a amá-lo, mas não podia, sentia-se exatamente da forma que Sara havia descrito, ao mesmo tempo que sentia-se culpado por fazê-la sofrer por magoá-lo. Sabia que as palavras da morena eram sinceras, que ela gostaria de manter uma relação com ele, como pais das meninas e do bebê, mas ao mesmo tempo, não era ele quem ela amava, ela amava Roberto, e ele a fez sentir-se culpada por isso. Ela tinha direito de amar ele, tinha direito de ser feliz. Ainda sim, sentia-se triste, culpado e incrivelmente solitário, como se o mundo tivesse desmoronado sobre seu corpo.

Ele não podia entrar agora, não podia dizer que havia ouvido tudo, nem que a entendia e que não, ela não tinha culpa alguma. Ele queria poder dizer isso, mas não podia, nem conseguiria. O nó que estava na sua garganta naquele momento o impedia de chorar e também de respirar. E a dor que sentia era tão grande, que chegava bem perto do que havia sentido quando soube que Laura não havia resistido. Somente naquele momento ele se deu conta da magnitude de seu sentimento por Sara, e se arrependeu amargamente por não tê-la valorizado quando ainda tinha a chance de fazê-la se apaixonar por ele.

Não soube exatamente como saiu dali, já que não sentia suas pernas direito, mas quando se deu por conta já estava trancado em seu escritório. Avisou a Ruth que não gostaria de ser incomodado, e lá ficou, não jantou com Sara e as crianças, e pela manhã saiu bem cedo, a noite novamente trancado no escritório, saindo novamente pela manhã para ir trabalhar antes de qualquer um acordar, e esse ciclo se repetiu por pele menos mais três dias.

Esse ciclo só foi rompido, quando ele recebeu em seu telefone uma mensagem de Julia Grissom, que dizia: “Pai, vem pra casa. Alerta 12.”

Após receber a mensagem, Grissom pegou suas coisas e foi diretamente para casa. Ele tinha com Julia uma lista de alertas que a menina sabia de cabeça, e cada um tinha um significado. Julia sabia que só deveria enviar quando fosse algo sério então, ele confiava quando recebia as mensagens da filha. Quando chegou em casa, as duas meninas estavam na porta para receber ele.

— Oi meninas, cadê a Sara?

— Ainda não chegou.

— Graça a Deus. – Ele suspirou aliviado.

Perto da escadaria que dava para o segundo andar, estavam Ruth, ao lado de Esther e Carlos. Todos em pé, como se mantivessem continência. Os uniformes impecáveis e todos muito sérios.

— Onde ela está? – Grissom se direcionou a Ruth.

— Em seu quarto, senhor Grissom, disse que estava cansada e desceria em alguns momentos e não queria ser interrompida.

— Certo. E como ela reagiu em relação as meninas?

— Amorosa como sempre, senhor Grissom.

— Ótimo. – Respirou aliviado. – Você sabe onde Sara está? – Grissom não tinha realmente certeza se queria a resposta dessa pergunta.

— Ela saiu com o senhor Roberto, disse que voltaria em seguida. Parece que era algo relacionado ao bebê.

— Ao bebê? – Ele disse em um sobressalto, um pouco irritado até. – Se era sobre o bebê por que ela não falou comigo?

— Me desculpe, senhor Grissom, mas você não estava muito disponível nos últimos dias. Nem mesmo as meninas conseguiam falar com o senhor. Todos estávamos preocupados, mas a senhorita Sidle disse que o senhor estava bem, e só precisava de um tempo.

— Sara disse isso? – Grissom estranhou.

— Sim, senhor.

Enquanto falava, ouviu a porta abrindo por trás de si, olhou para em direção a mesma e Sara vinha sorrindo de mãos dadas com Roberto. Sentiu seu estômago embrulhar diante daquela cena. Estavam próximos, como dois namoradinhos, e isso lhe dava repulsa, ainda sim, sabia que seriam cenas recorrentes e teria que se acostumar, ou ao menos fingir que não se importava. O sorriso de Roberto, no entanto, se fechou quando fitou Grissom e a sala. Os empregados em pé a beira da escada, tudo em ordem, e todos com um olhar tenso, só poderia significar uma coisa.

— Sara, eu acho melhor eu ir. – Roberto falou assim que entendeu o que estava acontecendo.

— Vai fugir Roberto? – Grissom ergueu a sobrancelha e tinha um olhar provocativo.

Nem mesmo Grissom imaginou que Roberto poderia deixar Sara sozinha ali, em um momento desses. O senhor cavalheirismo simplesmente daria no pé?

— Não é questão de fugir Grissom, apenas sei que não sou bem vindo aqui quando ela está. Não quero deixar a situação ainda pior.

Grissom queria dizer que ele nunca era bem vindo, mas já estava satisfeito em saber que seu número de visitas diminuiria bastante agora. Sara estava sem entender nada, apenas se despediu rapidamente de Roberto, que lhe deu um beijo rápido nos lábios e foi embora pedindo um zilhão de desculpas e dizendo que ligaria mais tarde.

— Grissom, o que está acontecendo? – Seguida confusa.

— Lembra que te disse que aqui moravam além de mim e Julia, a minha mãe?

— Claro, você me falou pouco sobre ela, apenas que estava na Europa, resolvendo algumas questões da empresa no exterior. – Ela deu os ombros. – Mas o que tem isso?

— Bom, parece que ela voltou sem avisar e antes do previsto.

— E?

— E ela é uma ótima pessoa, mas um pouco autoritária e…

— E?

— E eu só gostaria que estivesse preparada.

— Vocês estão tão apavorados assim? Eu não tenho medo, Gilbert, é só sua mãe.

— Se você diz. – Deu os ombros.

A senhora Grissom, como Gilbert havia mencionado, não era uma pessoa ruim, pelo contrário, era uma mulher justa e sensata. Ainda sim, era bastante autoritária e gostava das coisas a seu modo. Qualquer estranho que visse Elizabeth Grissom andando na rua, veria uma senhorinha pequena e magricela, de cabelos brancos e enrolados, não teriam a noção de quão forte e poderosa ela era.

Sara percebeu um ar diferente quando ela vinha descendo a escada, descia a passos firmes, sem auxílio e sem pressa. Enquanto descia, percebeu seus olhos azuis caindo sobre Jujuba, como se estivesse analisando, e depois sobre ela mesma. Ela era um pouco intimidadora, não podia negar, ainda sim, Sara não demonstrou isso. Grissom foi o primeiro a se aproximar.

— Oi mãe, que bom que a senhora está de volta. – Ele sorriu cumprimentando-a. – Achei que só viria no próximo mês.

— Terei que ficar mais um tempo que gostaria na Europa, então tirei algumas semanas para conhecer minha neta e a senhorita Sidle. – Ela então olhou para a morena, analisando-a de cima a baixo.

— Muito prazer senhora Grissom. – Ela esticou a mão para a senhora. – Sou Sara Sidle.

Elizabeth deixou a mão de Sara no ar, que logo a recolheu, ao perceber que ela não lhe cumprimentaria da mesma forma. A morena estava atônita em relação a mulher que estava na sua frente.

— Eu sei quem é a senhorita. – Então voltou-se para as netas. – E já conheci a pequena Julia. – Ela sorriu para menina. – Muito educada e bem criada. Eu apenas achei que estaria cuidando melhor da casa durante a minha ausência.

— Desculpe? – Sara teve a impressão de que a reclamação não era para Grissom, e sim para ela.

— Você tem vários empregados à sua disposição, e como moradora da casa, mãe das meninas e mulher do meu filho, eu imaginei que tomaria conta da casa enquanto não estivesse presente. É o que uma esposa deveria fazer, ao meu ver, ainda que não estejam juntos legalmente, é claro, o que eu discordo, no entanto, compreendo, devido o modo que toda situação ocorreu.

Sara quase se engasgou quando ouviu, precisou de alguns segundos para se recompor. Grissom também. Ele não sabia bem o que dizer e, ao mesmo tempo, ficou com medo da reação de Sara naquele momento.

— Com todo respeito senhora Grissom, mas não sou mulher do Gilbert, sou sim mãe das meninas, mas apenas uma hóspede temporária na casa. Não tenho autoridade nenhuma sobre os empregados e nem desejo. Talvez a senhora esteja equivocada sobre qual o meu papel nessa casa.

— Grissom, o que está acontecendo aqui?

— Mãe, eu acho que isso não é um assunto para ser discutido na frente das meninas. Foi uma viagem longa e cansativa, por que a senhora não descansa um pouco e mais tarde nós conversamos sobre isso?

— Claro, só por que estou velha, acha que não aguento uma viagem. – Virou os olhos. – Mais tarde também quero uma reunião com os empregados, todos. – Ela se dirigiu a Ruth. – Não posso ficar algumas semanas fora e essa casa já vira uma bagunça, isso não ocorre quando eu estou aqui, não ocorre mesmo.

Senhora Grissom seguiu reclamando de tudo enquanto ia até seus aposentos, ou até pelo menos Grissom e Sara puderam ouvir. Sara, no entanto, apenas queria saber de onde ela havia tirado a ideia de que os dois estavam juntos, em um relacionamento, ou pior, casados. Grissom não precisou de muito para entender que Sara estava realmente irritada com isso.

— Podemos ir ao meu escritório?

— Claro.

Já no escritório Sara pôde perceber algumas coisas, Grissom estava dormindo ali fazia alguns dias. Ela já imaginava disso, mas ver o sofá amarrotado e as almofadas fora do lugar, apenas a fez confirmar suas suspeitas. Sentou-se em uma poltrona e Grissom ao sofá.

— Sara, eu queria te pedir desculpas pela minha mãe. Eu nunca disse que a gente estava junto, mas ela realmente acha que o fato de você ser a mãe das meninas e do bebê, faz com que tenhamos o dever de ficar juntos, por eles.

— E foi por isso que disse que gostava de mim, por insistência dela?

— Não. – Ele disse firme. – Eu gosto de você de verdade Sara, mas eu também sei que não gosta de mim da mesma forma. Eu…

— Você ouviu minha conversa com Roberto.

— Como?

— Eu não sou burra Gil, você me manda flores e bombons, e de repente nunca mais fala comigo, some e fica incomunicável ao ponto de eu ter que ir com o Roberto para os exames gestacionais. É claro que você ouviu a conversa, e isso é péssimo, eu não queria que fosse desse jeito. Por outro lado, também é um alívio. – Grissom se espantou quando ouviu Sara dizer isso. – É claro que eu não queria ter essa conversa e que tentaria postergar, quando eu entendi que você já tinha ouvido tudo, eu fiquei triste, mas era reconfortante saber que não teria que tocar no assunto e que você já sabia como eu me sentia. No entanto, eu fiquei preocupada contigo, de verdade, ainda sim, preferi respeitar o seu tempo te dando o espaço que necessitava.

— Desculpa, eu não devia ter ouvido, mas também foi bom para mim. E, realmente, eu precisava de um tempo para refletir e me acostumar com a ideia. O problema Sara é que quando eu estou longe de você, no trabalho ou trancado no escritório, eu tenho certeza que devo deixar isso para lá, te esquecer, você merece ser feliz e eu não tenho que atrapalhar seu caminho. Mas, quando eu estou perto de você, como agora, eu sinto muita vontade de lutar por você, te conquistar, por que tenho certeza que devemos estar juntos e que um dia você vai gostar de mim com a mesma intensidade que eu gosto de você.