Era sábado a noite. Grissom desceu as escadas e viu Sara sentada ao sofá com uma taça de vinho na mão. Ela estava sentada de lado, com as pernas sobre o sofá, recostada de lado e pensativa. Ela parecia longe, tão longe que nem percebeu que ele se aproximava. Quando ela notou sua presença, se assustou.

— Desculpa, não quis assustá-la. – Ele sorriu. – Não consegue dormir?

— Não. – Ela sorriu para ele – Desculpe, mas invadi sua adega. Precisava relaxar um pouco. – Ela mostrou a taça e a garrafa sobre a mesa de centro.

— Se importa se eu me juntar?

— O vinho é seu. – Deu os ombros.

Ele então foi até a cozinha, buscou uma taça e voltou a sala. Sara o serviu, e ele sentou-se na outra ponta do sofá. Ele sorriu para Sara, que devolveu o sorriso. Grissom estava sempre fora de casa, então era muito difícil vê-lo e, principalmente, conversar com ele.

— Por que colocou o nome de Julia?

— Pode parecer bobo, mas era o nome que eu queria ter. – Ela riu.

— Como assim? Não gosta de Sara?

— Eu gosto… Agora. Bem, eu não sei dizer direito. Eu fui abandonada criança, cresci em um orfanato e passei por diversas famílias. Não foram experiências muito agradáveis para falar a verdade, e sempre odiei meu nome por ter sido dado pela minha mãe. Daí um belo dia, um colega de orfanato perguntou que nome eu escolheria, se eu pudesse mudar de nome qual seria. E sinceramente, eu não sabia a resposta. Daí Julia foi o primeiro nome que me veio na cabeça. – Ela então riu com a lembrança. – É muito bobo. Mas quando eu soube que estava grávida, eu sabia que era uma menina. E que se chamaria Julia. – Então ela mudou rapidamente de assunto. – E você? Por que Julia?

— Não é uma história tão emocionante. – Ele riu. – Era o nome da mãe de Laura. Ela sempre quis homenageá-la.

— Você realmente a amava muito né?

— Mais que tudo. – Ele então mudou de assunto. – E o pai dela?

— De Julia?

— Sim.

— Ele morreu algumas semanas antes de eu saber que estava grávida. A trabalho. Ele era bombeiro. – Seu semblante ficou triste. – Nós namorávamos há poucos meses, nunca cheguei nem a conhecer a família dele.

— Eu sinto muito.

— Tudo bem. – Ela sorriu.

Eles mudaram então o rumo da conversa e começaram a falar sobre as diversas artes que as Julias já haviam aprontado na infância. Era muito divertido conhecerem melhor suas filhas, e era muito engraçado como algumas de suas atitudes tinham muito haver com sua família biológica.

— Sabe, eu nunca entendi por que a Jujuba gostava tanto de insetos. Eu odeio. – Sara fez cara de nojo, enquanto ria. – Agora sabendo que você é um entomólogo, faz muito mais sentido.

— E a Ju tem total aversão. Achei que tinha puxado a Laura.

Eles já estavam na segunda garrafa de vinho, quando Grissom finalmente teve coragem de perguntar algo que o fazia curiosos desde o dia anterior. Ela não sabia que ele havia visto o beijo de despedida, porém aquele beijo não saia de sua cabeça.

— E o Roberto?

— O que tem ele?

— Você gosta dele?

— Eu não sei exatamente. Ele é divertido, querido, bastante atencioso, mas meu coração anda muito fechado para deixar ele entrar. Daqui dois dias provavelmente estarei grávida. Eu preciso cuidar da Jujuba. Não tenho tempo para isso.

— Uma coisa não anula a outra Sara. – Nem ele acreditou que estava falando isso. – Você não é só mãe, você também é mulher. E dar espaço para essa sua parte, não vai te fazer uma mãe pior ou relapsa. Você pode ser as duas coisas. Você pode e merece ter uma vida.

— Talvez sim. Provavelmente você esteja certo. Mas eu não sei se consigo.

Grissom ignorou qualquer coisa que o prendia naquele momento e cedeu ao impulso. Ao menos agora poderia ocupar o vinho. Deixando a taça sobre a mesa de centro, ele virou-se para Sara, e se debruçando sobre o corpo dela, ele alcançou a sua boca e a beijou. O mais surpreendente é que ela cedeu ao beijo, e deixando-o conduzir, beijaram-se calmamente e profundamente até perder o fôlego. Quando terminaram, ele voltou a se sentar no local que estava anteriormente. Pensou em pedir desculpas, mas não o fez, não poderia se desculpar por um beijo tão intenso.

Eles ficaram calados por alguns minutos. Até que Sara quebrou o silêncio.

— Eu acabo de dizer que gosto do seu cunhado e você me beija? Isso não faz o menor sentido.

Aquela mulher era estranhamente imprevisível. Ele esperava todas as reações dela, vergonha, raiva, qualquer coisa, mas ela somente estava pasma.

— Bom, ele roubou muitas garotas minhas na adolescência. Acredito que eu possa tentar roubar a garota dele agora. – Ele ergueu a sobrancelha e sorriu de canto fazendo um bico sutil.

Sara pensou em rebatê-lo dizendo que não era garota de ninguém, mas não deu tempo. Um grito estridente veio do quarto de hóspedes e ela sabia exatamente de quem era: Julia Sidle.