Lian acordou de madrugada durante toda a nossa semana de adaptação no apartamento, fora todas as vezes em que sua fome não era de leite pronto, mas de leite materno. Eu encarava, com muito sono e me sentindo cada vez pior, aquela coisinha pequena e me perguntava como aquilo podia causar tanto trabalho.

O mais interessante desse período inteiro foi que, mesmo muito cansado e tendo alguns lapsos devido ao não uso de droga nenhuma, era divertido dar banho, colocar roupas maneiras (salve Canário Negro e todas as roupinhas de futebol americano que lotavam o guardar roupa da bebê), e nem era tão ruim assim a parte de trocar fraldas. A garota, suas risadas e seu jeito de olhar tudo na curiosidade, lembrava a mim quando menor.

A única coisa que ela puxara a mim fora o cabelo ruivo. De resto, desde seus olhos até o fino traço do nariz, tudo envolta de seu corpinho remetia a Jade. Em momentos como aquele, eu me pegava pensando se tudo realmente fora premeditado, se desde sempre ela não queria uma criança. Eu conhecia bem demais a megera para acreditar, tão cegamente assim, que havia voltado para a Liga das Sombras porque “não aguentou sua vida fora dos crimes”. Essas palavras, no entanto, pesaram demais, e eu não deixaria ela encostar um dedo sequer na criança.

Ela traria a Liga das Sombras em seu rastro, e nem eu nem os Titãs, aparentemente, estavam convencidos de que tudo havia se resolvido naquele simples confronto. A guarda em meu apartamento era revezada entre Canário Negro (uma espécie de mãe tanto para mim quanto para Lian) e Miss Marte (a mais nova integrante dos Titãs e queridinha por todos). Eu também tinha meus momentos de sentinela. Dormia no quarto junto com Lian e, a qualquer barulho estranho, a minha pistola - única arma que permitiram que eu tivesse posse – estava em alerta.

Meus reflexos e saúde ainda eram um problema para mim. Dinah sempre foi um anjo. Desde a primeira vez que nos reencontramos, ela dedicava parte de seu tempo fazendo a minha vigia e me retomando aos treinos devagar. Os remédios, que iam desde Topiramato até Metadona, aliviavam as dores de cabeça, alguns níveis de mau estar e a própria vontade de conseguir as drogas.

Mas havia dias em que era foda. Num sentido bem ruim.

Era nesses dias, porém, que minha cabeça deixava de lado tudo de bom que estava acontecendo, desde meus bons momentos com a criança até o fato de ter uma casa e pessoas cuidando de mim. Parecia que toda aquela proteção não era para Lian, e sim, para mim. Eu era o grande bebê, a grande questão coringa para todos. O que seria de mim caso não me recuperasse? E se isso viesse a acontecer, o que fariam comigo?

Aquela era a minha terceira overdose, e pela segunda vez, todos estavam lá para me dar força e me reerguer. Com certeza queriam algo em troca. Seria minha volta para a equipe? Porque eu faria qualquer coisa, menos me envolver com isso novamente. Eu simplesmente não suportava mais outro rompimento de equipe ou algo do gênero, ver amigos morrendo e outros partido... Só não dava. Se eu queria me matar, havia um motivo...

Eu precisava fazer de Lian meu maior motivo para continuar vivo quando tudo em mim queria o contrário. No presente dia, não aguentei ouvir minha mente trabalhando em todas as maneiras possíveis de acabar comigo mesmo ou recusar toda aquela “doação barata” dos Titãs para cima de mim. Pedi para Dinah ficar de olho em Lian e decidi conversar com alguém que realmente seria franco comigo.

Alguém que não mentiria a respeito de como se sentia em relação a mim e todas as minhas besteiras. Alguém que me dissesse a verdade e somente ela. Alguém que estivesse muito chateado comigo.

Fazia tanto tempo desde minha última ida a Washington que acabei me perdendo entre as estações de metrô, mas nada que algumas horas e perguntas não resolvessem. Algo dentro de mim dizia que ela não havia se mudado.

Como poderia? Foi naquele apartamento bem próximo ao centro de comando LJA da capital que Donna constituiu e perdeu sua família, tudo de uma vez.

Seu rosto, por mais que quisesse disfarçar, estava surpreso - de uma maneira muito ruim – ao me ver em batendo em sua porta. Sem falar nada, estendeu os braços para dentro do cômodo e ofereceu a entrada, a qual eu aceitei somente fazendo um aceno.

O apartamento, porém, parecia outro por dentro: ela reformara tudo, desde a cor das paredes até o piso. Os móveis antigos que sobraram estavam repaginados e em locais diferentes. Me aproximei de um dos quatros da sala que continha vários retratos, e entre todos eles, havia uma foto nossa dos tempos de ouro. Antes que eu fizesse qualquer comentário a respeito disso, ela olhou-me fundo, como se quisesse passar uma faca por entre meu corpo, e começou a falar:

— Não entendi o que você veio fazer aqui, Harper.

— Precisava conversar. - Admiti, colocando as mãos o bolso e me afastando das fotografias. - Ou melhor, precisava conversar com alguém que não fosse fingir que está tudo bem.

Suas mãos foram até seu quadril, tornando sua emblemática pose ainda mais forte. Ela não abaixaria a guarda comigo nem fodendo, e isso era o que eu mais admirava nela. Tive que me manter firme o suficiente para não sorrir bobo para ela.

— Achei que estava tudo bem para você. Está a salvo, com uma bebê maravilhosa nos braços e a chance de recomeçar a vida. O que há de errado? - Eu já sabia que teria de lidar com seu cinismo. Somente respirei fundo e voltei a falar, tentando ser o mais sincero possível.

Mas eu também não baixaria a minha guarda, se de mim dependesse.

— Eu sei que nada está tão bem quanto parece, e você é a única que vai me dizer a verdade a respeito do que realmente vocês, como equipe, estão pensando sobre mim.

— Foi por isso que Dick não queria que eu fosse a primeira pessoa que você visse ao acordar. Seria como entregar a corda, a altura necessária e o ímpeto a um suicida. - Murmurou baixinho, estalando a língua para só depois me encarar novamente. Fazia tempo que eu via Donna vestida como uma civil comum, dotada de pelas curvas por entre a saia jeans e a blusa preta curtinha. - O que você tanto quer saber?

— Por que me ajudaram? Não faz sentido! - Exclamei, deixando a pose mais serena de lado. - O grupo acabou, e com todas as letras, eu disse que não faria mais parte disso. Fiz o possível para sumir da vista de todos, inclusive dos olheiros Wayne, para poder viver minha vida em paz.

— “Viver sua vida em paz”?! Está escutando a barbaridade que acabou de dizer, Harper? Você estava se matando gradativamente e nós não podíamos fazer nada para ajudá-lo! Nós procuramos todos os dias durante vários meses por você quando suspeitamos de que poderia ter voltado a entupir a veia de merda!

— Donna, você disse que não mentiria para mim e eu vim em busca de verdades. Qual é! Com os Titãs em pleno colapso após a saída de Kory, você vem me falar que todos ficaram preocupados comigo? Haviam coisas mais importantes para serem feitas, beleza? Não estou certo?

— Caralho, eu tinha esquecido o quanto que você é cabeça dura, Roy. - Suspirou, dando várias voltas no mesmo lugar para poder iniciar a discussão novamente. - Você acha mesmo que todos nós nos preocupamos com o que o colapso dos Titãs poderia gerar a nível geográfico? Eu amo ser heroína e amo os seres humanos, mas foda-se eles! Nós somos uma família, sempre formos! - Não pude deixar de rir com ironia para aquela frase, o que a deixou ainda mais irritada. - Nós sempre cuidamos uns dos outros!

Eu agora me lembrava perfeitamente do gosto da morte permeando minha boca. Precisava somente de um estalo, de algo que me fizesse lembrar o porquê eu estava a odiar tanto os malditos fantasiados em defesa dos bem feitores Malditos esses que estavam me ajudando mais do que qualquer outra pessoa.

O conceito de família sempre foi muito abstrato para mim, porque era algo que eu nunca havia tido. Não sabia se aquilo era um pré requisito para ser herói, mas praticamente 80% dos integrantes dos Titãs eram órfãos de alguma forma, e lá estávamos nós, dando tudo de si uns para os outros, vivendo em uma mentirosa utopia onde, não importando o que acontecesse, estaríamos sempre juntos.

Sempre juntos até a morte de Lilith e tantos outros.

Sempre juntos até o momento em que nosso líder, nosso maior símbolo de união, decidiu sair para assumir um manto que sempre renegou.

Sempre juntos até nossa amiga alienígena voltar para seu planeta natal fodido. E detalhe bem importante: ela só havia feito isso porque, assim como eu, se decepcionada com a desunião tão recorrente e que tanto nos machucava.

— O que vocês querem? - Decidi ser direto, e naquela altura do campeonato, eu já não estava mais nem ai para o que minha pose podia impactar. Havia procurado Donna para receber respostas, e eu as conseguiria. - Fala sério: o que vocês tanto querem para não me deixar morrer na sarjeta, porque me salvar com certeza não é uma opção. Caso contrário, lá trás, quando Kory decidiu se mandar para a porra do espaço, vocês teriam feito qualquer coisa, menos desarticular os Titãs. - Fui até a janela e apontei para o céu. - Miss Marte? Aqualad? Centro de recrutamento novo? Vocês estão trazendo adolescentes para um abismo que nós mesmos cavamos. Quem somos nós para dizer como uma porra de grupo deve agir, quando formos nós próprios que acabamos com tudo, que nos separamos, que deixamos de constituir família e...

Seu soco foi tão rápido que não me deu chance para defesa. Creio que nem o mais saudável dos lutadores estavam prontos para aquele soco.

Eu caí no chão como um saco de cimento, a boca sangrando e dúvidas nos olhos. Se tinha algo que não podíamos duvidar de Donna era sua força de vontade em dizer a verdade. Ela não me esconderia os reais motivos, mesmo que me magoassem, então por que não confirmava logo tudo o que eu dizia? Por que tornava tudo tão mais complicado e partia para a agressão?

Visualmente arrependida, ela balançou a mão que usou para me bater e se ajoelhou no chão, mirando o meu sangue com raiva e respirando o mais fundo possível.

— Não sou obrigada a isso, está bem? Não sou nem um pouco obrigada a te receber em minha casa e te ouvir falando merda sobre algo que construímos todos juntos, como uma droga de família. - A voz tomara um tom mais embargado, mas se tinha algo que eu sabia com certeza: Donna jamais iria chorar na minha frente. Não agora. - Como você acha que eu fiquei? Eu ajudei Dick a denominar a porra da equipe, eu estava lá quando tudo começou pra valer, eu conheço cada canto obscuro daquele morcego infeliz. Você acha mesmo que ele queria assumir a porra do manto do Batman? Ele não quis, Harper! - Gritou. - Ele não quer! Mesmo tendo saído, quase toda semana ele aparece no prédio para avaliar o pessoal, ouvir as pessoas. Ele nunca quis sair, nunca quis fazer mal a nenhum de nós. Não tiro, porém, a razão da Estelar. Eu também fugiria para outro lugar se tivesse um, mesmo que estivesse totalmente destruído. - Olhando todo o seu apartamento, ela engoliu a seco duas vezes antes de voltar a falar. - Eu, Garfield, Victor, Wally, Rachel, todos nós ficamos de coração partido quando tudo aconteceu, porque também sabíamos que seria definitivo para todos. Cada um seguiria seu caminho a partir dali, e nenhum de nós, repito, nenhum de nós tinha força o suficiente para se virar.

Após um tempo calada, ela se levantou, foi até a cozinha e pegou alguns lenços de papel. Voltando para a sala, ela estendeu a mão a contragosto. Sem aceitar sua ajuda, me levantei sozinho e me servi de seus lenços, limpando minha boca. Donna continuou:

— Quando Terrance e Rob morreram, eu achei que tinha morrido também, e que mesmo assim queriam me obrigar a continuar nessa droga de mundo. Eu não queria nem nunca quis continuar, mas vocês me deram motivos, Roy, principalmente você. Quando estávamos juntos, além de constatar o quão estúpido um ser humano podia ser, vi que tinha encontrado alguém resiliente, que havia saído do caos e estava em seu auge. Eu não deixei em nenhum momento de te admirar, mesmo com sua primeira recaída. Depois veio a segunda, e agora a terceira. - Após ouvir essa frase, tomei coragem para encará-la. Eu sentia em sua voz e em todo o seu corpo que suas palavras eram as mais verdadeiras possíveis. - Não imagino o quanto lutar contra o vício deva ser fácil, mas você nunca esteve sozinho, Harper. Somos uma família, e como toda ela, temos momentos de fraqueza e vontade de matar uns aos outros de vez em quando, mas isso nunca significou deixar de cuidar dos nossos. Quando s Titãs acabaram, nós nos reunimos várias vezes, saíamos como amigos e esquecíamos que, entre nós, havia tanta coisa ruim. Nós éramos pessoas comuns curtindo e se ajudando como podíamos. Nós te chamamos todas as vezes para tudo, Roy. Sempre nos mostramos lá para você. Não há significado maior: não queremos um membro mais forte, muito menos fazer caridades perdidas. Nós só queremos que as pessoas que amamos fiquem bem. Só isso.

A mesma mão que me agredira agora pedia para o papel, a fim de secar a própria sujeira. Pedindo desculpas com o gesto, já que as palavras não sairiam de sua boca – e era isso o que nos tornava tão parecidos e o que, consequentemente, se tornou nossa ruína. Tanto eu quanto Donna éramos extremamente impulsivos e orgulhosos, não dando o braço a torcer até o último momento. Isso desgastou tanto o nosso relacionamento que, uns tempos antes de Estelar ir embora, nós nem nos falávamos mais, mesmo “trabalhando” juntos – trouxe de volta toda a sinceridade que tinha:

— Eu já te vi derrotando os maiores bandidos de Star e Gotham City, além de ser um dos melhores arqueiros que o mundo dos super heróis já viu. Sabemos que se tem uma coisa que corpo consegue fazer é ser forte. Porém, sua alma é tão fraca quanto um graveto. Não adianta de nada ser o melhor que os humanos têm a oferecer, quando, por questões que exigem pensamento mais aprofundado e pedidos de ajuda, você se condena ao pior de sua espécie. Nunca negamos nada a você, e esperávamos como resposta, no mínimo, que você se recuperasse e ficasse bem até o fim da vida. Se algo de ruim acontecesse, bastava a porcaria de um telefonema, Harper. Seu orgulho vai acabar te matando um dia, e dessa vez, vai ser pra valer.

— Nós dois somos péssimos orgulhosos. - Comentei.

— Você sabe quem deu o braço a torcer primeiro, e foi essa atitude que nos salvou.

Um novo silêncio, dessa vez mais profundo, tomou conta do ambiente, até que não havia mais sangue para limpar ou dúvidas em minha mente. Mais uma vez indo até a cozinha, ela jogou os lenços fora enquanto eu me levantava do sofá e voltava a olhar das fotografias para o reflexo dela no vidro dos porta retratos.

— Se você veio até aqui por causa do seu orgulho, pode ficar tranquilo. Lidamos com pessoas com você mais do que você imagina.

- Pessoas fantásticas? - Tentei dar um sorriso matreiro, mas a dor do soco me impedia, o que a fez rir um pouco.

— Pessoas teimosas. - Me corrigiu. - Quando você finalmente aceitar que precisa, definitivamente, de uma ajuda que não seja remédios anti recaídas e um apartamento em Star City, basta nos procurar. Sempre estivemos aqui.

Entendi aquilo como uma bela de uma deixa para me mandar embora, e de certo modo, não a culpava por isso. Sem ao menos encostar nela, fui caminhando até a porta quando sua voz me impediu.

— Roy. - Me chamou. - Seja forte. Segundas chances sempre são necessárias, mas a partir das quartas, fica difícil de ter fé.

Concordei com a cabeça, mastigando suas palavras com um real amargor. Finalmente, pelo menos, alguém havia me tratado como o fodido que eu era, sem maquiar isso com o bom e fácil papo da amizade. As pessoas precisavam não ter medo de magoar, e eu realmente não sabia se aquilo me assustava ou não.

Olhando mais uma vez para nossa foto, fiz, por fim, o comentário que queria ter feito desde o início.

— Tempos de glória, ein? - Sorri para ela enquanto apontava para nós, que éramos um casal na época, emoldurados na fotografia.

— Lembranças de tempos que precisam ser recordados, não revividos. - Fez questão de deixar a última frase bem clara, o que nos fez rir e nos entreolharmos durante um tempo. Seria perda de tempo, de fato, voltar a investir em Donna?

— Se Deus quiser, Lian será como você, Troy.

— Determinada e pisadora de embustes? - Brincou.

Eu iria dizer algo como petulante e sensata, mas aquilo serviu.

— Engraçado, - Ela comentou enquanto abria a porta para mim. - Dick me disse a mesma coisa a respeito de Mar’i?

— Mar’i? O morcego tem nova namorada?

— O que? Você não está sabendo? Você e Dick são os papais da turma.

— Como é que é?!

Eu podia ser estúpido, cabeça dura, egoísta e o que mais fosse! Mas se tinha algo que eu jamais, em momento algum faria, seria acabar com a porra da minha família. Eu jamais faria os Titãs se separarem.

Quando Dick nos contou que assumiria o posto de Batman e nos pediu para não contar para Estelar, sua desculpa foi algo puramente relacionado a trabalho, algo como “agora tenho um dever maior e não posso mais misturar as coisas” e “não terei tempo para ela”. Eu fui um dos poucos que engoliu a conversa fiada, mas não confrontei. Já havia tido minha relação com Kory nos Fora da Lei, e sabia muito bem como tudo poderia acabar caso brincasse com aquele tipo de coisa, o amor, pra cima da alienígena ruiva mais gata de todos os sistemas solares.

O desgraçado havia tido uma filha que já datava seus 3 anos, pelo o que me contava Donna. Fazendo a somatória direitinho, o maldito prodígio - que de prodígio só tinha o apelido ridículo - havia traído Kory e usado tudo como uma desculpa, e sem menores dúvidas Bárbara era a ponta desse triângulo. Como ele podia ter feito isso com a pessoa que mais o amava, se ainda não continuava amando? Como ele pôde pensar, por algum segundo, em trair Kory?

Minha experiência com traições me transformou no filho da puta que eu era atualmente, afinal, eu ainda estava com Donna quando comecei a me relacionar com Jade. Eu não quis, estava infiltrado na Liga das Sombras a mando dos próprios Titãs. Ela dava seus cortejos e eu, para não dar bandeira quanto a minha lealdade, ficava num chove e não molha infernal até que algo nela me seduziu totalmente, e eu me vi perdido de Donna e todas as coisas boas que ela havia feito por mim. Vê-la me fez lembrar do quanto eu nunca me perdoaria por isso, mas também não teria a ousadia de fazer diferente, visto que tudo me levou a Lian.

Lian. Já estava com saudade dela e precisava voltar para casa, mas decidi fazer uma paradinha na cidade vizinha, indo de encontro com a gigante mansão Wayne, agora mansão Grayson.

Alfred, já de muletas e aparentemente no fim da vida, mas ainda cheio de uma disposição gloriosa me atendeu e ficou extremamente surpreso, tanto que nada falou, ficou somente de boca aberta me observando entrar.

Eu sabia que o morcegão júnior gostava de trabalhar de casa, e o caminho da Batcaverna já me era de praxe. Andávamos juntos por ali quando mais novos, sempre procurando por missões para os Titãs bem acima do nosso nível, a fim de provarmos que éramos, de fato, mais fodas que a própria Liga.

Bons tempos que não voltam mais.

Ele estava lá, vestido com a roupa do Batman, mas sem a máscara. Não pareceu surpreso ao me ver, mas também não disse nada, apenas pareceu espantado com o pouco de sangue que tinha em minha camisa.

— Você fez isso mesmo, Grayson? - Perguntei. Tentava conter minha raiva respirando o mais fundo possível. Se pudesse, meteria o cacete, porém a cota de espancamento contra Roy Harper havia acabado com Donna. Pelo menos, por ora.

— Do que está falando, Roy? - Perguntou, tão parcimônia quanto possível.

— Uma filha? É sério? De todas as maneiras possíveis, eu nunca achei que você fosse capaz de fazer isso com Kory.

Do nada, ele se levantou de onde estava e veio andando até mim. Suas mãos se estalaram, mas não agiram. Ao invés disso, ele sorriu.

— Calma lá, cara. Nada disso aconteceu. Eu tive uma filha sim, dois anos mais velha de Lian, inclusive. Uma filha. Com Kory.

Eu realmente não sabia mais o que encontraria no andar daquele dia. Decidi respirar o suficiente para pensar em todas as reflexões de Donna e nas novidades de Dick. Não quis ver a garota porque achei que precisava de um pouco mais de tempo para lidar com a situação Kory, do mesmo jeito que eu ainda precisava conversar melhor com Jason sobre tudo o que aconteceu.

Pelo menos, eu me sentia bem melhor, mais confiante e menos como pedinte. Cheguei em casa um pouco tarde, e encontrei Miss Marte adormecida no sofá, provavelmente cansada de um dia inteiro para cima e para baixo com uma criança. Tão nova e tanto talento desperdiçado, acabei rindo, mas com respeito.

De repente, escutei um som vindo do quarto de Lian, e tanto eu quanto Miss Marte, que despertara quase que instantaneamente, corremos até lá.

Adivinhem que alienígena laranja favorita se encontrava ao lado do berço da bebê?

É, o destino não estava a fim de colaborar.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.