Jeniffer Hudson é uma garota alegre e inteligente que dedica a sua vida e sua atenção aos estudos. Aos dezesseis anos ela já tinha muitos planos e um deles era ser uma grande médica, levando em consideração sua atenção aos estudos e suas notas boas seu sonho estava muito perto de se realizar, mas isso de longe a preocupava, ela estava cansada de ser sempre o prodígio da escola e quando tentava se enturmar acabava sendo ignorada. Mesmo assim ela ainda exibia um belo e radiante sorriso todas as manhãs, porque para ela não existia nada que um sorriso não resolvesse. Mas o mundo gosta de aprontar com as pessoas, era um dia comum como outro qualquer na vida de Jeniffer, ela levantara, tomara café da manhã e agora organizava seu quarto. Sua mãe encontrava-se no andar inferior da casa, ela aparentava pouco menos de quarenta anos, era uma mulher muito bonita, educada e inteligente, mas com o infortúnio de ter sido casada por cinco anos com um homem bruto e sem coração. Ele morreu quando Jeniffer tinha pouco mais de dois anos e a única coisa que lhes restou foi a casa, a companhia uma da outra e uma penca de dividas. A mulher, que se chama Graziella, começou a fazer pequenos bicos até que arranjou um emprego fixo em uma lanchonete. Mais ou menos dois anos depois ela conhecia Joseph, - ou Joe como era conhecido -, com quem casara e morava até os dias atuais. Joe é um homem bom e educado que deu a Jeniffer a melhor educação e todo o carinho que um pai podia lhe dar. Ela era feliz, mesmo sem amigos ela ainda era feliz. Estava arrumando suas roupas quando ouviu o barulho de carro chegando, abriu um grande sorriso e correu para abrir a porta.

– Pai! – Disse abraçando o homem alto, de pele alva, cabelos pretos e olhos cor de mel. Sentiu que ele a abraçava em retorno e ergueu os olhos para observa-lo, ele estava feliz, muito feliz. – Você esta muito feliz hoje pai.

– Isso é porque eu acabei de ser promovido! – Anunciou abrindo os braços e gargalhando genuinamente feliz, viu a mulher correr em sua direção e sentiu sua filha abraçar-lhe com força.

– Que ótima notícia, meus parabéns. – Graziella sorria milimetricamente e dava um pequeno beijo em seu marido abraçando-o em seguida. Olhou para a filha e viu a garota revirar os olhos, bagunçou-lhe os longos fios castanhos e em seguida lhe tocou a bochecha.

– Parabéns pai, você merece! – Disse a garota com os olhos brilhando de felicidade, ela não era tão alta quanto o pai ou a mãe, mas ainda assim gostava de ficar com a cabeça próxima ao coração daquele que mesmo sem ser obrigado lhe dera tanto. Sua altura mediana, seus longos cabelos castanhos que chegavam à cintura, os olhos castanho-claros e a pele um pouco bronzeada encaixavam-se perfeitamente em seu jeito de agir. – Em que vai trabalhar agora?

– Eu ainda não sei Jens, mas o senhor Murdoch disse que assim que a viagem estiver acertada ele me avisara. – Disse retirando o casaco estava uma manhã fria e por conta da promoção ganhara o dia de folga para fazer o que quisesse. Assim que anunciou sobre a viagem viu o semblante das presentes mudarem, ele sabia que reagiriam assim.

– Como assim viagem pai? – Jeniffer afastou-se do homem e colocou as mãos fechadas em forma de punho dentro dos bolsos da calça de moletom que estava usando.

– Eu fui promovido para trabalhar na filial do Japão. – Disse olhando para a garota que arregalou os olhos ao descobrir o local que passaria a chamar de casa. – Não será tão ruim assim, você se acostumará.

– Já parou pra pensar nos meus estudos? – A garota disse elevando o tom de voz. Estava assustada, irritada, um turbilhão de emoções que nem ela mesma saberia explicar. – Vai ser difícil me acostumar a outro sistema de ensino, sem falar em quantas matérias a frente eles estão. Pai isso é loucura, porque pensou só em você? Isso é egoísmo!

– Sinto muito, mas já assinei o contrato e nós vamos para o Japão querendo você ou não. – Joe estava sério e firme com sua decisão, sabia que a garota reagiria assim. Mas precisava da promoção para manter-se na empresa e assim sustentar sua amada esposa e sua filha adotiva que ele tratava como se fosse realmente sua. Viu a garota subir a escada irritada e pouco depois ele ouviu o barulho da porta batendo, virou-se para a esposa que ainda não havia dado o seu veredito. – Sinto muito por isso querida, mas eu precisava dessa promoção.

– Tudo bem, mas precisarei de um tempo para falar com ela e convencê-la de que vai ser melhor assim. – Disse colocando a mão sobre o ombro do homem que pareceu relaxar com essas poucas, mas significativas palavras. Dirigiu-se ao quarto da filha e deu duas batidinhas antes de entrar e encontra-la deitada com o rosto afundado no travesseiro. – Jeniffer eu quero ter uma conversa com você.

– Eu não quero falar com você, sai do meu quarto! – Disse com a voz abafada, mas foi inútil já que sua mãe sentou e passou as mãos em seus cabelos fazendo-a virar o rosto. – Porque ele fez isso?

– Filha ele precisava dessa promoção, nós precisávamos dela. – Disse dando espaço para a garota sentar-se já que ela começara a se mexer em busca dele. – Como acha que ele está se sentindo em relação a essa viagem?

– Deve estar feliz. – Disse fazendo bico. Quando queria Jeniffer se tornava a menina mais mimada do mundo, era assim que fazia os pais mudarem de opinião quando queriam leva-la a reuniões de emprego. Viu que sua mãe havia ficado séria e estava assumindo a postura que costumava usar quando tudo estava dando errado e ela tinha que assumir as rédeas da situação. – Mãe?

– Meu anjo, Joseph viveu os últimos doze anos lutando para que nossas dividas fossem pagas. Dividas que o seu pai deixou antes de morrer, dividas que eu não conseguiria pagar antes de morrer. – Começou vendo que a garota abaixava a cabeça, com certeza estava lembrando as dificuldades que passaram até Joe entrar em suas vidas, mudando tudo, melhorando tudo. Trazendo seu sorriso de volta e devolvendo a sua filha a alegria de ter um pai. – Hoje ele conseguiu uma realização própria, não foi egoísmo da parte dele aceitar sem pensar em nós. Muito pelo contrário, Joseph cuidou de nós por doze anos, ele viveu e ainda vive somente por nós e para nós, ainda acha que isso é egoísmo Jeniffer?

– Não... – Limitou-se apenas a essa palavra, agora que sua mãe havia lhe jogado a realidade na cara ela pôde enfim pensar sobre sua vida. Sentiu sua mãe beijar-lhe o alto da cabeça e em seguida sair, deixando-a ali com seus pensamentos e sua culpa. Suspirou derrotada levantando da cama em seguida, caminhou até a escada e viu que a porta do quarto de sua mãe estava aberta, decidiu então ir até lá. – Mãe?

– Ela está na cozinha Jens. – A voz de Joe ecoou no recinto, pouco depois ele aparecia vestido com uma blusa comum, a calça social e estava descalço. Viu que a garota estava de cabeça baixa, encostada na parede em frente à porta de seu quarto, aproximou-se usando a madeira da porta como apoio para encostar-se. – O que houve docinho?

– Detesto quando você me chama de docinho! – Disse erguendo a cabeça e torcendo a face ao ver o sorriso no rosto do homem que se divertia com o apelido. Suspirou derrotada, aquele homem mudara a sua vida e a de sua mãe com uma rapidez incrível, ele era realmente a salvação delas. – Joe, desculpe pelo que eu disse mais cedo. Não foi minha intenção te ofender ou magoar os seus sentimentos, você foi um bom pai e marido, fui idiota em achar que você estava fazendo aquilo por beneficio próprio.

– Não precisa pedir desculpas, você teve um principio de infância difícil já que perdeu seu pai e viu sua mãe virar-se em cem para administrar a casa e a divida que ele deixou. – Joe passou a mão nos fios escuros que estavam compridos e caiam pelos ombros do homem de quarenta anos, mas com o espírito e a aparência de trinta. Olhou para a garota que abaixara a cabeça novamente, a tratava como filha e assim a tinha desde que colocou os olhos nela. – Jens venha aqui, quero te dar uma coisa.

Jeniffer aproximou-se e quando estava a uma curta distância recebeu um abraço apertado e cheio de carinho, seus olhos se encheram de lágrimas e ela apertou o homem que amava e chamava com todo orgulho de pai. Afastou-se um pouco e viu que apesar da expressão calma, os olhos daquele homem demonstravam felicidade, felicidade de ter uma família como aquela. E agora sabia que onde quer que ela estivesse poderia sentir-se segura, porque tinha um pai que a amaria apesar de tudo.