PRÓLOGO

Seul, 2014.

De mãos erguidas e joelhos no chão, Choi Ma-Ru encarou o terno extremamente engomado do diretor, quase em desafio ante o olhar reprovador que aquele ahjussi de voz irritante lhe lançava. Ainda que tivesse um certo receio no olhar, um misto de desgosto e resignação, o diretor não poderia permanecer de braços cruzados enquanto o caos reinava em sua renomada escola. Era seu maior dever proteger e zelar pelas crianças das mais distintas e prestigiadas famílias de Seul.

Seu olhar estreito percorreu detalhadamente a elegante sala que ocupava a tantos anos, observando a rica mobília e as paredes pintadas em um tom claro, adornadas com inúmeros quadros que emolduravam os antigos diretores. Ao olhar sua própria foto como o atual diretor, seu olhar recaiu no jovem rapaz em sua sala, aquele que provavelmente seria o maior desafio de toda sua carreira.

Destoando completamente no requinte do ambiente, seu uniforme escolar, ou o que restara dele, estava amarrotado e pontilhado por pequenas manchas de sangue avermelhado-escuro, já seco no caro tecido. Em seu braço esquerdo, a manga estava esgaçada, sinal do violento puxão ao qual fora submetida, deixando à mostra uma de suas inúmeras tatuagens. Não havia sinal algum da gravata escarlate que compunha o uniforme escolar, que havia sumido em algum momento da briga, embora não se soubesse exatamente quando.

Aquela não era a primeira vez que se encontrava ali, prostrado em seu castigo. Tampouco era a primeira diretoria onde já havia estado. A ficha do rapaz se encontrava aberta sobre a mesa de mogno do diretor, exibindo dois carimbos de outras duas renomadas escolas onde Choi Ma-Ru havia frequentado, e posteriormente sido expulso por sua conduta extremamente violenta.

Era a primeira vez em muitos anos que via um caso daquele jeito, um jovem que parecia decidido a ser expulso de todo e qualquer lugar onde pusesse os pés. Encarando o rosto do garoto, notou a mancha de sangue em seu nariz, bem como pequenos machucados e o hematoma que começava a se formar em olho direito, cujo olhar estava ainda mais frio e indiferente.

Era uma situação extremamente delicada, havia sido colega de seu pai, Choi Dae-Hyun e ouvira de seus próprios lábios o pedido de ajuda de um pai extremamente preocupado. Não fosse por aquele motivo, Choi Ma-Ru exibiria um terceiro carimbo de expulsão em sua ficha escolar.

Não havia muito que pudesse fazer, havia tentado todas as punições e formas que conhecia para corrigir a conduta do jovem, mas aquilo parecia muito além de seus trinta anos de experiencia naquela escola.

Seus passos não fizeram ruido algum quando se dirigiu à sua cadeira e se sentou ali, respirando profundamente. O silêncio era opressivo, desde que havia entrado em sua sala, o rapaz não havia pronunciado uma palavra sequer, limitando sua postura entre indiferente e fria. Talvez aquele fosse um dos maiores males que pudesse haver, o silêncio. Se ao menos ele lhe falasse, talvez pudesse fazer uma ponte de comunicação com aquele aluno e ajudá-lo.

Toda e qualquer tentativa de comunicação lhe fora frustrada, como se aquele rapaz estivesse presente ali apenas de corpo, sua mente viajando em alguma outra direção. Talvez em algum outro tempo...