Do outro lado da porta, Min-Ki Sumbae acompanhava a conversa discretamente, com o ouvido praticamente colado na maçaneta. Fez uma careta ao ouvir a conversa, como se fosse vomitar. Aquilo era muito mais doce e romântico do que alguém poderia aguentar.

Uma pessoa poderia seriamente adquirir diabetes com aquela conversa açucarada. Revirando os olhos, suspirou dramaticamente. Não devia haver um sumbae melhor do que ele em uma centena de quilômetros. Só esperava nunca ter de passar ele mesmo por todo aquele romance sentimental.

Nunca havia tido tanto trabalho sendo um cupido para seus amigos, como aqueles dois teimosos. Choi Ma-Ru sem dúvida havia sido um grande desafio, ainda que houvesse sido bastante divertido passar algum tempo com Eun Jae e vê-lo pelos cantos, enciumado. Felizmente, as coisas pareciam estar encontrando seu próprio caminho entre aqueles dois.

Satisfeito, não deixou de sorrir para si mesmo, até se virar e notar que não estava sozinho. Dando um pulo no ar, seus olhos se arregalaram ao dar de cara com o representante dos alunos, Yoon Dong-Sun. Vestido com um agasalho esportivo e óculos de grau, o rapaz alto e bonito tinha uma prancheta em suas mãos.

Ya! O que aconteceu com as suas mãos? Por acaso não sabe bater na porta? Como você pode ir entrando assim no alojamento de outro estudante?
Apesar daquele protesto exasperado, as feições bonitas do outro aluno não se alteraram. Muito diferente de seu colega de classe, nunca demonstrava suas emoções ou pensamentos em suas atitudes. Ainda que fosse um dos alunos mais belos daquela escola, Yoon Dong-Sun raramente sorria. Estava ocupado demais estudando para perder tempo com qualquer outra bobagem que o desviasse dos estudos e dos grandes planos que seu pai tinha para ele.

— A fama realmente subiu à sua cabeça e fez você ficar surdo? Eu bati várias vezes, mas ninguém respondeu! — Dong-Sun reclamou, franzindo levemente as sobrancelhas de forma desgostosa.

— Ainda assim você não devia fazer essas coisas, Dong-Sun! Aish, o que há com a privacidade nos dias de hoje?

Arrasô, Arrasô. Eu não quero perder tempo com isso. Só vim fazer a checagem noturna. — Olhando para baixo, rabiscou algo no papel que trazia em sua prancheta. — Onde está seu companheiro de cabine, Choi Ma-Ru?

Min-Ki arregalou os olhos novamente, imaginando o que o representante faria ao encontrar um casal de estudantes sozinhos em sua cabine. Mas o pior mesmo seria como justificar a presença de Eun Jae no alojamento masculino.

Aish, que droga! O que havia com sua má-sorte naquele dia?

Precisava fazer alguma coisa e depressa, antes que mais alguma coisa acontecesse e tudo voltasse a desmoronar novamente. Min-Ki amaldiçoou sua sorte mentalmente, dizendo a si mesmo que precisaria procurar um templo religioso assim que retornasse a Seul. Deixando aquele pensamento de lado, se concentrou no momento presente e em tudo que estava em jogo.

W-w-weo?! — Gaguejando, Min-Ki se postou diante da porta e se espalhou, de forma a impedir a entrada do representante no quarto de Ma-Ru. — Por que você quer saber de um estudante que é de outra turma?

— O professor me pediu para cuidar deles também. Afinal, somos seus sumbaes.

Aish, o que há com esses professores? Tão inconvenientes...

— Você enlouqueceu? Não pode falar assim de um professor. Saia da porta.

Mianhae, Dong-Sun. Ando trabalhando tanto esses dias que minha mente está assim. Ser um trainee de uma agência famosa é...

Min-Ki começou a enrolar da melhor forma que sabia, contando uma de suas histórias longas e cansativas de um astro em ascenção, mas aquilo não pareceu comover o Representante, que se limitou a olhá-lo de forma reprovadora.

— O que ainda está fazendo aí? Saia.

— Aigoo, Representante Yoon. Você está impaciente por nada. Choi Ma-Ru está somente tomando um banho. E ele não gosta de ser perturbado quando está ocupado com suas coisas.

Aquela desculpa tão esfarrapada soou fraca até mesmo seus próprios ouvidos, quanto mais para o representante da turma, que olhou para o colega de classe novamente, dessa vez com um brilho de suspeita no olhar.

— Ya, o que você está escondendo? Está agindo de forma suspeita.

Aish, como pode ficar pensando essas coisas de mim? — Tentando apelar para seu lado mais dramático que convencia a qualquer um, Min-Ki levou a mão até o peito e se fingiu de ofendido com aquela suspeita sobre ele.

— Mova-se. Eu preciso ver por mim mesmo.
Min-ki se espalhou diante da porta com os braços abertos, tentando impedir o representante de turma de entrar no quarto de Ma-Ru.

Anyio, como um sumbae pode acabar com a privacidade de um estudante dessa maneira?!

— Mova-se, isso não é da sua conta. — Fechando os dedos em volta da maçaneta da porta, girou-a brevemente, antes que Min-Ki entrasse em sua frente, tampando a porta e impedindo-o.

Arassô, Arassô. Eu vou chamá-lo. E depois não diga que eu não lhe avisei! — Min-Ki suspirou desanimado, mas não havia nada que pudesse fazer para arrancar o representante dos estudantes daquela cabine.

Preferia deixar que Eun Jae e Ma-Ru resolvessem as coisas sem nenhuma interferência, mas aquele representante chato e tedioso que só sabia estudar jamais contrariaria a ordem de um professor e deixaria de inspecionar as cabines, conferindo se todos os estudantes estavam nos locais para os quais haviam sido designados. Fechando o punho, Min-Ki bateu contra a porta, irritado por interrompê-los em um momento como aquele.

*****

Inconsciente do risco que corriam dentro do quarto, Eun Jae estava hipnotizada pelo brilho distinto nos olhos dele, que pareciam surreais. Todo o resto simplesmente sumiu de sua cabeça naquele instante, parecendo ser coisa demais para sua mente. Parecia inacreditável que depois de tanto tempo de procura, finalmente havia encontrado seu Ma-Ru, o bom amigo que havia se tornado alguém muito especial em seu coração.

Todas as perguntas e indagações sobre as atitudes dele também sumiram, insignificantes. A proximidade perturbadora trouxe um tom avermelhado para seu rosto delicado, colorindo suas faces com um leve rosado. No entanto, antes que qualquer um dos dois pudesse fazer algum movimento, uma batida forte na porta fez com que ambos se entreolhassem, paralisados.

Por um momento de terror, a maçaneta da porta fez um leve ruído quando começou a se mover, parecendo girar lentamente. Ma-Ru e Eun Jae continuavam se entreolhando assustados, cada qual sem saber o que fazer naquela situação.

Duas vozes lá fora pareceram debater por um momento, até que outra batida na porta pudesse ser ouvida com clareza, fazendo com que se movessem no instante seguinte.

— Ya, Choi Ma-Ru! Você morreu aí dentro? — Min-Ki Sumbae bateu de novo, parecendo aborrecido com aquela demora toda. — O representante da turma precisa fazer uma inspeção nas cabines dos estudantes, abra.

Ma-Ru, que tinha ficado irritado ao ouvir a voz asquerosa daquela sub-celebridade insuportável, ficou pálido ao saber da presença do representante da classe. Eun Jae ficaria muito encrencada por ser encontrada no quarto de um rapaz. A direção da escola certamente não teria nenhum receio de entrar em contato com os severos tios dela.

No mesmo instante, se ergueu e se afastou dela, indo pegar uma camisa em sua bolsa de viagem. Eun Jae também pareceu ter se dado conta da gravidade da situação, pulou da cama imediatamente e olhou em volta de forma aflita, como se buscasse algum lugar onde se esconder durante a tal inspeção.

Nada. A cama alta não oferecia um abrigo seguro, e além de uma cadeira e uma escrivaninha, não havia sequer um armário naquele quarto.

— Aish! É o fim. Vamos simplesmente morrer! — Levando as mãos ao próprio rosto, a voz de Eun Jae ecoou pelo quarto, parecendo alta demais.
No mesmo instante, Ma-Ru colocou uma das mãos sobre os lábios dela, ao mesmo tempo em que levava a outra sobre seus próprios lábios, pedindo silêncio.

— O que foi que você disse, Ma-Ru? Não conseguimos entender. — A voz do representante da turma ecoou do outro lado da porta, um pouco mais alta que a de Min-Ki.

— Eu estava dormindo, vou abrir em seguida! — Ma-Ru resmungou a primeira desculpa que passou por sua cabeça, algo que lhe daria segundos preciosos para formar um bom plano que os tirasse daquela enrascada.

Eun Jae ainda estava em pânico, andando em círculos pelo quarto enquanto balançava as mãos de forma desesperada. De toda forma, não serviria de nenhuma ajuda naquele momento. Segurando-a pelos ombros, Ma-Ru empurrou-a contra a cama de qualquer jeito. A garota caiu na cama de olhos arregalados, sem entender o propósito.

Despindo-se novamente da camisa, jogou-a de qualquer jeito sobre o piso e deixou que a calça jeans ainda desabotoada se juntasse a ela no chão. Quase riu ao ver Eun Jae engolir em seco e tampar os olhos com as mãos, mas não havia tempo para aquilo. Agindo depressa, Ma-Ru puxou o grosso cobertor que estava dobrado aos pés da cama e o abriu, cobrindo-a completamente.

No momento seguinte, juntou-se a ela na cama e se cobriu também. Imediatamente, sentiu o corpo dela se enrijecer sob o cobertor, enquanto Eun Jae se mexia, tentando escapar da cama. Em um tom de voz baixo, recomendou a ela que não dissesse uma palavra e apertou os braços em volta da garota, apertando-a contra seu próprio corpo despido e contendo-a.

Procurando se acalmar, Choi Ma-Ru respirou fundo e fechou os olhos, fingindo que estava dormindo No exato momento em que Min-Ki e o outro rapaz discutiam entre si novamente, dois segundos depois, a porta foi aberta com certa violência.

— Ya, Dong-Sun! Ser representante da turma não te dá o direito de invadir o quarto de um estudante e... — Min-Ki começou a tagarelar depressa, enquanto segurava o braço do colega, ainda tentando impedi-lo de entrar no quarto.

Ya, o que é isso? Eu estava dormindo, ia me levantar e abrir em seguida! — Colocando seu tom mais duro de voz em cada palavra, Ma-Ru tentou demonstrar que estava o mais irritado possível.

— Chesonghamnida, estudante. Eu só precisava fazer o meu trabalho, mas Min-Ki estava agindo de forma estranha. — O representante se curvou em uma breve reverência educada, oferecendo suas sinceras desculpas de um maneira formal.

Enquanto Dong-Sun estava ocupado falando com Ma-Ru, Min-Ki demorou apenas um breve momento para captar no ar o que acontecia ali. Seus olhos varreram o quarto desesperadamente, e ao ver que Eun Jae não estava à vista, suspirou pesadamente e abriu um de seus sorrisos tolos. Puxando a cadeira que estava junto à escrivaninha, sentou-se ali e se abanou, aparentando cansaço.

Ainda bem que Ma-Ru era esperto e havia conseguido perceber o perigo que estava correndo. Como não havia nenhum móvel grande o bastante para ocultar a menina, certamente devia tê-la enviado para o banheiro. Sabia que ela não havia ido embora por que estava espionando secretamente a conversa alheia.

Somente quando Dong-Sun virou-se para reclamar novamente com o colega, que Min-Ki viu a cama se remexendo de modo anormal e finalmente entendeu o que havia acontecido. Seus olhos ficaram esbugalhados ao encarar Choi Ma-Ru, passando pelos cabelos úmidos e as roupas jogadas pelo chão.
Aigoo, estavam todos mortos!

— Jin-jja? Ya, Choi Ma-Ru, você quer morrer? — Respirando profundamente, Min-Ki começou a se abanar ainda mais, parecendo estar às portas de um ataque de nervos.

— O que foi? — O representante da turma revesou um olhar astuto entre os dois, tentando captar aquilo que parecia oculto no ambiente. Infelizmente para ele, nenhum dos dois lhe deu uma pista sequer do que havia de errado por aqui.

Balançando a cabeça em um movimento de negação, deu de ombros e ignorou aquele rompante do colega, que era um verdadeiro mestre em chamar a atenção.

— Min-Ki Sumbae é um pouco... Esquisito. Eu não sei o que aconteceu, só estava dormindo um pouco. — Ma-Ru voltou a falar, agora aparentando uma tranquilidade que estava longe de sentir.

Felizmente, o outro estudante nada pareceu perceber. Talvez as esquisitices excêntricas de Min-Ki já fossem bastante conhecidas por seus colegas de classe. Rabiscando algo em sua prancheta, apenas concordou com o que Ma-Ru dizia e olhou o próprio relógio, parecendo preocupado.

— Estou atrasado, já devia ter ido conferir as cabines das estudantes. — Balançando novamente a cabeça em uma negativa para si mesmo, Dong-Sun puxou Min-Ki consigo e tornou a fechar a porta do quarto de Ma-Ru, decidido a não incomodá-lo além do necessário.

O próprio Ma-Ru se recostou contra o travesseiro e fechou os olhos, respirando profundamente aliviado. Finalmente aquela tortura havia acabado e estavam a sós novamente. Eun Jae continuava quieta em seus braços, tendo ficado paralisada quando o representante da turma havia entrado no quarto para a inspeção.

— Acho que perdi todas as minhas memórias de juventude... — A voz dela soou baixa e levemente abafada contra o cobertor, fazendo Ma-Ru sorrir, achando graça.

— Ainda não acredito que escapamos disso.

Eun Jae balançou a cabeça, ainda escondida pelo cobertor, mas logo tornou a parecer tensa em seus braços. Por um momento, Ma-Ru olhou para a porta do quarto, pensando que Min-Ki e o Representante haviam retornado.

— Ya, o que foi, Eun Jae?

A coberta subitamente pareceu voar da cama e a garota pulou dali em seguida, parecendo tão desesperada quanto estava quando Min-Ki e Dong-Sun entraram no quarto antes.

Michyeosseo?! Você não ouviu o que o Representante Yoon disse?

Ma-Ru piscou duas vezes, olhando assustado com aquele rompante de Eun Jae. Eles estavam a salvo, por que ainda estava agindo daquela forma?

— Eun Jae, o que... — Mas sequer precisou concluir o que estava dizendo.

Arregalando os olhos tanto quanto ela, Ma-Ru levantou-se da cama e recolheu suas roupas do chão depressa, vestindo-se de qualquer jeito. Em poucos momentos, o Representante estaria passando pelo dormitório das garotas e veria que Eun Jae não estava lá.

Eun Jae agiu mais depressa que Ma-Ru daquela vez, enquanto ele se vestia, já havia formado sozinha seu próprio plano. Quando o garoto se deu conta, a menina já havia escancarado as janelas do quarto, estreitando os olhos ao tentar enxergar lá fora.

— Está tão escuro...

Ma-Ru se aproximou da janela e também olhou lá fora, como se tentasse enxergar as mesmas coisas que ela procurava na escuridão. Não conseguiu enxergar muita coisa naquele breu intenso, logo tornou a olhar para ela sentindo-se confuso. Talvez ela estivesse procurando o Representante Yoon, ou alguma outra pessoa?

Eun Jae escalou a janela com relativa facilidade, o que fez com que Ma-Ru arregalasse os olhos novamente. Ela só podia ser louca se achava que podia sair por ali, daquela forma! Não havia a mais remota chance de que ele a deixasse sair por aquele local.

— Ya, Eun Jae! Michyeosseo? Você não pode sair por aí! — Mal havia falado e ela já havia escalado o parapeito da janela, se endireitando ao colocar os pés no gramado úmido lá fora.

— E por acaso você tem alguma ideia melhor? Eu vou ter que voltar ao interior se for expulsa da escola! — Eun Jae encarou novamente o rosto de Ma-Ru, se demorando um momento a mais a observá-lo. — Eu vou indo, nos falamos durante o café da manhã. — Um momento depois, já havia desaparecido pelo escuro, sem que ele pudesse detê-la.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.