Clichê

Capitulo 20


Eu acordei bem cedo, assim que a luz do sol entrou dentro da barraca eu despertei. Acabei me assustando um pouco com Bruna tão agarrada a mim, mas assim que a vi lembrei da noite anterior. O nosso tão esperado beijo. Ela fica mais linda ainda dormindo, juro que se pudesse ficava o dia todo a olhando.

Como isso não era possível, optei por me levantar e fazer uma surpresa para loira. Me movimente o mínimo possível para sair da barraca sem acorda-la. Quando cheguei ao lado de fora, meus olhos reclamaram um pouco da claridade mas logo se acostumaram. Então fui até a cozinha para preparar um café da manhã pra mim e pra ela, dentro dos meus limites culinários, claro.

Peguei algumas torradas, frutas, sucrilhos, leite e suco. Já estava ótimo! Coloquei tudo em uma bandeja e fui até a loira. Ela não havia acordado ainda quando cheguei, então a fiquei olhando por uns bons minutos...

Eu não queria acorda-la, mas já estava ficando impaciente com tanta demora. Voltei a me deitar do lado dela e comecei a dar beijinhos em seu rosto. Ela não demorou pra abrir os olhos e assim que o fez, me olhou sorrindo:

– Que jeito bom de acordar... - ela disse entre um bocejo.

– Eu trouxe café pra você.

– Obrigada. - ela pegou um torrada e mordeu - mas então, o que a gente vai fazer hoje?

– Não sei - me deitei no colo dela - o que você quiser...

– Eu quero aprender a andar de skate! Me ensina?

– Serio? - acabei rindo e me agarrei mais ainda a perna dela - É claro que eu ensino, mas pode ser depois?

– Não - ela se deitou sobre mim e me deu um selinho - tem que ser agora.

– Tudo bem então, a gente come e vai né, fazer o que... - revirei os olhos.

Nós comemos quase tudo que estava naquela bandeja e depois fomos nos trocar. Iriamos andar de skate no parque Ibirapuera. Eu insisti muito para que a Bruna colocasse os equipamentos de segurança já que sabia bem como são feios os primeiros tombos. O parque não era longe de casa mas iriamos de taxi mesmo assim, levamos Nolan com a gente para ele passear um pouco. Peguei dois skates e uma mochila com algumas coisinhas pra gente e principalmente pro Nolan.

Assim que terminamos de nos arrumar o interfone tocou, era o porteiro nos avisando que a taxi havia chegado. Deixei um bilhete para os meus pais avisando que havíamos saído já que eles ainda estavam dormindo e segui em direção a portaria.

Em poucos minutos já estávamos no parque. Enquanto eu pagava a corrida de taxi, Bruna saiu correndo junto com meu cachorro. Não me esforcei muito para alcança-la, subi no meu skate e fui atrás dela, logo estava ao seu lado. A loira pegou o skate que eu havia pego pra ela e tentou subir nele.

Ela teve dificuldade para conseguir subir naquela prancha de madeira, mas no fim acabou conseguindo, sem a minha ajuda. O problema começou junto com as primeiras tentativas de remadas. O skate ia e Bruna ficava, eu fiquei sentada na grama rindo daquela cena enquanto Nolan descansava no meu colo:

– Desisto! - A loira sentou ao meu lado.

– Você nem tentou direito. - a abracei e ela se aconchegou no meu abraço.

– Claro que tentei! E você falou que ia me ajudar mas não vi ajuda nenhuma.

– Vem então. - levantei e estiquei meu braço para que ela se levantasse também. - sobe no skate.

– E agora?

– Segura minha mão, se você cair eu te seguro.

– Sei... Magrinha desse jeito?

– Confia em mim poxa! - fiz bico.

– Tudo bem. - ela riu e pegou minha mão - E agora?

– Agora rema.

– Mas eu vou cair.

– Não vai não, eu estou aqui do seu lado, sem contar que se cair do chão não passa. - abri um sorriso.

– Engraçadinha...

Bruna começou a se esforçar para conseguir andar no skate. Ela remava se apoiando em mim e eu a seguia dando paços largos. Ela conseguiu andar sozinha por um tempo quando a soltei. Andava um pouco e parava. Ficamos assim por um tempo, ela tentando encontrar o jeito certo de se equilibrar e eu a seguindo, respeitando seu ritmo.

Confesso que estava bem entediada ali. Eu amo andar de skate, mas o que me provoca esse sentimento é o vento no rosto, a velocidade em ladeiras e as curvas, não ficar parando a cada dez segundos por medo de cair. Mas me vi com uma paciência que nunca tive para nada e estava achando até bonitinho ver ela se esforçando para conseguir alguma coisa.

Tudo estava indo bem até Bruna se desequilibrar e tomar um tombo. Eu não pude conter o riso:

– Para de rir e vem me ajudar. - A loira exclamou.

– Não consigo, foi muito engraçado! Por que eu não filmei isso?? - voltei a rir.

– Vai logo Giovana! - fui até ela e estiquei o braço para que ela se levantasse.

– Não precisa ficar brava também né? Nem machucou!

– Como não? Olha aqui meu braço todo ralado. - ela me mostrou um único e minúsculo ralado pouco abaixo do cotovelo que me fez rir mais ainda.

– Que dramática! Você estava com proteção, podia ter sido bem pior.

– Drama nada! Esta doendo! - ela cruzou os braços e fez bico.

– Vem aqui que eu te dou um beijinho pra sarar. - abri um sorriso e antes de ir até ela e a abraçar, ela sorriu de volta e juntou nossos lábios.

– Eu estou com fome... - a loira disse no meio dos nosso beijo.

– Nossa! Você é tão romântica que chega a doer.

– Eu já me declarei demais pra você ontem - ela revirou os olhos - e depois de todo esse esporte eu estou com fome, não tenho culpa.

– Vamos pra casa comer então.

Nós duas pegamos um taxi para voltar pra casa, cerca de dez minutos depois já estávamos lá. Quando chegamos, meus pais já haviam acordado e estavam na cozinha preparando o almoço. Nós passamos por eles e fomos direto pro meu quarto. Bruna assim que entrou se jogou na minha cama:

– Você esta folgada demais não acha? - disse e me deitei sobre ela.

– Eu já sou de casa. - ela sorriu e abraçou meu pescoço.

– Acho que você deveria tomar um banho - fiz uma careta.

– Isso é um convite?

– Caramba - eu ri - quem diria...

– Estou só brincando! - ela me beijou - me empresta uma roupa?

Deixei ela livre no meu armário, afinal aquela não seria a primeira vez que ela iria usar roupas minhas. Acabei cochilando enquanto Bruna tomava banho, acordei com ela em cima de mim me chamando para comer.

Nosso almoço foi como todas as outras refeições em que Bruna participou. Ela conversava animadamente com cada membro da minha família e eu ficava apenas olhando quase sem me manifestar.

Depois de comermos, minha mãe não nos deixou ajudar com a louça, então fomos para o jardim.

– Eu tenho que ir pra casa agora - a loira me disse.

– Já? - fiz um bico.

– Sim - ela riu - eu fiquei mais aqui do que lá esse fim de semana.

– isso é ruim?

– Claro que não - ela me deu um selinho.

– Bruna? Como vai ser amanhã?

– Na escola?

– Na frente de pessoas que a gente conhece.

– Como você quer que seja?

– Do jeito que esta sendo aqui.

– Então vai ser.

– Serio?

– Sim, eu não tenho vergonha nenhuma disso, até porque não estamos fazendo nada de errado.

– Isso é verdade...

– Tenho mesmo que ir pra casa agora.

– Eu te levo.

Acompanhei a loira até sua casa, nos despedimos com um beijo e voltei para a minha.

Eu estava impressionada com a naturalidade com que Bruna estava tratando nosso relacionamento. Não achei que ela fosse tão evoluída assim. Mesmo depois de ouvi-la falar que na escola as coisas seriam como estavam sendo aqui, alguma coisa dentro de mim não me deixava acreditar. Eu realmente não ligo para a opinião dos outros, prezo pelo minha felicidade apenas, o resto é resto, mas será que Bruna seria a mesma pessoa na frente de todos os seus amigos e seu ex-namorado?

Miguel. Só fui me lembrar dele agora, ele com certeza se tornara ainda mais insuportável depois de nos ver juntas como um casal, não como amigas. Ele seria um problema, mas um problema que eu estava disposta a enfrentar.

Parando para pensar em tudo, talvez Miguel não seja nosso único problema. Mas eu estou feliz, Bruna é a pessoa que eu gosto, e depois de tudo que ouvi sair de sua boca acho que ela sente o mesmo por mim. Então eu vou pensar no agora. No final de semana maravilhoso que tive, nas outras coisas eu penso depois.