Clichê

Capitulo 14


Acordei com minha irmã pulando na minha cama:

– Sai daqui sua louca - eu gritei - vou ser pisoteada. Socorro!

– Para de ser escandalosa - ela se jogou em cima de mim - por que você esta sem roupa?

– Porque sim, não posso?

– Pode ué, mas se troca porque tem visita pra você.

– Essa hora? As pessoas não sabem que só podem ir até a casa dos outros depois do horário de almoço?

– São três horas da tarde, idiota! - ela revirou os olhos.

– JÁ? Por que ninguém me acordou?

– Papai não deixou, disse que você deve um dia muito cheio ontem, mimadinha.

– Ciumenta! - eu gritei e ela me mostrou a língua - Mas Barbara, quem esta ai?

– Sua namorada, e vai logo porque ela já esta esperando faz algum tempo - ela fez um cara de deboche e saiu correndo do meu quarto.

Me levantei em um pulo e peguei a primeira roupa que achei no armário. Estava escovando os dentes quando ouvi batidas na porta. Fui com a boca suja de pasta e a escova entre os dentes abri-la. Pedi pra Bruna entrar e fiz um sinal para que ela esperasse um minuto enquanto eu terminava o que havia começado, ela riu da minha situação e concordou com a cabeça.

Sai do banheiro e me deparei com a loira praticamente deitada em minha cama bagunçada. Ela olhava para todos os cantos. Joguei uma almofada nela tentando tira-la do transe em que se encontrava.

– Seu quarto é lindo - ela disse sorrindo.

– Gostou? Eu que fiz - me sentei ao pé da cama.

– Serio? Tipo tijolo por tijolo? - ela riu.

– Não né - revirei os olhos - eu escolhi tudo que tem aqui dentro, e todos esses desenhos fui eu mesma que fiz - disse um pouco orgulhosa.

– Caramba! Então você desenha muito bem, parabéns.

– Obrigada.

– Eu te trouxe um coisa - só agora eu reparei na sacola que ela trazia nas mãos - é pra te agradecer por ontem.

Ela me entregou uma sacola colorida que estava cheia de chocolates.

– Não precisava.

– Precisava sim, você me aguentou chorando, me distraiu a tarde e ainda foi comigo pro hospital. Não é todo mundo que faz isso, sem contar que a gente mal se conhece...

– Não seja por isso. Eu odeio acordar cedo, amo sair nos finais de semana, dormir e comer são provavelmente as coisas que eu mais gosto de fazer, adoro quando fazem carinho em mim, odeio Mcdonalds, quando eu vou lá como só as batatas, AMO chocolate e pretendo comer esses daqui agora mesmo - apontei pra sacola - me acompanha?

– Claro - ela disse rindo - mas a gente pode fazer isso no jardim?

– Podemos.

Fomos para o jardim da minha casa e passamos a tarde lá falando sobre nos. Coisas fúteis e sem importância na maioria das vezes, mas com certeza coisas que eu nunca havia falado com ninguém. O tempo passou rápido. Quando Bruna foi embora o céu já estava escuro:

– Você já vai? - perguntei

– Vou, já esta tarde.

– Então tá bom...

– Ótimo? - ela sorriu pra mim

– Ótimo! Quer dizer, nada ótimo! - fiz a minha melhor tentativa de cara triste. Ela riu se aproximou, me deu um beijo na bochecha e se foi.

Entrei em casa mais feliz do que havia saído. Meus pais estavam na sala conversando, eu me deitei no colo de minha mãe e entrei na conversa enquanto ela brincava com algumas mechas do meu cabelo. Meu pai segurava meus pés do outro lado do sofá. Barbara desceu as escadas com cobertores:

– Tem lugar pra mim?

Eu me sentei e deixei que minha irmã sentasse do meu lado e nos cobrisse.

– Vamos ver um filme antes do jantar? - sugeriu minha mãe.

– Eu topo! Contanto que eu possa escolher - concordei e sorri.

– Não vai dar tempo, eu vou sair mãe - foi a vez de Barbara falar.

– Ah não! Fica com a gente só hoje - meu pai fez bico e começou a apertar a barriga dela - Por favor.

– Ta! Ta! Tudo bem! - minha irmã levantou os braços em sinal de rendição - mas o filme sou eu quem escolho. - ela tirou o controle da minha mão e começou a procurar algum filme na TV.

Eu nem reclamei, estava feliz demais, meu dia tinha sido ótimo. Me aconcheguei nos braços de minha mãe. Assisti ao filme entre uma cochilada e outra, apertada no sofá com minha família. Depois jantamos uma comida que minha mãe mesmo tinha feito. Meu pai queria sair mas a preguiça foi maior que isso. Que saudade que eu estava de ficar assim com eles, fazia tempo que a gente não ficava tanto tempo junto, por mim teríamos uma noite na semana reservada para esses momentos.

E para terminar, talvez o melhor dia que eu tive desde que voltei para o Brasil fui dormir com no quarto da minha irmã. Ela até queria conversar mas eu estava cansada demais, acabei logo pegando no sono.