Clara

Uma palavra


''De todas formas mais dificies de amar , a mais difícil concerteza é amar em segredo''- @biapieva - on twitter.

- Eu preciso parar de pensar nele, Clara. Ele mentiu para mim , isso é imperdoável , mas porquê ele mentiria?- Bia perguntou com a cabeça apoiada no meu colo , enquanto eu tentava consolá-la sobre o possível término dela e do Gabriel.

- Certa vez me disseram que garotas se apaixonam pelo que ouvem, garotos se apaixonam pelo que veem. É por isso que as meninas usam maquiagem e meninos mentem.- eu disse e ela me fez uma cara feia , e pelo seu olhar tive certeza que não era aquilo que ela queria ouvir.

- Urgh! É horrivel quando você fala que nunca ia conseguir viver sem uma tal pessoa e essa pessoa faz o favor de sumir da sua vida.- ela reclamou emburrada enquanto eu alisava seus cabelos ruivos.

- Você está fazendo um escândalo,o Gabriel ama você. Ele há muito tempo atrás deixou claro que não faria a peça se você não concordasse além disso repetiu várias vezes para você que poderia haver algum romance entre ele e a personagem principal e a senhorita disse com toda clareza que ele poderia fazer e você não teria um ataque.- eu disse e minha amiga resmungou alguma coisa em minha direção.

- Eu fui praticamente humilhada no meio de toda a escola , eu aposto que na segunda já vou ser chamada de chifruda , corna e ter que usar uma sacola de plástico para esconder a minha cabeça e me automutilar todas as tardes pela vergonha.- ela disse e eu ri com o exagero da garota ruiva na minha frente.

- Foi um beijo técnico, Bia.- disse pela milésima vez naquela tarde e ela continuou resmungando palavras sem sentido. - Além do mais você disse '' deixa pra lá '' quando ele veio se desculpar.

- No vocabulário feminino “deixa pra lá” e “não é nada” são sinônimos de “insista mais, mostre que se importa''.- ela disse com a voz impaciente e eu revirei os olhos , rindo.

- E o Daniel?- ela perguntou certo momento fazendo meu coração disparar. É como se só ele fosse dono daquele nome ou melhor do meu coração, pois só vem ele na cabeça. Meu coração parece inflar, tenho uma euforia desenfreada , meu corpo todo fica quente e eu me lembro de sua voz aveludada , tudo isso por um garoto pelo qual eu só troquei algumas palavras.

- Ah , o mesmo de sempre.- respondi rouca e vi o desapontamento no seu olhar mas fingir não perceber , amarrei meu cabelo num coque frouxo e me joquei na minha cama olhando para o teto monotonamente branco.

- Você gosta mesmo dele não é ?- ela perguntou levantandada e eu acenei com a cabeça fazendo ela suspirar.- Você sabe que eu não apoio essa sua paixão mas se você gosta mesmo dele vá em frente , sei que não é desse ano que você se apaixonou por esse garoto e sim há muito tempo , ele não deve ser o tipão que sua mãe imaginou mas ... porquê não ?

- Eu não entendo! Antigamente amor não tinha '' tipo'' , você amava e pronto. Agora a razão vem além da emoção , temos que escolher uma pessoa que tenha uma relação ecônomica, política e social estável para depois nos apaixonarmos. O que há de errado com o Daniel ?- eu perguntei levemente irritada mas assim que disse o seu nome , fui tomada por uma paz.

- Ele é um bolsista , que se veste com bermudas rasgadas , chinelo havaiana , camisa encardida e uma toca de lã furada além disso mora numa periferia sabe se lá de onde conseguiu a bolsa já que suas notas são baixas , nem sei como não foi expulso já que apronta tanto e nem duvido que ele participe de alguma máfia e tenha um acordo com o diretor que tem bem uma carinha de quem cheira subtâncias ilícitas tipo dois saquinhos por uma estadia escolar eterna. Sei lá , tem trilhões de possibilidades!- ela despejou tudo em cima de mim e eu ri , Daniel nunca faria nada disso, eu via ele de um geito que ninguem via e eu sabia que ele nunca se envolveria com esse tipo de coisa.

- Se você acha... - eu disse despreucupada.

-Só me prometa uma coisa ,pare de achar que tudo que quer pra sua vida vai cair do céu. Comece a lutar, porque a vida passa e você está ai...parada sem lutar pelo seu amor.- ela disse com a mão no peito deixando a frase ainda mais dramática.

- E se não der certo?- eu perguntei incerta.

- Bom, se não der certo você ao menos vai poder dizer que tentou. - ela disse e eu por um instante considerei a possibilidade.

- Já percebeu que temos tanto medo de perder aquilo que a gente nunca teve de fato?- eu disse, repensando sobre tudo.

- Que tentar?- ela perguntou. Eu só havia falado com ele uma vez e foi em um completo acidente, o que me trazia uma expectativa ainda maior de uma segunda troca de palavras e o fato de eu praticamente quebrar todas as regras do '' tipão da mamãe'' me fazia sentir uma adrenalina jamais sentida , afinal eu era politicamente correta. Nunca fiz nada que pudesse ser remotamente perigoso ou que saísse do meu dia-a-dia , eu odiava completamente quebrar o cotidiano mas algum impulso bem no fundo do meu coração me fez falar a única e pequena palavra que mudaria tudo daqui em diante.

- Sim.