Um segundo se passou e eu não senti o calor das chamas da Quimera, mas sim um rugido de dor vindo dela que me deixou bem confuso.

– Mais oque? – perguntei me apoiando em um braço, virando um pouco para olhar para a Quimera e fiquei surpreso ao ver o que tinha acontecido com ela.

A Quimera tinha uma flecha cravada em seu olho direito, da cabeça de Leão, e uma faca estava atravessada abaixo da cabeça de serpente da sua calda de serpente – isso deixa muitos confusos –, talvez, no pescoço da serpente.

– Uma foto perfeita. – ouvi a voz de Mandy vinda do meu lado. Mandy estava abaixada com um sorriso no rosto segurando uma câmera digital que estava apontada para mim e Annabeth.

– Pelos Deuses. – Annabeth me empurrou para o lado me tirando de cima dela me fazendo bater a cabeça no chão, bem que essa maldição de Aquiles podia ser indolor também, e encarou Mandy com fúria. – O que você tem na cabeça?

– Momentos moe, como esse. – respondeu a filha de Afrodite sorrindo. Seus olhos pareciam estar brilhando – É tão moe.

– Momentos moe? – perguntei confuso coçando a nuca nervosamente. – O que é moe?

– Você esta assistindo muito anime shoujo ultimamente, Mandy, principalmente Kaichou wa Maid-sama. – disse Annabeth balançando a cabeça negativamente. – Não sei quantas vezes você já assistiu esse anime e leio o mangá dele.

– A historia é emocionante. E não seria nada mal ter um Usui Takumi na minha vida. – disse Mandy com ar de sonhadora apaixonada.

Suspirei desanimado. Fui ignorado completamente e nem fazia ideia do que elas estavam falando, a não ser que se tratava de um anime e que Edwin seria trocado rapidamente se esse tal de Usu existisse.

Annabeth tentou se levantar, grande erro. Ela havia se apoiado no pé direito e se desequilibrou pela dor que sentiu caindo de bunda no chão. Novamente suas mãos foram para seu tornozelo direito.

– Anna... – o rugido da Quimera me interrompeu.

Senti uma forte onda de calor começando pelo meu braço esquerdo e minha blusa e camisa romperam em chamas me cegando. A maldita Quimera tentara me acertar, mas pelo jeito sua mira não esta muito boa.

– Percy! – gritou Annabeth desesperada me ajudando a tirar a roupa em chamas.

Mesmo eu sendo filho de Poseidon e tendo a maldição de Aquiles eu sentia o calor passar por minha pele, a dor era horrível parecia veneno. Do que será que era “feita” essas chamas da Quimera para fazer isso comigo?

– Não joguem para o meu lado essa bola de fogo. – gritou Mandy desesperada se esquivando da minha roupa em chamas.

Se querer Annabeth acabou jogando a roupa em chamas para o lado que coincidentemente era a onde Mandy estava, mas foi sem querer mesmo e uma mera coincidência, eu acho.

– Ei, vocês três. Não fiquem ai. – a voz de Marvin vinha um pouco longe do nosso lado direito.

Ele estava alguns metros longe da Quimera segurando três pequenas laminas em cada mão e tinha uma faca machete de lamina cumprida presa na cintura do lado esquerdo e pendurado em suas costas envolta de uma bainha estava uma faca Bowie.

O meio-irmão da Annabeth é um obcecado por facas de todos os tipos, quando ele começa a falar sobre facas da até medo de ficar no mesmo lugar que ele tamanha sua obsessão por elas, e ele diz que aprendeu a manuseá-las porque admira Annabeth e ela quase sempre luta usando uma faca.

Ele tem uma vasta coleção delas, claro que elas estão no acampamento e se alguém mexer nelas terão o mesmo destino de quem mexe nas coisas de Annabeth. Ou seja, olá tio Hades.

Mais uma coisa em comum que esses dois irmãos têm é nunca parar de falar do que gosta, então é por isso que eu sei um pouco sobre os tipos de facas que ele esta usando.

O que me deixou mais surpreso foi ver Nico di Angelo, filho de Hades, ao seu lado. Ele empunhava sua espada de ferro estigio em posição de luta.

– Nico? – murmurou Annabeth confusa.

– Encontramos ele no caminho quando estávamos voltando ao percebermos que vocês não tinham seguido a gente. – respondeu Mandy e Annabeth olhou mortalmente para o filho de Hades que encolheu um pouco os ombros.

Nico vivia matando aulas. Esse garoto era pior do que eu na escola quando tinha a idade dele, 13 anos, acho que é porque ele ainda não se acostumou. Essa era a primeira vez que ele frequentava uma escola nessa época.

Nessa época mesmo. É um pouco complicado e uma longa historia, mas Nico tem mais de 80 anos. Se bem que por quase 70 anos ele ficou preso em um casino. Pois é, bem vindo ao mundo maluco de meio-sangue.

– Annabeth, como se mata essa coisa? – perguntou Edwin que estava em cima do que restou do muro da escola com seu arco em punho e uma aljava de flechas pendurado nas costas.

– Precisão acerta-la com um golpe profundo é o único jeito que eu sei. Foi isso que Berelofonte fez. – disse Annabeth por entre os dentes enquanto tentava se levantar, em vão novamente.

– Sua teimosa é comovente. – falei sorrindo me lembrando de quando a gente assistiu Como Treinar o Seu Dragão e isso faz ela abrir um sorriso.

Tampei contracorrente e a coloquei de volta no meu bolso. Passei um dos braços de Annbeth sobre o me ombro e a ajudei a se levantar segurando em sua cintura para ela manter o equilíbrio.

– Não é bem assim que o Soluço fala e principalmente, ele não esta sorrindo em hora nem uma quando diz isso. – comenta ela divertida.

– Atualizações são necessárias. – falei sabiamente fazendo ela rir. Annabeth estava fazendo diversas caretas enquanto tentava andar, jogando quase todo o seu peso para cima de mim. – Acho melhor eu te ca...

– Muito moe vocês dois, mas se não quiserem ser comida de monstro sugiro que se abaixem. – disse Mandy me interrompendo pegando alguma coisa da bolsa pendurada em seu ombro, que só agora vi, e assim que Annabeth e eu nós abaixamos ela jogou com força seja lá o que for por cima de nossas cabeças.

Escutei uma pequena explosão atrás de mim e senti o cheiro de perfume francês. Olhei para Mandy arqueando uma sobrancelha e ela sorriu infantilmente.

Deixei Annabeth e Mandy longe de onde a Quimera estava atacando – Annabeth não queria ficar, mas seu tornozelo discordava disso – e voltei correndo para ajudar Nico, Marvin e Edwin. A policia logo estaria aqui, tínhamos que ser rápido.

Os três estavam respirando ofegantemente e tentavam se livrar das cabeças e patas da Quimera. Edwin já estava quase sem flechas, Marvin só tinha a Bowie em mãos e Nico tinha além de sua espada um guerreiro esqueleto ao seu lado, coisa de filho de Hades.

Destampei contra corrente e me juntei a eles.

– Estou sem flechas. – gritou Edwin rolando pelo chão quando a Quimera tentou pisoteá-lo.

– Você não pode manda-la para o Tártaro, Nico? – perguntei, foi a primeira coisa que passou pela minha cabeça ao me lembrar que ele havia feito uma coisa assim há mais ou menos três anos e isso salvou minha vida.

– Bem que eu queria, mas ela é grande e eu não tenho muito força para abrir e fechar um buraco com ligação direta para o Tártaro sem que eu esgote completamente as minhas energias. – disse ele um pouco frustrado.

Precisávamos de um novo plano para acabar com ela já que esse não seria valido.

Olhei para contra corrente em minha mão e uma ideia me ocorreu. Quem melhor do que um filho de Apolo para acertar o alvo? Claro, tem as caçadoras de Ártemis, mas eu não vejo nem uma caçadora por perto.

Esse pequeno segundo para pensar foi o suficiente para a Quimera me querer como alvo. Quando dei por mim vi o imenso monstro pular em minha direção.

– Edwin! – gritei jogando minha espada na direção do filho de Apolo e senti o corpo da Quimera me jogar contra o muro de um edifício.

Com a visão um pouco embaçada vi Edwin em pé em cima de um poste lançar minha espada com força em direção a Quimera. A cabeça de Leão estava concentrada em mim e em Nico que havia se postado rapidamente na minha frente apontando sua espada para o monstro, mas a calda de serpente tentou desviar a minha espada.

Porém Marvin agiu rápido e lançou sua Bowie contra a calda decapitando a cabeça da serpente e a minha espada cravou até o cabo nas costas da Quimera que rugiu alto antes de se transformar em pó.

– Ufa. – Marvin caiu de costas no chão respirando ofegantemente. – Graças aos Deuses.

Edwin desceu do poste e nós dois ajudamos Marvin a caminhar, o menino estava tão cansado que não conseguia andar. Nós quatro fomos até a onde deixei Annabeth e Mandy.

Um minuto depois carros de policia, caminhões de bombeiro e ambulâncias apareceram.

Nico foi até o pátio da escola e pegou a minha mochila e a dos outros, ele foi rápido, mas demorou a voltar isso porque ele queria se livrar do sermão que iria receber de Annabeth por ter matado aula, porem foi em vão já que ele levou mesmo assim quando voltou.

Ainda bem que Edwin sempre trazia um conjunto de roupa extra para a escola e me emprestou sua camisa. Eu não podia ficar andando por ai só com uma calça jeans e tênis com uma bolsa pendurada no ombro.

Estávamos em volta de uma ambulância enquanto que um paramédico cuidava do tornozelo dela. Já tínhamos ligado para nossos pais mortais explicando a situação.

Os noticiários diziam que um touro bravo tinha feito tudo aquilo e que Nico, Marvin, Edwin e eu estávamos tentando espantar o animal com tacos de beisebol.

Serio que os mortais viram um touro, um TOURO, em vez da Quimera? Esses mortais.

A escola tinha sido evacuada minutos depois que a confusão da Quimera começou pelas portas do fundo, por isso eu não tinha visto nem um aluno e só vi pessoas que eu não conhecia gritando de um lado para outro.

E por causa das destruições na propriedade da escola ficaríamos sem aula por três dias e só voltaríamos no ultimo dia de aula para acertar algumas coisas que faltassem para a nossa passagem de ano.

– Pronto. – disse o paramédico. – Recomendo ficar de repouso pelos próximos dias.

– Então estou liberada? – perguntou Annabeth já ficando de pé com a ajuda do paramédico.

– Se é assim que você quer... – ele deu de ombros. Annabeth se apoiou em Nico que estava mais perto dela enquanto que o paramédico fechava a porta da ambulância depois de pegar uma maleta de lá. – Mas lembre-se de ficar de repouso e qualquer coisa é só me ligar. – ele deu um papel para Annabeth. – Até mais, vou ajudar a outra ambulância.

Com isso o cara saiu indo até a outra ambulância que estava alguns metros longe da gente.

– Cara folgado. – falei pegando o papel da mão de Annabeth e o rasgando em pequenos pedacinhos fazendo meus amigos rirem de mim. – O que foi?

– Vamos para outro lugar. – falou Annabeth vindo até mim passando seus braços pela minha cintura. – Ficar aqui no meio disso tudo, não é bom.

– O que eu perdi? – perguntou Nico confuso.

– Vem comigo que eu te explico. – disse Mandy passando um braço em torno do de Nico e o puxou andando a nossa frente contando sobre tudo, sobre tudo mesmo, que aconteceu comigo e com Annabeth.

Marvin e Edwin seguram logo atrás dos dois enquanto que eu e Annabeth ficamos para trás. Annabeth estava apoiada em mim para ela poder “caminhar”.

– Hum, me desculpe pelo que eu disse ontem. – falei sinceramente parando de andar e fazendo Annabeth me encarar. – Eu infelizmente escolhi as palavras erradas. Não coloque um ponto final no nosso relacionamento, eu te amo muito e preciso de você para viver. Eu... – Annabeth me calou de uma ótima maneira. Ela me calou com um beijo.

– Eu te desculpo e me desculpa pelo meu ciúme, eu só... – Annabeth mordeu o lábio inferior e os olhos de ficaram mais tempestuosos como se ela tivesse se lembrado de algo nada legal. – ... eu só tenho medo de te perder.

– Você não vai me perder. – segurei seu rosto entre minhas mãos e olhei em seus olhos. – Nós vamos ficar juntos. Você não vai ficar longe de mim nunca mais, essas horas que ficamos separados foram bem ruins para mim. Então, nunca mais.

– Juntos. – disse ela me puxando para mais um beijo.

– Ah que lindo, o casal moe voltou. – disse Mandy com uma voz infantil.

– Eih, Annabeth! – gritou alguém alarmado assustando a gente. Um cara alto de cabelos loiros e olhos verdes vinha em nossa direção com o rosto preocupado.

– Uau, que cara lindo. – disse Mandy sorrindo maliciosamente.

Edwin fechou a cara imediatamente olhando mortalmente para o cara que vinha em nossa direção provavelmente pensando em alguma forma de mata-lo, mas o cara não percebeu como sua morte estava próxima e se aproximou de nós com rapidez.

– Eu perdi mais do que a Mandy estava me contando, não é?! – Nico olhou para Marvin e ele assentiu. – Esses são ótimos motivos para eu não querer ter relacionamentos.

– Você fala isso agora. – disse Marvin divertido e Nico deu de ombros, fingindo indiferença.

– Ethan. – disse Annabeth acenando para o cara.

– Você conhece esse cara? E de onde? – perguntei e Nico olhou para mim com um sorriso maroto e movimentou os lábios sem emitir som dizendo a palavra “ciúmes” me fazendo rolar os olhos. Mais um.

Só para deixar claro eu só estava curioso. Porque as pessoas sempre têm que entender, na maioria das vezes, errado o que eu faço ou falo? Eu hein.

– Sim. Da biblioteca. – respondeu ela como se isso não fosse nada. – Ele vai lá de vez em quando e ele tem uma lanchonete perto da biblioteca. Eu e alguns amigos vamos lá sempre que saímos da biblioteca.

Quando o tal do Ethan chegou perto da gente Annabeth foi pulando em um pé só até ele e lhe deum forte abraço no qual foi prontamente atendido.

– Ainda não esta com ciúmes? – perguntou Marvin perto de mim. Tentei dar um tapa na cabeça dele, mas o filho de Atena foi rápido e se esquivou.

– Esta muito longe do seu caminho habitual. Se perdeu por acaso, Ethan? – perguntou Annabeth quando se separou dele.

– Eu estava na biblioteca quando soube o que tinha acontecido na sua escola e como eu sei que você sempre arranja um jeito de estar no meio de uma confusão vim ver se você estava bem já que seu celular não estava ligado ou fora da área de cobertura. – respondeu ele sorrindo. – Fico feliz que esteja bem. Apesar de você estar como o “Saci Pererê”.

– Obrigada. – disse ela rindo.

– Que nome é esse que ele falou? – perguntou Edwin confuso assim como Nico, Mandy e eu.

– É um personagem do folclore brasileiro. – respondeu Marvin e imediatamente nós três o encaramos. – Oque? Não me olhem assim só porque eu sei uma resposta.

– Tem razão. Foi um filho de Atena que respondeu a pergunta, nem uma surpresa. – disse Mandy abando a mão. – Mas como você sabe sobre esse sani?

– É “Saci”. – corrigiu Marvin fazendo a filha de Afrodite rolar os olhos. – E eu sei sobre ele porque a Annie me emprestou um livro que falava sobre a cultura brasileira e tinha uma parte dedicada ao seu folclore.

– Eu não entendo como vocês conseguem saber da própria cultura e ainda tem tempo para saber da cultura de outros países. – comenta Edwin.

– Só gostamos de aprender coisas novas. – se defendeu Marvin. – Qual o problema disso?

– Nem um. – disse Nico de forma sarcástica fazendo o filho de Atena bufar e murmurar “ignorantes” pra gente. Palavra essa que nós ignoramos.

– ... Se é assim, tudo bem né, fazer oque? – a voz desanimada de Ethan chamou nossa atenção. – Espero que melhore. – ele deu um beijo no rosto de Annabeth e acenou para a gente. – Até mais.

– Você sabe o telefone dele? – perguntou Mandy e Edwin quase avançou em direção a onde o cara estava indo se Nico e Marvin não tivessem o segurado e tampado a boca dele.

– Mandy, pode parar com isso, pelo amor dos Deuses. – pediu Marvin e ela fez biquinho.

– Oque vocês conversaram? – perguntei para Annabeth que estava com o rosto pensativo.

– Ah é verdade. – ela me ignorou completamente. – Ver o Ethan me lembrou de que eu tenho que fazer uma coisa. Como eu fui me esquecer logo disso? – perguntou Annabeth para si mesmo batendo na própria testa. – Vou até a biblioteca, preciso...

– Eu vou com você. – falei interrompendo ela e Annabeth me olhou desconfiada.

– Você? – Nico apontou para mim arqueando uma sobrancelha. – Em uma biblioteca?

– Tudo bem, eu sei que eu nunca vou com a Annabeth na biblioteca, mas hoje eu resolvi que quero fazer algo diferente e que de preferencia seja junto com você. – falei sorrindo olhando para Annabeth dando de ombros. – Acho que pode ser legal.

– Mas você ir a uma biblioteca? – disse ela de forma descrente, mas eu podia ver a pitada de sarcasmo e brincadeira na sua frase.

– Qual é, não tira uma com a minha cara. – falei fechando a cara e ela abriu um sorriso. – Eu posso mudar de ideia e resolver fazer outra coisa diferente.

– Se você quer assim. – disse ela dando de ombros.

– Talvez, eu vá com você, Annabeth. – disse Mandy e se virou lançando um olhar fulminante ao seu namorado. – O Ethan parece um cara legal, mais do que alguns que eu conheço.

– Ah então você vai ficar assim só por causa daquilo? – explodiu Edwin se soltando de Nico e Marvin. – Isso é infantilidade, pode parar com isso agora mesmo...

– Nem pensar. – falei pegando na mão de Annabeth sem dar importância para a discussão que se seguia com Mandy e Edwin. – Vamos até a biblioteca.

– O que o bendito do monstro do ciúme não faz. – ouço Marvin comentar. – Até o Percy esta indo em uma biblioteca.

– Mais uma vez, agradeço por não estar em um relacionamento. – murmurou Nico.

Só para deixar claro mais uma vez, eu não estou com ciúmes.

Fim

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.