– Me conta tudo, gorda! - Regina me puxou assim que pisei em casa.

– Contar o que...

– Cala a boca! Eu vi tu beijando o senhor Romeu ali embaixo! - ela falou dando pulinhos.

– Não tem nada pra contar... - dei de ombros, mas dei um sorriso ao lembrar dele.,

– Olha esse sorriso bobo na sua cara. - ela apontou pro meu rosto - É obvio que tem alguma coisa rolando. - Regina sorria e batia palminhas.

– Vou ir pro meu quarto. - revirei os olhos quanto a reação dela, mas era bem bonitinho até. O sorriso da Regina desapareceu e ela segurou meu braço.

– Blake...

– O que?

– A... Caroline. Ela esta aqui.

– E COMO ELA ESTA?! - gritei - Por que não me disse antes?!

– Eu ia falar, mas não queria estragar a sua noite, voce parecia tão feliz.

– Eu tenho que ir falar como ela, Regina faça tudo mas não deixe ninguém entrar naquele quarto até eu sair, entendido? MUITO menos o Lucas.

– Ta bem.

Corri para o meu quarto e quando entrei lá as luzes estavam apagadas, fiquei com medo da Caroline fazer alguma idiotice, ela não tinha muitos motivos pra viver, entende? Sem familia, sem amigos, sem dinheiro, sem futuro. E se o Lucas fosse o que motivasse ela a continuar? E se... Não! Não quero pensar nisso.

Liguei as luzes e encontrei ela sentada no canto do meu quarto, ela não estava fazendo nada, não estava chorando, só encarava o nada. Quando entrei ela não de mexeu e permaneceu olhando para o mesmo ponto. Era meio sinistro, admito.

– Carol? - fechei a porta e me aproximei dela, ela não reagiu e nem se mexeu. Sentei ao seu lado e a abracei de lado. - Carol, não se preocupe tudo vai ficar bem.

– Como tudo pode ficar bem? Eu não tenho nada! - ela finalmente falou alguma coisa, foi como um sussurro, ela ainda não tinha olhado pra mim.

– Tem a mim.

Finalmente olhei para onde ela estava olhando, uma mochila - acredito que fosse dela - mas isso não vem ao caso, dentro da mochila havia montanhas de dinheiro, era pra isso que ela estava olhando: o dinheiro.

– Caroline, com esse dinheiro tenho certeza que você consegue estudar!

– Eu não queria ter esse dinheiro. - ela sussurrou.

– Ah? Espera, por que?

– O jeito que eu consegui ele é... - ela suspirou - Nojento.

– Eu sei, mas agora voce pode parar. Eu te ajudo.

– Não Blake, você não entende...

– O que eu não entendo?

– O Lucas - ela suspirou.

– O que tem ele?

– Ele me deu esse dinheiro, não todo, mas boa parte. A parte que fez com que eu tivesse dinheiro suficiente para estudar. - agora ela estava chorando, não muito, só algumas lágrimas que iam dos seus olhos até seu pescoço.

– Mas, qual o problema? Eu sei que o Lucas tem suas economias, tenho certeza que ele não fez nada de ruim pra conseguir esse dinheiro...

– Não! Ele fez! Ele pagou pela nossa noite. A noite em que eu achei que ele gostasse de mim, a noite em que eu achei que ele não estivesse transando comigo só por prazer e sim porque ele sentisse algo a mais. Ele pagou, ele me usou, como todos usam, como uma prostituta. - ela gritava agora - Ele estava simplesmente fazendo a mesma coisa que todos os homens fazem comigo, me usam e depois jogam fora. Como um brinquedo! Ele pagam, usam e no momento em que se cansam dele jogam fora. Eu estou cansada de ser um brinquedo, eu sou uma pessoa, eu tenho sentimentos, e estou cansada de ninguém ver isso.

Suspirei, era pior que eu pensava. Ela não estava só com raiva, ela estava desistindo. Desistindo de tudo. E eu não queria pensar nisso, mas talvez, só talvez, desistindo da... Vida.

– Não chora. Você não vai ser mais usada por ninguém, eu vou pagar sua escola, voce vai estudar e vai se formar. Vai ter amigas e encontrar um garoto que vai te amar, não só por uma noite e sim pela vida toda.

– Meu sonho Blake, desde que eu era pequeninha era me casar. Ter filhos e imaginar eu aos oitenta anos ao lado do mesmo garoto, com ele me amando do mesmo jeito. Mesmo com os peitos caidos, com os cabelos brancos e verrugas, ele estar me amando do mesmo jeito que me amava quando eu era loira, e chamava atenção pelas ruas. - ela deu um riso triste - Estranho, né? Uma vadia falando isso.

– Vadia?! Voce é a garota mais... Perfeita, que eu conheço. Tudo bem, conheço poucas garotas, mas daquelas que conheci, nunca, nunquinha, nenhuma delas foi tão especial quanto voce foi. Caroline, voce é a melhor pessoa que eu conheço.

– Obrigada, Blake. - pela primeira vez desde que entrei no quarto ela olhou nos meus olhos. E então ela sorriu. - Posso... Passar a noite aqui?

– Que pergunta! É claro que sim! - ela se levantou e eu a abracei.

– BLAKE! VEM AQUI AGORA! - ouvi alguém gritando o meu nome lá na sala, pela voz só podia ser a Regina.

– Eu já volto. Caroline, não faz nenhuma coisa idiota enquanto eu não estiver aqui.

– Você acha que eu posso me matar?! - ela falou surpresa e eu fiquei feliz, porque pelo jeito isso nunca tinha passado em sua cabeça.

– Er... Talvez.

– Não sou idiota Blake, eu nunca nem pensei nessa possibilidade. Eu nunca me cortei, uma faca nunca nem passou perto de mim. Posso estar passando por um momento dificil, mas vai passar. Eu sei que vai. - ela sorriu e eu a abracei.

– Vou lá ver o que a Regina quer.

Corri até a cozinha e sabia que só podia ser isso pelo jeito que Regina me chamou, então não fiquei surpresa.

– Lucas. Oi. - forcei um sorriso.

– Nossa, sua felicidade é contagiante. - ele disse sarcastico.

– Caroline esta aqui.

– Ah... - ele suspirou.

– Como pode ser tão idiota? Voce pagou pela noite?

– Achei que assim ela fosse ficar menos brava.

– Voce praticamente chamou ela na cara de prostituta! Nenhuma garota ia gostar de ser paga depois de transar com o garoto que gosta.

– Perai, voce pagou?! - Regina se meteu.

– Sim. - ele deu de ombros.

– Como pode ser tão imbecil? Era mais fácil dizer "só queria dar uns pegas em ti, toma aí a grana e nunca mais fala comigo". - Regina disse, e fiquei feliz em ter alguém do meu lado.

– Desculpa se eu não sabia o que fazer. - ele se defendeu.

– Cara, tu é muito imbecil mesmo. - revirei os olhos - Só complicou as coisas ainda mais, a Caroline nunca vai te perdoar.

– Espera! - Regina disse - Voces se gostam?

– Quem?

– Tu - ela apontou pro Lucas - E a Caroline?

– Não. - ele disse.

– Sim. - Regina falou - Que coisa mais bonitinha. - ela deu aqueles sorrisos bobos que só garotas conseguem dar, bem, eu nunca consegui dar um sorrisinho inocente e ao mesmo tempo pervertido daqueles.

– A Caroline ta afim de mim...

– Afim? Ela esta apaixonada, imbecil. - falei.

– Então vai ser mais fácil fazer com que ela pare de me odiar?

– Vai ser ainda mais dificil. - Regina falou - Garotas apaixonadas e com sede de vingança são as mais dificeis.

– É mesmo. - dei de ombros.

– Mas eu posso ajudar. - Regina falou.

– Como?

– Eu sou uma garota e ao contrario da Blake-não-romantica aqui, eu sei como conquistar uma garota.

– Vai me ajudar?

– Mesmo não merecendo, sim.

– Valeu mesmo Regina! Mas, eu quero que fique claro: só amigos. Não quero que a Caroline pense que eu sinto algo a mais por ela.

– Idiota, por enquanto o que ela sente por ti é ódio, primeiro dá um jeito nisso, depois pensa em namoro ou não.

– Namoro: não. - Lucas disse - Não sou o tipo de cara que namora.

– Foda-se. Vou ajudar e vai ser do meu jeito, entendido?! - Regina é mandona quando quer.

– Claro.

– Agora tchau. - disse enquanto abria a porta da cozinha pra ele sair.

– O que? - ele perguntou.

– Voce não vai ver a Caroline hoje, deixa ela se acalmar primeiro. - ele ia falar mais alguma coisa, mas eu bati a porta na cara dele.

– Como pretende fazer a Caroline perdoar o Lucas? - arqueei as sobrancelhas para Regina.

– Não faço a minima ideia. - ela deu de ombros - Ei, Blake, são onze horas da noite, posso ser sua amiga mas seu pai disse que as regras aqui em casa mudaram e isso inclui a hora de ir dormir...

– Hora de dormir? Não tenho mais cinco anos.

– Fala isso pro seu pai. Ele me mata se ficar sabendo que voce ainda esta acordada, ainda mais amanha voce tem aula.

– Ta, ta, ta...

Depois de conversar só mais um pouquinho com Regina fui para o meu quarto e Caroline continuava na mesma posição, é sério, parecia que ela não tinha mexido um musculo, ela me encarava paralisada e se ela não fosse loira, pareceria aquela garota que sai de dentro da tv... O olhar dela era morto e algumas lágrimas escorriam, já sua maquiagem estava borrada e seu rimel estava tornando suas lágrimas em um tom de cinza á preto. Ela usava um moletom e uma blusa cinza, estava abraçada em seus joelhos e me olhava com um olhar que não consegui decifrar.

– Era o Lucas, não era? - ela disse em quase um sussurro e que não sei como ouvi.

– Sim. - abri o armario e procura de um pijama pra ela.

– Não precisa me emprestar um pijama, eu durmo com isso que estou usando Blake. É só por essa noite, eu prometo...

– Já chega! - gritei e toquei o pijama no rosto dela - Eu não vou fazer isso de novo. Eu vou te emprestar roupas Caroline, voce pode dormir aqui, pode comer aqui, voce é como uma irmã pra mim. Para de se desculpar, para de agradecer, para de prometer, só... Tenta ser feliz.

– Eu te amo, Blake. - ela finalmente se levantou do ligar onde estava e veio me abraçar.

– Um cobertor pra voce. - alcancei pra ela - Mas tem uma regra pra morar aqui, voce vai arrumar um emprego. Um emprego de verdade, entendeu?!

– Claro.

– E mais uma coisa, limpa essas lágrimas. Ele não merece.

– Não merece? Ele é seu melhor amigo.

– Por isso eu sei que ele não merece. O Lucas é... Um idiota quando se trata de garotas. - ela passou a mão no rosto e limpou as lágrimas e agora sorria um falso sorriso.

Passou uma semana, duas semanas, três semanas, um mês, dois meses... Tudo parecia ter voltado ao "normal". Posso dizer bem a verdade? Eu gosto desse "normal". Eu gosto de namorar o Bernardo, eu gosto de não ter só o Lucas como amigo, eu gosto de ter a Caroline, eu gosto de me sentir... Normal. Bernardo havia me apresentado aos seus pais, foi bem estranho...

– Então essa é a querida Blake?

– Que lindo esse seu vestido. - sim, eu usei um vestido. Ele era florido e até tentei colocar um salto, devo dizer... Cinco centimetros?

– Prazer. - eles fizeram questão de me dar dois beijinhos na bochecha e me deixaram sentar ao lado do Bernardo na mesa.

O clima estava um pouco... Estranho. Não era só a namorada do filho, era a garota que estava sacrificando todo o seu futuro para ficar com o um garoto, basicamente: era uma garota louca.

Caroline ainda não tinha ido estudar, estava esperando a matricula e eu estava ajudando ela a arranjar um emprego... Sem sucesso. Mas eu não vou desistir, e fico feliz (ou triste?) em dizer que o ultimo "cliente" dela foi o... Bem... O Lucas.

Jason? Na mesma. Ele tem se comportado, claro, ele se aproveitava quando estou distraida e sempre acaba dando um jeito de pegar na minha mão, me dar um beijo na bochecha e muito perto da boca e me carregar no colo (isso eu não tenho o que reclamar, já que odeio caminhar).

Rebecca, Elle e Belle? Ainda saio com elas, falo com elas e até conversamos bastante. Não que eu tenha mudado minha opinião delas serem patricinhas populares, mas eu estou começando a entender elas. Elas não são más garotas, esse é o jeito delas e talvez só eu que esteja vendo elas como as garotas más iguais a "Regina George" de "meninas malvadas".

– Podemos começar logo isso?! - Lucas gritou.

– Ta, acho que já pode começar a se aproximar da Caroline. Ela já se acalmou um pouco. - Regina disse.

– Tinha que esperar dois meses pra ela se acalmar?

– Querido, ela é uma garota, o certo séria esperar um ano. Vai por mim Lucas, ela nunca, nunquinha vai esquecer aquilo. - enquanto Regina e Lucas conversavam sobre Caroline eu só comia minha maçã, já que eu era totalmente inutil quando se trata "garotas". Mesmo eu sendo uma. Eu não entendo o que as outras garotas pensam, pra mim elas são confusas demais.

– O que acha Blake? - Lucas arqueou as sobrancelhas.

– Acha do que?

– Meu Deus Blake, presta atenção!

– Desculpa, desculpa... O que foi?

– O que acha que eu devo fazer, eu quero a amizade da Caroline de volta. Me ajuda, por favor.

– Discutam voces dois, me deixem comendo minha maçã.

– Por favor, Blake... - ele juntou as mãos e se agachou na minha frente como se pedisse perdão por alguma coisa... Revirei os olhos.

– Leva ela em um encontro... Não é disso que as garotas gostam? Encontros? - dei de ombros, nos filmes que assisti com a Rebecca os "encontros" são as coisas mais bonitinhas do mundo.

– Um encontro? Que coisa mais besta...

– PERFEITA! VOCE É UM GENIO! - Regina gritou interrompendo o Lucas.

– Genio?! - eu e o Lucas falamos ao mesmo tempo, foi... Engraçado.

– Sim! Eu posso planejar tudo, Lucas! O que voces vão fazer, o que voce vai dizer, eu sei como controlar as coisas.

– Mas encontro não é o tipo coisa de namorado?

– Foda-se Lucas, quer a amizade da Caroline de volta ou não?!

– Tudo bem... Mas tem que ser muito bem planejado esse negocio aí, falo?

– Certissimo! Voce vai ser o garoto dos sonhos, entendeu? Vai ser querido, fofo, educado, romantico...

– Lucas? Isso aí? Putz... Estamos ferrados. - ri sozinha.

– Eu posso ser romantico.

– Ah é? Em outra dimensão só se for.

– Claro que posso!
– Lucas, encare os fatos: voce não é romantico.

– Sou sim e eu vou ser. Eu vou conquistar a Caroline... Como amiga.

– Duvido. Voce não é romantico por natureza.

– Então temos uma aposta, senhorita Blake.

– Ta bem. - o Lucas não é romantico, duvido que ele consiga ganhar de mim nisso. - Mas é o seguinte, a Regina não vai planejar nada do encontro, nem te ajudar.

– Mas... - ele prostestou.

– Sem essa Lucas, palavras de boca pra fora é fácil, quero ver voce ser um verdadeiro Romeu.

– Claro, minha Julieta. Apostado.

– Ah, mas eu queria tanto planejar o encontro. - Regina disse.

– Não e não.

– Tudo bem. - Regina fez beicinho.

– Voce fica muito gostosa quando faz isso, sabia? - Lucas disse pra Regina.

– Que romantico. - revirei os olhos.

– Tchau, Blake. Só não chora depois que perder a aposta.

– Sei... Tchau irritante.

– Te amo. - ele disse e eu arqueei as sobrancelhas. - Estou sendo romantico.

– Vai se catar. - eu disse - Também te amo. - ele sorriu e saiu.

Quero só ver como vai terminar essa história de encontro.