Oliver, Katy e eu passamos o restante da tarde juntos, finalizando os últimos detalhes da decoração, embora a minha expectativa e a animação devido à Festa do Peixe tivesse sido substituída por minha fuga para Bruges.

— Então, vamos seguir nosso plano – Disse Katy enquanto caminhávamos pela trilha da floresta – Nos encontraremos no horário combinado, vamos passar pela festa para que você seja vista e depois nos encontramos na praia.

Concordei com a cabeça e olhei para Oliver, ele tinha o olhar distante e ouvia tudo que Katy e eu combinávamos em silêncio. Quando Katy e eu nos despedimos, ele segurou minha mão entrelaçando nossos dedos e seguimos pelos caminhos de pedras que davam na trilha da minha casa.

— Oli – Eu sussurrei quebrando o silêncio entre nós – Eu sei que será difícil nos afastarmos, mas...

Ele sorriu e pausou seus passos olhando em meus olhos – Não estou triste por partir Liz – A mão destra dele se ergueu e ele tocou minha bochecha – Estou triste por ter demorado tanto a falar o que sinto.

Sorri olhando nos olhos dele – Eu não quero ficar longe de você.

— É seu sonho Liz, e eu amo você, portanto quero que realize seus sonhos, mas confesso que tenho medo de que conheça outro cara.

— Não seja bobo – O repreendi – Você poderia me visitar e eu vou sempre escrever.

— Me perdoe por pensar nisso.

Fiquei na ponta dos pés e aproximei nossos lábios iniciando um beijo, senti as mãos dele em minha cintura puxando meu corpo e mais uma vez eu me senti nas nuvens, quando nossos lábios se afastaram ele sorriu beijando minha testa – Nos encontramos em duas horas na praia.

Concordei com a cabeça.

Nos despedimos com um breve selinho, um gesto que se tornou rotina e que sempre me aquecia o coração. Oliver ficou tomou a direção contrária, enquanto eu me dirigia para casa, ansiando para que as horas passassem depressa. No entanto, ao me aproximar de casa, algo inusitado chamou minha atenção.

Mel, estava do lado de fora, próxima à lixeira. Mel e tia Maeve não costumavam lidar com o lixo; essa era uma tarefa que geralmente ficava para mim. A cena parecia fora do comum. Observei Mel lançar um saco de lixo na lixeira com um movimento rápido e decidido, olhando ao redor como se quisesse se certificar de que ninguém a visse. Meu instinto me dizia que algo estava errado.

Esperei um momento, me escondendo atrás de uma árvore até que Mel entrou de volta na casa. A curiosidade me consumia. Caminhei silenciosamente até a lixeira e, com um rápido olhar para garantir que não havia ninguém por perto, peguei o saco que Mel havia jogado fora.

O que poderia estar ali dentro que justificasse esse comportamento furtivo? Segurei o saco de lixo em minhas mãos, sentindo meu coração bater mais rápido. O mistério se aprofundava e, naquele instante, eu sabia que precisava descobrir o que Mel estava escondendo.

Afastei-me um pouco da casa, encontrando um local mais seguro para inspecionar o conteúdo do saco. A noite começava a cair, e as sombras se alongavam, criando um cenário perfeito para um segredo ser revelado. Respirei fundo antes de abrir o saco, preparada para o que quer que encontrasse ali dentro.

Abri o saco e percebi que dentro havia uma caixa vermelha – Isso só pode ser uma bomba – murmurei temerosa em abrir a caixa e quando finalmente criei coragem tirei a tampa, ergui as sobrancelhas ao ver dentro alguns pedaços de papel rasgados, parecia ser uma fotografia misturada a pedaços de jornal, retirei os pedaços tentando compreender e o pequeno saquinho de tecido chamou minha atenção.

— Mas o que...

Peguei o pequeno embrulho e puxei o fio o abrindo, me surpreendi ao ver a pulseira prateada de berloques de coração com pedrinhas rosa – Que linda – sussurrei olhando a pulseira – Porque Mel a jogaria fora? Perguntei a mim mesma.

Recolhi o saco e peguei a caixa colocando a pulseira dentro e cuidadosamente retornei à lixeira deixando o saco dentro, segui pelos fundos da casa e entrei na surdina correndo para meu quarto.

A atitude de Mel me havia me deixado bastante intrigada, porém eu não tinha tempo para uma investigação mais precisa, peguei minha mochila e organizei algumas peças de roupas dentro, não que eu tivesse muitas, eu sempre usava as roupas usadas da Mel, coloquei as peças surradas na mochila e olhei para caixa a colocando dentro.

— Elizabeth! Tia Maeve gritou no corredor, assustada escondi a mochila debaixo da cama. – O que faz aí que ainda não preparou o jantar? Ela perguntou ao entrar em meu quarto.

Tentei disfarçar meu nervosismo – Eu estava indo preparar.

Ela me lançou um olhar de desconfiança – Se não prepara-lo em vinte minutos, esqueça a maldita festa.

Sacudi a cabeça de forma positiva e passei ao lado dela indo direto para a cozinha, para meu desespero a cozinha estava uma bagunça.

— Não, como vou terminar tudo em vinte minutos?

Eu sabia que elas haviam feito aquilo de propósito para que eu não fosse a festa.

Preparei o jantar e ignorei as louças, eu contaria com a sorte para sair sem que elas perecessem por isso deixaria a bagunça para que elas arrumassem, após alguns gritos de minha tia segui para a sala de jantar com uma bandeja nas mãos deixando o jantar sobre a mesa.

— Espero que meus ovos estejam bem mexidos – Reclamou Mel enquanto eu servia seu prato, respirei profundamente, Mel era insuportável, talvez fosse por isso que ela nunca havia se casado, era uma quase quarentona encalhada.

— Você arrumou a cozinha? Perguntou tia Maeve.

— Vou fazer isso agora – Respondi a servindo – Primeiro preparei o jantar.

As duas trocaram olhares e sorriram – Está esperando o que para ir limpar?

— Estou indo – respondi deixando a bandeja sobre a mesa e voltei a cozinha.

— Calma Liz só mais uma hora – Sussurrei lavando os pratos.

Tia Maeve foi até a cozinha e olhou da porta para se prontificar de que eu estava fazendo o que ela havia ordenado, fingi que não a tinha visto e quando ela finalmente foi para seu quarto, sai indo na ponta dos pés para meu quarto, quando passei próximo ao quarto dela a ouvi conversando com Mel, elas pareciam insatisfeitas.

— Treze anos e ele continua nos dando esse valor insignificante – Disse tia Maeve.

Parei por alguns segundos e ao percebe que elas ficaram em silêncio repentinamente eu corri para meu quarto, tranquei a porta e peguei minha mochila.

— Estou atrasada – Reclamei colocando a mochila nas costas e abri a gaveta do meu criado mudo pegando meus documentos, abri a janela do meu quarto e olhei para os lados, como estava totalmente seguro joguei a mochila sem fazer barulho e em seguida sai, fechei a janela colocando novamente a mochila nas costas e corri na direção da floresta.

Por alguns minutos corri sem olhar para trás.

Eu sorri ao ouvi o som da banda que tocava na festa se tornar mais alto, caminhei entre os moradores e cumprimentei alguns dele, ao me ver a senhora Thompson me ofereceu um ponche, aceitei e segui em direção à praia.

Quando pisei na areia eu avistei a lancho atracado na beira da praia, Katy acenou ao lado de seu pai, sorri e apressei meus passos.

— Eu estava preocupada, achávamos que sua tia não tivesse a deixado sair – Disse Katy.

— Temos que ir meninas, não podemos ser vistos – disse o senhor Throne.

— Espera, cadê o Oliver?

Katy balançou a cabeça – Ele não veio.

Suspirei, talvez ele não quisesse se despedir, embora sentisse um aperto no meu coração eu o compreendia, Katy entou no barco e pegou minha mochila, o senhor Thorne ligou o motor e eu olhei novamente para trás e quando me preparei para entrar no barco eu ouvi aquela voz que fez meu coração acelerar.

— Liz...

Olhei para trás e sorri ao vê-lo correr – Oli – sussurrei e corri em sua direção o abraçando, ele tirou meus pés do chão e me girou no ar me abraçando forte.

— Desculpa a demora.

— Achei que não viesse.

— Achou que eu não me despediria de você? – Ele tocou uma mecha do meu cabelo e selou meus lábios – Boa sorte Liz, espero que não volte, porque quero que passe no exame e realize seu sonho.

— Oli, eu te amo.

— Eu também te amo ruivinha, vai lá, não esquece de mim.

Concordei com a cabeça e selei os lábios dele, a mão dele segurou a minha até eu me afastar o suficiente para que soltasse e então retornei ao banco.

— Podemos ir? Perguntou o senhor Thorne.

Concordei com a cabeça e olhei para Katy que sorriu, o barco finalmente partiu e eu olhei para Oliver parado na beira da praia, ele acenou dando adeus e eu senti uma lagrima rolar em meu rosto.

Era difícil dizer adeus a Oliver, mas eu precisava partir.