Seguimos viagem rumo a Fynn na lancha da polícia, com o coração pesado e a mente repleta de pensamentos. Miller e a equipe policial estavam concentrados, cada um imerso em suas tarefas, enquanto eu tentava manter a calma. A travessia parecia interminável, cada onda que enfrentávamos era um teste à minha paciência e esperança.

Chegamos à ilha no final da tarde. O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu com tons de laranja e rosa. Os moradores da região nos olharam com curiosidade e desconfiança, especialmente ao verem a presença da polícia. Era um lugar pequeno e tranquilo, onde a chegada de estranhos, especialmente de autoridades, certamente causava alvoroço.

Miller foi o primeiro a descer da lancha, segurando a foto de Elizabeth, a quem os moradores conheciam como sobrinha de Maeve. Ele se aproximou de um grupo de pescadores que conversavam perto do cais, exibindo a foto para eles.

— Estamos procurando a guardiã dessa menina, chamada Maeve Dwyer. Alguém sabe onde podemos encontrá-la? — Perguntou Miller, com a voz firme e autoritária.

Os pescadores se entreolharam, trocando olhares preocupados. Finalmente, um deles, um homem de meia-idade com rosto marcado pelo sol e mãos calejadas, deu um passo à frente.

— Essa é a Liza. Ela morava com a tia Maeve. — Ele fez uma pausa, coçando a cabeça. — Maeve foi embora da ilha há alguns dias, depois que Liza fugiu de casa.

— Pode nos levar até a casa delas? — Perguntei.

— Posso, sim. Sigam-me — respondeu o pescador, cujo nome era Tom.

Tom nos guiou por uma trilha que serpenteava pela vegetação densa da ilha. Enquanto caminhávamos, meu coração batia mais rápido a cada passo. A casa de Maeve,o lugar onde ela escondeu minha filha por tantos anos.

Chegamos a uma bonita casa de madeira, simples e isolada, rodeada por árvores e com uma vista para o mar. Estava claro que ninguém estava lá. A casa parecia abandonada, mas com sinais de que havia sido habitada recentemente.

— Aqui é onde elas viviam — disse Tom, parando em frente à porta. — Não sei para onde foram, mas me digam uma coisa, Liza está bem?

— Muito obrigado, Tom — disse Miller, antes de se virar para mim e para os outros policiais.

— Sim, Liza está bem – Respondi ao homem que parecia preocupado.

— Que bom — Sua feição se tornou mais leve — Todos na ilha gostamos muito dela, e sentimos sua falta.

— Vocês a conhecem a muito tempo?

— Quando Maeve chegou, Liza tinha uns seis anos, ela cresceu por aí, solta, Maeve nunca demonstrou gostar de Liza, ela comia na casa dos moradores. Aquela bruxa a maltratava.

As palavras do homem me nocautearam. Saber que minha filha havia crescido daquela forma, havia passado fome me deixou dilacerado — Obrigado por cuidar da minha filha.

— Sua filha? O homem demonstrou surpresa.

— Maeve sequestrou Liza, que na verdade se chama Jassie, ela está segura e protegida agora.

— Sempre soube que tinha algo errado com aquela mulher e a filha — Disse o homem — Sempre se escondendo, nunca saia de casa.

— Ela pagará por seus crimes — Respondi.

Me despedi do homem e entrei na casa. O interior era modesto, com poucos móveis e quase nenhum objeto pessoal. Vasculhamos cada canto, procurando por qualquer coisa que pudesse nos dar uma pista sobre o paradeiro de Maeve e não encontramos nada. A casa estava vazia, e a sensação de desespero começou a crescer em mim. Maeve não podia ficar impune.

— A equipe irá recolher evidências, vê se encontra algo — Disse Miller — A partir de amanhã Maeve é uma procurada pela polícia.

Quando retornamos ao porto da ilha, o crepúsculo já havia começado a se instalar, tingindo o horizonte com tons de roxo e azul profundo. Os pescadores ainda nos observavam, a curiosidade evidente em seus olhares. Enquanto a equipe policial se preparava para voltar à lancha, eu senti uma mistura de alívio e frustração. Embora tivéssemos encontrado a casa, não havia pistas concretas sobre o paradeiro de Maeve.

Enquanto me dirigia para a lancha, uma garota se aproximou rapidamente. Ela tinha olhos determinados e uma expressão ansiosa.

— Oi — disse ela, com uma voz que tremia levemente. — Meu nome é Katy. Eu sou amiga da Liza. É verdade o que estão dizendo? Que Liza é Jassie Black, sua filha?

Olhei para Katy, surpreso com sua pergunta direta. As palavras ficaram presas na minha garganta por um momento. Ela parecia genuinamente preocupada, mas eu não podia me dar ao luxo de me distrair agora.

— Sim, é verdade — confirmei, tentando manter a voz firme. — Liza é minha filha, Jassie.

Katy parecia absorver a informação, e seus olhos se arregalaram em compreensão e espanto. Mas eu precisava continuar.

— Desculpe, Katy, mas preciso ir agora — disse, olhando para a lancha da polícia que já estava pronta para partir.

Ela assentiu, parecendo entender a urgência da situação. Com um último olhar de agradecimento, entrei na lancha e nos preparamos para retornar a Bruges. O motor da lancha rugiu para a vida, e logo estávamos cortando as águas escuras, afastando-nos da ilha e deixando Katy para trás.

Horas depois, olhei para o horizonte, onde as luzes de Bruges começavam a aparecer, e respirei fundo. A busca por Maeve estava longe de terminar, mas eu deixaria isso nas mãos da polícia.

Quando chegamos ao porto de Bruges, o céu já estava completamente escuro, iluminado apenas pelas luzes da cidade e pelo brilho distante das estrelas. Desembarquei da lancha da polícia junto com Miller, que me deu um aperto de mão firme.

— Continuarei atrás de Maeve — disse ele, com um olhar determinado. — Não descansaremos até encontrá-la.

— Obrigado, Miller. Não sei o que faria sem sua ajuda — respondi, tentando transmitir toda a minha gratidão através das palavras.

Despedi-me de Miller e dos outros policiais, caminhando em direção ao meu carro com a cabeça cheia de pensamentos. Entrando no veículo, fechei a porta e por um momento, apenas sentei ali, tentando imaginar a melhor forma de contar a Nessie que Jassie havia aparecido.

Dirigindo pelas ruas de Bruges, avistei uma pequena papelaria que ainda estava aberta, suas luzes convidativas contrastando com a escuridão ao redor. Parei o carro e entrei na loja, sentindo a tensão e a excitação aumentarem.

— Boa noite — cumprimentei o atendente. — Preciso de uma impressão urgente.

Entreguei a ele a foto de Liza, ou melhor, de Jassie, que Antony havia tirado com o celular. Enquanto ele trabalhava na impressão, procurei entre os produtos da loja até encontrar um envelope vermelho e um laço branco. Seria a maneira perfeita de apresentar a foto a Nessie.

Quando a impressão ficou pronta, coloquei a foto cuidadosamente dentro do envelope e amarrei o laço com cuidado. Agradeci ao atendente e voltei ao carro, sentindo a ansiedade crescer a cada minuto.

No caminho para casa, tentei imaginar qual seria a reação de Nessie. Pensei em seu rosto ao ver a foto, nos sentimentos que emergiriam ao perceber que nossa filha, que pensávamos ter perdido para sempre, estava viva. Haveria lágrimas, com certeza. Lágrimas de alegria, de alívio, e talvez até de incredulidade.

Quando finalmente estacionei na garagem de casa, fiquei alguns segundos em silêncio, segurando o envelope com firmeza. Respirei fundo, tentando reunir coragem para o que estava prestes a fazer. Desci do carro e caminhei até a porta da frente, cada passo aumentando minha expectativa e ansiedade.

Ao entrar, vi Nessie na sala, lendo um livro sob a luz suave do abajur. Ela levantou o olhar e sorriu ao me ver, mas logo percebeu a intensidade da minha expressão.

— Jake, o que houve? — Perguntou, levantando-se e se aproximando de mim. — Você não deu noticias o dia todo, fiquei preocupada.

— Perdão meu amor — comecei, com a voz trêmula e a abracei — Não quis preocupar você.

Nessie olhou em meus olhos e selou meus lábios — Parece preocupado.

— Tenho algo para entregar a você.

Entreguei a ela o envelope vermelho, observando enquanto ela desatava o laço e abria com cuidado. Quando ela puxou a foto e seus olhos se fixaram na imagem, vi a surpresa e a emoção invadirem seu rosto.

— Sou eu? — Ela sorriu com um olhar de incompreensão — Porque me entregou uma foto minha? — Ela olhou novamente para a foto e seu sorriso se desfez — Essa foto não é minha, esses olhos...

— Não meu amor — Eu sorri controlando minhas lagrimas.

— Jassie— Ela sussurrou, lágrimas já começando a escorrer por suas bochechas. — É a nossa Jassie?

Assenti, com os olhos marejados. — Sim, Nessie. Nossa filha está viva. É a nossa Jassie.

Ela caiu em meus braços, chorando de felicidade e alívio. Enquanto a segurava, senti uma onda de felicidade e gratidão. Nossa jornada para trazer Jassie de volta para casa finalmente havia chegado ao fim, finalmente eu havia dado a Nessie a notícia que ela tanto esperou por mais de treze anos.