― Vamos lá Jade eu quero sentimentos. Muito sentimento nessa cena. Quero ver o brilho no olhar de quem está apaixonada.― A professora Aline explicava a Jade a segunda cena do musical. Era a parte em quem eles davam as mãos e cantavam uma parte da música.


Enquanto isso Karina e Fabi cortavam um papel metro em forma de ávore. É, Karina além de não conseguir o papel da Julieta ficou na parte da figuração.


― Isso é tão injusto K, você é bem melhor que ela.― Fabi comentou fazendo a loira dar um longo suspiro.


― Ah Fabi, ela também é boa só está nervosa. E não era pra ser dessa vez, eu estou legal.― Mas ela sabia que não estava.


O ensaio se seguiu e mesmo não participando da peça em si Karina observava tudo e se encantava cada vez mais com o que via. O mundo do teatro era realmente encantador.
O ensaio da peça acabou e todos seguiram para a aula de dança, e mesmo não participando da peça até a figuração ensaiou, porque imprevistos acontecem e todos tinham que participar.


― Vamos lá, quero que todos do balé, menos a Jade e o Pedro é claro, venham rodopiando e façam um círculo em volta deles. Um, dois, três...― Lucrécia disse e todos fizeram o que ela mandou.


Fabi tropeçou em seus próprios pés e acabou empurrando Karina que caiu no chão arrancando risos de todos.


― Além de lerda não tem coordenação motora garota? Por favor eu acho que você nem deveria estar ensaiando sabia?― Lucrécia bradou com a menina que se encolheu ainda mais no chão. Cobra deu a mão para que a loira se levantasse e ela o fez.


― Me... me desculpa. E-e eu não...


― Cala a boca Karina eu não quero que você participe mas do meu ensaio está me ouvindo?― Quando ela disse isso Karina deixou que algumas lágrimas escorressem por seu rosto, mas Cobra como bom amigo que é não deixou barato pra bruxa.


― A senhora não pode impedir a Karina de participar dos ensaios. Ela é aluna aqui e está matriculada nas aulas. Não já basta você ter que obrigar a menina a limpar as salas? Vai impedi-la de participar também?― Quando Cobra disse isso todos da sala abriram a boca em um enorme 'O'. Não era pra ninguém que Karina limparia as salas depois das aulas e Lucrécia ficaria uma fera depois que Cobra disse na frente de todos. Karina já sabia que ia sobrar pra ela.


Droga, ela pensou.


― Eu? Meu jovem você não sabe de nada. Eu não obrigo a Karina a limpar nada aqui. Ela, como uma garotinha boa que é sabe que precisava fazer algo que a permitisse participar das aulas e ELA se ofereceu a limpar.― A bruxa tentou se livrar da culpa.


― É claro que a Karina...


― Chega rapaz, não me desafie. Quero todos na posição inicial. Um, dois, três...


E a aula se seguiu tranquila na medida do possível. Depois que a maioria foi embora Karina resolveu começar com sua limpeza pelo auditório, já que era uma área muito grande.
A loira estava varrendo entre as cadeiras e cantarolando a letra da música da peça quando a professora de teatro apareceu dando um leve susto na garota.


― Não queria te assustar Karina, me desculpe.― A professora Aline era um dos poucos professores que tratavam Karina bem no colégio.


― Não tem problemas professora, eu só estava...Distraída.


― Eu percebi, você tem uma voz bonita sabia?― O elogio fez Karina sorrir e o rubor em suas bochechas indicaram um pouco da sua timidez.― Olha Karina não precisa limpar tuuuudo hoje, vai ficar pesado. Deixa pra terminar amanhã...


― Não. Eu tenho que terminar hoje se não a dona Lucrécia...― Karina parou no meio da fala percebendo a besteira que faria se concluísse aquilo. Se a Lucrécia descobrisse que a loira andava falando mal dela a mesma estava frita.


― O que tem a Lucrécia Karina? Pode me contar.― Aline já percebendo que havia algo errado tentou arrancar informações da loira.


― Na-nada, é só que eu prefiro fazer tudo e não acumular serviços.― "Espero que ela não pergunte mais nada." Pensou a loira.


― Tudo bem Karina, eu já vou indo.― Karina sorriu para professora enquanto a mesma saia do grande auditório deixando a loira sozinha com seus pensamentos e músicas.


Karina continuou a limpar e vez ou outra se imaginava na peça. Em como ela dançaria, ou como se portaria no palco. Sua mente se remeteu ao fato de fazer par com o Pedro. "Até que não seria de todo mal."


Enquanto continuava a limpar percebeu uma movimentação no palco. Como o local estava escuro ela se aproximou e viu do que se tratava. Era Pedro ensaiando a letra da música. Como o rapaz cantava mal ela não conseguiu segurar a risada.


― Ta me espionando Karina?― Perguntou um pouco irritado ao ver a menina rir dele.


― Eu? É claro que não idiota. Estava aqui fazendo meu trabalho quando eu ouvi o som de um pato engasgado e vim ver do que se tratava.― Karina riu de novo do seu próprio comentário. Era maldade comparar o garoto com um pato engasgado.


― Ha ha ha muito engraçada você. Duvido fazer melhor.― Desafiou o rapaz fazendo a loira subir no palco junto a ele.


― Você também não é muito bom em artes cênicas Pedro. E acho que deveria fazer aulas de canto também, pra ver se melhora isso aí que você chama de canto.― Provocou Karina recebendo um empurrão do moreno.


― Vai me esculhambar agora? Nem um papel você conseguiu...― Assim que ele disse se arrependeu. Karina baixou os olhos sentindo a tristeza e quase ia descer do palco quando foi puxada por ele.― Me desculpa K eu não queria...


― Tudo bem Pedro. Talvez nem o teatro sirva pra mim...― Afirmou triste dando um longo suspiro.


― Não, não, não. Me mostra o que você sabe Karina. Vamos lá. Me ensina como eu devo fazer. Sei que você é boa, tenho certeza disso.


A menina sorriu pro rapaz que ao ver aquelas íris azuis ascenderem num brilho imaginou como seria bom Karina ter sempre esse brilho no olhar. Mas a realidade era outra. Poucas vezes ela sorria verdadeiramente e ele achava isso uma pena, já que o sorriso dela era o mais lindo e verdadeiro que alguém poderia ter.


― Tudo bem.― Coçou a garganta antes de começar.― Nesse trecho da música é a Jade que canta. Ela vai se aproximar cantando com um tom mais baixo e tocar sua mão enquanto você começa a levantar.― Karina começou o ato cantando baixinho e se aproximando de Pedro que tinha os olhos fixos. Quando suas mão se tocaram os dois sentiram uma sensação que jamais aconteceu... Pedro repetiu o que Karina havia dito e foi levantando as mãos até estarem o mais alto possível o que fez com que ficassem mais perto ainda. Os dois estavam tão próximos que sentiam as respirações se chocarem um contra o outro. O coração de Pedro estava estranhamente acelerado e aquela sensação era tão diferente e ele se sentia feliz, mesmo não sabendo do que se tratavam aquele misto de sentimentos. Foi quando Karina se afastou bruscamente e ele não entendeu o porque.― É-é... é aí que puxam a Jade pelo braço e os bailarinos entram no meio e você canta a sua parte.― Ela explicou ainda envergonhado pelo que aconteceu. Não que tivesse acontecido algo de fato mas ter a boca de Pedro tão próxima da dela a fazia ter pensamentos proibidos.


― Ah tudo bem, essa parte do canto a gente pode pular né?― Ele brincou fazendo a garota rir fraco.


― Eu acho melhor mesmo. É, Pedro eu vou voltar pra faxina tá? Pode ficar aí ensaiando eu não me incomodo.― E mais uma vez quando a loira pensou em descer Pedro a impediu tocando seu cotovelo de leve.


― Você...― Coçou a nuca e esse era um sinal de que estava inseguro, ou até mesmo envergonhado. Coisa que pouco acontecia com Pedro Ramos, o garoto mais popular do colégio.― Você é boa mesmo Karina, os professores foram idiotas de não ter te colocado na peça.


― Tudo bem, eu já estou acostumada com essas coisas.


― Bem que você poderia me ajudar não é? Ensaiando comigo, que tal?― A proposta era tentadora, Karina adoraria se sentir na peça de alguma maneira mas o fato de Pedro ser namorado da Jade, a garota que fazia da vida dela um inferno, fez com que a loira desistisse no primeiro pensamento.


― Ah Pedro, não acho uma boa ideia. A sua namorada é muito difícil e ela já disse pra eu me manter afastada de você. Acho melhor não cutucar a onça com vara curta.― Pedro concordou mesmo sentindo um pouco de raiva da Jade por suas atitudes mesquinhas, principalmente quando se tratava de Karina.― Agora vou voltar para a limpeza, parece que esse sempre será o meu lugar.


― Um dia isso pode mudar Karina.― Afirmou Pedro convicto fazendo a menina sorrir amarelo.


― Quem sabe um dia.― Sorriu triste antes de voltar para a limpeza.


{...}


A tarde Karina chegou em casa um caco. Estava cansada por ter limpado o auditório e a sala de dança do chão ao teto e ainda teria que colocar o jantar da bruxas. Depois que tomou um banho e colocou seu uniforme foi para a mansão com sua expressão cansada.


― Oh minha menina, sua cara não está nada boa. O que houve?― Bete estava preocupada e ainda nem sabia que Karina estava limpando o colégio.


―Ah Bete é que...― Karina já ia começar a contar quando o sino tocou, esse era o sinal que fazia com que um dos empregados fosse até Lucrécia.― Peraí Bete, vou ver o que a bruxa quer.― Bete assentiu enquanto Karina seguia para a sala de estar da mansão.


― Ah, era com você mesmo que eu queria falar. Sente aqui Karina.― A loira arregalou os olhos com o modo doce que a mulher falava e fez o que ela mandou se sentando ao seu lado.― Escuta o que eu vou te falar porque eu não vou repetir. Se você andar por aí espalhando que eu a obrigo a limpar aquela droga de colégio pode se considerar uma sem teto está me ouvindo?― Enquanto falava Lucrécia apertava o braço de Karina mas a garota não teve coragem de dizer nada só assentiu com a cabeça repetidas vezes.― Eu odeio que me desafiem e eu odiei mais ainda o que aquele seu amiguinho ridículo fez hoje na aula. Peça pra ele se manter no lugar dele e nunca mais me desafiar, se não vai sobrar pra você me entendeu? Agora vá que eu não aguento mais ver essa sua cara de mosca morta.


Karina saiu daquela sala tendo a certeza que a sua vida só conseguia piorar a cada dia.
"Parece uma montanha russa que só desce." Pensou ela, já imaginando a conversa que teria com Cobra amanhã.

{...}


No dia seguinte, no colégio a primeira coisa que Karina pensava em fazer era conversar com seu amigo. Ela achava essa atitude dele de a defender super fofa, mas se ele continuasse com isso só pioraria sua situação que já não era tão boa. Como hoje eles só teriam a terceira aula juntos ela se preparou para conversar com ele no intervalo, sabia que ele não aceitaria de cara o que ela ia dizer.
Depois que encontrou Fabi no corredor Karina seguiu para a aula de história com a amiga. Essa era uma das melhores aulas para a loira que adorava história e sempre tirava notas altas. Depois veio a aula de geografia e a terceira de física, mas Cobra não apareceu o que deixou as amigas preocupadas.


― Fabi― Sussurrou Karina chamando a atenção da amiga.― Você viu o Cobra hoje? Ele teria essa aula com a gente.― Perguntou Karina ainda falando baixo para não chamar atenção de todos.


― Não, eu também ia te perguntar isso.― Depois que Fabi disse isso deu de ombros voltando a copiar as fórmuas do quadro. Mas Karina ainda estava encafifada com a falta do amigo.


Quando o sinal para o intervalo tocou Fabi teve que sair do colégio, pois tinha um exame médico para acompanhar a mãe e só voltaria na hora dos ensaios, então a loira se viu sozinha mais uma vez naquele colégio. Como estava sem fome e trouxe uma maçã consigo saiu dos corredores indo para área livre do colégio e de lá seguiu para quadra. Um lugar que ficava sempre vazio quando as aulas de educação física não aconteciam.
Assim que passou pelos portões da quadra a loira ouviu algo que a intrigou. A voz era do seu professor de educação física, Lobão, e ele parecia bravo. Quando seu campo de visão se estendeu Karina percebeu que além do professor Cobra também estava lá e de cabeça baixa.


― Não era nem pra você estar participando dessa droga de peça Ricardo Cobreloa, além do mais fica andando com aquela garota esquisita. Você. Só. Me. Aborrece muleque. É melhor, e eu falo sério. É melhor se dedicar a droga do futebol, ou eu te mando de volta pro interior e você vai ficar lá com seus avós de novo me entendeu?


O mundo de Karina parou por alguns minutos. Ela sabia que trazia problemas para muita gente, mas até o Cobra estava se dando mal por ser amigo dela. Isso a abalou tanto que nem percebeu e suas lágrimas escorriam pelo rosto. Lobão tinha saído da quadra e Cobra ficou com o olhar vago. Assim que s olhares se encontraram Karina saiu correndo do lugar sendo seguida pelo amigo.


― Karina me espera!― Ele gritava mas ela não dava atenção. Estava triste de mais para conversar. Como ela não corria tanto conseguiu ser alcançada pelo amigo.― Me desculpa por aquilo K, eu sei que você ouviu...


― Sim, eu ouvi. Olha Cobra, eu adorei te conhecer e ser sua amiga mas não quero te trazer mais problemas entende. Já i que sua relação com seu pai não é boa e eu não quero ser a causa de mais brigas.― Ela afirmou convicta mas o embargo em sua voz indicava a tristeza. Cobra não esperou muito e abraçou a loira que tentou negar mas cedeu ao abraço carinhoso.― É sério Cobra, não quero que o seu pai...


Shhhh Karina, ta tudo bem. Ta tudo bem. Não se preocupa comigo ta bom? O meu pai ele... Ele estava chateado com umas coisas e acabou descontando em mim mas eu nunca, nunca deixaria de ser seu amigo por qualquer besteira que o meu pai ou qualquer outra pessoa dissesse. Eu estou contigo me ouviu?― Ter alguém ao seu lado, um amigo para contar era tudo o que a menina precisava. Era pedir muito ter um amigo? Aquele abraço transmitia segurança e mesmo não sendo o mesmo que sentiu ao ser abraçada por Pedro Karina sabia que em Cobra ela poderia confiar.


― Tudo bem só... Só não quero que se encrenque ok?


― Tudo bem.


Longe dali Pedro e Jade também seguiam para quadra, por insistência da loira que queria um "momento a sós" com o rapaz que foi a muito contragosto. Assim que chegaram a porta da quadra presenciaram a cena do abraço e Jade torceu o nariz em reprovação enquanto Pedro sentia algo fervilhar por dentro.


"Era para eu estar ali. Eu quem deveria estar a abraçando." pensou ele, mesmo sabendo que não seria certo pensar desse jeito.


― Vamos embora Jade.― Saiu puxando a namorada pelo braço.


― Mas moreco a gente ia namorar.― Jade fez mais uma vez aquela vozinha chata que Pedro não suportava. Ela conseguia ser irritante mesmo não querendo ser.


― Vamos para outro lugar, não quero atrapalhar o casalzinho.― Disse em tom de deboche e Jade percebeu o incomodo do namorado.


Por fim eles saíram de lá e Jade percebeu que o namorado não havia gostado da cena mas deixaria para ter uma conversa com ele depois.