POV - Karina

O Pedro babaca Ramos me defendendo só pode ser piada, não dá pra acreditar. Pelo menos a Jade calou a boca e foi pra sala com o rabinho entre as pernas, nossa como eu amo ver ela obedecer alguém, melhor que isso só NÃO ver ela. Tão acostumada a me dar ordens e aqui obedecendo o namoradinho, que eu sinceramente não sei como atura tanta chatice. Melhor eu ir logo antes que o resto da turminha da minha querida patroa chegue pra me infernizar a vida, como se ela fosse boa.

...

Entrei na sala e o professor ainda não havia chegado, lá estava a Jade com o troféu, vulgo namorado, a tira colo. Todas as atenções voltadas para ela, como sempre, desde os nerds que não tem a menor chance aos mais cobiçados garotos do time de futebol e ela lá, jogando charme e fazendo aquelas pobres coitadas, que se dizem suas “seguidoras” sentirem inveja dela. Não sei como ela se sente feliz tendo ao seu redor tanta gente interesseira que só quer tirar uma casquinha da popularidade dela, nunca me prestaria a esse papel, se bem que eu sou a “esquisita” e, a menos que alguém queira tirar uma casquinha do meu fracasso, ninguém vai querer se aproximar de mim. Por pura sorte tenho a Fabi que também é excluída o suficiente pra querer ser minha amiga, ela é diferente, não liga para o que os outros dizem e por isso jogou sua chance de ter uma vida social para ser minha amiga.

Me sentei na primeira cadeira da fila, na frente da Fabi, não podia me dar ao luxo de ficar de recuperação... Logo que cheguei falei com ela, e me sentei, porque provavelmente o professor já deveria estar pra chegar. Dito e feito ele chegou alguns minutos depois.

...

Que chatice. É a quinta vez que o professor repete a mesma coisa, porque um dos amigos “inteligentes” da Jadezinha, que por sinal é filho de um dos sócios da escola, não entendeu. Se fosse eu ele não repetia, que saco... AII! QUE MERDA!

― Aii! ― Eu disse ao sentir que tinham jogado alguma coisa na minha cabeça.

― Foi mal carolina, é que eu não te vi aí. ― Disse Max, um dos admiradores da Jade.

― É Karina. ― Eu disse mais ele saiu como se nada tivesse acontecido, foi aí que eu vi um estojo no chão, pois é. JOGARAM UM ESTOJO EM MIM! QUE RAIVA! E O PROFESSOR NEM SE MANIFESTOU!

Minha vida é uma droga.

― Não fica assim K, ele não deve ter feito de propósito. ― Disse Fabi tentando amenizar a situação.

― Eu tenho certeza que foi de próposito, sempre é. ― Eu disse já acostumada a ser o alvo das “brincadeiras”.

― Relaxa... Um dia a gente termina essa droga de ensino médio e nunca mais vai precisar aturar esse bando de jumento. ― Disse Fabi e o professor finalmente parou de brincar de estátua, só que para reclamar da conversa.

...

Eu e Fabi saimos da sala e fomos para o refeitório, a Jade tinha uns mil capachos para pegar o lanche dela, mas eu como pobre mortal que sou, tive que enfrentar uma fila enorme pra pegar o meu delicioso bolo de carne. Me dá náuseas só de pensar.

― K, vamos no cinema, vai passar um filme ótimo, de zumbis acho que você vai gostar! ― Disse Fabi, mas conhecendo ela como eu conheço esse filme deve ser bem meloso.

― Fabi, qual é o nome do filme? ― Perguntei largando o bolo, porque eu sinceramente não consegui comer nenhum pouco daquele negócio nojento.

― O... O, o meu namorado é um zumbi. ― Disse Fabi rindo porque só pelo título já dava pra ver o quanto era meloso esse filme.

― Sabia que era alguma coisa melosa, mas eu gostei da ideia do zumbi, se a bruxa liberar eu vou. ― Eu disse me levantando para jogar o bolo de carne no lixo quando esbarrei em alguém.

― AII SUA MONSTRA! ―Gritou Jade toda suja. Eu gargalhei.

― Desculpa, mas eu não te vi. ― Eu disse ainda rindo.

― Você deve ter alguma problema na visão, mas como não tem dinheiro nem pra comer, não pode comprar um óculos. ― Jade disse e eu fiquei sem saber o que dizer, já que era tudo verdade, menos a parte da visão, já que eu enxergo muito bem. Todos estavam rindo de mim, e eu senti raiva de mim mesma por só estar gaguejando sem me defender.

― Qual é o prazer que você sente em me humilhar? ― Eu disse e senti meus olhos encherem d’água.

― Eu? Te humilhar? Eu só te coloquei no seu lugar. Não é culpa minha se a sua realidade é humilhante, você é digna de pena. ― Disse Jade e eu senti que as lágrimas que antes afogavam meus olhos agora saiam teimosas.

― De que adianta ter todo dinheiro do mundo e não ter um pingo de caráter? ― Eu disse e ela riu, debochou de mim como sempre fazia, eu deveria estar acostumada a passar por esse tipo de coisa, mas agora todos estavam rindo do quão patética eu era.

― O que o seu belo caráter fez por você? Porque o meu dinheiro me levou a vários lugares e me comprou vários artigos de luxo que você nem lavando o chão que eu piso a vida inteira pode comprar um dia. ― Ela disse e eu senti toda a minha “pose” de forte se esfarelar.

― Você que é digna de pena. ― Eu disse despejando todo o nojo que eu sinto por ela.

― Pelo menos eu tenho vários amigos, um namorado perfeito e uma família que me ama. E você? Ah você é minha doméstica que foi jogada feito lixo na porta da minha casa. Quem é digna de pena aqui mesmo? ― E esse foi o xeque-mate.

POV Autora

Karina correu esbarrando em tudo o que havia na frente, ela foi na direção do banheiro e chorou de raiva por Jade saber muito bem que aquele era o seu grande ponto fraco e de tristeza porque era exatamente assim que ela se sentia: Um lixo. Fabi pensou em ir ao banheiro atrás dela, mas sabia que ela iria querer ficar sozinha. Decidiu respeitar isso.

Pedro ficou estático desde o começo da briga, ele se sentia um pouco incomodado com as “brincadeiras” que Jade fazia com Karina e hoje teve certeza que aquela não era a Jade que ele gostava, ele se encantou com uma menina doce e um pouco sexy que Jade se mostrou ser e não com aquela pessoa cruel que ele viu brigar com Karina, que por sinal sempre lhe pareceu um “Pit bull” mas que na verdade era uma espécie de “Passarinho de assas cortadas”, ele sentiu seu coração apertar ao ver as primeiras lágrimas brotando do rosto dela, mas se manteve pasmo com a crueldade de Jade e por isso não esboçou nenhuma reação.

― Jade, pra onde você vai? ― Perguntou Pedro segurando o braço da namorada que ia na direção do banheiro.

― Vou lavar minha blusa, que tá fedendo pra caramba por causa daquela praga. ― Disse a namorada do músico com um sorrisinho no rosto.

― Eu tenho certeza que você só vai tripudiar dela. ― Disse Pedro ainda segurando o braço da namorada.

― Qual foi Pedro? Tá defendendo ela demais! Eu tenho direito de me divertir e você não vai me impedir! ― Disse Jade puxando o seu braço e saindo na direção do banheiro com suas “amigas” a tiracolo.

...

Morrer, era isso que Karina queria. Ela estava conseguindo segurar as lágrimas até que ouviu as risadas de Jade e de suas amigas entrando no banheiro. “Merda!” pensou.

― Nossa, tem alguma coisa nesse banheiro me dando alergia! ― Disse Jade forçando espirros.

― Em mim também! ― Disse uma das bajuladoras.

― Deve ser esse cheiro de produto de limpeza. Ô Karina, com tanto sabão lá em casa você ainda não conseguiu tirar esse fedor de desinfetante de você? ― Disse Jade rindo e limpando a blusa.

― Você tá precisando de um banho Karina! ― Disse Joaquina entrando na “brincadeira”.

― Sabe que vocês me deram uma ideia genial! ― Disse Jade pegando a garrafinha de água de uma das “amigas” e se aproximando das cabines. Ela foi abrindo todas as cabines até sobrar uma, na qual podia se ouvir um choro baixinho. “Achei!” Pensou Jade abrindo a tampinha da garrafa e despejando o líquido em cima de Karina que estava sentada no vaso.

― AHHHH! EU NÃO ACREDITO! ― Karina saiu da cabine com os olhos vermelhos e partiu pra cima de Jade, que começou a gritar. Joaquina saiu correndo e foi chamar o diretor que do corredor conseguiu ouvir a gritaria. Todos queriam entrar para ver o que estava acontecendo e uma multidão já havia invadido o pequeno banheiro, quando o diretor chegou, viu Jade se contorcendo no chão e gritando enquanto Karina, que estava sentada em cima dela, segurava seus braços e enchia seu rosto de tapas.

― PAREM AS DUAS AGORA! ― Gritou o Diretor e um dos admiradores de Jade vieram pra tirar Karina de cima dela. ― AS DUAS PRA DIRETORIA AGORA! ― Gritou Heideguer apontando o caminho e Jade já estava com o rosto vermelho, mas mantinha um sorrisinho de satisfação, porque ela já até imaginava o desfecho da situação.

― Jade, pode me dizer o que aconteceu? ― Perguntou o diretor e Karina bufou de raiva.

― Essa louca derrubou bolo de carne em mim e quando eu fui no banheiro lavar minha blusa ela veio atrás e começou a me bater, eu não tô entendendo nada! ― Disse Jade com sua melhor cara de santa, fingindo estar sentindo muita dor por causa dos tapas.

― Karina, pode me dizer o que aconteceu? ― Perguntou o diretor sério.

― Não ouviu o que a princesa falou? Eu sou a culpada nisso tudo, como sempre, nem vou tentar me defender, porque eu sei que no fim das contas a culpa vai ser minha. Vá me dê um ano de suspensão, assim pelo menos eu passo o resto do ano sem ter que aturar essa daí aqui na escola. ― Disse Karina morrendo de raiva.

― Já que é assim, Jade eu vou lhe dar uma notificação e Karina eu vou lhe dar uma suspensão pela ousadia. 3 dias. Já pra sala Jade e Já pra casa Karina. ― Disse o diretor sentando na sua cadeira e Jade saiu esbarrando em Karina, que ainda estava molhada. “Que legal Karina, você foi dar uma de ‘não ligo’ e agora levou uma suspensão de 3 dias. Parabéns” pensou Karina andando rumo a sala para pegar suas coisas.

― Professor eu vou pegar minhas coisas. ― Disse Karina entrando na sala e pegando sua mochila, ela nem ligou para as piadinhas e foi saindo.

― Karina! ― Gritou Pedro, que tinha dito que estava com dor de cabeça e quando saiu da enfermaria foi atrás da garota.

― Me erra moleque! ― Disse Karina andando rumo ao portão. “Ele só pode estar afim de me zoar...” pensou a garota.

― Espera, eu quero falar com você... ― Disse Pedro segurando a mão da garota que, assim como ele, achou estranho sentir o corpo inteiro arrepiar depois daquele toque tão comum.