Chá Quente E Gelo

Cidade dos infernos


Todo o ar do meus pulmões parecia ter desaparecido, minha garganta estava seca e ficou difícil engolir, me sentei bruscamente no chão frio, Jacob ficou agachado ao meu lado, sua mão segurou a minha.
- Mas não tem motivos, foi um acidente eu vi... o que aconteceu com o Troy não tem nada haver com a morte dela. - Minha voz ja estava beirando a desespero. - Porque voltar a mexer nisso, não tem nenhum sentido.
O choque, estava passando e a raiva surgia, finalmente senti o ar em meus pulmões de novo, respirava cada vez mais rápido, parecia que eu ia me afogar de ódio. Eles não tinham direito de bagunçar nas coisas que não lhes diz respeito. Jack apertou mais a minha mão, antes de voltar a falar.
- Eles tem algum motivo Lauren, ou não poderiam reabrir o caso.
- Não tem caso Jacob - olhei incrédula pra ele - Foi um acidente, e mais nada.
- Você pode não ter percebido, pelo fato dela ser sua irmã, mas tudo foi muito confuso - ele fez uma pausa, escolhendo as próximas palavras - Não tinha como ela cair daquela sacada sozinha Lau, e tudo oque você viu foi ela no chão.
- Não havia ninguém lá Jacob.
Ele suspirou.
- Você não Viu ninguém. Mas não significa que estavam sozinhas.
Eu não queria ter que pensar nisso, mas oque ele disse fazia sentido. Se fosse verdade "Algo talvez pudesse ter acontecido comigo também" Senti um calafrio passando pela nunca, meu corpo inteiro tremeu. Jack nos levantou do chão, e me puxou para seus braços num abraço apertado.
- Temos que ir Lau. - ele me apertou mais - Mas tudo vai ficar bem... eu prometo.

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- Não deveríamos voltar pra casa?
Jacob me perguntou pela terceira vez, estávamos parados do lado de fora da cafeteria, olhando para a porta transparente, e ele não queria entrar.
- Não, eu sei exatamente oque vai ter em casa, e não quero voltar agora.
- Cedo ou tarde vamos ter que ir.
- Eu só não quero ter que aguentar isso agora, eu não estou nada bem, e preciso ficar.
Abri a porta e entrei puxando ele comigo, que ficou murmurando reclamações enquanto fechava a porta. Como sempre aqui dentro é quente, tentei não olhar muito para as pessoas que ja estavam bebericando seus cafés, ou para as garçonetes, fingi total falta de interesse, enquanto procurava por um lugar, pois a minha mesa preferida, estava ocupada, por duas crianças. Isso só piorou o meu humor, hoje o dia não podia ficar pior. Jack me puxou para os bancos que ficam ao redor do balcão de doces.
Quando sentamos, eu finalmente olhei ao redor, era óbvio que eu queria encontrar uma certa pessoa aqui, talvez isso me distraia, mas não a encontrei. Olhei para Jack, que ja estava encarando um ponto fixo, segui com os olhos para o local, e achei Sil atendendo a um cliente. Diferente de mais cedo, seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo, mas com as mesmas roupas de antes, a única diferença era a gravata. Como Jacob não tirava os olhos dela eu fingi uma pequena tosse, e mesmo assim ele não virou de volta, revirei os olhos e então perguntei:
- Gosta de garotas de gravatas?
Funcionou, pois ele me olhou confuso, e depois riu com vergonha, abaixando a cabeça.
- Acho que é obrigatório na roupa de todas as garotas que trabalham aqui - ele respondeu.
Eu sorri, esse era o melhor lugar para vir quando seu dia não está sendo bom. Eu estava fazendo de tudo para não ter que pensar em Taylor, ou em Troy, mas era automático, como se meu cérebro precisasse pensar, balancei a cabeça, tentando afastar quais quer pequenas lembranças que surgiam.
Senti uma pequena cutucada na minha cintura, olhei pra baixo e uma garotinha me encarava com seriedade. Ela era uma das crianças que estavam na minha mesa, devia ter menos de sete anos.
- Oque vão querer?
Me surpreendi com a pergunta, então reparei que ela segurava um bloquinho de papel entre as mãos, e se esforçava para ficar séria, mas era claro que ela queria rir, pois a risca séria das sobrancelhas ficava vacilando.
- A senhorita trabalha aqui? - Jack perguntou sobre meu ombro
- Agora sim - ela sorriu com orgulho, a voz fina era tão bonitinha que eu quase ri.
- Mas você não usa gravata - ele disse com falsa desconfiança.
- Estou em treinamento, quando crescer vou ganhar uma - ela colocou a mão no peito com orgulho.
- Então eu vou querer um croissant com um café, e minha amiga - ele bateu no meu ombro vai querer um chá de hortelã.
A garotinha, prontamente concordou e saiu correndo, contornou o balcão, e entrou numa porta, que eu acredito ser a da cozinha da Daphne.
Voltei a pensar em Taylor, novamente parecia que eu iria sufocar sem ar, a sensação de vazio no estômago só piorava, talvez se eu comesse melhoria, mas só de imaginar, meu estômago se embrulhou em resposta, e a ânsia subiu para minha garganta. Balancei a cabeça, engolindo seco de novo, na tentativa de remover esses pensamentos e a sensação. Logo essa tática não iria mais funcionar, e isso me deixou mais preocupada ainda.
- Alguma novidade da festa?
Puxei um assunto qualquer, Jack sabia mais do que ninguém, que eu queria fugir do assunto principal, então apenas respondeu:


- Jonas não quer um par, e isso está deixando a minha mãe louca... E a propósito, ela ficou feliz de você ir comigo - ele me observou, pensando que eu talvez mudasse de ideia, por causa dos novos fatos que aconteciam, mas eu apenas concordei com a cabeça.

- Sabe porque ele não quer ter par?
- Não sei, toda vez que minha mãe pergunta, ele inventa que o carro deu problema e que vai levar ao mecânico. E sai praticamente correndo de casa, uma vez ele até levou o meu.
Eu não aguentei tive que rir. Enquanto ele tagarelava, a porta da "cozinha" se abriu de novo, a menininha de antes, passou por ela. Tentava a todo custo equilibrar uma bandeja com duas xícaras pequenas e um croissant, em cima dos braços. Ela andava tão lentamente para não deixar cair, que eu estava a ponto de me levantar para ir ajudar, mas antes de eu me mexer, a porta se abriu de novo.
- Sofia oque pensa que está fazendo?
Rapidamente reconheci a voz, e me alegrei um pouco mais. Ergui meus olhos para a adolescente morena que estava de braços abertos, numa postura brava, e o semblante mostrava indignação. Em segundos e com muita agilidade, não deixando uma gota se quer, cair em seu uniforme de garçonete moderna. Ela tomou a bandeja das mãos da garotinha.
- Ja disse um milhão de vezes que é perigoso, e se isso cai em você e te queima? - a menina observava o chão.
- Rah... não se preocupa, não machuca tanto quanto pensa.
Jacob comentou baixo e para si mesmo. Mas Camila o ouviu muito bem e claro. Ele deveria ter ficado quieto, pois ela o olhou com uma expressão assassina, o fuzilando. Mas ele não ligou.
- Mas a vó disse... - a menininha tentava argumentar - que eu podia ajudar.
Camila suspirou voltando a olhar para a menina.
- Depois nós conversamos sobre isso... cade a Blu? - ela olhou pelo salão - Vai la brincar com ela, não a deixe sozinha.
A menina olhou pra baixo triste, mas contornou o balcão, e foi correndo até a mesa com a outra garotinha. Eu olhei para aquela outra menina, e reparei que havia uma coisa familiar nela, parecia ter uns três anos de idade. O cabelo era bem louro e fino, caia até os ombros, a pele era muito branca, mas acho que é normal para as crianças nessa idade, também tinha pequenas sardas pelo braço e surgindo no rosto.
Eu desviei os olhos dela, não sei oque tem exatamente de familiar, talvez eu lembre disso depois. Mau percebi que Camila colocou as xícaras e o croissant na minha frente.
- Desculpe qualquer incomodo - ela falou educadamente - se desejarem mais alguma coisa é só chamar.
Ela sorriu enquanto se afastava.
- Hey espera - eu gritei o mais rápido que pude.
Até o Jacob do meu lado ficou surpreso, era a primeira vez que eu falava diretamente com ela, ela se virou de volta pra mim, com a curiosidade estampada nos olhos.
- Sim?
" Ok agora vai ter que dizer alguma coisa que não seja idiota "
- Desculpa eu só queria saber, se... você conhecia o Troy.
Jack quase engasgou com o café, e a garota a minha frente, parecia bem surpresa com a pergunta. Foi a primeira coisa que realmente apareceu na minha cabeça, com todo esses acontecimentos, eu queria saber se ela conhecia o Troy, como eu e Jacob conhecíamos.
- O menino que morreu? - ela perguntou pra ter certeza de quem falávamos, eu concordei - Bom... não exatamente, ele vinha aqui com muitas outras pessoas, eu só o reconheci por causa do jornal. Não fomos amigos ou algo do tipo, normalmente eu nem teria lembrado se não fosse o jornal mesmo.
- Entendi, desculpa é só curiosidade.
Ela concordou com a cabeça, depois pareceu pensar, mordeu a ponta de uma caneta que tinha nas mãos.
- Vocês vão participar das buscas, pela garota?
Jacob que apenas observava calado, disse por fim.
- Não achamos que seja uma boa ideia, além do mais, ja tem muita gente nas equipes de busca.
Ele pegou o celular do bolso de trás da calça, olhou para a tela, suas sobrancelhas ficaram franzidas, por um instante. Em seguida guardou de volta no bolso e começou a se levantar.
- Em que ano você está do colégio?
- Último - ela respondeu, ainda mordendo a ponta da caneta.
Estava meio perdida nos pensamentos, Jacob pagou as bebidas e o croissant, ela ficou meio confusa, enquanto colocava o dinheiro no meio de um dos bolsos.
- Já estão indo?
- Sim, Lau e eu temos que ir agora - entendi o recado e me levantei do banco.
Ele estendeu a mão pra ela
- Sou o Jacob - ela apertou a mão dele - e essa é Lauren.
Apenas balancei a cabeça em cumprimento, não estava pronta para contato físico com ela.
- Camila - ela sorriu enquanto soltava a mão dele.
- Também somos do último ano, provavelmente vamos nos ver quarta, nas aulas.
- Espero muito encontrar com vocês lá, até mais Jacob e Lauren - ela me lançou um sorriso lindo, antes de se afastar para uma mesa qualquer.
Jack me arrastou para fora da cafeteria, ele andava a passos largos, quase correndo. Atravessamos a rua e cortamos caminho por dentro do estacionamento gigante, do mercado da cidade.
- Jack oque houve?
- Jonas mandou uma mensagem, ele falou que está um alvoroço em casa. É para voltarmos o mais rápido.
Ouvi um ronco auto e forte de um carro, olhamos para a rua atrás de nós, e um enorme carro preto de vidros escuros, descia a rua, acelerando com uma velocidade acima do limite, achei que fosse descer até o fim da rua. Mas este virou bruscamente para dentro do estacionamento, apontando diretamente para mim e Jack, os pneus fizeram um barulho ensurdecedor, enquanto deslizava. Ele estava vindo para cima de nós, fiquei apavorada, quanto mais o carro chegava perto, mais eu tinha medo. A menos de dois metros, ele simplesmente... parou.
Ficamos encarando o carro por alguns segundos, a unica coisa que meu cérebro registrava era o cheiro de queimado dos pneus.
As portas se abriram, um homem alto de cabelos longos, que vestia preto dos pés a cabeça, desceu pela porta do passageiro, e nos encarou por trás dos óculos escuros. Jacob entrou na minha frente como um muro. Tudo acontecia tão lentamente para mim, nem meus olhos tavam acompanhando direito. Mas por fim, o motorista desceu do carro.
Não era um homem, era uma mulher, e mesmo com os cabelos mais longos que da última vez que eu a vi, e o rosto mais afinado, eu a reconheci, quase cai para trás.
- Lauren Jauregui? - ela perguntou como se não me conhecesse.
Eu concordei com a cabeça, confusa, ela sabia muito bem quem eu era, talvez fosse perigoso mostrar que nos conhecíamos, Jacob tentava entender oque estava acontecendo.
- Sou a detetive Lexa Woods - ela tirou o distintivo do bolso de dentro da jaqueta mostrando rapidamente, e guardando de volta. - E meu parceiro Marcus.
Ela apontou para o homem ainda parado do lado da porta aberta do passageiro, ela nem pareceu notar Jack.
- Qual é o problema? - minha voz saiu falha.
- Tem que nos acompanhar até a delegacia, precisa responder algumas perguntas.
- Oque?

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