Chuva
"e fizesse parar de chover..."
O sangue jorrava por toda a sala.
Tingia as paredes, o chão; você e eu numa chuva copiosa de ferro e fluidos.
Seus olhos, antes sempre tão azuis, eram vermelhos.
Vermelho era o sangue que jorrava e tingia as paredes, o chão, você, eu; ferro e fluidos.
Dizem que demônios também são vermelhos. Seria essa a cor do demônio para quem vendeu sua alma?
Alma vermelha: glóbulos vermelhos, e brancos, e hemoglobina, e plaquetas, e plasma.
Eu, você, fluidos.
“Nunca mais apareça na minha frente”.
Vermelha era a chuva de dentro daquela cabana, há muito esquecida pelos sobreviventes do massacre do Castelo de Edo.
O sangue deles era vermelho como o que você fez chover?
A gatling gun tingiu sua alma de vermelho.
Sangue deles.
Sangue nosso.
Vermelho.
Minhas lágrimas se juntavam ao seu sangue e se juntavam ao sangue dele, que jorrava como uma fonte interminável de vida.
Sua alma vermelha saiu pela tempestade elétrica, abandonando-me uma vez mais.
Um suspiro. Um sussurro. O vermelho continuava a jorrar mas, desta vez, trazia consigo a esperança.
O sangue não parava de jorrar.
O sangue da minha inocência perdida.
Banhada num mar de vermelho.
Eu, você, sangue deles, meu sangue.
Por fora, a chuva voltava a ser só água.
Por dentro, ferro e fluido continuavam a chover.
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