Alguns dias depois…

Chuck

— Sarah… onde você está? O que aconteceu com você?

Ela não saia da minha cabeça, nem do meu coração. Ainda podia sentir o gosto de sua boca na minha perfeitamente… seu perfume, o calor da sua pela na minha. Ao fechar os olhos podia ver os seus olhos, sentir a maciez dos seus cabelos entre meus dedos, ouvir sua voz, sua respiração e as batidas do seu coração. … Estava morrendo de saudades dela. Eu estava desesperado, uma sensação ruim tinha tomado conta do meu coração, uma dor no peito e um nó na garganta que não se desfazia por nada. Sentia que ela estava em perigo.

— Sarah…

Sua ausência estava me consumindo por dentro. Mas, ninguém sabia dela, ou não queriam me dar informações, nem a General, nem Casey, ninguém me dizia nada. Comecei a procurá-la por conta própria. Sarah teria me abandonado? E por que não terminaria comigo antes ou ao menos se despediria de mim? O que eu fiz? Eu estraguei tudo…

— Bartowski?

Casey me tira do meu devaneio.

— Tenho notícias para você. E não são boas…

— É sobre a Sarah?

— Amanda Baker pegou o voo 567 para Paris, há quatro dias, sendo que antes foi vista em três cidades em três estados diferentes.

— Amanda Baker? - Fiquei um pouco confuso. Casey se aproximou mais de mim.

— É um dos disfarces da Walker.

— Está em missão?

— Nenhuma oficial.

Finalmente a ficha caiu e eu entendi o ponto que Casey se referia.

— Está me dizendo que ela foi embora? Por que?

— Isso eu não posso dizer. Sinto muito Bartowski. - Ele apertou meu ombro.

Casey saiu e fiquei lá sem chão, perdido e atordoado, sem entender nada. Sem acreditar. Eu não podia acreditar nisso. — Por quê? - Era só isso que eu queria saber. — Por quê Sarah?

Naquela noite fiquei acordado, usando os recursos da CIA tentando encontrar pistas dela, mas em vão.

— Eu não vou desistir de você Sarah. Se me deixou, depois de tudo o que vivemos, as declarações e promessas, você vai ter que dizer isso olhando bem nos meus olhos, e me dizer que tudo acabou.

(...)

Meses depois...

Sarah

O tempo passou e o medo só aumentou em mim, não o medo por ter sido traída pela minha agência e estar sendo caçada, mas, eu não sei se estou pronta para ser mãe. Eu só sabia ser uma golpista e depois uma espiã, foi Chuck que me mostrou um mundo novo do qual eu quis fazer parte, me fez desejar mais que tudo, estar com ele e ter uma vida normal. Mas, sozinha está difícil pra mim, não passo um dia sem pensar nele, como queria estar com ele, e que ele soubesse do nosso bebê. Minha gravidez está no final e eu não posso sozinha. Se alguma coisa acontecer comigo?

Localizei Carina e pedi a ela que viesse me encontrar e nunca contasse para ninguém e ela concordou, sem saber o que se passava, só podia contar pessoalmente. Fiquei esperando-a numa lanchonete.

— Walker? O que você fez? - Pergunta Carina encarando meu barrigão. — Não posso virar as costas por dois segundos que você apronta! - Ela falou divertida.

— Preciso da sua ajuda.

— ‘Péra’! Essa barriga é de verdade?

Ela faz uma expressão estranha quando eu confirmei com a cabeça.

— Sarah Walker está grávida - Soou mais como uma pergunta do que uma firmação. Ela estava incrédula.

— Senti só.

Coloco as mãos dela sobre minha barriga e ela ri, parecia que eu tinha lhe contado uma piada.

Depois de esclarecer tudo a ela, Carina estava chocada com tudo o que eu disse.

— Ele sabe?

— Não… E isso está me matando por dentro, Carina. Chuck deve me odiar agora, se é que já não me esqueceu… está com outra… - Seguro uma lágrima que quer escorrer dos meus olhos.

— Isso é o que dá se apaixonar… - Ela diz com um tom de deboche. — Tanto que eu te falei…

— Eu não me arrependo.

— Hm… Não? E o que vai fazer agora?

— Preciso da sua ajuda… não tenho mais ninguém para recorrer e te confesso, estou com medo, um medo que nunca senti na minha vida. Não posso dar a luz num hospital, tenho medo que me encontrem, sei lá, estou muito emotiva e um pouco paranoica, mas não posso arriscar a vida do bebê.

Nesse momento ela se aproxima e segura nas minhas mãos carinhosamente.

— Eu entendo e vou te ajudar. Vai ficar tudo bem.

Sorrimos e em seguida nos abraçamos, esse é o poder que uma barriga enorme tem de amolecer até mesmo a espiã mais durona do mundo. E eu desabei a chorar.

— São os hormônios, estou emotiva demais. - Justifiquei e ela torceu a boca. — Senti sua falta.

— Sabe o que é?

— Não… mas, acho que é uma menina.

— Logo nós vamos saber. Mas, Sarah, eu não entendo nada de partos e bebês.

— Então empatamos, eu também não entendo. - Gargalhamos.

— Bem, você confia em mim? - Carina me pergunta com uma expressão série, e vejo sinceridade no seu olhar.

— Confio.

— Vou te levar para um lugar seguro para você poder dar a luz.

Eu assinto.

— Obrigada.

Depois de algumas horas de viagem, Carina me levou para um lugar lindo. Era uma cabana no lago.

— Carina, que lugar lindo… é tão tranquilo…

— Conheci esse lugar numa missão que fiz e acabei por comprá-lo, sabia que um dia precisaria dele.

— Não foi pensando na sua aposentadoria, não? - Brinquei.

— Um lugar tranquilo assim não é minha praia, morreria entediada. - Rimos.

Carina e eu arrumamos o lugar, que era muito aconchegante. Tudo que eu tinha cabia em 2 malas, uma minha e uma do bebê, mas Carina insistiu em fazer um enxoval. Que bicho será que picou ela? Ri dos meus pensamentos.

Já havia se passado três dias que estávamos lá. Enquanto ela fazia compras eu fiquei aproveitando a beleza da cabana e sua tranquilidade. Fiquei um pouco a beira do lago e um sentimento de solidão me invadiu. Sempre achei que não tinha nada, mas agora aqui vi eu tinha tudo, e como tudo que eu tinha me fazia falta. Não eram só meus amigos, eram minha família, Casey, Morgan, Alex, Ellie e Devon e principalmente a falta que sentia de Chuck, como era carinhoso e atencioso comigo e divertido. Nos conhecíamos tão bem… eu estava arrasada e lutando para não morrer de tristeza por causa do meu filho, ele só tinha a mim agora… Como eu queria que tudo fosse diferente. De repente sinto uma dor muito forte, meu coração dispara, meu corpo todo tremi. Algo está errado.

Com muita dificuldade eu chego a cabana, mas Carina não está lá.

— O que vou fazer agora? Ah. - Grito de dor. — Ah! - A dor está aumentando. Estou com medo.

Pouco tempo depois, apenas sinto meu corpo cair ao chão, só consigo pensar em Chuck e no nosso filho e tudo escurece.

(…)

Acordo, com os olhos pesados e sentindo meu corpo fraco. Tento lembrar onde estou, e instintivamente passo as mãos pela barriga e não a sinto, o desespero toma conta de mim.

Antes que consiga dizer “meu bebê”, ouço uma voz manhosa.

— Sua filha é linda, Walker!

Olho em direção a voz e vejo uma cena inusitada, Carina está ninando meu bebê.

— Uma menina? - Estou louca pra vê-la e tento me levantar.

— Vai com calma, Walker, seu parto foi difícil e você perdeu muito sangue…

— Não lembro de nada. - Explico. — Ela está bem? - Pergunto preocupada.

— Está, é uma mini nerd, mais uma pra me dar trabalho. - Ela bufa.

Eu rio e me ajeito com cuidado na cama e mesmo assim sinto uma tontura. Carina a coloca em meus braços e a vejo, a sensação que toma o meu coração, e invade a minha alma é indescritível.

— Oi meu amor.… Era você que ficava chutando a mamãe? - Estou muito emocionada.

Nesse momento ela se remexe no meu colo e abre os olhos e me fita como se me reconhecesse, meu coração falha algumas batidas, eu estou babando pela minha filhinha.

— Ai Carina, ela é linda, tão linda! - Eu estava apaixonada. Começo a beijá-la e fazer carinho com a ponta do meu nariz e ela faz uma carinha manhosa. Seguro suas mãozinhas, são tão pequenas, a seguro entre meus dedos. Meu coração não bate mais para mim, e sim para ela. Não contenho o choro, nunca senti nada assim antes.

— Vou pegar alguma coisa pra você comer, precisa se recuperar. - Depois de dar alguns passos Carina volta. — E não aprontem nada. - Ela adverte.

— Pode deixar. - Falo rindo. — Vamos nos comportar, né amorzinho?

Minha pequena choraminga e eu tento amamentá-la, tento, pois é difícil, dói muito meu seio, mas acabamos pegando o jeito. Fico observando-a mamar. Ela é tão linda e fofa. Está tão tranquila, nem imagina o que acontece aqui nesse mundo cruel e injusto.

— Chuck, como eu queria que você estivesse aqui. - Sussurro fechando meus olhos, parece que ele está diante de mim.

Consigo ver Chuck na nossa filhinha, traços meus e dele, formando o serzinho mais lindo que eu já vi na vida. Ela é careca, não tem nenhum fio de cabelo, que me faz perguntar se ela vai ser loira ou morena. Seus olhos são azuis, no mesmo tom dos da minha mãe, mas todo o resto é do Chuck. A cor da pele, a boca, o sorriso, o nariz. Mas, suas mãozinhas, mesmo tão pequenas, são iguais as minhas. Observo que Carina colocou nela a minha pulseira, a que Chuck me deu. Um das poucas coisas que trouxe comigo na fuga, além das lembranças e uma camisa que eu tinha ‘roubado’ dele. Até Carina se rendeu aos encantos dela.

Carina trouxe uma sopa para mim, confesso que não foi das melhores, mas o que esperar dessa criatura que só sabe mexer com armas? Eu a agradeço por tudo. Enquanto tomo a sopa, Carina fica tentando colocá-la para dormir.

— Já escolheu o nome?

— Um de muitos…. - Respondo entristecida.

— Não pense nisso agora… - Carina me aconselha, falando baixinho pra não acordá-la. — O nome “oficial” dela?

— Lily… é um nome bonito, acho que combina com ela.

— Lily? Mas, você está mesmo mole, né Sarah? Tinha que ser um nome forte como Anya, Katya, Dominika. Ou Nikita…

— Eu estou mole? Olha quem tá babando o bebê, nem pra dormir coloca no berço!

Ela tenta falar algo, mas não consegue e bufa quando ouve a minha risada.

— É você me pegou, “isso” - faz uma careta. — deve ser contagioso.

Eu não respondo, não quero provocá-la mais.

— Ela é o mais próximo de uma filha que eu vou ter… - Desabafa.

— Eu também pensava assim e olha no que deu. - Faço uma careta e rimos e Lily choraminga.

— Lily concorda. - Diz Carina levantando-se e ninando-a.

— Quer ser a madrinha?

— Hm? - Ela faz uma careta.

— Madrinha? Da Lily?

— Como eu posso resistir a essa carinha?

Depois que acabo de comer, tomo um banho rápido e troco de roupas. Carina e eu nos despedimos, ela diz que está morta de cansada, que nem numa das piores missões se sentiu assim, e eu concordo, como um bebê dá trabalho, e só estamos no primeiro dia. Me aconchego com Lily na cama e ela adormece.

Pego um diário e começo a escrever, tenho esperanças que eu dia vou reencontrar o Chuck e mesmo que ele me odeie, eu não queria nada disso, queria que fosse tudo diferente e quero que ele saiba, pelo menos um pouco, como as coisas aconteceram com a filhinha linda que ele tem e nem sabe de sua existência.

Eu não consegui dormir aquela noite, fiquei apenas olhando e olhando a minha pequena e pensando no pai dela.

Quando Lily sorri pra mim, me faz ter certeza que eu fiz a escolha certa. Ela é o fruto do meu amor pelo Chuck e do amor dele por mim, o qual eu nunca tive dúvidas que ele sentiu desde a primeira vez que me viu, assim como, eu também o amei desde a primeira vez que o vi na Buy More. Então, só me restava amá-la e protegê-la de tudo. Pois tenho certeza que ele faria o mesmo, por ela, como também faria por mim.