Era uma coisa boa eu estar toda remendada e sofrendo de dor, de outra forma teria que me segurar para não chamar os elementos e queimar Vênus bem ali nos túneis.
— Aimeudeus! Carimbadas! Mesmo? - Jack exclamou.

Aphrodite não disse nada, mas evitou o meu olhar. Contive um suspiro e acertei a postura e encarei Vênus:

— Estamos carimbadas sim. - eu não estava realmente incomodada com a carimbagem, poxa, Aphrodite salvou minha vida! E eu sabia que ela estar fingindo estar "nem ai" era apenas porque todos poderiam zombar dela agora, novatos tiravam sarro de humanos o tempo inteiro. Ainda mais humanos carimbados com um vampiro, fiz uma nota mental de conversar com ela depois.

— Parece que o carma de Aphrodite começou a bater - Vênus disse num tom de desprezo que fez sua beleza ganhar um traço repugnante e réptil.

— Vênus, Aphrodite salvou a vida de Zoey, não é certo você pegar pesado com ela - Stevie Rae a repreendeu, mas me lançou um olhar que dizia claramente "preciso de explicações" que eu devolvi com um de "você não vai gostar".

— Sim, aparentemente eu e Zoey estamos carimbadas - Aphrodite finalmente falou - Em breve vocês vão descobrir que isso não é tão surpreendente assim. - Com um gesto de desprezo para Vênus, Aphrodite se concentrou em mim - Vênus, pé no saco, esta é Zoey, a supernovata da qual tenho certeza que você já ouviu falar muito.

Senti os olhos de Vênus sobre mim, então deixei de olhar para Aphrodite (que graças a Nyx parecia estar aguentando firme) para olhar para ela. Ela estava mesmo me encarando com uma expressão que me deixou instantaneamente na defensiva. Eu não conseguia decidir se minha reação negativa a Vênus era por ela ser (obviamente) uma cachorra ou por ficar rondando Aphrodite daquele jeito estranho que diz "temos assuntos inacabados".

— Zoey e eu já nos conhecemos, mas não fomos apresentadas. Parece que da última vez que nos vimos ela estava tentando nos matar.

Eu gostaria muito de bater na cara dela agora.

— Já que estamos no momento memória, acho melhor você lembrar direito. Eu não estava tentando matar ninguém, mas salvar um garoto humano que vocês estavam tentando comer, ao contrário de vocês eu prefiro mil vezes comer panquecas de chocolate em vez de jogadores de futebol.

— Isso não muda o fato de você ter matado aquela garota. - ela disse enquanto os novatos atrás dela ficaram inquietos.

— Chega, vocês vão ter que aprender a se dar bem. - Stevie Rae brigou, passando a mão cansada na testa - Saiam todos daqui, Zoey precisa descansar e eu preciso do meu quarto.

— Olha, caipira, admiro a sua moral com a gangue e tudo mais - Aphrodite começou - mas eu não vou a lugar algum.

Comecei a rir, mas o gesto me causou dor e acabou com uma tosse molhada fazendo o guerreiro bonitão que cuidava de mim olhar feio para as meninas.

— Não há tempo para descansar, precisamos levá-la para a House Of Night, Sacerdotisa - Stephen falou.

Assenti para ele e respirei fundo para falar através da dor.

— Uh, okay. Preciso que liguem para as gêmeas e peçam para ela entrar em contato com o Conselho Supremo dos Vampiros - Stephen me dirigiu um olhar chocado e então assentiu levemente se questionar - Tenho certeza que Damien já sabe o que precisa ser feito. Me dêem um momento para falar com Stevie Rae e então vamos embora.

Stephen gesticulou para que Conner o seguisse e juntos saíram do quarto. Aphrodite se levantou aos tropeços para segui-los, mas eu agarrei seu pulso e depois de travarmos uma batalha de olhares ela suspirou e se apertou ao meu lado.
Stevie Rae nos encarava.

— Z., Aphrodite fez você virar gay? - minha melhor amiga pronunciou cada palavra com cuidado, como se não acreditasse.

— Eu te disse que ela não seria capaz de compreender - Aphrodite girou os olhos e se virou para Stevie Rae com impaciência - Retardada, não dá pra fazer ninguém virar gay.

— Como não? Z. ainda gosta do Erik, não gosta?

Suspirei para aguentar firme.

— Erik é um babaca - falei com simplicidade, com Aphrodite ao meu lado parecia mais fácil de explicar - Stevie Rae, não acho que eu e Aphrodite podemos sair por ai dizendo que somos gays a plenos pulmões, o que existe entre nós foi moldado com o tempo e com tudo que passamos juntas, não vou te garantir que posso sentir isso por outras garotas, mas talvez todo um horizonte se abra agora. Tudo que vou dizer é que gosto de Aphrodite e não quero mudar isso.

— Bissexual. - Aphrodite murmurou.

— Ahn? - perguntei como uma boba.

— Você pode ser bissexual, alguém que se sente atraída por homens e mulheres. Como eu. - sua afirmação sugeria que ela esteve com outras garotas antes, mas eu apenas assenti.

— Ah, os sexualmente confusos. - Stevie Rae sorriu.

Franzi a testa.

— Stevie Rae, acho que isso foi maldoso.

Ela arregalou os olhos e tentou se corrigir.

— Não, me desculpe. Eu quis dizer que de onde eu venho eles chamam isso de sexualmente confuso, mas também acho maldade e acho que o coração não escolhe mesmo de quem gostar. - as bochechas dela ficaram levemente vermelhas - Mas você podia ter escolhido uma melhorzinha né.

Dei um sorriso (um que não causasse dor), Aphrodite bufou ao meu lado, mas senti que ela também estava feliz.

— Agora as coisas de vida ou morte - Stevie Rae falou. - Que diabos aconteceu ontem?