— Annabeth, vai pegar lenha pra colocar na fogueira — falou Percy, em seu mais nojento tom autoritário.

— Que grosso, Percy. Não fale dessa forma com uma dama — disse Luke, chegando à minha esquerda e passando o braço pelo meu ombro. Meu rosto corou.

Não sei se foi impressão minha, ou se era realmente verdade: Percy parecia incomodado de alguma forma. Um dos contras de ser filha de Atena é notarmos tudo.

— Eu vou buscar a lenha para ela. Não se preocupe, Anne. Eu sou cavalheiro, ao contrário de certas pessoas — comentou Luke, em seguida virou-se e saiu para a floresta.

— Ele não se cansa de roubar a mulher dos outros — falou Percy com desdém. Então foi até a cozinha gritando ´´O que é essa gritaria na cozinha!?´´

— Você também está gritando, seu babaca — sussurrei, indo até a minha barraca atrás de um vestido, coisa que eu não usava tinha muito tempo.

Os vestidos do acampamento não eram nem um pouco parecidos com os do palácio, eram bem mais simples e eu não precisava de ajuda para me equilibrar neles.

Para a confraternização daquela noite eu havia pego um vestido comum de camponesa da cor azul-marinho, ele ficava muito bom em mim, e os detalhes pretos nas faixas combinavam com o laço da minha tiara preta. Eu já estava sentindo falta de usar vestidos, não que eu odiasse calças, eu só era acostumada com saias.

Não tinha necessitado de muito tempo, logo eu já estava pronta para sair da barraca — que, por sorte, estava com a falta de presença de Percy — quando uma filha de Afrodite da cabana ao lado me vê saindo e me empurra para dentro na mesma hora.

— Annabeth, você é louca!? — pergunta Silena.

— O que foi!?

— Não acredito que você se chama se princesa e não passa maquiagem para sair numa confraternização! Poxa, que decadência!

— Silena, — soltei uma risada. — Não vejo necessidade.

— Mas eu vejo — ela riu — Vem cá, vou te emprestar meu batom.

Silena puxou-me para a sua barraca, me fez sentar na frente de sua penteadeira e entregou um batom às minhas mãos.

— Você vai amar, pode passar, eu te empresto hoje.

— Que cor é?

— Vermelho, fica lindo em você.

— O que as pessoas tem com vermelho?

— Nada, simplesmente fica bonito na princesa — ela riu e apontou para o batom.

Ri e olhei para o espelho passando o batom. Não era tão vivo como o que eu tinha no castelo, mas era razoavelmente forte.

Levantei e agradeci Silena, ela ainda tinha que terminar de se arrumar, sendo que já escuro lá fora. Eu apenas sai e fui indo em direção da fogueira, que já estava acesa e tinha várias pessoas em volta sentadas e conversando.

Estava tranquila com a situação, quando vi uma agitação estranha vindo de trás de uma barraca, desconfiei da situação, poderia ser algum intruso ou sei lá.

Mas a visão que eu vi não foi um intruso ou um ataque, era bem o contrário disso. Nico e um cara que, se não me engano era Jason, estavam aos beijos mais profundos e fervorosos naquele final de tarde, uma paixão que eu nunca tinha presenciado com meu namoradinho dos 12 anos. É sério, eles estavam num amor incondicional atrás daquela barraca. Eu apenas baixei a cabeça e segui andando aos passos apressados. Eu não vi aquela cena. Eu não podia ter visto aquela cena.

— Annabeth... — disse Percy, com os olhos fixos num papel — Você poderia...

Percy levantou a cabeça para mim, e parou sua fala instantaneamente. Ele ficou quieto por alguns segundos encarando o meu vestido e meu rosto que, provavelmente, estava com uma cara esquisita.

— Você... está linda... — ele falou devagar e boquiaberto. Senti meu rosto corar, foi então que ele também corou um pouco enquanto seus olhos verde-água estavam encarando os meus com profundidade. O que significaria aquilo? Nem pensei muito e ele e balançou a cabeça bruscamente — É... enfim... que cara de tacho é essa?

— É que... hum... — apontei para trás da barraca que estava chacoalhando. Percy apenas deu de ombros e soltou uma gargalhada.

— Eles fazem isso todo dia! — falou no maior desdém de piada e se virou rindo enquanto balançava a cabeça.

— Espera! Você não queria que eu fizesse algo?

— Nah, esquece. Vai aproveitar, descansa um pouco depois do susto. Não deve ter muito disso no palácio.

Soltei um suspiro e fui sentar, sozinha, num tronco do lado da fogueira. O pessoal estava começando a se reunir.

# # #

— Ei, princesa.

— Oi, Luke. Tudo bem?

Olhei para Luke, seu rosto estava iluminado pelas chamas da fogueira, ao fundo tocava o som de um violão e mais alguns instrumentos improvisados enquanto um filho de Apolo cantava maravilhosamente bem com sua irmã. Eu era uma das únicas que não estavam dançando, porque eu já estava com sono, maldito sono depois do jantar.

— É, tudo sim. Melhor agora — ele sorriu maroto. — E você, não parece muito bem...

— Estou com sono — disse colocando a mão no queixo em cansaço.

— Deixe de ser desanimada — falou ele puxando meu braço com delicadeza e alegria. — Vamos dançar! Vamos nos divertir, Anne.

´´Anne?´´ pensei. ´´Esse era o nome pelo qual Ártemis tinha me chamado naquele dia...´´

— O que foi? — perguntou ele. — Não gostou do apelido?

— Não! Eu gostei sim! É só o sono me dominando — falei dando uma risada.

Ele me levou mais para perto dele, e começou a acelerar a dança conforme a música ia acelerando também. Ele dançava maravilhosamente bem. Seus passos eram leves e faziam parecer que eu estava dançando no salão de baile do castelo, parecia-me muito familiar. Era incrível.

Meus pés estavam dançando numa perfeita sincronia com os de Luke, virávamos e girávamos, meu vestido parecia brincar com o vento, e os fios soltos do meu cabelo se divertiam aos ares. Luke ria ao dizer que eu dançava muito bem, e me girava diversas vezes até eu ficar um pouco tonta e continuarmos dançando numa atmosfera inegável.

Fomos interrompidos por uma mão parando o braço de Luke com brutalidade. Eu podia ver a aura negra encobrindo Percy.

— Eu adoraria de dançar com ela, pode dividi-la um pouco? — disse Percy com uma ironia terrível.

Luke dá minhas mãos para as de Percy com o rosto emburrado, em seguida vai se sentar sem nem ao menos tentar chamar outra pessoa para dançar.

Na verdade, nem teria como.

Assim que eu e Percy começamos a realizar os mínimos movimentos, os outros casais em volta da fogueira pararam para observar a minha dança e a do chefe, fazendo comentários como: ´´Imagine dançando com uma princesa´’ ´´Isso vai ser lindo!´´.

E eu, sinceramente, não estava entendendo.

Até Percy embalar no ritmo.

O que eu estava sentindo com Luke nem chegava aos pés de como os passos de Percy faziam eu presenciar Ele não fazia eu me sentir no castelo, mas sim em grandes festa do rei, onde o baile deveria ser impecável. Meu vestido não dançava com o vento, ele era o vento, assim como todo o meu corpo naquela sintonia de movimentos.

Mas aquilo estava me intrigando. Por que Percy teria me tirado dos braços de Luke tão rapidamente? O que ele estava tentando mostrar com seus passos? Liderança? Aquilo tinha sido repentino demais, e não mostrava muitos sentimentos.

— O que você pensa que está fazendo? — perguntei com um tanto de grosseria.

— Tomando o que é meu por direito.