Intervalo


– EUUUSTAAASS-KUUUUUUUUN!!! – Um grupo enorme de garotas corria de modo desesperado, procurando o ruivo e os outros por todos os lugares – CADÊ VOCÊ, EUSTASS-KUN?

– TRAFALGAR-SAMA! ONDE VOCÊ ESTÁ?! – Outras gritavam.

– PORTGAS-SAAAAAN! CADÊ VOCÊ?!!

– LUUUUUFFYYYY-KUUUUN! EI, ONDE ESTÁ?!!

– RORONOAAAAAAAAAAAAAAA! TEMOS CHOCOLATEEE!

– MIHAWK-SENSEI!

Os ditos cujos estavam cada um em um esconderijo. Law estava na sala dos professores, assim como Mihawk; Luffy e Ace na cozinha do refeitório; Zoro estava dormindo em cima de uma árvore; e Kid... Bem, estava num banco na praça ao lado, tentando não chamar muita atenção. Maldito seja o dia em que aquelas loucas começaram a reparar tanto nele.

– Aí está você. – Eustass se sobressaltou, porém logo o alívio veio. Era apenas Nami – Fugindo de suas fãs?

– O que você acha, laranja?

– Acho que você é um medroso, isso sim.

– Cale a boca, bruxa.

– Vem calar, sucata.

– Não duvide disso, trouxa.

– Tarde demais. E falta coragem.

– Está me chamando de covarde?

– Se a carapuça serve... – Se aproximou do banco – Posso?

– Faça o que quiser. – Respondeu apenas. Nami simplesmente sentou-se lá e abriu o livro que trazia consigo.

– Acho incrível você ter alguma fã. Afinal, rude como é...

– Odeio Dia de São Valentim. As mulheres ficam parecendo demônios.

– Eu não fico. – Retorquiu.

– Você é um demônio. – Sorriu de canto ao vê-la franzir o cenho.

–... Também odeio o Dia de São Valentim.

– Já sei, ninguém aceita seu chocolate.

– Eu tenho mais o que fazer, não fico comprando chocolates para dar pros outros. Apenas odeio pelo fato desse dia me lembrar de que nunca corri atrás de quem gosto...

– Ou você bateu a cabeça ou eu tenho cara de psicólogo e não sabia. – Comentou divertido. Não sabia por que diabos vermelhos (Não podiam ser azuis? Têm que ser vermelhos?) ela estava declarando tudo aquilo.

– Você é um chato. – Também sorriu de leve – Vamos dar uma trégua, sim? – Estendeu a mão.

– Há meio segundo você estava me xingando e agora quer uma trégua? Não entendo as mulheres.

– Qual homem entende?

– Boa pergunta. – Pegou a mão dela – Não estou a fim de brigar agora, vai que uma daquelas loucas ouve você gritando.

– Eu não grito, idiota. – Mostrou a língua.

– Sei. – Eles ficaram alguns minutos em silêncio. Nami lia seu livro, enquanto Kid saboreava distraído o sanduíche que trouxera.

O ruivo acabou seu lanche e observou bem a jovem de cabelo laranja. As longas madeixas caíam por seus ombros e costas, mesmo presas num rabo de cavalo, e algumas quase alcançavam o livro deitado em seu colo. A saia curta e vermelha chamava a atenção para as pernas torneadas. Os botões da blusa que ela nunca fechava, talvez por não conseguir, deixava um bom decote. Eustass adorava brigar com aquela ruiva, e não podia negar que vê-la vermelha de raiva era divertido, porém ele apreciava, secretamente, a companhia dela. Era uma das poucas garotas que não davam chiliques ou tentavam abusar dele.

– Algum problema, Kid? – Nami perguntou depois de um tempo sentindo o olhar penetrante do rapaz.

–... – Kid simplesmente deitou no banco e colocou sua cabeça no colo dela, que o fitou confusa.

– Ei, ei, eu não sou travesseiro, ruivo esquisito. – Ele ficou em silêncio novamente e fechou os olhos – Folgado. – Sorriu de canto. Não ia perder essa chance.

Fechou o livro, repousando-o no assento, e levou uma de suas mãos delicadas ao cabelo escarlate. Afagou a cabeça ruiva, sentindo a maciez dos fios. Por alguma razão, sempre tivera vontade de tocar nas madeixas rubras, constatar se eram tão macias quanto pareciam, sentir o cheiro de metal que exalavam. Não era um aroma ruim, ela gostava. Percebeu que a respiração do rapaz estava calma e ritmada, como se estivesse cochilando. E Kid estava mesmo. Os carinhos em seus cabelos, o silêncio do lugar e o perfume de laranja estavam fazendo com que a mente dele se desligasse por completo. Eles ficaram em completo silêncio, até Bonney, uma amiga de Nami, ligar para o celular da moça, avisando que o sinal estava para bater.

– Ei, Kid, pare de babar aí e acorde, o sinal vai bater e o Buggy-sensei é idiota, mas nem tanto ao ponto de deixar passar.

– Eu não babo, laranja azeda. – Resmungou ainda deitado e abriu os olhos carmesins, que se fixaram nas poças de chocolate que o mundo chamava genericamente de "orbes".

Marrom no vermelho. Vermelho no marrom. Os olhos da mulher reluziam com curiosidade e admiração, enquanto os do rapaz brilhavam em algo que talvez apenas pudesse ser caracterizado como fascínio, na falta de uma palavra melhor. Os dois orbes castanhos eram quentes e totalmente transparentes, Kid podia ler perfeitamente o que quisesse neles, e pareciam reluzir ainda mais que prata, ouro, platina e tantas outras preciosidades juntas muito bem lapidadas e limpas. Eram jóias que apenas aquela menina de cabelo laranja possuía. A ruiva notou o olhar dele e se sentiu um tanto constrangida, embora não conseguisse parar de fixar aquelas íris, pois nunca vira algo tão rubro e tão deliciosamente misterioso. Era como se aquele escarlate fosse tão profundo a ponto de poder guardar milhares e milhares de segredos. Sentia que aquela cor, aquele vermelho majestoso, era digno de grande fascínio. Ficaram ali, se afogando cada vez mais nos mares, um rubro e outro castanho. Até o celular impertinente tocar novamente e quebrar os devaneios dos dois. Eustass desviou o olhar, enquanto Nami virava o rosto numa vã tentativa de esconder a face corada, que só fora notada naquele momento.

– Corou por quê? Quer ficar ruiva que nem eu, pirralha? – Questionou debochado, tentado esconder a própria timidez repentina.

– C... Cale a boca, ruivo irritante! Tomate podre! – Exclamou muito corada, tirou a cabeça do homem de seu colo bruscamente, se levantou, pegou o livro e correu em direção à escola – Se o Buggy-sensei te pegar, não diga que eu não avisei, filhote de cruz-credo! – E foi-se embora.

– Eu vou te mostrar quem é o filhote de cruz-credo, sua bruxa... – Rosnou irritado tanto com ela, quanto com o que sentira ao fita-la. Tudo bem, a garota era bonita e, quando calada, agradável, mas isso não queria dizer que ele precisava gostar dela, muito menos cair de paixões, certo? – Em casa eu tenho ainda menos o que fazer do que aqui, e além de que, já passei metade do inferno aqui. Vou ficar por aqui mesmo... – Murmurou indo na mesma direção que a moça.

As lembranças dos olhos castanhos não paravam de ecoar por toda a sua mente. Ele não gostava daquela ruiva. Não sentia nada de diferente além de irritação... Certo? Não tinha tanta certeza. Não era a primeira vez, talvez nem a última, que sentia algo estranho perto da ruiva, como se ela fosse necessária para que o incômodo em seu peito sumisse. Pensou no apelido "carinhoso" que Zoro havia dado a ela. Bruxa. Será que... Havia sido enfeitiçado?

– Só se for pelo maldito Dia de São Valentim. Aquela pirralha catarrenta não atrai nem resfriado... – Caçoou, tentando se convencer de uma vez por todas que tudo era culpa do Dia de São Valentim e das fãs loucas que quase esfregavam os chocolates em sua cara. Porém, apenas tentou. Se dissesse que conseguiu, estaria mentindo. E como.