Quando a noite caiu decidi que não queria ver Tiago ainda, o poder que ele tinha sobre mim poderia me fazer pôr tudo a perder. Nem esperei sua ligação e saí no carro sem destino certo, apenas pra dar uma volta e relembrar de quando eu fazia isso todo dia em minha antiga cidade.

Sem perceber, minhas mãos acabaram me conduzindo até a rua do orfanato e só aí fui me dar conta de onde estava. Parei bruscamente na esquina e fiquei observando. No mesmo instante vi Soraya sair e entrar num carro que estava lhe esperando. Quando eles dobraram a esquina eu segui em direção ao prédio do meu emprego recém perdido.

Saí rapidamente e fui até a porta mas quando tentei abrir percebi que estava trancada. Merda.

— Quem está aí? _ a voz de Audalice ressoou do outro lado.

— Audalice? _ respondi _ é a Laureen. Pode abrir a porta pra mim por favor?

— Mas não temos a chave Laureen! Soraya saiu e nos deixou trancadas.

— Que inferno. Não tem nenhuma outra porta?

— A da piscina também está fechada. Mas a janela do meu quarto está aberta!

— Ótimo! Tem mais alguém aí com você?

— Sim, a Brenda e a Mary.

— Vão até o seu quarto e levem os seus lençóis.

— Lençol?

— Vai logo Audalice!

Segui pela lateral da mansão e logo enxerguei o quarto com a janela aberta por causa da luz acesa, aquele havia sido meu quarto. Rapidamente o rostinho das meninas surgiu e as chiquititas vieram à minha memória. Tudo bem, aquela não era a melhor hora para a nostalgia mas eu não tinha muita escolha.

— Meninas! Amarrem os lençóis um no outro e joguem pra mim, aí vocês seguram pra eu subir.

As garotinhas pareciam animadas, não tinham noção em que merda estávamos nos metendo.

Alguns minutos depois eu escalava a parede como uma alpinista e logo cheguei ao segundo andar. Ao colocar meus pés no quarto que um dia havia sido meu encontrei olhares assustados me analisando.

— Laureen, é você? _ perguntou Audalice.

— Claro que sim!

— Você pintou o cabelo? _ perguntou Brenda.

Ah sim... então era isso.

— Sim, eu pintei, precisava dar uma mudada.

— Você ficou bonita assim... loira. _ disse Audalice.

— Obrigada. _ respondi sorrindo mas logo fiquei apreensiva ao ver as marcas roxas no pescoço de Audalice.

— O que Soraya fez aqui?

As meninas se entreolharam.

— Ela machucou vocês?

— Ela colocou Brenda no quarto do castigo. _ falou Audalice.

— Quarto do castigo? Esse quarto ainda existe?

— Fica no terceiro andar. _ Murmurou Brenda.

— Por que ela fez isso com você?

— Ela me disse que eu era traidora. _ respondeu ela.

— Quando ela fez isso?

— Ontem. Depois que você foi embora.

— Que filha da puta. _ murmurei. _ Ela te bateu também?

Brenda fez que sim com a cabeça.

— Onde?

Brenda levantou a blusa que precisava ser lavada e me mostrou as marcas roxas nas costas e nas costelas. Estremeci. Fiquei com mais ódio do que já estava e parti para o escritório descendo as escadas e sentindo os olhares das outras crianças sobre mim. Entrei no escritório e logo fui mexendo no computador, pegaria as malditas provas que faltavam.

— Laureen! Não pode entrar aqui, Soraya disse que não podia!

— Calma Audalice, ela não vai fazer nenhum mal a vocês.

Quando mexi no mouse a tela se abriu mostrando a imagem de todas as câmeras que Soraya instalou, inclusive do lado exterior. Bem, ela queria ser esperta mas não sabia com quem estava lidando.

Liguei a impressora e comecei a imprimir tudo que encontrei. Saques, transferências, códigos e nomes estranhos, que poderiam muito bem ser de uma pessoa só. Eu vasculharia tudo aquilo a noite toda até encontrar o maldito responsável, ele me faria destruir Soraya sem precisar de mais golpes.

CH

— Fiquem nos seus quartos. Se Soraya aparecer tentem se esconder mas não fiquem perto dela, por favor. Vocês sabem do que ela é capaz.

As meninas concordaram com a cabeça enquanto eu lhes entregava o lençol pra que segurassem na minha descida pela janela.

Voltei à frente da casa e encontrei a câmera quase escondida acima da porta. Peguei uma pedra do chão e mirei, antes de acertá-la deixei que ela focasse bem no meu rosto, Soraya não merecia dormir essa noite, e se dormisse não iria ter bons sonhos.