Tudo bem. A primeira semana de caçada não foi o que esperávamos, mas sabíamos que as coisas iam mudar. E mudaram. Estamos na primeira noite de lua cheia e já temos indicio do paradeiro de um lobisomem e estamos a caminho do local para acabarmos com ele.

– Certo. Estamos com tudo pronto para sairmos? – questionei Debby e Arthur.

– Comigo esta ok. E com você? – falou Arthur.

– Certo. – falou Debby e assim saímos da casa que alugamos.

Pois é. Alugamos uma casa de um quarto com um banheiro, um banheiro no corredor e uma sala/cozinha. É pequeno e a Debby acostumada com os luxos achou o fim do mundo. Mas a muito custo e muitas promessas de sairmos logo da casa assim que encontrássemos o lobo que habitava nesta cidade e liquida-lo.

Estávamos no chevy do Arthur indo em direção ao pequeno bosque que a cidade possuía. O primeiro lugar para se achar lobisomens é ir para as cidades com bosques e florestas, pois é mais práticos para eles se esconderem quando estão transformados em lobos. Estamos na cidade de Amaliader.

Aqui é uma cidade onde tem havido muitas mortes nas noites de lua cheia e a maior parte dos mortos são mulheres, porem os corpos são encontrados mutilados e sem alguns órgãos vitais dentro deles. O coração é o único órgão que permanece com as vitimas.

O que para nós significa um ataque de lobisomens, pois eles mutilam suas vitimas e deixam as vivas e com o coração batendo para que os demais órgãos estejam fresquinhos quando forem comer.

Nojento eu sei, mas é por isso que nós caçadores existimos. Para acabar com esta praga.

– Chegamos. – falou Arthur – Não se esqueçam, permaneçam sempre juntas não podemos nos separar. – ele disse intercalando olhares entre mim e Debby. – É perigoso nos separarmos mesmo se fossemos experientes, o que não é o nosso caso.

– Certo. Iremos nos cuidar. Não se preocupe comigo. – falou Debby um pouco mal humorada.

– Mas não era com você que eu estava preocupado. – Ele falou lançando um sorriso debochado para Debby e saindo do carro.

– Ai como eu detesto ele. – ela falou enquanto eu saia do carro e puxava o banco para ela sair.

– Não liga para ele. Você sabe que ele só faz isso para te irritar não sabe? – falei assim que ela saiu do carro e tranquei a porta.

– Sei, mas o incrível é que eu não consigo deixar pra lá. – queixou-se ela enquanto caminhávamos para nos juntar ao Arthur que estava a uns dois metros na nossa frente procurando algum rastro do lobo.

– Então só tente não revidar, porque nenhum de vocês dois leva desaforo para casa e eu um dia ainda vou ter que separar uma briga de vocês dois. E acredite isso não é nem um pouco convidativo. – falei com um sorriso.

– Vou fazer o meu melhor. – respondeu com uma pitadinha de sarcasmo eu sua voz.

– Meninas,encontrei algo interessante. – falou Arthur nos chamando para irmos ate o local onde ele se encontrava.

Ao chegarmos ao lado dele eu logo percebi o que era interessante. No chão de terra avia um rastro de passos de animal, muito parecidas com patas de cachorros, mas grandes demais para isso e também o rastro de algo, ou alguém que havia sido arrastado pelo chão, sem contar que aparentava ter um pouco de sangue na areia, mas era difícil afirmar pois, a areia era escura e o local era mal iluminado e sem contar que luz de lanterna não é a melhor das luzes que existem no mundo.

– Temos algo a seguir. – falou Arthur com um sorriso nos lábios.

– E possivelmente alguém a quem salvar se ainda possuir vida. – completou Debby.

Entramos no bosque que era muito escuro cada um com sua lanterna. Eu além da lanterna possuía minha bainha de flechas e meu arco comigo. Sem contar que possuía uma bolsa transpassada pelo meu busto para poder levar documento telefone e dinheiro, porque nunca se sabe o que pode acontecer em uma caçada. Já devíamos estar uns dez metros longe da estrada quando ouvimos um barulho nos arbustos.

– Digam que eu imaginei este barulho. – pediu Debby.

– Infelizmente não vou poder ter o gostinho de te chamar de louca agora. – respondeu Arthur.

Ficamos alerta. Debby e Arthur eram bons com armas e cada um sacou a sua e utilizaram as lanternas para iluminar o caminho para nós. Já eu como era boa em arco e flecha e tive que guardar minha lanterna. Agora eu ia atrás de ambos para cuidar da retaguarda quando ouvimos o grito.

Era o pior som que se imagina ouvir no mundo. Havia uma mulher gritando e ela parecia esta com muita dor. Ao escutarmos o grito saímos correndo em direção ao som. Mas eu já estava um pouco afastada deles antes de começarmos a correr e como nunca fui boa atleta o que eu sabia um dia ainda ia me colocar em enrascada fiquei para trás ate que não enxergava mais eles.

Sabia que os encontraria se continuasse a seguir o som do grito da mulher, mas de repente o grito cessou. Eu não sabia mais para onde ir e estava muito escuro, a lua e a minha audição seriam os meus guias. Comecei a entrar mais no bosque e voltei a escutar barulhos nas folhagens próximas e rezei para que fossem a Debby e o Arthur.

Continuei caminhando em frente, mas acho que já não estava mais indo para o norte ficando longe da estrada. Acho que estava caminhando para leste em paralelo com e estrada, mas ficava difícil saber, combinamos que somente eu não carregaria uma bussola comigo, pois era mais fácil eu me perder tentando ler uma do que me orientar com ela.

Sabia que tinha que continuar andando sem pré em frente, pois em algum lugar eu tinha que parar, só não sabia onde seria.

Estava caminhando há um tempo e já tinha decidido parar um pouco, pois acho que já deixei bem claro que nunca fui muito atlética e já estava cansada quando escutei novos barulhos, porém desta vez não foram só os barulhos nos arbustos de passos houve também um uivo vindo da minha esquerda e ao me virar vi os olhos caramelos de um grande lobisomem negro.

Sinceramente era exatamente isso que eu precisava. Perder-me no bosque e dar de cara com o lobisomem. Tudo bem eu sou uma caçadora, mas tinha a leve impressão de que no momento eu parecia mais a caça. Serio. O lobisomem estava com os dentes à mostra o que poderia ser considerado um sorriso, pois ele não estava rosnando para mim.

E eu a caçadora fiquei paralisada. E se questionarem eu nunca vou admitir, mas estava morrendo de medo. Era o primeiro lobisomem que eu via depois da morte da vovó e eu não sabia o que fazer. Bem na verdade eu até sabia. Eu tinha que puxar a corda do arco que já estava armado, pois eu já tinha uma flecha nele e simplesmente mirar e largar a corda, mas meu cérebro não estava enviando esta informação aos meus músculos. Eu estava paralisada e o pior foi que o lobisomem começou a andar em minha direção.

Eu achei que iria morre e que toda a preparação que eu tive até o momento não iriam nunca ser postas em pratica, mas então de repente outro lobo surgiu, este era um pouco mais alto que o negro e seu pelo era no tom de um caramelo, e que eu vou falar agora, mas juro nunca mais admitir, seu tom era muito bonito e possuía incríveis olhos azuis. Com a chegada repentina deste novo lobo foi como se o meu cérebro tivesse voltado a funcionar. E mandou que eu atirasse a flecha em direção ao lobo. O primeiro que eu acertei foi o negro e quando estava pegando uma nova flecha o lobo caramelo veio para cima de mim e me derrubou, mas o estranho foi que ele não me derrubou como se fosse me atacar, mas como se fosse para que eu não o acertasse e assim que senti minhas costas baterem no chão ele já não estava mais perto de mim. Ao me levantar, ou melhor, me sentar no chão pude ver que ele atacava o lobo negro.

Eu ainda estava perplexa pelo que havia acontecido, mas percebi que eu não era o alvo no momento, mas que poderia virar assim que a briga acabasse. Eu simplesmente terminei de levantar e verifiquei se não havia perdido nenhuma flecha devido ao “tombo” peguei uma nova flecha engatei no arco e sai correndo para longe da luta deles.

Exatamente isso que você acabou de ler. Eu fugi. Mas qualquer um em meu lugar teria feito o mesmo. Pois se eu atacasse qualquer um enquanto eles lutassem poderiam perceber que tinham um inimigo em comum e deixar a luta de ambos para depois. Ou se eu esperasse a luta acabar poderia virar lanche do lobo que sobrevivesse, pois eu poderia me paralisar novamente.

Devo ter corrido um km ou menos. Mas já não me aguentava mais de pé. Parei para recuperar o fôlego e percebi um movimento próximo as minhas costas e me virei e lancei uma flecha que parou em uma arvore muito próxima do rosto de Debby que me encarava de olhos esbugalhados e boca aberta.

– Você atirou uma flecha em mim. – disse assim que se recuperou do susto.

– E você quase me matou do coração. – respondi. – Onde esta o Arthur?

– Estou aqui. Mas onde você estava?

– E porque você tem gramas e folhas nos seus cabelos e esta suja? – perguntou Debby tirando algumas folhas do meu cabelo.

– Podemos voltar? Eu explico tudo quando estivermos bem longe daqui. – respondi olhando para e ala e virando para Arthur. – Estamos muito longe do carro?

– Um pouco. Eu acho. Maio que saímos do caminho que estávamos. – ele disse meio perdido. Só possuíamos a bussola para nos localizarmos na mata porque infelizmente o GPS do celular só funcionava via internet e na mata nem sinal de telefone tínhamos.

– Ok. Nos leve de volta a estrada e de lá podemos acessar a internet e acharmos o chevy. –falei e seguimos caminho para fora do bosque.

– Achamos o corpo da garota. Ela já estava morta e assim que possível vamos avisar a policia anonimamente que vimos uma moça sendo levada para o bosque para que ela possa ao menos ter um enterro. – falou Debby. – Mas ao acharmos ela perdemos você. E isso não pode mais acontecer.

– Detesto concordar com ela, mas poderia ter acontecido algo com você. Assim que pudermos nos ajeitar em outro local você vai fazer academia para treinar resistência. – falou Arthur. – E isso não é discutível.

O resto do caminho ficamos em silencio. E eu fiquei no meio deles, para que se algo acontecesse desta vez eu nãome perdesse. Assim que voltamos à estrada consegui sinal e localizei via GPS onde estávamos. Cinquenta metros a leste longe do veiculo, o que resultou em uma caminhada de cinquenta metros a oeste ate o carro. Eu fui a primeira a entra e me sentei no banco traseiro e fiz Debby e Arthur irem à frente.

– Que tal você nos contar o que aconteceu? –pediu Debby.

– Quando estivermos em casa. Só lá falarei com vocês. – respondi e me escorei no vidro do veiculo olhando a rua passar, mas em um determinado ponto eu tive certeza de que tive o vislumbre dos olhos azuis do lobo caramelo.

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