Changes

Changes — capítulo único


Em algum momento da vida mudanças serão necessárias. Sejam elas físicas, de espaço ou até mesmo espirituais. Uma coisa é certa, mudanças nos fazem encarar desafios dos quais queremos fugir e encobrir, mas elas sempre tendem a fazer de nós seres humanos, pessoas almejando ser melhores. Crescendo por si só.

Ao menos essa é a ideia.

Misaki encarava aquela mudança como a mais importante que fizera em seus vinte e poucos anos de vida.

— Toma cuidado com isso, gordo!

Kamamoto carregava mais uma caixa para dentro do prédio. Contando com aquela, faltavam poucas outras a serem descarregadas.

— Não é como se tivéssemos tanta mobília para descarregar, Misaki.

O rapaz de cabelo azul escuro dizia ao ruivo que pegava seu amigo pela gola do casaco de malha, pronto para colocá-lo no chão e começar uma briga bem ali, no meio da mudança deles.

— Mas o meu vídeo game é precioso, tenho ele a anos!

— Assim como metade dos móveis que ajudamos vocês a conseguirem.

Comentou um homem loiro do lado de fora tragando seu cigarro, alto o suficiente para ser ouvido.

— De que lado você está, Kusanagi?!

"Você gostaria de voltar a dividir aquele lugar comigo?"

De uma coisa Misaki tinha certeza, aquele prédio nunca esteve tão cheio de vida como agora. Quando Saruhiko o perguntou sobre morarem juntos na antiga base secreta novamente ele havia duvidado, tinha quase certeza de que o outro estava apenas pregando uma com sua cara mas aqui estava ele, voltando para o lugar que os dois costumavam usar como esconderijo, para onde fugiram e onde parte de seus problemas começara.

"Acho que agora nós conseguimos fazer dele a nossa base secreta"

Agora ele entendia os motivos de Saruhiko e não era nada daquilo que ele imaginava. Só de relembrar todo o rancor que guardara de seu amigo por algo tão simplório e pessoal, fazia com que seu rosto esquentasse. Não era surpresa que os dois tinham personalidades opostas, mas ser tão obtuso a ponto de não enxergar o quão desconfortável Saruhiko se sentia naquela gangue que ele tanto adorava era algo realmente idiota.

Bem, não era hora de pensar negativamente, não agora que a HOMRA em peso os ajudava com a mudança.

— Vocês querem ajuda para organizarem os cômodos?

A atenção de todos fora direcionada a pequena garota de cabelos alvos e vestido vermelho, enquanto os dois amigos trocavam olhares como se ponderassem a ideia, Fushimi apenas negara com a cabeça e Misaki tomara a voz.

— Fica tranquila Anna, dessa parte a gente cuida.

Saruhiko havia ficado a cargo da reforma. O prédio depois de tantos anos acabara sofrendo com o tempo e agora, ao menos agora, eles poderiam concretizar os sonhos que tinham quando entraram lá pela primeira vez.

Como você conseguiu dinheiro pra isso?

O queixo do ruivo caíra quando entrara lá pela primeira vez em anos. Estavam apenas os dois, o céu nublado não conseguia tirar a injeção de ânimo e muito menos o brilho nos olhos de Misaki quando vira que agora, muito além do térreo e um mezanino, o lugar tinha cômodos demarcados. Janelas, um teto mais baixo, pois agora o andar de cima era completo, sem contar outras coisas que faziam daquele prédio uma residência de verdade. Ele não estaria surpreso se houvesse uma pista de skate no terraço.

Ao contrario de certas pessoas, o meu trabalho é bem remunerado.

Ora seu- !

Ao menos agora as brigas entre eles não eram resolvidas a facadas e grandes tacadas de basebol.

O que achou? Dá pro gasto?

Os olhos dele não sabiam por quanto tempo ficavam a observar o que era apenas o corpo de sua nova casa.

É, dá sim. Agora a gente vai ter camas de verdade pra dormir.

Por algum motivo o vanguarda da HOMRA se sentia em paz, com um contentamento indescritível em seu peito. Parte disso era poder conversar com Saruhiko sem ter que usar os punhos e a outra, bem, ter ele como uma presença recorrente em sua vida, assim como nos velhos tempos. Era algo bom. Agora eles poderiam conversar mais, voltarem a jogar vídeo games madrugada a dentro, terem parte das refeições juntos e agora, seriam capazes de construir novas memórias juntos.

Juntos. Parecia até ironia eles estarem assim novamente, mais uma vez fora ele quem o pressionara até ter a verdade dita claramente.

— Então acho que vocês já podem ir indo, não é mesmo Kusanagi?

Por mais que Saruhiko conseguisse ser um pé no saco na maioria das vezes com sua boca grande.

— Será que você consegue ser menos inconveniente, Saru?

— Deixe disso, Misaki, nós já fizemos o bastante por hoje. Nos chame se precisarem de algo.

Com isso, Kusanagi e alguns membros da gangue que se comprometeram a ajudar na mudança da dupla, se despediram. Quando seus corpos estavam pequenos o suficiente para a vista distinguir algo, uma voz fez ambos saltarem.

— Como está a mudança, Fushimi?

Certo, aquilo fora inesperado. O que diabos o líder dos azuis- da Scepter 4 fazia ali?

Reishi Munakata os observava com um sorriso quase inexistente. Sua postura, mesmo com roupas casuais, deixava transparecer o quão rígido ele era, e isso era um dos motivos principais para Misaki se afastar do homem. Ao seu lado estava sua tenente com seus cabelos louros escorrendo pelo ombros, ela parecia ansiosa por algo.

Saruhiko apenas estalou a língua como sinal de reprovação.

— Não convidei vocês pelo que eu me lembre.

— Deixe de ser petulante, Fushimi. Estamos aqui para ver se correu tudo bem.

— Bom, como podem ver o prédio ficou ótimo e se não tem mais o que fazer, peço que se retirem pois eu tenho.

Enquanto Saruhiko discutia com seus superiores, tudo a que ruivo conseguia se resumir era observar a partida de tênis interessantíssima que corria bem na sua frente, sem chance de argumentar, tudo que podia fazer era assistir. Mas ele notava que Saruhiko estava na defensiva, algo difícil de se ver no dia a dia, existia algo que ele não queria deixar passar.

— Saru, o que aconteceu?

A partida se encerrara e Munakata apenas balançou a cabeça.

— Está tudo bem Awashima, nosso Fushimi está bem e a reforma, pelo que posso ver, foi bem feita. Sem problemas. Acho que podemos ir indo.

— Mas senhor-

Ele colocou uma mão sobre seu ombro, a calando momentaneamente.

— Se precisar de algo, nos avise por favor, Fushimi.

As figuras estavam distantes quando o ruivo conseguira ouvir algo dito pelo temido líder dos azuis. Ele não conseguia confiar o suficiente em sua audição mas conseguira entender o "espero que goste do presente" sendo dito em algum momento.

Quando se voltou a sua única companhia, ele já estava se ocupando de agrupar caixas e colocá-las em seus determinados lugares. Misaki se esquecera que até o momento, somente uma parte da mudança havia sido feita. Ao menos aquele dia colaborara com a mudança, céu limpo e um clima agradável para ficar subindo e descendo objetos para vários lugares.

A tarde já estava em seu fim quando a dupla se recostara na parede da nova sala de estar, seus peitos subiam e desciam rapidamente enquanto gotas de suor escorriam pelo rosto, se alojando em suas vestes. A mudança estava parcialmente completa, faltavam alguns detalhes mínimos, os cômodos estavam prontos para abrigarem eles, ao menos.

— Estou com fome, Misaki.

A cabeça do rapaz de óculos se recostara no ombro do outro. Este pensando no que poderia fazer para comerem e infelizmente as opções não eram variadas para aquela noite. Eles teriam de comer rámen. Rápido, prático e fácil.

— Porque você ficou na defensiva com os seus superiores hoje?

A postura dele enrijecera.

— Nada importante.

— Mas sabe, parecia importante.

Um estalo de língua.

— Saru.

Ele cruzara os braços.

— Certo, foram eles que me ajudaram na reforma. Satisfeito?

Misaki afagava seus cabelos azulados como forma de agradecimento, um sorriso formando-se em seu lábios.

— Nós dois estamos suados e sujos, pare de fazer isso.

— Obrigada.

— Pelo quê exatamente, Misaki.

Os olhos castanhos do ruivo o observavam ternura.

— Por querer continuar comigo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.