Portland, Oregon, EUA...

P.O.V Da Sam

O tempo fechou rapidamente, estava sozinha em casa com as crianças. Corri para ir recolher as roupas do varal, estava formando um vendaval daqueles. Consegui tirar toda a roupa antes da chuva cair, a tempestade estava sendo noticiada o tempo todo, foi o que vi no jornal. Tranquei a casa, fechei tudo, os vizinhos mais próximos moravam à 500 metros de distância. Não havia muitas casas na região.

Raramente via meus vizinhos pelas redondezas.

Meu marido e eu decidimos comprar uma casa longe da cidade, longe da poluição em geral, queríamos tranquilidade. Criar nossos filhos perto da natureza, foi então que optamos por uma casa no campo. Não era uma fazenda, nem nada do tipo. Só era uma casa grande localizada num terreno enorme, com cercas e claro, tínhamos a nossa própria horta e foi ideia dele criarmos algumas galinhas.

Casei aos 22 anos com David, o amor da minha vida, pai dos meus três filhos. Nos conhecemos na escola, éramos tão jovens e tínhamos tanto em comum, foi meio que amor à primeira vista.

Foi com ele que dei meu primeiro beijo.

Engravidei após a lua-de-mel.

Nosso primogênito nasceu para nos unir mais e nos trazer muito mais alegria, foi o dia mais feliz de nossas vidas. David ficou radiante com a chegada do nosso garotinho.

Foi ele quem escolheu o nome.

Dylan, uma homenagem ao seu avô paterno.

Quando Dylan completou 3 anos, descobri que estava grávida.

David ficou feliz e todo babão quando soubemos o sexo do segundo bebê.

Era uma menininha.

Nicole chegou para nos alegrar ainda mais. Tínhamos uma ótima casa, dois filhos saudáveis e graças a Deus nada nos faltava.

Meu marido sempre foi um homem muito esforçado e trabalhador.

Mas algumas coisas mudaram, larguei meu emprego para ser mãe e dona de casa. Não tinha como deixar nossos filhos aos cuidados de uma babá, morávamos longe da cidade.

Descobri que estava grávida de novo, mais um garotinho à caminho. Dylan tinha 8 anos e Nicole tinha apenas 5 aninhos quando o Joshua nasceu. Nosso caçulinha Josh que acabou de completar 2 aninhos.

Dylan e Nicole estudam, o ônibus escolar passa para pegar as crianças da região. A escolinha fica há 2 horas de casa, ainda bem que entraram de férias, eu até tentei educar nossos filhos em casa, mas David insistiu para que eles frequentassem uma escola.

[...]

O mundo parecia desabar em águas lá fora.

Vi pela janela quando os varais foram arrancados pela forte ventania. As cercas corriam o risco de serem derrubadas.

A energia se foi, reuni as crianças no meu quarto e acendi algumas velas. Tranquei o coelhinho de estimação na gaiolinha dele.

Meu marido trabalhava fora, passava dias longe de casa, transportava cargas. Ele foi para Ohio, estava levando uma carga enorme de madeiras.

— Tô com fome, mamãe. - Nicole choramingou.

Ela não queria me soltar, tinha medo de trovões. Se encolheu em cima de mim. Estava tão assustada.

— Preciso que fique aqui deitadinha, vou preparar a janta, meu amor. - Tentei deitá-la na cama.

— Não, mamãe, tô com muito medo... - Fez cara de choro.

— Filha, é só fechar os olhos. Cante uma musiquinha. Deita aqui ao lado do Dylan, seu irmão irá te proteger. - Fiz carinho em sua cabeça.

Meu filho mais velho se distraía brincando com o joguinho no mini vídeo-game portátil à base de pilhas.

Relampejou fazendo o quarto se iluminar, os raios cortaram o céu e trovejou muito forte.

Os três se assustaram e o quarto foi preenchido com o choro do bebê.

Minha casa tinha goteiras.

Meus filhos estavam com fome e eu não podia deixá-los sozinhos no quarto. Não com aquelas velas acesas, era arriscado demais.

Eu só queria que meu marido estivesse em casa.

— Okay, venham com a mamãe! - Peguei o Josh que chorava.

Dylan e Nicole me seguiram para fora do quarto.

Fomos para a cozinha... Eu não estava com fome. Havia perdido o apetite.

Com o meu caçulinha ainda grudado em mim, coloquei água para ferver.

Decidi preparar macarrão com almôndegas.

Alimentei meus filhos, Josh ainda mamava, principalmente antes de dormir. Colocá-los de volta na cama foi um sacrifício.

A chuva não passou tão rápido, mas a ventania sim. A energia só iria voltar no dia seguinte mesmo.

A noite estava tão fria, chovia fraquinho para o meu alívio.

Estava quase pegando no sono quando ouvi um barulho que me assustou.

Levantei depressa, as crianças estavam dormindo bem agasalhadas na minha cama.

Já era tarde da noite.

Quando desci, vi que a porta estava escancarada.

Não tinha sido obra do vendaval.

— Sozinha, vizinha? - Era o filho mais velho dos meus vizinhos.

Meu coração disparou.

Aquele homem era um mau-caráter, um bêbado nojento.

— Vou chamar meu marido! - Avisei tentando assustá-lo.

Theodore Carmack se aproximou rindo.

— A caminhonete não está lá fora, dona. - Merda.

Tentei correr, eu ia subir e me trancar no quarto.

Fazia dias que aquele homem andava me assediando.

Ele foi mais rápido, era mais alto e forte.

Me agarrou com brutalidade. Estava todo molhado.

Eu não podia gritar e acordar as crianças, e nem tinha como pedir socorro... Era um lugar pacato.

Uma casa no meio do nada.

— Seu maridinho não anda cuidando de você... - Me apertou.

Comecei a chorar.

O nojento me forçou a deitar no chão.

— Vou te dar um trato, dona... Você nunca vai se esquecer... - Fedia à álcool.

Me debati, tentei empurrá-lo.

— Vou começar por aqui... - Revelou meus seios puxando a parte da camisola que cobria meu busto.

Me deitou de bruços enquanto puxava minha calcinha.

— Faça tudo comigo, só não machuca meus filhos... - Implorei.

Esperei o pior e nada aconteceu comigo.

Ele caiu ao meu lado se debatendo todo.

Estava tendo um ataque epilético.

Foi a minha chance de escapar.

Tranquei meus filhos no quarto, fui buscar ajuda na casa dos pais de Theodore. Eu não queria que aquele desgraçado acabasse morrendo no chão da minha sala.

Sem carro em casa, eu saí pedalando que nem doida e caí no caminho, na lama. Deixei a bicicleta para trás e corri o mais rápido que pude. Eram 500 metros de distância, mas parecia tão longe... Naquela escuridão e lamaçal.

Só não peguei a moto de Theodore porque não sabia como pilotar.

Os Carmack me levaram de volta para casa na caminhonete, foram buscar o doente do filho deles.

Nem sei como aquele infeliz sobreviveu... Se encontrava inconsciente.

Prometeram que tomariam as devidas providências.

Meu marido tinha uma espingarda em casa.

Avisei que se Theodore se aproximasse de mim ou da minha família novamente, eu iria dar um tiro na cabeça dele sem pensar duas vezes.

Seus pais ficaram temerosos e garantiram que iriam mantê-lo longe da minha casa.

Minha noite tinha sido infernal.

E na manhã seguinte, o meu mundo veio abaixo...

Dois policiais do condado bateram bem cedo na minha porta.

"Sentimos muito em informar a senhora, o seu marido sofreu um acidente ontem, e infelizmente foi fatal."

O caminhão de cargas havia capotado na estrada.

Perdi o amor da minha vida... Meus filhos ficaram órfãos de pai.

Fiquei sem chão.