Chamas e Brisas

Capítulo 29 - Capitã Zara


- Então vocês agora têm um dirigível?

Zara pergunta num tom curioso enquanto seus olhos são levados para os corpos dos soldados da nação do fogo e os de Sagacia. Luna e Elian percebem a ausência da princesa do fogo, e sabiam que tinha a ver com a expressão cansada de Aeris, mas não um cansaço físico, e sim mental.

- É o que parece. - sua mão desliza em seu rosto ao responder.

- Sabem pilotar? - Zara faz outra pergunta, mas olhando para os dois dobradores de água, que rapidamente negam ao balançar a cabeça.

- É parecido com um navio, mas no céu. - murmura Aeris, soltando um suspiro longo em seguida. - Lyra está checando a cabine.

- Então quer que eu pilote? - com um sorriso Zara pergunta.

Aeris assente com a cabeça, mas logo se arrepende ao ver o sorriso travesso se formando nos lábios da maruja.

- Eu topo.

- O que você quer em troca? - pergunta o loiro, pois sabia que ela queria algo em troca.

- Ele.

Com a decisão tomada e Zara já se considerando a nova piloto do dirigível, Aeris bufa, não exatamente surpreso com o pedido, mas talvez um pouco cansado com a quantidade de responsabilidades que estão se acumulando. Seu olhar cansado mostra que ele está tentando processar as implicações dessa nova adição ao grupo, enquanto ao mesmo tempo avalia o que Zara poderia querer em troca desse serviço.

- Logicamente que não. - solta Elian, fitando a maruja com um sorriso. Ela esperava a resposta do dobrar de ar.

Luna observava a discussão em silêncio, sentindo um certo receio de tomar partido, pois estava em um relacionamento romântico com a pirata Zara, enquanto seu companheiro, Elian, estava claramente contra a ideia de Zara pilotar o dirigível.

- Tudo bem capitã, o dirigível será seu quando terminar de nos levar para Fortalium. - dispara Aeris ao se levantar.

O mestre do ar encerra o assunto, concordando com a proposta de Zara e dando por resolvida a questão do dirigível. Ele volta para dentro da aeronave, deixando para trás a animação saltitante da pirata. Enquanto Zara comemora, Elian segue Aeris, murmurando protestos que são ignorados pelo loiro.

Com um gesto, colocando a mão em seu peito para detê-lo. Seus olhares se encontram, e o mestre do ar declara:

- Nossa missão é retornar para Fortalium, o dirigível não é importante.

Elian observa Aeris se afastar pelo corredor do dirigível, desaparecendo de sua vista quando entra em outro corredor adjacente. Ele nota que o loiro parecia cansado de alguma forma, mas não tinha certeza do motivo. Decidindo aguardar até que tanto o mestre do ar quanto a princesa do fogo compartilhassem o que descobriram, Elian se recolhe em seus próprios pensamentos, ponderando sobre os eventos recentes e o que eles poderiam significar para o futuro deles.

Aeris percorre os corredores do dirigível, seu olhar analisando cada canto em busca de Lyra. Ele passa pela cabine e por diversos outros lugares, mas não a encontra. Sua busca o leva à sala de treinamento, onde a encontra parada de pé no centro, com o olhar perdido na parede de metal. A expressão dela parece distante, perdida em pensamentos ou preocupações que ele não consegue discernir de imediato. Aeris se aproxima com passos cautelosos, querendo dar-lhe espaço se ela precisar, mas ao mesmo tempo ansioso para compartilhar suas próprias descobertas e preocupações.

A voz de Lyra soa suave e melódica, mas neste momento carrega um tom carregado de tensão e incerteza. Ela quebra o silêncio na sala de treinamento com uma pergunta direta e firme:

- O que foi decidido? - sua voz carrega um leve tremor, revelando a ansiedade e a expectativa contidas dentro dela. É como se cada palavra carregasse o peso das preocupações que ela carrega em seu coração.

- Zara pilotará, mas ficará com o dirigível em troca.

- Muito bem. - ela se volta para Aeris, mas evitando contato visual, seus olhos recaem para o peito. - Chegaremos mais rápido assim.

Com passos cuidadosos, Aeris se aproxima, seus dedos suaves encontram o queixo dela, elevando seu olhar. Os olhos dela, marejados e cansados de chorar, encontram os dele em busca de conforto e respostas. No silêncio tenso que paira entre eles, Aeris percebe a mistura de emoções que refletem nos olhos dourados de Lyra, e um aperto se forma em seu peito ao testemunhar a vulnerabilidade dela.

- Estou com medo. - a princesa do fogo quebra o silencio.

A princesa do fogo mergulha em seus próprios pensamentos, perdendo-se nas preocupações que cercam sua família. Annie, sua irmã mais nova, e Elaine, sua mãe, ocupam seus pensamentos, e ela anseia que estejam a salvo, possivelmente sob a proteção da avó. Porém, um temor persistente ecoa em sua mente: a possibilidade de que a traição de seu pai seja verdadeira. Apesar de desejar fervorosamente que seja uma mentira, Lyra sabe que as evidências apontam para o contrário, deixando-a angustiada e incerta quanto ao futuro de sua família e de sua nação.

- Eu realmente não sei o que dizer...

- Não diga nada. - Lyra o corta, continuando em seguida. - Só fique comigo um pouco.

Aeris envolve Lyra em um abraço reconfortante, seus braços firmes a envolvendo com segurança. Com ternura, ele desliza uma mão pelos fios negros da princesa do fogo, acariciando suavemente enquanto ela afunda seu rosto em seu peito. O cheiro familiar de grama molhada e ar fresco emanando dele acalma Lyra, oferecendo-lhe um momento de paz em meio à turbulência de suas emoções. Eles permanecem assim, juntos, encontrando consolo um no outro diante das incertezas que os cercam.

Do lado de fora, Zara permanece sorridente enquanto observa o dirigível estacionado no chão, já imaginando todas as aventuras que terá com ele. Sua expressão iluminada contrasta com a preocupação que paira no ar. Luna se junta a ela, sentando-se ao seu lado, e um breve sorriso surge nos lábios da maruja ao perceber a expressão séria de sua companheira.

- E o Veleiro? - pergunta Luna, com observando o sorriso da pirata.

- Eu pretendia destrui-lo quando terminasse de escoltar vocês pela nação da terra.

- Por quê?

- Ele não é meu, e sempre que coloco meus pés naquele deque. Elas aparecem para mim.

Um arrepio percorre o corpo de Zara enquanto suas mãos tremem involuntariamente, lembrando-se das mulheres que a criaram no mar, ensinando-lhe tudo o que sabe. A sensação de perda e solidão a envolve, e ela fecha os olhos por um momento, lutando para conter as emoções que ameaçam transbordar. Luna percebe a mudança na expressão da amiga e gentilmente entrelaça seus dedos com os dela, oferecendo-lhe apoio silencioso.

O olhar de Luna encontra o de Zara, carregando consigo um misto de ternura e preocupação. Ambas compartilharam uma noite de amor, mas as turbulências ao redor as mantiveram ocupadas demais para abordarem seus sentimentos. Zara rompe o silêncio com uma pergunta direta, trazendo à tona a incerteza do que virá a seguir.

- Após toda essa luta e batalha, o que você planeja fazer? - questiona Zara, sua voz carregada de ansiedade e determinação.

A risada de Luna ecoa suavemente pelo ar, quebrando a tensão do momento. Ela observa Zara, cuja postura confiante é temporariamente substituída por uma expressão vulnerável, quase infantil. As bochechas coradas de Zara denunciam seu constrangimento, mas há também um brilho nos olhos, uma mistura de insegurança e curiosidade.

Luna deixa escapar um suspiro leve enquanto observa o céu, perdida em pensamentos.

- Não cheguei a pensar nisso. - murmura. Seu olhar voltou para os olhos de Zara, com um sorriso brincando em seus lábios. - Não sei o que acontecerá, mas espero que uma certa pirata esteja ao meu lado para algumas aventuras. - as palavras saíram suavemente, carregadas de um misto de incerteza e esperança.

- Mas não sou mais uma pirata.

- Verdade...

Luna se aproximou do rosto de Zara com cuidado, seus olhares divertidos se encontraram antes que ela murmurasse:

- Capitã.

Então, seus lábios se encontraram em um beijo suave, selando o momento carregado de expectativa e promessa.