Chamas e Brisas

Capítulo 19 - Ar e Terra


Enquanto a noite se aprofundava e o grupo dormia sob o manto estrelado, Zara mantinha vigília. A jornada até Eldoria estava apenas começando, e ela sabia que o caminho estaria repleto de desafios. O próximo, ela pressentia, seria um teste não apenas de habilidade, mas de confiança e lealdade.

Ao amanhecer, o grupo foi despertado pelo som de cascos batendo contra a terra. Uma caravana de comerciantes se aproximava, e com eles, a oportunidade de se misturar entre as pessoas e talvez obter informações valiosas. Mas Zara estava cética; comerciantes muitas vezes eram espiões disfarçados, e qualquer palavra trocada poderia ser uma armadilha.

- Devemos ser cautelosos. - Zara advertiu o grupo. - Nem todos que percorrem estas estradas têm boas intenções.

Luna concordou, seus olhos azuis varrendo a caravana com uma perspicácia surpreendente.

- Vamos observar primeiro, aprender quem são eles antes de nos revelarmos.

A decisão foi tomada, e eles se esconderam entre as árvores, observando. Não demorou muito para que a verdadeira natureza da caravana fosse revelada. Homens armados escondidos entre as carroças, olhares furtivos, e um símbolo que Zara reconheceu imediatamente: o emblema de um grupo de caçadores de recompensas.

- Estão procurando por alguém. - Zara sussurrou. - E estou disposta a apostar que esse alguém é o príncipe Dorran.

O grupo manteve-se imóvel, escondido entre as sombras das árvores enquanto a caravana de caçadores de recompensas passava. O silêncio era sua armadura, e a paciência, sua espada. Eles sabiam que qualquer informação sobre o paradeiro do príncipe Dorran poderia ser crucial.

Zara, com um gesto sutil, sinalizou para que todos ficassem atentos. As vozes dos caçadores chegavam até eles, carregadas pela brisa da manhã.

- A Floresta Esmeralda está um caos. - ouviu-se um dos caçadores dizer. - Parece que o filho da Anciã teve um embate com a rainha do império. – ri com uma bebida em mãos.

- Alguns de nossa guilda foram para lá, dizem ter sido expulsos por um moleque com armadura maior que seu corpo e um monte de espíritos. – riem logo em seguida, tomando gole de sua bebida.

Zara troca olhares com Luna, ela da de ombros fingindo que não tinha ouvido nada sobre o que discutiam. Mas os olhos da marinheira recaem sob o jovem franzino do grupo, que evita a troca de olhares, se escondendo atrás da princesa do fogo.

- Mais um se aproxima. - Luna sussurrou. – Parece ser urgente.

Outro membro da guilda se aproxima, mas com certa pressa. Ele estava correndo em direção aos dois que conversavam, ofegante ele logo indaga:

- O príncipe Dorran não está na cidade. - ele disse, recuperando o fôlego. - Ele foi avistado perto dos planaltos, quilômetros além de Eldoria. Há uma fortaleza abandonada lá, e acredita-se que ele esteja se escondendo dentro de suas muralhas.

Aeris troca olhares com Lyra, pois acabaram de mudar o objetivo caso isso for verdade. Eles tinham que evitar a morte do príncipe.

À medida que a aurora tingia o céu de tons de laranja e rosa, a guilda de caçadores de recompensas desmontava seu acampamento com eficiência militar. Armaduras reluziam sob a luz crescente, enquanto cada membro verificava suas armas e suprimentos. O líder da guilda, uma figura imponente, dava as últimas instruções, sua voz firme cortando o ar frio da manhã. Eles estavam prontos para partir em direção aos planaltos, um terreno conhecido por sua beleza selvagem e perigos ocultos. Enquanto isso, escondido entre as sombras das árvores, o grupo de Zara observava em silêncio. Com um sinal de cabeça, eles se afastaram, desaparecendo na densa vegetação que levava de volta ao veleiro de Zara, um santuário seguro e veloz que os esperava nas águas tranquilas do porto mais próximo.

No convés do veleiro, Zara movia-se com propósito, ajustando as velas e verificando cada nó e amarra. Ela sabia que a viagem até o Planalto exigiria não apenas habilidade náutica, mas também uma estratégia sólida para se aproximarem da fortaleza abandonada. O ponto mais próximo ao leste oferecia a rota mais direta, e era lá que ela pretendia ancorar.

Enquanto Zara trabalhava, Luna e Elian encontraram-se sentados frente a frente com Aeris e Lyra. O silêncio entre eles era denso, carregado de expectativa. Luna, com um olhar firme, buscava nos olhos de Aeris algum sinal de um plano, enquanto Elian observava Lyra, esperando que ela quebrasse o impasse.

Aeris e Lyra se encaravam, cada um esperando que o outro tomasse a iniciativa. Mas era um jogo de paciência e confiança, e nenhum deles estava disposto a ceder primeiro. A tensão crescia, e com ela, a necessidade de um plano que os guiasse através dos perigos que certamente encontrariam nos planaltos e além.

Finalmente, Aeris falou, sua voz baixa, mas firme. - Precisamos de uma abordagem que nos permita observar sem sermos vistos. A fortaleza pode estar abandonada, mas isso não significa que está desprotegida.

Lyra assentiu, acrescentando. - E precisamos estar preparados para qualquer coisa. Armadilhas, guardas… ou pior.

Com um plano começando a se formar, o grupo se voltou para Zara, que já estava retornando do convés.

- Estamos prontos para partir. - ela anunciou. - E quando chegarmos, seremos as sombras que se movem com o vento.

E assim, com o veleiro cortando as águas em direção ao desconhecido, a jornada deles continuava, cada membro do grupo ciente do papel que desempenharia na busca pelo príncipe Dorran e nos desafios que enfrentariam juntos.

O veleiro de Zara ancorou silenciosamente ao leste da fortaleza ao amanhecer, quando o céu ainda segurava os últimos vestígios da noite. O grupo desembarcou com cautela, seus pés encontrando a terra firme com um propósito claro. Eles seguiram um caminho sinuoso que os levou a uma montanha pequena, cujo cume oferecia uma visão privilegiada do que restava de uma fortaleza outrora imponente.

A fortaleza erguia-se solitária perto de um penhasco, suas paredes desgastadas pelo tempo contavam histórias de eras passadas. Era uma estrutura esquecida, onde a natureza começava a reivindicar o que fora construído pelo homem. Musgo e trepadeiras adornavam as pedras, e o vento sussurrava através das torres quebradas, cantando uma melodia de ruínas e resiliência.

Diante da fortaleza, uma batalha fervilhava com a intensidade do amanhecer. A guilda de caçadores enfrentava um grupo de dobradores de terra, cujos movimentos eram tão fluidos e poderosos quanto a própria terra que invocavam. Eles carregavam o símbolo de Dorran, um estandarte que ondulava com cada golpe e defesa. No coração da fortaleza, o próprio príncipe Dorran lutava com uma ferocidade que só poderia vir de alguém lutando por sua vida e seu reino.

- Vejo que não será fácil. – solta Aeris ao empunhar sua espada. – Lyra, consegue dar apoio aos soldados do príncipe?

- Não será uma tarefa difícil. – diz com um sorriso arrogante, pois sabia o poder de suas habilidades. Seu olhar cai sob Luna e Elian. – Vocês vêm comigo, temos muito o que fazer.

Com um gesto impulsivo e carregado de emoção, Lyra aproximou-se de Aeris e capturou seus lábios em um beijo rápido, mas intenso. Era um adeus silencioso, uma promessa de retorno, antes de se juntar a Luna e Elian. Eles haviam discutido seu plano de ação, sabendo que cada movimento seria crucial na batalha que se desenrolava diante da fortaleza.

Aeris permaneceu imóvel, observando as figuras de Lyra, Luna e Elian se tornarem pequenas à distância, engolidas pela névoa da manhã e pelo caos do conflito. Seu coração batia com a força do vento que ele controlava, mas suas mãos estavam atadas pela decisão do grupo.

Ao seu lado, Zara permanecia uma estátua, sua expressão inescrutável. Quando Aeris a encarou, buscando compreensão, ela simplesmente balançou a cabeça.

- Não é minha luta. - disse ela, sua voz tão firme quanto sua resolução. - Vou aguardar no veleiro. – complementa Zara.

Com um aceno de cabeça respeitoso, ele se virou para o horizonte, onde a batalha continuava, e onde seus amigos agora lutavam não apenas pelo príncipe Dorran, mas por um futuro que ainda estava por ser escrito.

Aeris lançou-se aos céus, as correntes de ar sob suas asas invisíveis impulsionando-o em direção à fortaleza. Com o canto dos olhos, ele viu as chamas de Lyra erguerem-se em um espetáculo de fúria e desafio, tingindo o céu com o calor de sua determinação. Ele voou, um vulto entre a luz e a sombra, até que a fortaleza se ergueu diante dele, uma sentinela silenciosa de pedra e segredos.

Com um movimento ágil, Aeris rompeu uma das janelas quebradas, os cacos de vidro cintilando como estrelas caídas ao seu redor. Ele pousou com a leveza de uma folha, entre Dorran e os quatro membros da guilda que o cercavam. A espada em suas mãos era mais do que metal; era a extensão de sua vontade, e o cristal incrustado em seu punho brilhava com uma luz que revelava a verdade: nenhum dos seus oponentes dominava um elemento.

Aeris e Dorran se encararam, seus olhares cruzando a distância como flechas invisíveis. O príncipe, apesar de não ter a aparência de um guerreiro tradicional, possuía uma presença que falava de linhagem real e de uma força interior que transcendia o campo de batalha. Seus cabelos eram da cor da terra molhada, caídos em ondas desordenadas sobre a testa, e seus olhos refletiam o verde profundo das florestas de seu reino. Havia uma robustez em sua postura, uma resiliência que vinha não de músculos definidos, mas do controle firme sobre o elemento que ele comandava.

Quando seus olhares se encontraram, um reconhecimento mútuo acendeu-se entre eles. Dorran inclinou a cabeça levemente, uma memória antiga brilhando em seus olhos.

- Aeris. - ele disse, sua voz baixa, mas carregada de significado. - Eu me lembro de você, filho da Anciã, era um pequeno garoto quando o conheci.

Aeris sentiu o peso daquele reconhecimento, a conexão de um passado compartilhado que agora se entrelaçava com o presente turbulento.

- Sem tempo para isso. - respondeu Aeris. – Conversamos quando isso terminar.

A batalha se desenrolava com a imprevisibilidade de uma tempestade. Aeris e Dorran, embora não lutassem com sincronia, moviam-se com uma determinação feroz que compensava a falta de coordenação. O dobrador de ar e o príncipe da terra enfrentavam os quatro membros da guilda, cada ataque e defesa um testemunho de suas habilidades individuais.

Aeris girava com a graça de uma folha ao vento, sua espada cortando o ar e criando correntes que desviavam golpes e desequilibravam seus oponentes. Ele era o sopro do vento que precede a tempestade, rápido e imprevisível.

Dorran, por sua vez, mantinha-se firme como a própria terra que comandava. Com gestos decididos, ele erguia barreiras de pedra e manipulava o solo para desestabilizar os caçadores, sua concentração inabalável mesmo sob o caos do combate.

Os membros da guilda eram habilidosos, mas a falta de elementos para dominar os colocava em desvantagem. Eles lutavam com a precisão de quem conhece a dança da morte, mas contra a força bruta dos elementos, suas técnicas pareciam insuficientes.

A batalha alcançou seu clímax quando Aeris, aproveitando uma abertura criada por um golpe de Dorran, lançou-se em um voo rasante, sua espada brilhando com o reflexo do cristal. Com um golpe certeiro, ele derrubou o primeiro membro da guilda.

Dorran, seguindo o ímpeto do momento, fez a terra tremer sob os pés dos restantes, derrubando-os como se fossem bonecos de pano. Um a um, eles caíram, até que apenas Aeris e Dorran permaneceram de pé, ofegantes, mas vitoriosos.

O silêncio da vitória foi abruptamente interrompido pelo som de palmas lentas e deliberadas. Aeris e Dorran se viraram para a entrada da fortaleza, onde uma figura imponente se destacava contra a luz do amanhecer. O líder da guilda de caçadores de recompensas adentrou o espaço, sua armadura enorme ressoando com cada passo, um eco metálico que preenchia o ar com uma ameaça palpável.

Ele era um gigante entre homens, sua estatura e a armadura que vestia falavam de batalhas incontáveis e de uma força que poucos ousariam desafiar. A armadura brilhava com um polimento sombrio, cada peça forjada para complementar o poder que emanava de seu portador.

- Bravo, Aeris. - disse ele, sua voz profunda vibrando nas paredes da fortaleza. - Você realmente tem um talento para arruinar planos bem elaborados. - um sorriso cruel curvou seus lábios enquanto ele se referia ao incidente na Floresta Esmeralda, onde Aeris havia desmantelado as maquinações de Valeria, a rainha que o havia contratado.

- Não devo receber esse elogio, foi obra do Príncipe Elian. – responde com um sorriso debochado. – Junto de alguns espíritos nada felizes com a presença de sua guilda por lá.

- Mas o fato de ter enfrentado a Rainha Valeria e seu dragão, tem seus méritos. Pena que ela não compartilha a historia de sua luta.

O cristal na espada de Aeris brilhou com um fulgor que revelou a verdade escondida: o líder da guilda, apesar de sua armadura imponente e sua estatura colossal, era um dobrador de terra. A luz do cristal refletiu não apenas a cor da terra, mas também a essência do elemento que ele controlava. O líder, ao perceber que sua habilidade fora exposta, soltou uma risada profunda e confiante.

- Parece que não sou o único com segredos. - ele disse, o som de sua voz misturando-se ao eco de seu riso. - Mas vai precisar de mais do que truques de luz para me derrotar.

- Me vejo em desvantagem de informação mesmo assim. – sorri Aeris, prosseguindo em seguida. – Não sei seu nome.

- E não precisa!

Com um movimento brusco, o líder da guilda invocou seu domínio sobre a terra, separando Aeris e Dorran com uma parede de pedra que emergiu do chão com um estrondo. Aeris, agora isolado do príncipe, girou para enfrentar o líder, mas sua atenção foi desviada pelo som de Dorran lutando contra as amarras da terra.

O líder, aproveitando a distração, focou sua energia em Dorran, suas mãos movendo-se em um padrão complexo que fez com que as pedras do chão se levantassem e se entrelaçassem ao redor do príncipe. Dorran foi imobilizado, preso em um casulo de pedra que o prendia firmemente no lugar.

Aeris, percebendo a urgência da situação, sabia que precisava agir rápido. Com um salto ágil, ele subiu na parede de pedra que os separava, preparando-se para usar o vento a seu favor e libertar Dorran das garras da terra.

O líder da guilda moveu-se com uma velocidade surpreendente para alguém de seu tamanho, interceptando Aeris antes que ele pudesse alcançar Dorran. Com um gesto firme, ele fez a parede de pedra se elevar ainda mais, bloqueando qualquer tentativa de Aeris de ajudar o príncipe.

- Você enfrentará a mim agora. - declarou o líder, sua voz ressoando com autoridade. - Mostre-me a força do vento que você tanto venera.

Aeris, sem outra escolha, concentrou-se no adversário à sua frente. A espada em suas mãos era leve, mas cada movimento seu era carregado com a força dos vendavais. O líder da guilda avançou, sua armadura enorme rangendo a cada passo, cada movimento seu uma demonstração de poder bruto.

A luta que se seguiu foi um duelo de contrastes: a agilidade e precisão de Aeris contra a força e resistência do líder. Aeris desviava e atacava, o vento sendo seus olhos e ouvidos, enquanto o líder da guilda usava a terra para atacar, criando espinhos de pedra e ondas de terra que buscavam prender o dobrador de ar.

Era uma dança perigosa, um jogo de ataque e defesa onde cada passo errado poderia ser fatal. Mas Aeris não estava disposto a ceder, e com cada golpe que desferia, ele lembrava ao líder da guilda que o vento, embora invisível, era uma força poderosa, capaz de derrubar até mesmo as montanhas mais sólidas.

O líder da guilda avançou com a força de uma avalanche, empurrando Aeris contra a parede da fortaleza. Seus punhos eram como martelos de guerra, cada golpe desferido com a intenção de esmagar. A parede antiga da fortaleza estalava e rachava sob o impacto, pedaços de pedra e poeira caindo ao redor deles.

Aeris, contudo, movia-se com a agilidade do vento que ele dominava. Ele desviava dos socos com uma facilidade que frustrava o líder, cada movimento seu um borrão para os olhos menos treinados. A velocidade era sua aliada, e ele a usava não apenas para escapar, mas também para encontrar a brecha que precisava.

Com um salto ágil, Aeris escapou de mais um golpe poderoso, deixando que o punho do líder encontrasse apenas o ar e a pedra fria da fortaleza. A parede cedeu ainda mais, e com um olhar rápido, Aeris planejou seu próximo movimento, sabendo que a batalha estava longe de terminar.

- Vejo que você não é apenas papo, mas não passa de uma formiga ágil. – dispara o líder da guilda, com uma raiva crescente em seus olhos.

- Gosto de pensar que sou ágil como um gato. – pisca para o seu oponente, de uma forma debochada.

A intensidade da luta entre Aeris e o líder da guilda foi abruptamente interrompida quando um dos subordinados irrompeu pela entrada da fortaleza, o pânico estampado em seu rosto.

- Senhor! - ele exclamou, ofegante. - Nossos homens estão sendo contidos por uma dobradora de fogo! Ela tem o apoio de uma mulher e um garoto que manipulam a água!

O líder da guilda virou-se para encarar o mensageiro, sua expressão de fúria dando lugar a uma preocupação calculista. Ele sabia que a maré da batalha estava mudando, e não a seu favor.

Enquanto isso, do lado de fora, os soldados leais ao príncipe Dorran, reconhecendo o sinal de seus aliados, avançavam para a fortaleza, determinados a libertar seu líder. A união dos elementos nas mãos de seus aliados criava um espetáculo de poder e resistência, uma força que começava a virar o jogo contra a guilda.

O líder da guilda, percebendo que a maré da batalha havia virado contra ele, tomou uma decisão rápida. Com um olhar feroz para Aeris e Dorran, ele invocou sua habilidade de dobrar a terra, criando um caminho de fuga para si e seu último aliado. O chão tremeu e se partiu, abrindo um túnel através do qual eles poderiam escapar.

- Não é uma derrota, é uma retirada estratégica. - ele grunhiu, recuando em direção à abertura que havia criado. – Marque meu nome, dobrador de ar. Garrick Thorne! -exclama seu nome com um fogo em seus olhos ao fitar Aeris.

Com essas palavras finais, o líder da guilda e seu subordinado desapareceram na terra, deixando para trás o eco de suas ameaças. Aeris, agora com uma oportunidade, correu para a prisão de pedra que mantinha Dorran cativo. Com um sopro concentrado, ele usou o vento para erodir e quebrar as amarras de terra, libertando o príncipe.

- Vejo que fez uma amizade nova. – solta Dorran ofegante ao se sentar no chão.

- Não consigo evitar. – diz com um sorriso enquanto observa a entrada da fortaleza.

Os soldados, aliviados, atravessaram o limiar da fortaleza, suas armaduras cobertas pela poeira da batalha e seus olhares carregados de preocupação. Ao verem o príncipe Dorran sentado no chão, seguro e intacto, um suspiro coletivo de alívio escapou de seus lábios. A tensão em seus ombros diminuiu, e alguns até permitiram que sorrisos cautelosos florescessem em seus rostos.

Aeris, de pé ao lado do príncipe, compartilhava do alívio dos soldados, mas sua atenção foi capturada por uma presença que se destacava entre eles. Seu sorriso caloroso iluminou seu rosto ao avistar a princesa do fogo, uma figura imponente com sua cabeleira morena e olhar ardente. Ela caminhava com a confiança de quem conhece o poder que carrega, e a cada passo, a esperança parecia renascer no coração dos que a observavam.

Dorran ergueu-se rapidamente, a poeira da batalha caindo de suas roupas como um manto de memórias. Seus olhos encontraram Lyra Ardorius, a princesa cujo nome era sinônimo de paixão e fogo. Mas os olhos dourados de Lyra não buscavam o príncipe; eles estavam fixos nos olhos azuis de Aeris, o dobrador de ar cuja presença trouxe um alívio palpável ao seu coração.

Aeris, por sua vez, sentiu um peso se levantar de seus ombros ao ver Lyra ilesa, sua figura imponente intacta apesar do caos que havia reinado. Os mesmos sentimentos de alívio e gratidão fluíam através de Lyra, refletidos nos olhos dourados que brilhavam com uma intensidade que só o fogo poderia igualar.

- Princesa Ardorius, obrigado pela ajuda. – disse Dorran ao ver a morena próxima dele e do loiro. – E agradeço a ti também Aeris Aetheron. – complementa fitando os olhos azuis do jovem.

- Príncipe Dorran Rochalion, vejo que anda cansado. – disse Lyra ao ver a bolsas de olheiras se formando abaixo de seus olhos.

- Obrigado pela preocupação. – lança um sorriso antes de continuar. – O que devo a visita de vocês? – pergunta agora num tom sério.

- Temo que seja um assunto para se discutir num lugar mais reservado. – responde Aeris, que embainha sua espada.

- Muito bem, mas terá que esperar para mais o anoitecer. Por mais que esse meu plano tenha saído do controle... – seu olhar volta para os soldados conversando alegremente entre eles. – ainda é motivo para uma comemoração.

- Príncipe...

- Eu sei que é urgente, mas temo que dar essa festa para meu soldados seja necessário. Então pelo que entendi, tem mais dois no seu grupo. – abre um sorriso Dorran, ao lembrar que o subordinado de Garrick tinha mencionado mais dois dominadores de água. – Todos estão convidados para o baile que darei em minha residência em Eldoria.

Com um aceno caloroso, Príncipe Dorran Rochalion deixa Aeris e Lyra para trás, seu sorriso uma promessa silenciosa de reencontros futuros. Ele atravessa o campo de batalha, onde seus soldados, exaustos mas vitoriosos, começam a se animar com a notícia de celebração. Juntos, eles marcham em direção à cidade de Eldoria, onde as luzes da residência real já começam a brilhar ao longe, antecipando a festa que está por vir.

Naquela noite, a cidade de Eldoria se transforma. As ruas, antes marcadas pela tensão da guerra, agora ressoam com risos e música. A residência do príncipe, um bastião de força e esperança, abre suas portas para todos. Soldados e cidadãos, lado a lado, dançam sob o céu estrelado, celebrando não apenas a vitória, mas a paz e a prosperidade que esperam ansiosamente abraçar.

Enquanto a cidade de Eldoria se ilumina com a promessa de festa, um grupo de soldados se destaca, sua missão clara e decisiva. Eles escoltam os membros capturados da guilda, agora prisioneiros da justiça de Terra Solumia, para as celas seguras dentro dos muros da cidade. Com a ordem restaurada e os adversários contidos, o Príncipe Dorran Rochalion pode finalmente dar início às festividades.

Aeris permanece imóvel enquanto observa os últimos soldados deixarem a fortaleza em ruínas. O crepúsculo joga suas sombras entre as pedras quebradas, testemunhas silenciosas do conflito recente. O ar está carregado com o eco da batalha, mas agora, apenas a paz prevalece.

Ele se vira lentamente, seus olhos azuis como o céu claro de verão encontrando os olhos dourados de Lyra. Ela, com a graça de uma fera selvagem e a calma de um mar tranquilo, arqueia uma sobrancelha em resposta ao seu olhar. Há uma pergunta não dita naquele gesto, uma curiosidade sobre o que virá a seguir para eles neste mundo recém-transformado.

- Uma pequena ladra roubou um beijo meu mais cedo. – murmura o loiro ao se aproximar de Lyra com um sorriso encantador.

- Verdade? – fingi espanto, continuando em seguida com um sorriso em seus lábios. – Temos que a acha-la. É um crime grave cometido com esse rostinho fofo. – brinca soltando pequenos risos ao terminar.

A princesa do fogo, com um gesto brincalhão, aperta levemente a bochecha de Aeris, que, surpreso e encantado com a leveza do momento, corresponde com um sorriso caloroso. Ele a puxa ao colocar ambas mãos em sua cintura, deixa-os mais próximos, onde Aeris a beija, enquanto sentia os dedos delas deslizarem em sua nuca.

Luna aparece na entrada da fortaleza antiga, sua silhueta recortada contra o céu que escurece rapidamente. Com um sorriso malicioso brincando em seus lábios, ela lança um olhar divertido para Aeris e a princesa do fogo, interrompendo o momento de proximidade entre eles. Sua voz, cheia de humor e impaciência fingida, ecoa pelas pedras antigas.

- Vamos, seus dois! Para o quarto, agora! Chega de teatro ao ar livre! - ela exclama, acenando-os para dentro com um gesto exagerado de sua mão.

Elian, que até então observava à distância, não consegue conter o rubor que lhe sobe às bochechas. Ele desvia o olhar, tentando disfarçar seu embaraço, mas a vermelhidão em seu rosto é um testemunho silencioso da cena que presenciou.

Aeris, com a leveza de um sopro de brisa, volta seu olhar para Lyra. Seus olhos azuis encontram os dourados dela, e no meio do caos que foi a batalha, há um momento de pura simplicidade e alegria. Lyra, com a luz do entardecer refletindo em seu olhar, solta uma risada genuína, o som se misturando ao vento suave que os envolve.