Chamas e Brisas

Capítulo 12 - Chamas Azuis


Luna observava seu irmão mais velho subindo o morro com os olhos cravado em si, um olhar raivoso lançado por causa de seus atos. Lyra apenas passa pela dobradora de água, indo diretamente ao pequeno circulo feito em volta da fogueira, onde Elian estava sentado.

- Não vai me agradecer? – com um sorriso debochado, ela lança a pergunta quando Aeris passa por ela.

O dobrador do ar apenas caminha em direção a fogueira bufando com suas bochechas queimando de vergonha. Elian levanta seu olhar para o loiro, quando o mesmo se aproxima, esperando saber o que ocorreu dentro da floresta.

- Vamos nos dividir. – lança Lyra, surpreendendo Aeris, pois ainda não havia pensado numa solução para tal. – Aparentemente o primeiro pedido será uma luta, eu quero participar. – ela diz com a voz certeira.

- Acho que posso me candidatar também, uma missão apenas de mulheres. – brinca Luna ao final ainda de pé, observando os outros três sentados em volta da fogueira que estava sendo acesa pela princesa.

- Então vou com Elian para a Nação do ar. – balbucia Aeris enquanto analisava a pedra que recebera do Guardião da Floresta.

- Para Nação do Ar? O que vamos fazer lá? – pergunta com um medo na voz e preocupação de ter que viajar por uma semana inteira.

- Ainda não sei, apenas temos que nos encontrar com o Guardião da Floresta Esmeralda. – responde Aeris.

- Você viajou por aqueles cantos, se encontrou já com o Guardião? – pergunta Lyra, pois a tatuagem que ele carrega com orgulho é da tribo daquela floresta.

- Não, apenas alguns espíritos do ar.

- Não foi ele que te escolher como Guardião da tribo? – pergunta Luna, com ambas mãos em sua cintura.

- Sinceramente, não sei mesmo. – um sorriso desajeitado surgi em seu rosto.

Lyra após acender a fogueira, levanta-se observando o céu da tarde onde a Aguia branca voava em volta do acampamento, esperando com que a seguissem. Os olhos dourados da princesa fitam Luna, que arqueia a sobrancelha na espera de uma pergunta ou pedido.

- Pegue suas coisas. Vamos para dentro da floresta, a águia está pronta para mostrar o caminho. – ela diz enquanto arrumava suas braçadeiras.

- Voltem antes do anoitecer, os corrompidos ficam mais fortes durante a noite. – Aeris fita os olhos de sua irmã, com certa preocupação.

- Não se preocupe, vocês tomem cuidado na Floresta Esmeralda. – um sorriso calmo surge nos lábios de Luna, enquanto a mesma prendia seu cabelo.

- Nos vamos hoje? – pergunta Liam.

- Temo que sim. – Aeris termina rindo enquanto observava Lyra descendo o morro acompanhada de sua irmã. – Tomem conta uma da outra. – diz ao trocar olhares com Lyra.

Lyra e Luna adentraram a Floresta Vermelha, seguindo a águia branca que deslizava graciosamente acima delas, suas asas refletindo a luz do sol da tarde. O chão da floresta estava coberto de folhas carmesim, e o ar estava impregnado com o aroma doce e terroso da natureza. O canto dos pássaros acompanhava suas passadas, enquanto raios de sol filtravam-se através do dossel, pintando padrões dourados no caminho à frente. As irmãs moviam-se com um propósito, seus olhos fixos na majestosa ave que as guiava, cada uma sentindo a promessa de aventura que pulsava no coração da floresta encantada. Enquanto caminhavam, a floresta parecia sussurrar segredos antigos, e a presença da águia branca assegurava que estavam no caminho certo para alcançar seu destino.

- Como uma princesa se tem interesse pelo meu irmão? – Luna solta com um sorriso enquanto tentava acompanhar os passos largos de Lyra.

A morena lhe lança um olhar curioso de canto, mantendo seu rosto ainda para o horizonte. Um riso surge em seus lábios ao voltar seu olhar para o horizonte enquanto ouvia o bater das asas da águia sobrevoando-as.

- A primeira vez que o conheci foi em meu aniversario de 18 anos. – com um sorriso nostálgico ao se lembrar, ela continua. – Estava ansiosa para conhecer a Anciã, ela era... é uma heroína para mim. – diz com um sorriso tímido em seus lábios. – E seu irmão tinha a acompanhado naquela viagem. Lembro que tive uma impressão dele ser fraco, ou apenas um moleque com a mesma idade minha.

Luna ri ao ouvir tais comentários sobre seu irmão, pois ela dizia isso em suas brigas na infância.

- E como era um costume, meu pai planejou um combate contra seus melhores soldados, que posso ter vencido com facilidade. – ela solta um riso tímido. – E estava insatisfeita com aquelas lutas, pois sentia que eles tinham me deixado ganhar, então desafiei seu irmão.

- Ele aceitou? – pergunta surpresa.

- Não sabia o ele elemento que dominava, mas ele aceitou sim.

- Então você ganhou dele?

- Não, nem mesmo consegui encostar nele. Algo que me deixava com uma raiva enorme quando lembrava.

- O que mudou?

- Ele me ajudou sem saber uma vez. Em uma de suas passagens por Soleria, eu estava disfarçada junto de algumas amigas para passear pela cidade. Fomos atacadas por um grupo de bandidos, antes mesmo de eu começar a lutar, Aeris surgiu sobrevoando e derrotando um por um com a graça de uma flor contra a brisa.

- Foi quando se apaixonou? – pergunta Luna, fazendo com que Lyra pare de caminhar enquanto soltava um riso curto.

- Não. Acho que o momento que me apaixonei foi quando ele me perguntou o que desejava. – diz com um sorriso gentil em seus lábios.

- Quando ele te salvou em Soleria, ele te reconheceu?

- Não sei, estava com um capuz, mas nunca esqueço seu olhar e o sorriso que fazia enquanto as meninas comigo o agradeciam.

Luna observa Lyra voltar a caminhar, a jovem pretendia fazer um alerta caso ela machucasse o coração de seu irmão mais velho, mas o olhar que a princesa fazia enquanto falava sobre Aeris. Foi quando a jovem se tocou que eles realmente estavam apaixonados, querendo saber onde esse relacionamento iria, então guardou para si o alerta e torcia silenciosamente para que o romance desse certo.

Elas continuaram sua jornada pela Floresta Vermelha, a águia branca ainda planando acima delas como um farol de esperança. A luz do sol da tarde banhava a floresta em tons dourados, mas à medida que avançavam, a paisagem começou a mudar. As árvores outrora vibrantes agora davam lugar a troncos carbonizados e cinzas que manchavam o chão. A vida e o verde cederam espaço para o silêncio e o negro da destruição. A águia branca circulou acima da área queimada, seu canto agora um lamento pelo que fora perdido. Lyra e Luna pararam, seus corações pesados com a visão do desastre. A floresta queimada era um lembrete sombrio de que, mesmo em um mundo de magia e beleza, a destruição era uma realidade cruel e presente.

Diante delas, uma figura imponente emergiu das sombras, a dobradora da terra que buscavam, agora possuída por um espírito corrompido do fogo. Seus cabelos eram chamas vivas, dançando selvagemente ao redor de sua cabeça, e seu rosto havia se transformado, assumindo traços bestiais e olhos que ardiam com uma luz infernal. A terra ao seu redor rachava e tremia, enquanto ela levantava os braços, e colunas de rocha fundida erguiam-se como sentinelas. Lyra e Luna sabiam que precisavam agir rápido, pois a dobradora da terra estava além da razão, sua essência entrelaçada com a fúria de um elemento que não lhe pertencia. Era o momento de enfrentar o perigo que ameaçava consumir tudo com sua chama descontrolada.

Ambas logo se abaixam perto de uma arvore, longe da visão do ser caminhando deixando um rastro de fogo para trás. Lyra observa Luna, que não carregava um gibão para usar a água, seu elemento.

- Como lutará? – pergunta a princesa num sussurro.

- Não se preocupe. – responde sussurrando de volta com um sorriso calmo em seus lábios.

- Como assim?! – ela começara a perceber que Aeris herdou sua calma de suas mães, pois a irmã mais nova dele estava com um semblante muito calmo enquanto observa o inimigo.

- Qual o plano? – pergunta Luna em sussurros.

- Você era meu plano, era para apagar o fogo, para assim eu poder entrar na briga.

- Pode deixar!

Luna, com a determinação refletida em seus olhos, iniciou o confronto com a dobradora da terra possuída. Ela estendeu as mãos, e a umidade do ar e os líquidos das plantas ao redor começaram a convergir para ela, formando esferas de água que flutuavam em sua volta. Com um movimento fluido, ela lançou as esferas contra a figura corrompida, cada uma explodindo em um impacto frio e penetrante. A água, elemento da vida, enfrentava o fogo descontrolado, e Luna dançava entre as chamas e a terra rachada, uma guerreira da água em meio ao caos, determinada a restaurar o equilíbrio e salvar a dobradora da terra de sua própria destruição.

A figura possuída, com a terra sob seu comando, reagiu ao ataque de Luna com uma fúria ardente. O solo ao seu redor se partiu, liberando jatos de lava que cortavam o ar em direção à jovem dobradora de água. Mas Lyra não estava distante, observando a batalha com olhos de falcão. No momento em que a lava ameaçou sua companheira, ela interveio, suas mãos desenhando arcos no ar, convocando chamas azuis que se entrelaçavam com a lava, resfriando-a e transformando-a em pedra.

- Chamas azuis? – pergunta Luna ao ver as labaredas azuis criadas pela princesa.

A dobradora da terra corrompida, com olhos flamejantes de fúria, ergueu as mãos e a terra respondeu ao seu chamado. Rochas incandescentes e estilhaços de lava foram lançados com uma força devastadora em direção a Luna. Lyra, rápida em sua reação, irrompeu à frente, suas chamas azuis formando um escudo protetor ao redor da dobradora de água. Com um gesto decidido, ela desviou a torrente de elementos, forçando Luna para trás e para longe do perigo iminente. A explosão de calor e energia foi suficiente para afastar Luna da linha de fogo, enquanto Lyra permanecia firme, enfrentando a tempestade de terra e fogo com a determinação de uma verdadeira princesa da nação do fogo.

Lyra, após se lançar heroicamente à frente de Luna para protegê-la do ataque, encontra-se ofegante, mas resiliente. Sua roupa está chamuscada nas bordas, e há sinais de exaustão em seu rosto, mas seus olhos dourados ainda queimam com a determinação e o poder da nação do fogo. Ela pode sentir o calor residual das chamas que convocou, um lembrete de sua força e capacidade de resistir mesmo diante de grandes desafios. Embora o ataque tenha sido violento, Lyra se mantém firme, pronta para continuar a luta e proteger aqueles que ama.

Luna, com as palmas das mãos pressionadas contra o solo queimado da floresta, concentrou-se e sentiu a presença de um riacho subterrâneo nas proximidades. Com um suspiro profundo, ela invocou a água escondida, sentindo-a fluir através das veias da terra como um sopro de vida. A água brotou à superfície, formando um jato que Luna manipulou com precisão, transformando-a em lâminas líquidas que disparou contra a dobradora da terra corrompida. O elemento água, puro e revitalizam-te, chocou-se contra o fogo e a terra, um contraste de forças que buscava purificar a corrupção e libertar a essência daquela que havia sido tomada pelo espírito do fogo.

- Incrível. – solta a princesa do fogo ofegante.

A batalha entre Lyra, Luna e a dobradora da terra corrompida se estendeu por horas, com o sol começando a se pôr no horizonte da Floresta Vermelha. As sombras alongavam-se e o céu tingia-se de laranja e rosa, anunciando a chegada da noite. Enquanto a escuridão se aproximava, o espírito corrompido parecia ganhar força, as chamas em seu cabelo brilhando mais intensamente e sua conexão com a terra se tornando mais poderosa. A terra ao redor tremia com sua raiva, e as chamas que a cercavam tornavam-se mais selvagens, como se alimentadas pela noite que caía. Lyra e Luna, exaustas mas determinadas, sabiam que precisavam encerrar a luta antes que a escuridão completa desse ao espírito corrompido uma vantagem intransponível. Elas se prepararam para um último esforço, unindo fogo e água em um ataque combinado, esperando que a união de seus poderes fosse suficiente para purificar a dobradora da terra e libertá-la da influência maligna.

- Está anoitecendo! – exclama Lyra enquanto devia dos ataques de seu oponente.

- Me acompanhe! Tenho um plano! – grita após pensar um pouco.

Luna, com gestos graciosos, convocou a água do riacho, formando um escudo fluido que se movia em harmonia com as chamas. Lyra, por sua vez, focou sua energia, criando chamas azuis que purificavam sem destruir. Juntas, elas teciam uma dança de elementos, fogo e água se encontrando e se repelindo em um balé mágico.

No entanto, a dobradora da terra corrompida não estava para ser subjugada facilmente. Com um rugido que ecoou pela floresta, ela desferiu um ataque surpresa, uma lâmina de rocha fundida que cortou o ar em direção a Lyra. A princesa da nação do fogo foi rápida, mas não o suficiente para evitar completamente o golpe. A rocha incandescente rasgou a roupa de Lyra e deixou um corte superficial em sua barriga, um lembrete ardente do perigo que enfrentavam.

Apesar da dor, Lyra não hesitou. Ela usou o ferimento como um chamado à ação, sua determinação se fortalecendo. Luna, vendo a princesa ferida, redobrou seus esforços, e a água do riacho se tornou uma torrente que apagava as chamas e acalmava a terra. O espírito corrompido vacilou, e naquele momento de fraqueza, Lyra e Luna viram sua chance. Com um último esforço conjunto, elas lançaram um ataque decisivo, esperando que fosse o suficiente para libertar a dobradora da terra da influência maligna que a consumia.

Exaustas, mas aliviadas, Lyra e Luna se aproximaram lentamente do corpo da dobradora da terra. A batalha havia terminado, e a purificação parecia ter sido bem-sucedida. A dobradora jazia imóvel, sua respiração agora calma e regular. As chamas que antes consumiam seu ser haviam desaparecido, deixando para trás vestígios de sua fúria na forma de roupas queimadas e rasgadas. O rosto da dobradora, antes distorcido pela corrupção, agora estava sereno, com a pele macia banhada pelo luar que penetrava a clareira. As irmãs observaram-na com uma mistura de esperança e preocupação, cientes do poder que haviam enfrentado e da fragilidade da paz que agora parecia reinar na Floresta Vermelha.

- Merda. – solta a desabar no chão, por já estar sem força em suas pernas.

- E agora? – pergunta Luna, observando o estado da floresta.

- Espero que os meninos estejam melhor do que nos. – balbucia ofegante.

Lyra repousava no chão, o cansaço pesando em cada músculo de seu corpo. Ela observava a dobradora da terra, agora purificada e inconsciente, com uma expressão de alívio e preocupação. Seus pensamentos vagavam para Aeris, imaginando os desafios que ele enfrentaria em sua própria missão na Floresta Esmeralda. O que teria ele encontrado naquelas terras místicas? Enquanto Lyra contemplava o desconhecido, uma sensação de paz a envolveu ao sentir a águia branca pousar suavemente em uma pedra próxima.