Mary observava-os quando sente alguém mesmo atrás dela e não precisava de se virar para saber que se tratava de Francis. A electricidade que ela sentia na pele dizia-lho.

– “E eu sempre disse que deveríamos permanecer juntos.” – Francis sussurra mesmo no seu ouvido e ela soube automaticamente que ele tinha visto a nota que ela deixara no livro. A nota que ela escrevera. Mary respirou fundo desejando que ele se fosse embora e não insistisse mais com ela, porque Mary sabia que não conseguiria resistir a mais nenhum dos seus movimentos. Mas ele agarra-lhe o seu braço e vira-a para ele, gentilmente para ver os seus olhos. – Dás-me o prazer desta dança? – Ele pergunta de forma cavalheiresca e gentil, e ela não podia simplesmente recusar. Mas lá no fundo, ela estava com medo de falar porque sabia que a sua voz iria denunciar o seu contentamento. Ele tinha a Olívia, mesmo no canto da sala, e mesmo assim, ele estava a convidá-la a ela para dançar.

– Sim, dou. – Mary aceita deixando que Francis a conduza para o centro do salão. Ele agarrou a sua mão carinhosamente, mas ela prometeu a si mesma que se manteria calada. Eles começaram a dançar e ela conseguia sentir as chamas dentro dela! A maneira como ele a olhava com aqueles profundos olhos azuis… que estavam a brilhar, a forma como ele a guiava naquela dança, estava a incendiá-la e parecia que ela tinha exactamente o mesmo efeito nele. Era como se fosse um fogo-de-artifício completamente cheio de magia e paixão.

– Tu enlouqueces-me. – Ele admite com um pequeno sorriso.

– Parece que é mútuo. – Ela responde apenas.

– Eu sei que nos magoamos mutuamente. E que nos sujeitamos à pior dor de sempre mas não podemos começar de novo? – Ele espera pela sua resposta mas parecia que ela queria continuar a jogar aquele jogo perigoso.

– E como é que pretendes fazê-lo quando eu sei que aconteceu alguma coisa entre ti e a Olívia? – Mary pergunta num murmúrio. – Como é que eu sei que não irá acontecer novamente? – Ela acrescenta.

– Porque te estou a dar a minha palavra! – Ele observa começando a ficar cansado da sua frieza.

– A tua palavra? Tu declaraste-te somente meu, só para me dizeres que paraste alguma coisa com ela. Sim… Eu não pensei quando beijei o Bash, foi um erro mas tu correste para os braços dela quando me afastaste, Francis! – Mary responde sentindo a dor a correr pelas suas veias. Ele sabia que ela estava coberta de razão, realmente Francis tinha feito aquilo mas estava completamente arrependido. Francis reconheceu-o a tristeza no seu rosto e como ele lhe tinha dito uma vez: “O amor era irrelevante para a realeza” e, mesmo assim, ele começava a apaixonar-se por ela. A música estava praticamente no fim e Mary desviou o olhar dele.

– Eu sei que fui estúpido e não mereço o teu amor mas vou ganhar o teu coração novamente. – Ele declara determinado. Mary sentiu o fogo nos seus olhos a percorrê-la, a percorrer todo o seu corpo! E ela olhou-o para ver que ele não iria abdicar dela sabendo que qualquer príncipe de outro qualquer país considerasse casar-se com ela. O tio dela dissera-lhe que a aliança por casamento apenas alteraria a aliança que tinha com a França. Mesmo que isso lhe partisse o coração, ela estava determinada a esquecê-lo se isso tivesse mesmo que acontecer. Mas parecia que não iria ser tão fácil como pensara. Ela vira a determinação nos olhos de Francis em querer reconquistá-la. E ela adorava esse facto, ela andaria directamente até ao inferno para o ver bem e, talvez ele se tivesse apercebido que ele faria exactamente o mesmo por ela. A música pára instantaneamente e as suas caras estavam tão próximas que poderiam partilhar um beijo. Ela queria que isso acontecesse e a sua respiração estava alterada olhando profundamente para os seus olhos azuis. Mas ele apenas lhe beijou gentilmente a mão e a sua testa num sinal de respeito. Ela respira profundamente, faz-lhe uma pequena vénia antes de o ver ir-se embora.

As suas amigas aproximaram-se dela e Mary seguiu-o Francis com o seu olhar. Lola agarrou-lhe na mão e as restantes formaram um círculo à sua volta.

– O que é que aconteceu? – Kenna pergunta cheia de curiosidade na sua voz. – Eu acho que a rainha Catherine não parece muito feliz. – Kenna observa num murmúrio. – E a Olívia. – Kenna acrescenta com um pequeno sorriso.

– Mas eu estou. – Mary admitiu agarrando a mão da Kenna e apertando a mão de Lola. – Mesmo sendo demasiado cedo para o admitir, sabem? – Mary dá-lhes um pequeno sorriso. – E acho que devo ir falar com o meu tio.

– Mary…– Começa com uma voz comprometedora. – Ele não se estava a sentir muito bem e já foi para os seus aposentos. – Lola explicou-lhe lentamente. – Mas não é nada grave.

– Se tu o dizes… falarei com ele amanhã, então. – Ela diz preocupada mas abrindo um sorriso. – Onde está a Greer? – Mary pergunta olhando para todo o lado.

– Acho que ela deve estar por aí em algum lado. Nós perdemo-la quando alguém a convidou para dançar. – Mary e as raparigas entreolharam-se e começaram a rir.

– Ela deve estar a divertir-se bem mais que nós. – Mary concluiu fixando-se na cara de Olívia. Ela parecia um pouco desesperada e talvez triste. Mary não conseguia perceber, e mesmo tendo pena dela, bem… era aquilo que tinha ser e Mary não tinha nada a ver com isso. – Acho que é tempo de me retirar. – Mary anuncia sorrindo. Elas concordam que era tempo para subirem para os seus aposentos juntas falando e rindo.

***

Na manhã seguinte, Mary e as suas amigas vestiram-se rindo como se nada de mal pudesse acontecer novamente. O castelo estava calmo desde que a cabeça de veado aparecera no quarto da Mary. Ela colocou um batom cor-de-rosa suave nos seus lábios e vestiu um vestido branco. Ela era bonita, melhor… Ela é bonita! E quando terminou de se arranjar, ela comeu qualquer coisa com as amigas nas suas câmaras.

Agora era hora de se encontrar com o seu tio. Ela respirou fundo antes de bater à porta, e ele abriu-a deixando-a entrar.

– Fiz o que me pediste. – O tio começa a dizer, fechando a porta. – E tens alguns países interessados em aliarem-se a nós tais…– Mary faz sinal para o tio parar por ali.

– Talvez tenha sido demasiado impulsiva e penso que devemos esperar antes de tomar qualquer outra decisão que nos possa comprometer. – Mary declara. – E depois, sim, ter em conta as suas ofertas.

– Algo mudou? – O tio pergunta-lhe levantando uma sobrancelha.

– Sim, pode-se dizer que sim. – Mary abriu um sorriso radiante na cara. – E a minha mãe não precisa de saber de nada sobre isto. – Ela diz como se fosse mais uma ordem que um pedido. – Mesmo assim, é bom saber que temos outras possibilidades se tudo der errado. – Mary acrescenta.

– Mary mas tens de ter consciência que a Inglaterra continua a ser uma ameaça para nós.

– Não te preocupes, querido tio, farei aquilo que for necessário para proteger o nosso país e a França é um país poderoso. – O tio assentiu. – Mais algumas notícias da Escócia?

– Não, nada de notícias…– Ele anuncia.

– Então, eu vou-me retirar. – Mary diz sorrindo, andando pelos grandes corredores do castelo numa forma calma e feminina. Mary não se sentia tão bem desde, bem… que ela soube do Francis e da Olívia mas agora, ela tinha algumas razões para sorrir. Mary caminha para fora daquelas paredes frias para o calor da manhã, onde sente o ar fresco do vento na sua cara. Ela fecha os olhos para apreciar aquela sensação maravilhosa.

Quando ela abre os olhos, vê uma linda flor vermelha bem na frente da sua cara. Ela agarra-a e vira a cara para dar com Francis atrás de si.

– Pensei que poderíamos falar sobre…– Francis diz com um sorriso traquino nos lábios,

– Podes dizê-lo, Francis… Eu sou uma péssima escritora. – Mary afirma rindo-se. Ela estava chateada com ele mas com toda aquela atenção centrada em si… Bem, ela estava a apaixonar-se por ele novamente,

– Eu não diria isso mas poderias ter sido bem mais simpática comigo. – Ele riu-se e fê-la rir também. – Eu não sou assim tão frio. – Ele diz rindo e Mary ergueu subtilmente uma sobrancelha.

– Eu não acho que te conheças muito bem. – Mary comenta. – Desde que cheguei que não querias casar comigo, fechaste-me a porta na cara…

– Mas mesmo assim, protegi-te da minha mãe, do príncipe português…– Ele diz interrompendo-a mas mesmo assim surgiu um silêncio constrangedor entre os dois, pois, eles não queriam lembrar-se o que tinha acontecido depois de tudo aquilo. E ela sentia naquele momento tudo o que escrevera naquela nota sobre ele, sobre eles.

“Todo o instante em que eu olho esses profundos olhos azuis

Faz-me sentir que posso voar direito a eles

Faz-me sentir que me posso afogar neles

E é mais do que merecido

E, aqui estou eu a afogar-me no seu oceano

E ele nem repara

Aqui estou eu a afogar-me

E, mesmo assim, ele significará o Mundo para mim

Mesmo que ele seja gelo e eu fogo

Mesmo que ele seja frio e eu calor

Ele sempre será a outra parte de mim

E eu sempre direi que deveremos permanecer juntos.”

– Mesmo que o nosso casamento seja agora uma miragem, tenho de admitir: tu também farás sempre parte de mim. – Francis confessa. Mesmo com toda aquela responsabilidade sobre os seus ombros. Eles não podiam nunca esquecer que eram realeza. E, mesmo antes de seguirem os seus corações, eles tinham de pensar nos seus países em primeiro lugar. Ele coloca a sua mão no rosto de Mary aproximando-se dela. Antes de a beijar, ele viu a felicidade e os olhos castanhos dela brilharem. Ela abriu um sorriso contagiante e ele não lhe conseguiu resistir. Ele beijou-a suavemente e ela correspondeu, deixando que ele o aprofundasse. Ela tinha saudades dele e ele também tinha saudades dela. Naquele momento eles souberam que estavam destinados a ficar juntos viesse o que viesse a acontecer.